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composé nos pas d’humains mais d’inhumains, insensibles à nos querelles, à nos
ignorances et aux limites de nos représentations comme de nos fictions. (LATOUR,
2004, p.27)11
A ecologia politica evoca a junção desses dois ambientes. A caverna em que o
homem se comunica através da tela, sem diretamente ver os seus companheiros e o
exterior, que passa do antropocentrismo cartesiano ao naturo-centrismo dos ecologistas.
Como se desde o Ocidente, desde a expulsão da caverna, não pensássemos em outra
coisa que formar a vida pública entre torno de dois eixos, o homem e a natureza (LATOUR,
2004, p. 33). Para o autor, se a ecologia política representa um problema, não é porque ela
enfim introduz a natureza nas preocupações políticas, mas porque ela continua a utilizar a
natureza para ‘abortar’ a política.
A ecologia política, segundo Latour, não se revela em função de uma crise de
objetos ecológicos, mas sobre uma crise constitucional generalizada que diz respeito a
todos os objetos. Latour lista as sete diferenças que separam os que intentam fazer a
ecologia política e o que ela faz na prática, o que de certa forma não deixam de ser
qualidades.
QUADRO 1 – O que acredita fazer a ecologia política e o que ela faz de fato
(Continua)
O que acredita fazer a Ecologia Política:
O que ela faz de fato:
A ecologia política pretende falar da natureza,
mas ela fala de todos os imbróglios que sempre
supõe a participação dos humanos...
Ela pretende proteger a natureza da ação do
homem, mas os humanos são privilegiados, pois
se utilizam de técnicas cada vez mais sofisticadas
e invasivas para estudar a natureza...
Ela pretende conservar a natureza por ela
mesma, mas são sempre os humanos que tomam
frente dessa missão, principalmente os
americanos, machos, ricos, educados e brancos...
Ela pretende pensar os sistemas pelas leis das
ciências, mas a cada vez que se propõe de incluir
a complexidade, ocorre uma guerra de
controvérsias e os especialistas não entram em
acordo...
Fonte: LATOUR, 2004, p.35-37.
Ela fala de vacas, porcos, consumidores,
instituições, regulamentos, aparelhos...
Ela é tida em conta por seus agentes humanos.
Ao contrário de proteger a natureza, ela é
categorizada da forma mais completa, em relação
ao estudo da biodiversidade de entidades.
Ela não considera a natureza por seu próprio
bem, porque o valor dado a natureza é sempre
dado em função do homem.
Ela ignora o que é um sistema ecológico-político e
considera apenas a ciência cujos modelos e
métodos colocam de lado a pobre humanidade
que pensa e busca.
11 Qual é a utilidade do mito da caverna de hoje? De permitir uma constituição que organiza a vida pública
em duas salas: a primeira é o quarto escuro desenhado por Platão, onde os ignorantes estão
acorrentados, sem poder se olhar diretamente, comunicando-se apenas por ficções projetadas em uma
espécie de tela de cinema; a segunda se situa fora, em um mundo não de humanos, mas não humanos,
insensível às nossas brigas, nossa ignorância e aos limites de nossas de nossas representações, de
nossas ficções. (Tradução nossa)