AS REDES AMBIENTAIS NA INTERNET E A GESTÃO DA NATUREZA
UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS
ESCOLA DE CIÊNCIA DA INFORMAÇÃO
Débora de Carvalho Pereira
AS REDES AMBIENTAIS NA INTERNET
E A GESTÃO DA NATUREZA
Belo Horizonte
2013
Débora de Carvalho Pereira
AS REDES AMBIENTAIS NA INTERNET
E A GESTÃO DA NATUREZA
Tese apresentada ao Programa de Pós-Graduação em
Ciência da Informação da Escola de Ciência da
Informação da Universidade Federal de Minas Gerais
como requisito parcial para obtenção de titulo de
Doutora em Ciência da Informação.
Área de Concentração: Produção, Organização e
Utilização da Informação
Linha de Pesquisa: Organização e Uso da Informação
Orientadora: Prof.ª Dr.ª Maria Aparecida Moura
Belo Horizonte
2013
Para onde nos atrai o azul?
Guimarães Rosa
À natureza cinza e fria dos velhos epistemologistas
(políticos), os ecologistas substituíram simplesmente
por uma natureza mais verde e mais quente.
Bruno Latour
Quem muito se evita, se convive
Guimarães Rosa
Eu quase que nada não sei. Mas desconfio de muita
coisa.
Guimarães Rosa
O rio não quer chegar, mas ficar largo e fundo
Guimarães Rosa
AGRADECIMENTOS
Agradeço em primeiro lugar à Cida, pela sua enorme boa vontade, pela
orientação clara e sincera, na esperança que ela tenha aprendido comigo pelo menos um
pouquinho do que eu aprendi com ela. E, principalmente, pela coragem e generosidade de
aceitar uma orientanda que não conhecia antes.
Agradeço a todos os colegas da ECI que compartilharam muitas dúvidas e
algumas certezas, em destaque: Ruleandson, Graziela, Joana, Camila, Ludmila, Juliana
Lopes, Juliana Assis, Benildes, Fernanda, Ana Paula, Vladimir, Alan e Geórgia. Foi muito
importante para o avanço dessa pesquisa as interações com o Núcleo de Estudos das
Mediações e Usos Sociais dos Saberes em Ambientes Digitais, Nemusad.
Aos professores, pelos bons momentos passados juntos, agradeço a Beatriz
Bretas, Alcenir, Casal, Gercina, Guiomar, Marcello e Marta. Agradeço a ajuda de todos os
funcionários, especialmente Luiz, Nelly e Giselle.
No Centro Edgar Morin, foi fundamental a ajuda de Yohanna e Cristelli, Martin,
Benoit, Sophie, Jean Marc, Alfredo e Fred. No MediaLab da Science Po agradeço a
Tommaso Venturinim, Mathieu Jacomy e Paul Girard pela convivência e espírito
colaborativo. À Pierre-Antoine Chardel e Antonio Casilli agradeço a acolhida no Institut
Télécom de Paris.
Na Amazônia, agradeço a Edson Alexandre e Francisco Apurinã, do governo do
Acre, pela confiança de me oferecerem a oportunidade de realizar o trabalho de Gestão dos
Documentos dos Territórios Indígenas do Acre.
À Lian agradeço por me acolher em Paris, onde tive o conforto e ambiente
necessário para pensar a gestão da natureza fora dos moldes neotropicais. Agradeço
também pelos não lugares que passei pensando e escrevendo intensamente essa tese:
hotéis de Lima, Cuzco, Cruzeiro do Sul, Serra da Canastra, Curitiba, Porto Alegre, João
Pessoa e Champagny. E pelos lugares em que passei dias escrevendo, cheios da
personalidade dos seus moradores: casa de Danny e Gilda em Londres, casa do lago em
Barra do Una, casa de pai em Ponte Nova, casa de mãe em Belo Horizonte e escritório da
revista Profession Fromager em Lille.
Agradeço a amizade e apoio de Lian, Gabriel, Vera (em memória) e Petra. E
especialmente sinto gratidão pela rede de colaboradores do think thank SerTãoBras, que
nos faz colocar na mesma rede bactérias, produtores de queijo, sertões e motoristas
chineses de tuktuks. São eles: Ademilson, Alisson, Aluisio, Ana Paulina, Annie, Beth e
Canova, Carlos Dória, Cecília, Fabrício, Graça, Léo, Leôncio, Manuela, Manoel, Marilene e
Elza, Nice e Wilson, Rajat, Robin, Riba e Mabel, Stefan e Giulia.
Agradeço ao Márcio pelo apoio técnico e ao Danny pelas traduções para o
inglês. Aos primos Gustavo e Raquel agradeço pelos textos sobre ambientalismo de outras
áreas de conhecimento.
Como todas as áreas de nossa vida são interligadas, essa pesquisa não seria
possível sem o amor incondicional de Arnaud. Agradeço a meu filho Sebastião e meu irmão
Bernardo (esses dois últimos, inclusive, visitaram a rede para ajudar na marcação do
Google Maps e fizeram perguntas interessantes). Esse trabalho nunca seria realizado sem o
apoio constante e amor dos meus pais Antônio Cezar e Heloisa e dos meus irmãos Maria
Esther, Caio, Tales, Bernardo e Esther.
Agradeço a todas as horas que passei olhando os sites: todas as paisagens
belas de locais desconhecidos para mim, a natureza intocada, os paraísos, que ainda
pretendo conhecer, que virtualmente já conheço. E também adorei visualizar todas as
imagens de manifestações, lutas e revoluções por uma gestão da natureza mais humana e
justa, que enchem nosso coração de esperança.
