Cuidado ambiental: ponte entre ...
Uma vez que cuidado ambiental não é um
construto preciso, no sentido de se referir a um tipo
específico de comportamento pró-ambiental, as ativi-
dades descritas pelos respondentes sob esse rótulo ge-
ral foram variadas, mas puderam ser classificadas de
acordo com tipologia disponível na literatura (Corral,
2001). Em outros grupos culturais, é possível que ou-
tro termo deva ser empregado para suscitar uma res-
posta espontânea do respondente sobre suas práticas
de proteção do ambiente. De qualquer modo, os resul-
tados obtidos sugerem que mais estudos na direção
aqui adotada merecem ser realizados. Devido à popu-
laridade e valorização globais da temática pró-ecoló-
gica, será sempre conveniente levar em conta a expec-
tativa social envolvida. Ao mesmo tempo, considerar
os vieses inerentes a dados oriundos de auto-relato
(Corral e Pinheiro, 1999) constitui precaução impor-
tante.
Coerentes com uma estratégia multimétodo
(e.g., Brewer e Hunter, 1989; Sommer e Sommer,
1997; Uzzell e Romice, 2003), procuramos a trian-
gulação instrumental visando validar o construto
de cuidado ambiental. Pretendíamos explorar as
possíveis relações desse relato espontâneo dos par-
ticipantes com medidas bem estabelecidas de pre-
disposições pró-ambientais, e de dimensões rela-
cionadas, como perspectiva temporal de futuro e
individualismo-coletivismo. Embora diferenças sig-
nificativas só tenham ocorrido para ambientalismo
ecocêntrico, apatia pró-ambiental e individualismo,
em todos os casos relacionados a esses instrumentos
o grupo N-N (sem prática de cuidado e sem deixar
contato) teve escore posicionado conforme as expec-
tativas teóricas, o que reforça ainda mais o valor
heurístico e instrumental da noção de cuidado am-
biental.
Convém enfatizar que as associações observadas
colocaram em relação respostas múltiplas a construtos
medidos por escalas formais com o conteúdo de rela-
tos espontâneos do participante sobre seu comporta-
mento pró-ambiental “real”.
Vimos que as questões sobre descrever o cuidado
ambiental praticado e deixar contato fizeram sentido
para o respondente deste estudo e foram validadas em
relação àqueles instrumentos. Pesquisas que venham a
utilizar estratégia semelhante no futuro deveriam pro-
curar aperfeiçoar os recursos aqui empregados, visan-
do diminuir a conhecida discrepância entre o com-
portamento pró-ambiental e suas medidas predispo-
sicionais. Talvez, assim, a pesquisa psicológica do
comportamento pró-ambiental possa mais bem servir
às intervenções socioecológicas, como no caso da edu-
cação ambiental.
33
REFERÊNCIAS
Arp, W., & Howell, C. (1995). Black environmentalism and
gender differences: an ethics of care? [Resumo]. Western
Journal of Black Studies, 19, 4, 300-305.
Bechtel, R. B., & Churchman, A. (Orgs.). (2002). Handbook of
Environmental Psychology, (2a ed.). Nova York: Wiley.
Boff, L. (1999). Saber cuidar: ética do humano – compaixão pela
Terra. Petrópolis: Vozes.
Brewer, J., & Hunter, A. (1989). Multimethod research: a
synthesis of styles. Thousand Oaks, Califórnia: Sage.
Brown, G. R. (2001). Habitat workshops: knowledge, care and
practice [Resumo]. Dissertation Abstracts International-
Section A: Humanities and Social Sciences, 61, 7-A, 2571.
Corral, V. (2001). Comportamiento proambiental: una intro-
ducción al estudio de las conductas protectoras del ambiente.
Santa Cruz de Tenerife: Resma.
Corral, V., & Pinheiro, J. Q. (1999). Condições para o estudo
do comportamento pró-ambiental. Estudos de Psicologia, 4, 1,
7-22.
Corral, V., & Pinheiro, J. Q. (2004). Aproximaciones al estudio
de la conducta sustentable. Medio Ambiente y Comportamiento
Humano, 5, 1/2, 1-26.
Gouveia, V. V., Guerra, V. M., Martínez, M. C., & Paterna, C.
(2004). O individualismo e o coletivismo como explicadores
do preconceito frente aos negros. In M. E. O. Lima, & M. E.
Pereira (Orgs.). Estereótipos, preconceitos e discriminação:
perspectivas teóricas e metodológicas (pp. 161-182). Salva-
dor: EDUFBA.
Hodge, T. (1997). Toward a conceptual framework for assessing
progress toward sustainability [Resumo]. Social Indicators
Research, 40, 1-2, 5-98.
Ministério da Educação/MEC (Secretaria de Educação Continua-
da, Alfabetização e Diversidade/SECAD – Coordenação Geral
de Educação Ambiental/CGEA). (2005). Educação Ambiental.
Documento obtido em 13/dezembro/2005, de http://portal.mec.
gov.br/secad/index.php, produzido em 23/setembro/2004 e
atualizado em 22/novembro/2005.
Morse, J. M., Solberg, S. M., Neander, W. L., Bottorff , J. L.,
& Johnson, J. L. (1990). Concepts of caring and caring as a
concept [Resumo]. Advances in Nursing Sciences, 13, 1, 1-14.
Myers, O. E. J., Saunders, C. D., & Garrett, E. (2003). What do
children think animals need? Aesthetic and psycho-social
conceptions [Resumo]. Environmental Education Research, 9,
3, 305-325.
Pinheiro, J. Q. (1997). Psicologia ambiental: a busca de um am-
biente melhor. Estudos de Psicologia, 2, 2, 377-398.
Pinheiro, J. Q. (2005a). Perspectiva temporal e conduta susten-
tável. Relatório de pesquisa não-publicado, Conselho Nacio-
nal de Desenvolvimento Científico e Tecnológico/CNPq e Uni-
versidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal.
Pinheiro, J. Q., Matias, H. J. D., Cortez, A. B. B., Pinheiro, T. F.,
Gurgel, F. F., & Link, M. O. (2005). Exploração das definições
de desenvolvimento sustentável de estudantes universitários e
análise da relação entre seus temas, variáveis sociodemográfi-
cas e compromisso pró-ecológico [Resumo]. In Comissão Or-
ganizadora (Org.), Anais do IV Congresso Norte-Nordeste de
Psicologia. Salvador: Departamento de Psicologia da Universi-
dade Federal Bahia e Conselho Regional de Psicologia – CRP-03
(Bahia e Sergipe). Disponível no endereço: http://www.conpsi.
psc.br/modulos/programacao/pro_visualiza_atividade.
asp?ati_codigo=4245
Pinheiro, J. Q., Maux, A. A. B., & Nunes, F. L. (2000, julho).
Environmental concern, anthropocentrism and sustainability:
PSICO, Porto Alegre, PUCRS, v. 38, n. 1, pp. 25-34, jan./abr. 2007