ANDREA LESSA
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As fraturas na face, geralmente provocadas por esmagamento,
podem ser associadas à violência, sobretudo quando o indivíduo
não apresenta outras fraturas ocasionadas por queda, uma vez
que dificilmente esse tipo de acidente provocaria apenas uma
lesão nos nasais ou no maxilar, regiões de menor probabilidade de
impacto.
As fraturas nos terços médio e distal nas ulnas, denominadas
‘fraturas de parry’, têm sido atribuídas à elevação do antebraço
em defesa de um golpe (Ortner et al., op. cit.; Merbs, op. cit.;
Jurmain, 1991; Webb, 1995). Já as fraturas na mesma região dos
rádios estão relacionadas a acidentes, uma vez que este osso é o
que se articula com os metacarpos e, em caso de queda e tentativa
de sustentação do corpo, receberia a maior parte da força de
impacto. Essas inferências causais, no entanto, devem ser feitas
com cautela, sempre com o suporte de informações contextua-
lizadas e dados sobre violência adicionais, uma vez que uma
queda com torção do braço também pode causar fratura no terço
distal da ulna (Walker, 2001).
A ausência de fraturas de parry, em oposição a uma alta
prevalência de outros sinais de violência, pode indicar que os
indivíduos, quando alvo de agressões, estavam amarrados ou
imobilizados, ou seja, impedidos de conter o golpe (Wilkinson,
op. cit.). Esta sugestão, no entanto, só se aplica a lutas corpo a
corpo. Uma outra explicação para a ausência dessas fraturas
seria a ocorrência de confrontos a longa distância entre os
oponentes, quando são utilizadas armas como o arco-e-flecha e
as fundas para arremesso de pedras.
As pontas de projétil, por sua vez, têm sido regularmente
associadas a episódios de violência (Jurmain, op. cit.; Lambert,
op. cit.; Walker, 1997; Smith, op. cit.; Maschner, op. cit.; Keeley,
1997). A localização e a trajetória de penetração do projétil podem
informar quanto à estratégia de ataque, indicando fuga da vítima
ou emboscada, quando a penetração ocorreu pela parte posterior
do corpo; ou ainda de cima para baixo, indicando um ataque
frontal, quando a penetração ocorreu pela parte anterior do corpo,
considerando-se que a vítima encontrava-se de pé.
Ainda que as lesões ósseas relacionadas à violência
interpessoal sejam interpretadas de forma segura, é correto
afirmar que elas subestimam quantitativamente a ocorrência dos
confrontos. Não ficam registrados os ferimentos ocorridos nos
tecidos moles ou aqueles cuja remodelação perfeita do tecido
ósseo impossibilita a sua identificação.
A literatura moderna sobre traumas mais uma vez serve como
base para os bioarqueólogos, demonstrando que, nos Estados
Unidos, apenas 16,6% dos ferimentos de causa violenta são
classificados como muscular/esqueletal (Rand et al. apud Walker,
História, Ciências, Saúde — Manguinhos, Rio de Janeiro