Agradeço ao CNPQ, CAPES e FAPEMIG pelas bolsas de estudos e à
Universidade Federal de Minas Gerais pela sustentação.
RESUMO
A gestão da natureza é o objeto de estudo dessa tese, mapeada nas práticas de
significação e nos discursos ambientais que fluem e influem em espaços virtuais. Os
objetivos foram identificar e visualizar graficamente as interconexões de atores e seus
padrões de consumo informacional, que permitiram perceber migrações dos valores
semióticos das relações homem e natureza, nas representações em ambientes digitais. A
intenção foi de entender a formação de uma ideologia que orienta a gestão da natureza na
contemporaneidade. A fundamentação teórica adotada foi a articulação dos conceitos
oriundos da semiótica peirciana, especialmente o pragmatismo (ou como se formam as
crenças) aos conceitos de análises de redes sociais e regimes de informação. A
metodologia tomou como referência a complexidade. A Teoria Ator-Rede e os estudos de
cartografias de controvérsias tornaram possível o mapeamento das redes sociais sobre
preservação da natureza e a categorização dos principais sujeitos informacionais. Como
resultados da pesquisa foram identificadas três tendências predominantes para formar os
regimes de informação percebidos na rede: a ecologia social, a economia verde e a ecologia
profunda. Nos ambientes virtuais, ONGs, instituições educativas, centros de pesquisa,
governos, movimentos sociais e indivíduos são sujeitos informacionais que discutem a
ecologia em três vieses: o da conservação dos espaços de beleza e alta biodiversidade
(ecologia profunda); o da necessidade de integração entre ecologia e cultura (ecologia
social); e o da integração entre economia e ecologia (economia verde). A partir da descrição
das redes e suas relações, foi possível visualizar processos de tradução intersemiótica de
memes em diversos pontos, a fim de influenciar hábitos coletivos e individuais. A política
ecológica patrocinada pelas Nações Unidas mantém fluxos em grandes vias de informação
– entre publicações científicas, redes sociais e eventos – é o cluster mais coeso da rede,
principal ator que fortalece o regime da economia verde. Os fluxos oriundos da ecologia
social, de grupos marginalizados e movimentos sociais da América Latina promovem uma
gestão da natureza mais descentralizada e sem hierarquias, a partir de pequenos caminhos
por onde a informação percorre espaços colaborativos. Os conservacionistas, que mais
atentam para a preservação dos ecossistemas, justificam sua ideologia pelo aquecimento
antropogênico da terra e são conectados com movimentos indígenas norte-americanos.
Concluiu-se que a experiência estética da natureza intermediada por atores sociais em
ambientes digitais se desdobra em proposições de ação em que o usuário se engaja de
forma plural, preservando todavia as lógicas estruturais dos regimes de informação
identificados.
Palavras-chave: Gestão da Natureza. Movimentos Socioambientais. Ecologia Profunda.
Ecologia social. Economia Verde. Cartografia de Controvérsias. Regimes de Informação.
Semiótica. Teoria Ator-Rede.
RÉSUMÉ
Cette thèse a pour objet d'étude les mouvements environnementalistes. Elle s’appuie sur
une cartographie des blogs et des sites Internet spécialisés. Les objectifs sont d’identifier et
de visualiser graphiquement les interconnexions entre acteurs et leurs habitudes de
consommation d'information. Ce qui permet de comprendre les migrations des valeurs
sémiotiques et leurs représentations dans les environnements numériques. L'objectif est de
comprendre la formation des idéologies qui guident la gestion de la nature à l'époque
contemporaine. Le cadre théorique adopté s’articule autour des concepts de sémiotique de
Peirce, en particulier le pragmatisme (ou comment les croyances se forment), et des
concepts de l'analyse des réseaux sociaux et des systèmes d'information. La méthodologie a
été inspirée par la théorie de la complexité. La Théorie Acteur-réseau et les études de
cartographie des controverses ont rendu possible la cartographie des réseaux sociaux sur la
conservation de la nature et la catégorisation des principaux sujets d'information. Dans les
environnements virtuels, les ONGs, les établissements d'enseignement, les centres de
recherche, les gouvernements, les mouvements sociaux et les individus sont des sujets
informationnels qui discutent l’écologie selon trois axes principaux : 1. la conservation des
zones de haute biodiversité et la préservation de la "beauté naturelle" (l'écologie profonde),
2. la nécessité d'une intégration entre l'écologie et la culture (l'écologie sociale), 3.
l'intégration entre économie et écologie (l'économie verte). Après avoir décrit les différents
réseaux et leurs relations, la cartographie permet de visualiser des "mèmes
intersémiotiques" en différentes parties du réseau, qui tentent d'influer les habitudes
collectives et individuelles. L'économie verte, soutenue notamment par les Nations Unies,
bénéficie de larges flux de communication - y compris dans les publications scientifiques, les
événements et les réseaux sociaux. C’est le cluster le plus cohérent du graphique.
L'écologie sociale, qui regroupe des groupes marginalisés et les mouvements sociaux en
Amérique latine, emprunte des flux de communication plus décentralisés, sans hiérarchie,
des petites routes où l'information se déploie dans les espaces collaboratifs. L'écologie
profonde, attachée à la préservation des écosystèmes, repose sur la mise en accusation de
l'homme, accusé notamment du réchauffement de la terre. Elle est notamment liée aux
mouvements des Américains autochtones. L'expérience esthétique de la nature, telle qu’elle
est vécue par les acteurs sociaux dans les environnements numériques, aboutit à des
propositions d'action dans lesquelles l'utilisateur s'engage au pluriel, tout en préservant la
logique structurelle des régimes informationnels.
