Jorge Ponciano Ribeiro
Vários deles repensaram algumas equações que sempre haviam
sido descartadas na física quântica. Essas equações
correspondiam ao ‘campo de ponto zero’, um oceano de
vibrações microscópicas no espaço entre as coisas. Eles
perceberam que se o campo de ponto zero fosse incluído em
nossa concepção da natureza mais fundamental da matéria, o
suporte do Universo seria um agitado mar de energia, um vasto
campo quântico. Se isso fosse verdade, tudo estaria interligado
por algo como uma teia invisível [grifo nosso]. (McTaggart,
2008, p. 20).
Nós caminhamos, vemos o mundo fora de nós, ele está lá e nós aqui,
e isto nos dá a firme sensação de que somos dois. Na verdade,
somos um só: eu sou o mundo, o mundo sou eu, sou ambiente, o
ambiente sou eu, sou a natureza, a natureza sou eu. Assim como
uma árvore nasce do mundo, da terra, nós também, sendo ar, fogo,
terra e água, elementos de que o mundo é feito, também nascemos
do mundo, e, como uma planta, somos através de um longo processo
evolutivo, filhos legítimos do ar, do fogo, da terra, da água.
Não somos dois, somos um só. Somos constituídos dos mesmos
elementos de que o planeta é feito. Somos, portanto, ambientais-
animais-racionais e qualquer uma destas dimensões que forem
retiradas do ser humano, provocará o nosso desaparecimento.
Ambientalidade é a matriz de nossa hominização. Do mesmo modo,
no mesmo sentido, nas mesmas circunstâncias em que somos
animais, em que somos racionais, somos também ambientais,
embora não façamos atenção a esta dimensão, talvez pela nossa
necessidade de ter controle sobre tudo aquilo que pensamos, como
desconexão de nossa realidade ambiente-organismo. O homem
queima, corta, suja, polui o meio ambiente, sem se dar conta de que
isso é um autoextermínio, um “ecocídio”, sem se dar conta de que a
sustentabilidade do planeta passa pela satisfação das mesmas
necessidades do ser humano.
Somos uma só realidade, nós-mundo, somos a mesma carne, o
mesmo sangue, nascemos do ventre, da barriga do universo, só nos
falta o mesmo espírito, porque agimos como se fôssemos donos do
mundo, dualidade responsável por todo o estrago da não consciência
de que qualquer ofensa ao meio ambiente é ferida causada a cada
um de nós, porque somos um só corpo, um só espírito com o
universo. Falta-nos a experiência de uma awareness corporal, de uma
consciência corporal de que a terra é um campo de presença, de que
a terra é um ser vivo, gera seres vivos, e de que vivemos uma
fraternidade com vegetais e animais, com outros humanos com os
quais coexistimos.
Perdemos a dimensão de que somos uma Gestalt, uma configuração,
um todo cujas partes estão organizadas e articuladas para
Estud. pesqui. psicol., Rio de Janeiro, v. 19, n. 4, p. 896-914, 2019.
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