Mots-clés: Gestion de la Nature. Écologie profonde. Écologie sociale. Économie verte.
Cartographie des controverses. Régimes d'information. Sémiotique. Théorie acteur-réseau.
ABSTRACT
The management of nature is the subject of this thesis, mapped through the practices of
signification and discussions on the environment which flow through virtual spaces. The
objectives were to identify and graphically visualise the interconnections of actors, and their
patterns of information consumption, allowing us to perceive the migration of semiotic values
across digital environments. The intention was to understand the formation of an ideology
which directs the management of nature in today's world. The theoretical framework adopted
was articulated from concepts originating in Peircean semiotics, particularly pragmatism (or
how beliefs are formed) from the analysis of social networks and regimes of information. The
methodology used complexity as a reference. The Actor-Network Theory and studies on the
cartography of controversies made it possible to map social networks built around the
preservation of nature, and to categorise the principle informational subjects. The results of
the research indicate three main tendencies in the formation of informational regimes which
can be observed on the network: social ecology, the green economy and deep ecology. In
virtual environments, NGOs, education institutions, research centres, governments, social
movements and individuals are informational subjects which discuss ecology according to
three biases: that of the conservation of areas of beauty and high biodiversity (deep
ecology); that of the necessity of integration between ecology and culture (social ecology);
that of the integration of ecology and the economy (the green economy). From the
description of the networks and their relationships, it was possible to visualise the processes
of inter-semiotic translation of memes at various points, which influence in turn collective and
individual habits. The ecological policy backed by the United Nations sustains flows in large
information pathways - between scientific publications, social networks and events - it is the
most cohesive cluster on the network, the main actor strengthening the green economy.
Flows originating in social ecology, marginalised groups and social movements in Latin
America, encourage a management of nature which is more decentralised and non-
hierarchical, with small pathways and information percolating through collaborative spaces.
Conservationists, who focus their attention on the preservation of ecosystems, propose an
ideology about anthropogenic global warming, and are connected with North-American
indigenous movements. We conclude that the aesthetic experience of nature, mediated by
social actors in digital environments, unfold in proposals of action in which the user engages
in a pluralistic manner, preserving nevertheless the structural logic of the identified
informational regimes.
Keywords: Nature. Deep Ecology. Ecology Social. Green Economy. Mapping Controversies.
Information Regimes. Semiotics. Actor-Network Theory.
LISTA DE FIGURAS
FIGURA1 – Le Modèle de web en couches........................................................................... 80  
FIGURA 2 – Busca comparativa em GoogleInsights............................................................. 87  
FIGURA 3 – Descrição das categorias classificadas............................................................. 88  
FIGURA 4 – Busca no Google Trends................................................................................... 89  
FIGURA 5 – Interface do Navicrawler, em interoperabilidade com o Firefox ........................ 94  
FIGURA 6 – Primeira barra de informações do Navicrawler ................................................. 95  
FIGURA 7 – Lista dos links internos e externos do site......................................................... 96  
FIGURA 8 – Segunda barra de ferramentas do Navicrawler................................................. 96  
FIGURA 9 – Lista de sites aceita no corpus da rede da gestão da natureza ........................ 97  
FIGURA 10 – Terra transformada em código de barras...................................................... 122  
FIGURA 11 – Comentários do blog de Rogério Almeida..................................................... 123  
FIGURA 12 – Imagens de protestos, crianças e medicamentos, nos sites de a4............... 127  
FIGURA 13 – Geeks na Rio+20 explicam os benefícios de Belo Monte. ............................ 130  
FIGURA 14 – Frames do video do blog de Belo Monte....................................................... 131  
FIGURA 15 – Recorte da revista Rio+20: Climate Change, New economy. ....................... 132  
FIGURA 16 – Telas iniciais do site da Rio+20, do site da ONU e do site da Unep ............. 133  
FIGURA 17 – Mural de mensagens do site oficial da Rio+20 ............................................. 135  
FIGURA 18 – Identificação do nome e território de quem concordou com a
mensagem .................................................................................................... 136  
FIGURA 19 – Hashtagsdo Kit de Conversação do Mundo que nós queremos ................... 138  
FIGURA 20 – Nuvem de tags dos termos relacionados aos engajamentos........................ 139  
FIGURA 21 – Diferentes formas de acesso à informação dos engajamentos .................... 139  
FIGURA 22 – Acesso à informação dos engajamentos por ano ......................................... 139  
FIGURA 23 – Destaques do site da Unep ........................................................................... 140  
FIGURA24 – Tela da versão mobile do site Skeptical Science ........................................... 145  
FIGURA 25 – Sites do Greenpeace, em diferentes idiomas ............................................... 149  
FIGURA 26 – Site do WWF ................................................................................................. 153  
FIGURA 27 – Protesto na Rio+20........................................................................................ 154  
FIGURA 28 – Meme do artigo sobre agronegócio............................................................... 166  
FIGURA 29 – Meme da entrevista de Telma Monteiro........................................................ 167  
FIGURA 30 – Meme da matéria “Madeira, um rio em fúria” ................................................ 168  
FIGURA 31 – Blogosfera em torno do site de Brenda Norrell ............................................. 169  
FIGURA 32 – Sites Língua Ferina, Forumbr163 e Racismo Ambiental............................... 175  
FIGURA 33 – Tags e categorias do blog Racismo Ambiental ............................................. 176  
FIGURA 34 – Organização da Informação e seções do site da Peta.................................. 177  
FIGURA 35 – Imagens do site da Rain Forest Foundation ................................................. 178  
FIGURA 36 – Recortes de material coletado durante a conferência Rio+20 ...................... 179  
FIGURA 37 – Nota com mensagem “Tião Viana traidor, mudou horário do Acre”.............. 181  
FIGURA 38 – Imagens do site WWF Internacional ............................................................. 183  
FIGURA 39 – Fotos classificadas como ecologia profunda................................................. 188  
FIGURA 40 – Fotos classificadas como ecologia social...................................................... 189  
FIGURA 41 – Fotos classificadas como economia verde e nova ecologia ......................... 190  
FIGURA 42 – Postal distribuído pelos assossores de Ta’Kaya Blaney............................... 194  
LISTA DE GRÁFICOS
GRÁFICO 1 – Mapa da rede em torno do termo Pizango ..................................................... 90  
GRÁFICO 2 – Mapa da rede classificado de acordo com a gestão da natureza .................. 99  
GRÁFICO3 – Mapa da rede classificada de acordo com o idioma ..................................... 100  
GRÁFICO 4 – Destaque no grupo da ecologia profunda para os sites do IPCC e do
Real Climate ................................................................................................. 100  
GRÁFICO 5 – Rede classificada de acordo com a natureza institucional........................... 101  
GRÁFICO 6 – Rede separada em clusters e subclusters ................................................... 105  
GRÁFICO 7 – Agrupamento ecossocialista marxista no cluster de ecologia social............ 108  
GRÁFICO 8 – Relações da actante Brenda Norrell............................................................. 111  
GRÁFICO 9 – Agrupamento à direita dentro do cluster de ecologia social......................... 115  
GRÁFICO 10 – Rede egocentrada no site O Eco ............................................................... 120  
GRÁFICO 11 – Subcluster a3.............................................................................................. 121  
GRÁFICO 12 – Rede ego-centrada no Instituto Socioambiental......................................... 125  
GRÁFICO 13 – Subcluster a4.............................................................................................. 126  
GRÁFICO 14 – Subcluster a5.............................................................................................. 128  
GRÁFICO 15 – Rede em torno do blog oficial de Belo Monte............................................. 129  
GRÁFICO16 – Comparação dos tráficos do site Rio+20 .................................................... 141  
GRÁFICO 17 – Subcluster c1.............................................................................................. 143  
GRÁFICO 18 – Subcluster c2.............................................................................................. 146  
GRÁFICO 19 – Subcluster c3.............................................................................................. 147  
GRÁFICO 20 – Rede apreendida em abril de 2012 ............................................................ 152  
GRÁFICO 21 – Cluster G .................................................................................................... 157  
GRÁFICO 22 – Cluster H..................................................................................................... 157  
GRÁFICO 23 – Cluster I ...................................................................................................... 159  
GRÁFICO 24 – Cluster J ..................................................................................................... 159  
GRÁFICO 25 – Cluster D..................................................................................................... 160  
GRÁFICO 26 – Comparação entre categorias de gestão da natureza e linguagem........... 161  
GRÁFICO 27 – Partição em relação à natureza institucional da rede................................. 162  
GRÁFICO 28 – Local de publicação das informações ........................................................ 195  
GRÁFICO 29 – Grau de instrução ....................................................................................... 196  
GRÁFICO 30 – Tempo de trabalho ..................................................................................... 196  
GRÁFICO 31 – Tempo de conexão..................................................................................... 197  
GRÁFICO 32 – Uso de redes sociais .................................................................................. 197  
GRÁFICO 33 – Fontes de informacão................................................................................. 198  
GRÁFICO 34 – Hábito de publicação de outras fontes ....................................................... 198  
GRÁFICO 35 – Hábito de leitura ......................................................................................... 199  
GRÁFICO 36 – Estratégias de Comunicação...................................................................... 199  
GRÁFICO37 – Quantidade de envio de mailing .................................................................. 200  
GRÁFICO 38 – Idioma de publicação.................................................................................. 200  
GRÁFICO 39 – Tipo de participação no evento .................................................................. 201  
GRÁFICO 40 – Conceito de economia verde...................................................................... 201  
GRÁFICO 41 – Conceito de economia verde em português............................................... 202  
GRÁFICO 42 – Conceito de economia verde em inglês ..................................................... 202  
LISTA DE TABELAS
TABELA 1 – Índices Alexa para o site da UNEP ................................................................. 141  
LISTA DE QUADROS
QUADRO 1 – O que acredita fazer a ecologia política e o que ela faz de fato ..................... 32  
QUADRO 2 – Etapas da Metodologia de Pesquisa............................................................... 92  
QUADRO 3 – Estrutura, atores e regularidades dos clusters da rede ................................ 106  
QUADRO 4 – Filosofias da ecologia política relacionadas às categorias
fenomenológicas........................................................................................... 187  
ACT
ANDA
ARS
CFSC
CI
CNBB
CNRS
CODESVASF
CPT
ECI
FAO
FASFIL
GT
GTA
IBAMA
IBGE
IHU
INRA
IPCC
ISA
IUCN
MAB
MAPA
MST
OCNI
OGMs
ONGs
ONU
OSCIP
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
Act Alliance
Agência de Notícias dos Direitos dos Animais
Análise de Redes Sociais
Comitê Facilitador da Sociedade Civil Brasileira para a Rio+20
Ciência da Informação
Conferência Nacional dos Bispos do Brasil
Centre National de la Recherche Scientifique
Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do
Parnaíba
Comissão Pastoral da Terra
Escola da Ciência da Informação
Food and Agriculture Organization/ Programa de Agricultura e
Alimentação das Nações Unidas
Fundações Privadas e Associações sem Fins Lucrativos
Grupo de Trabalho
Grupo de Trabalho Amazônico
Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais
Renováveis
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
Instituto Humanitas Unisinos
Instituto Nacional de Pesquisa Agronômica da França
Painel Internacional das Mudanças Climáticas
Instituto Socioambiental
União Internacional para Conservação da Natureza/The World
Conservation Union
Movimento Anti-Barragem
Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento
Movimento Sem Terra
Objetos comestíveis não identificados
Organismos Geneticamente Modificados
Organizações Não Governamentais
Organização das Nações Unidas
Organização da Sociedade Civil de Interesse Público
OUI
Peta
PNUD
PR
RBMA
REBEA
REDD
Rio+20
RT
TAR
TICs
UNCSD
UNEP
UNESCO
USP
WWF
Organização e Uso da Informação
People for the Ethical Treatment of Animals
Programa de Desenvolvimento das Nações Unidas
Page Rank
Reserva da Biosfera da Mata Atlântica
Rede Brasileira de Educação Ambiental
Reducing Emissions from Deforestation and Forest Degradation
Conferência para o Desenvolvimento Sustentável das Nações Unidas
Retweets
Teoria Ator-Rede
Tecnologias da Informação e Comunicação
United Nations Conference on Sustainable Development
Programa Ambiental das Nações Unidas
Organização das Nações Unidas para a educação, a ciência e a
cultura
Universidade de São Paulo
World Wildlife Fund
SUMÁRIO
 
1 INTRODUÇÃO.................................................................................................................... 16  
1.1 Informação: representação, organização, gestão ...................................................... 19  
1.2 Problema......................................................................................................................... 22  
1.3 Justificativa .................................................................................................................... 23  
1.4 Objetivos......................................................................................................................... 25  
2 RELAÇÃO HOMEM E NATUREZA: PRECEDENTES DA CRISE AMBIENTAL
MUNDIAL.......................................................................................................................... 28  
2.1 Ambientalismo e ecologia: origens da ecologia política ........................................... 29  
2.2 O contexto para o surgimento de redes ambientais .................................................. 36  
2.3 Países, paisanos, paisagens: as questões de território ............................................ 39  
2.4 A ecologia política e as controvérsias entre as filosofias do pensamento
ecológico ....................................................................................................................... 43  
3 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA ......................................................................................... 46  
3.1 A semiótica de Charles Sanders Peirce ...................................................................... 47  
3.1.1 As categorias fenomenológicas ............................................................................. 49  
3.1.2 Pragmatismo, memes e a formação das crenças.................................................... 52  
3.2 Análise das redes sociais ............................................................................................. 58  
3.2.1 O método de análise de redes sociais - ARS ............................................................... 62  
3.3 Regimes de informação ................................................................................................ 65  
3.4 Teoria ator-rede.............................................................................................................. 67  
3.4.1 Regimes de informação em ambientes colaborativos .............................................. 70  
3.4.2 Cartografia de controvérsias ................................................................................. 71  
4 METODOLOGIA DE PESQUISA ....................................................................................... 81  
4.1 Ensaios e testes para a visualização dos movimentos ambientais digitais ............ 83  
4.2 As ferramentas de medição .......................................................................................... 91  
4.3 Protocolo e Navicrawler ................................................................................................ 93  
4.4 Survey online ............................................................................................................... 102  
5 ANÁLISE .......................................................................................................................... 103  
5.1 O cluster de ecologia social ....................................................................................... 106  
5.1.1 a1 – Ecologia social: ecossocialismo marxista...................................................... 107  
5.1.2 A2 – O lado mais heterogêneo da ecologia social...................................................... 115  
5.1.3 a3 – Xingu Vivo e International Rivers.................................................................. 121  
5.1.4 a4 – Cúpula dos Povos....................................................................................... 125  
5.1.5 a5 – Governo do Brasil ....................................................................................... 127  
5.1.6 O Cluster B: economia verde .............................................................................. 133  
5.1.7 Tráfego dos sites da ONU .......................................................................................... 140  
5.1.8 Cluster C ........................................................................................................... 142  
5.1.9 Actantes pontes ................................................................................................. 147  
5.1.10 Clusters marginais............................................................................................ 156  
5.1.11 Gestão da Natureza, linguagem e estatuto institucional....................................... 160  
5.2 Identificação de práticas e conteúdos................................................................. 164  
5.2.1 Formatação do olhar e participação do público: o caso do EcoDebate e do
Racismo Ambiental ............................................................................................ 171  
5.2.2 Os sujeitos e os widgets no espaço informacional ................................................ 173  
5.3 Processos de semiose ................................................................................................ 177  
5.3.1 O pragmatismo das doações............................................................................... 177  
5.3.2 O hábito do vegetarianismo ................................................................................ 179  
5.3.3 Mudanças de hábitos: o caso de Denis Delbecq ................................................... 180  
5.3.4 Mudanças de hábitos coletivos: o horário do Acre ................................................ 180  
5.3.5 Espiritualidade e ambientalistmo: a ciberteologia ambiental................................... 182  
5.3.6 O parque natural como extensão do espaço doméstico......................................... 183  
5.3.7 Análise imagética do futuro que queremos ........................................................... 184  
5.3.8 O conflito da formatação dos dispositivos na formação da identidade dos
sujeitos: o caso Guarani-Kaiowa ......................................................................... 191  
5.3.9 A nebulosa ........................................................................................................ 192  
5.4 Os resultados do questionário online ....................................................................... 194  
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................................. 205
REFERÊNCIAS ................................................................................................................ 212  
ANEXOS ........................................................................................................................... 227  
16
1 INTRODUÇÃO
Os fluxos de informação na internet, no âmbito das redes sociais ecológicas,
geram um conhecimento que influencia a ‘gestão’ da natureza. Partimos do pressuposto de
que informações científicas sobre questões ambientais provocam uma padronização
determinante do olhar do homem sobre a natureza. Essas informações alimentam o debate
em redes de controvérsias, se contrapondo aos saberes profanos (LATOUR, 2011;
MOURGEONS, 2006), não oficiais, disseminados pelo barateamento das tecnologias que
permitem a produção informacional em blogs, redes sociais, coletivos de mídia e terceiro
setor.
Essa disputa semiótica entre os saberes profanos e científicos não é tão simples
que possamos dizer que existe um pró ou contra, um culpado ou um inocente (LATOUR,
2011). Cartografar as controvérsias é tentar visualizar uma árvore de questões com os
representantes de cada ponto de vista e seus argumentos.
No caso do movimento ambientalista na internet, as discussões têm como
objetivo provocar desde mudanças em políticas governamentais a alterações no
comportamento cotidiano e crenças de cidadãos comuns.
Os principais assuntos que circulam nas redes de controvérsias da gestão da
natureza envolvem a representação da crise climática do planeta. Em torno disso,
confrontam-se questões desenvolvimentistas de interesses econômicos, culturais e políticos
com a necessidade de conservação.
As representações da natureza em contextos virtuais, justificam a crise climática
ora como natural, ora como de causa antropogênica. Nessa trama cognitiva, conceitos
ganham e perdem forças1 nos jogos de espetacularização de eventos como o terremoto no
Haiti, maremotos e tsunamis no Japão, entre outros.
Mas, mais do que ser um estudo sobre a representação da crise climática do
planeta na internet, esta pesquisa é sobre a crise de consciência do homem em relação à
natureza, uma crise semiótica, de guerra de significações dentro de um contexto
globalizado, entre sujeitos informacionais. Segundo Morin:
La conscience de l’humanité est aujourd’hui incarné non plus par de grandes
intellectuels comme Victor Hugo, Romain Rolland (en 1914) et, dernier en date,
Raimund Panikkar (décédé en 2010), mais par le Club de Rome et des ONGs
humanitaires (Survival International, Amnesty International, Greenpeace, Médecins
sans frontières, etc). (MORIN, 2011, p. 19)2
1 Edgar Morin fala sobre a questão ‘semântica’ do movimento ambiental no vídeo ‘edgar-mots’. Disponível
em: <http://www.youtube.com/watch?v=IfTOXKipdRk&feature=g-upl>. Acesso em: 29 jun.2012.
2 A consciência da humanidadede hoje não é encarnadao por grandes intelectuais como Victor Hugo,
Romain Rolland (1914) e recentes, como Raimund Panikkar (falecido em dez. 2010), mas pelo Clubede
17
Os fluxos de informação dinamizados inicialmente por Organizações Não
Governamentais (ONGs) constituem o movimento ambientalista nos espaços virtuais, e são
reproduzidos pelos indivíduos, sujeitos informacionais que têm seu poder de enunciação
potencializado na sociedade dos indivíduos (ELIAS, 1994).
Esta pesquisa é uma continuação transdisciplinar da pesquisa iniciada com a
dissertação de mestrado ‘Amazônia Transnacional: as redes ambientais na internet e a
padronização da natureza’ (2007). Embora o campo disciplinar não seja o mesmo (a
dissertação foi defendida no Programa de Pós Graduação em Extensão Rural, do
departamento de Economia Rural da Universidade Federal de Viçosa), os níveis sejam
distintos (primeiro mestrado, agora doutorado), e mesmo a formação dos orientadores seja
bastante diversa, pode-se dizer que fundamentalmente o objetivo da pesquisa continua
sendo aprofundar o conhecimento acerca do fenômeno do movimento informacional
ambientalista nos espaços virtuais.
A orientação teórica da dissertação, fundadamentada na análise semiótica de
negociações simbólicas entre redes transnacionais, permitiu ilustrar a dinâmica do
movimento ambiental da rede ego-centrada3 no site do Grupo de Trabalho Amazônico
(GTA), a partir da vizualização de gráficos relacionados a entrevistas com os produtores da
informação da rede, sendo possível demonstrar, de forma descritiva e visual, atributos de
relações explícitos entre atores da rede, que atuam na Amazônia.
Dando seguimento a este estudo, em grau de doutoramento, pretendeu-se
compreender como a informação em torno da questão ambiental é organizada em
plataformas digitais colaborativas, através das práticas do sujeito informacional que habita e
medeia estas redes.
Vários novos termos e conteúdos povoam os fluxos por onde perpassam esses
sujeitos: acordos e refugiados climáticos, desastres ecológicos, conflitos indígenas, crédito
de carbono, manejo florestal, sustentabilidade, tsunamis, desertos, degelo, vítimas
ambientais, extinção de espécie, ONGs e protestos... Compreender os processos de
formação de sentido que definem os termos predominantes nesses espaços virtuais ajuda a
delimitar a influência de um regime informacional.
A realização da pesquisa no campo disciplinar da Ciência da Informação é
pertinente porque é uma área de conhecimento que busca compreender, “do ponto de vista
do sujeito, os aspectos intelectuais, sociais e técnicos envolvidos na ação de produzir,
Romae as ONGs humanitária (Survival International, Anistia Internacional, Greenpeace, Médicos Sem
Fronteiras, etc.) (MORIN, 2011, p. 19). Tradução nossa.
3 Rede ego-centrada, como será melhor definido adiante, é uma rede envolta de um nó, vista da
perspectiva de suas ligações com outros nós.
18
sistematizar, organizar, disseminar e recuperar informação” (MOURA, 2009, p. 195), a fim
de saber como esses fluxos podem ajudar na construção de sistemas de informação. A
Ciência da Informação, portanto, se responsabiliza pela aplicação prática de
aperfeiçoamento técnico para potencializar a interação entre os usuários e a informação,
compreendida neste projeto “como um signo que se atualiza na interface com o sujeito
(MOURA, 2009, p. 195). Pretendemos compreender o comportamento deste sujeito que,
nos ambientes virtuais, tratam o tema do ambientalismo.
O primeiro capítulo apresenta o conceito de informação escolhido para nortear
essa pesquisa, que é de natureza semiótica, os objetivos, problema e justificativa de
inserção da mesma na linha de pesquisa Organização e Uso da Informação da Escola da
Ciência da Informação da Universidade Federal de Minas Gerais.
No capítulo dois, apresenta-se a evolução do movimento ambientalista, desde o
início do século XX até a atuação transnacional das ONGs na atualidade, com atenção para
a formação das crenças da consciência ambiental ao longo do tempo e o foco nos diferentes
tipos de ecologia, a fim de contextualizar o leitor histórica e culturalmente no problema de
pesquisa.
No capítulo terceiro, foram desenvolvidas duas vertentes teóricas: 1) a semiótica
peirciana 2) a sociedade em rede e os regimes de informação, palco para as cartografias de
controvérsias. Na semiótica peirciana, damos destaque ao conceito de pragmatismo, ou
como se formam as crenças, desenvolvido juntamente com o conceito de meme, que
analisa como ideias se tornam virais em espaço virtuais colaborativos. São os espaços das
redes sócio-semânticas e ou sócio-semióticas, onde é possível encontrar padrões
informacionais.
A metodologia de pesquisa é apresentada no capítulo quatro, como uma
narrativa da nossa busca pela apreensão da complexidade do objeto. Finalmente, no
capítulo 5, é visualizada a rede coletada, da qual é feita uma análise semiótica dos
diferentes tipos de consciência ambiental, idiomas, e tipos de recursos informacionais
utilizados, a partir da descrição das relações entre os sites e seus padrões, de acordo com
os objetivos propostos.
As considerações finais, no capítulo seis, são acompanhadas dos
direcionamentos futuros que despontam dessa pesquisa.
19
1.1 Informação: representação, organização, gestão
O movimento ambientalista que se processa em plataformas e espaços virtuais
possibilita a circulação de grande volume de dados, contextualizados de acordo com as
práticas sociais. A observação deste fenômeno é pertinente na área de Ciência da
Informação – (CI) porque a mesma entende informação não só em função dos métodos e
meios de organização e uso (como armazenar, selecionar, categorizar), mas principalmente
em função do usuário, seus processos cognitivos e o contexto para a construção social de
significados.
O movimento ambientalista na internet e os processos de significação que
potencializa, enquanto objeto da Ciência da Informação, em suas múltiplas interfaces, não
devem ser compreendidos como um significado estático, porque informar implica
necessariamente modificação do conhecimento, ou da representação do estado das coisas,
por outros fatores que influenciam a comunicação, chamado por Peirce (SANTAELLA, 1992)
de ‘experiências colaterais’, e considerados por Shannon e Weaver (1975) como ‘ruídos de
comunicação’. Ou seja, informação é o que se poderia dizer, e não tanto o que se diz: se
constitui a ‘medida de liberdade’ enquanto escolha para algo que se quer comunicar. Um
conjunto de qualidades perceptivas para o sujeito se comunicar e produzir sentido.
Todas essas definições em torno do termo se originam da necessidade de
visualizar probabilidades de informação em qualquer contexto. Assim, informação é quase
um “sinônimo do termo fato; um reforço do que já se conhece; a liberdade de escolha ao
selecionar uma mensagem” (MCGARRY, 1999, p.4), além de ser considerada matéria-prima
do conhecimento, algo que reduz incertezas, ou o assunto contido em um documento
(principalmente no âmbito das análises classificatórias). Informação é também algo que
promove a redução da entropia, em termos de efeito no receptor.4
Recebemos informação o tempo todo, por meio de nossa sensibilidade e
percepção. Nossa principal atividade cognitiva no mundo é reagir a eventos e frente a eles
tomar decisões. Esses eventos podem ser comparados a pacotes de informação, enquanto
estímulos, que a realidade impõe à percepção, os quais podem ser ordenados em
categorias (interno/externo, passado/futuro, aqui/lá), ou em relação a sua localização no
tempo e espaço (geolocalização).
A definição de informação transcende-se em um processo de natureza sígnica.
Mais do que in-formar, a semiose transforma as cadeias de significação que ajudam na
4 Essas discussões são frutos da disciplina Fundamentos Teóricos da Informação, ministrada pelo
professor Carlos Alberto Ávila Araújo, no primeiro semestre de 2009, no PPGCI/UFMG.
20
consolidação de eventos. Se conseguimos visualizar de modo ordenado os eventos, talvez
possamos dar alguma lucidez à experiência. Nisso se baseia a classificação das
informações enquanto categorias fundamentais e é o princípio essencial para se alcançar a
‘gestão da informação e do conhecimento’.
Hoje em dia, a palavra ‘gestão’ está na moda, principalmente no âmbito
mercadológico, da comunicação e fluxos de informação dentro das empresas. Enquanto
pesquisa, é diretamente relacionada à investigação das práticas informacionais de
empresas, ou seja, em saber como as organizações dispõem sua informação e sentidos.
Organizar os significados é fazer gestão, numa tendência rígida de controle técnico dos
sentidos por softwares automatizados e manuais de ‘gestão de conteúdos’. Mas,
concordamos com Frota (2007) que há uma lacuna quanto à existência de pesquisas que
investiguem essa gestão da informação em organizações da sociedade civil,
governamentais e não governamentais, e mais que isso, há uma lacuna em se investigar
regimes de informação que promovem a interação destas últimas (ONGs e governos) com
empresas que participam de redes de organizações voltadas para determinados conteúdos,
como, por exemplo, a questão ambiental na internet. A autora entende que, nas pesquisas
de ‘gestão da informação e conhecimento’:
parece predominar uma leitura restrita da sociedade contemporânea, fortemente
pautada por um viés neo-liberal, na qual o mercado é super dimensionado e as
dimensões da sociedade civil e do Estado são simplesmente desconsideradas ou
tratadas como subordinadas à lógica totalitária do mercado. (FROTA, 2007, p. 56)
Percebe-se, nos estudos de gestão, uma visão mercantilista dos processos
informacionais, voltada para perfomance organizacional, em detrimento de estudos
cognitivos, sociais e políticos, ou seja, não são discutidos os conflitos e contradições
implícitos na gestão da informação e do conhecimento, sob a perspectiva da significação
social destes processos. É justamente isso que nos move nessa tese.
Informar, ou formar sentido, não é um processo estanque, engessado. Os
sistemas de organização da informação são diferenciados. Em tempos de convergências de
medias, o fato de sabemos que as palavras sempre têm mais de um significado, como
afirma Pinto (2009a), se potencializa:
Ora, nenhum vocábulo apresenta um só significado. Ademais, se o sentido é igual
ao significado, acabamos tendo frase como essa que, certamente, ouvimos em
muitas organizações: “Aqui, X quer dizer Y.” E ocorre uma espécie de
engessamento do processo de semiose que vai na contramão do próprio sentido da
palavra semiose: a geração infinita de sentidos.” (PINTO, 2009a, p.82)
Então, podemos questionar quais atores dos processos de semiose, no
movimento ambiental, pretendem fixar quais significados. Esta pesquisa busca um ponto de
equilíbrio, que é reconhecer a multiplicidade de significados nos processos de
21
representação da condição climática e natural do planeta, situado entre dois extremos: as
práticas de gestão da informação e conhecimento (com tendência a fixar significados) e o
risco de se cair em um ‘relativismo absoluto’ (PINTO, 2009a).
Pinto (2009a) constrói o conceito de ‘permediatividade’ do signo, que considera
que toda comunicação é passível de ruídos, que sofrem adaptações relacionadas à
capacidade do receptor de interpretar a informação, traduzida na sua mente de acordo com
sua capacidade. Por exemplo, a conservação da natureza pode ter um significado para os
índios, outro os madeireiros, e outro para os pecuaristas, populações ribeirinhas... e outro
ainda para um cibercidadão que se informa sobre as questões ambientais pela internet.
Mas, será em que pontos eles concordam ou discordam – ou seja – será que o consumo de
manifestações discursivas do ambientalismo servem como elementos de agregação
identitária? Essa é a principal questão dessa tese.
À princípio, corroboramos com a verdade que os signos são imprevisíveis, eles
permedeiam e não há garantias em relação à produção de sentido:
A permediatividade leva em conta que há intenção nas instâncias produtoras da
mensagem, mas também há intenção nas instâncias receptoras dessas mesmas
mensagens, na medida em que somos vítimas de nosso próprio discurso, já que
meus signos fazem parte de um repertório que vamos adquirindo ao longo da vida.
(PINTO, 2009a, p. 87)
Através da manipulação desses repertórios, como as organizações dispõem sua
informação e os sentidos que dão significado à sua existência? O sentido de ‘gestão’, nessa
leitura, tem outro valor:
Num ambiente como o das organizações, que vem sendo cada vez mais dominado
pela ideia de gestão – e gestão talvez seja só outro nome mais açucarado para
panóptico e para vigilância –, existe a ilusão de que se possui a forma de bem
conduzir as coisas, de maneira que as coisas atinjam seu objetivo. (PINTO, 2009a,
p. 86)
Dispositivos de captura de imagens e conteúdos fornecem matéria prima para,
inter-cruzando estes dados com as trilhas de informação deixadas por usuários na internet,
permitir a visualização de estados sociais, da formação e alteração dos hábitos pelas
tecnologias de comunicação, ou o monitoramento da evolução das competências cognitivas
(REGIS, 2008). O panóptico e a vigilância são apontados (BRUNO, 2009; KINGSLEY, 2008;
GREEN, 2002) como criadores de regimes escópicos da realidade, ou seja, regimes de
gestão, de controle coletivo da sociedade e dos processos de significação. É fundamental
desconfiar do sonho da transparência bottom-up que este panóptico participativo produz
(BRUNO, 2009). Muitos governos e empresas estão interessadas nessas informações, a fim
de manipular as ideologias políticas e do consumo. Por outro lado, com a Web 2.05 surge
5 Conjunto de práticas e princípios que definem padrões e modelos de negócios para uma nova geração
de softwares e aplicações web. (O´REILLY, 2005)
22
uma multidão de pessoas interessadas em compartilhar em ambientes digitais informações
sobre empresas e governos, a fim de monitorar, por exemplo, suas práticas de
responsabilidade social:
Sous l’effet conjugué du development des technologies et de la professionnalisation
de la société civile, un réseau efficace de vigilance a vu le jour, accessible a tous les
citoyens, à la fois source d’information pour les médias et organe de surveillance et
de dénonciation des institutions, publiques et privées, dérogeant à leurs
responsabilités environnmentales et sociales (BERHAULT, 2008, p.25).6
Essa prática, de compartilhamento coletivo e em rede de informação, resulta em
ações no mundo da vida (político, econômico, cultural), por exemplo, o boicote a empresas e
produtos da Nike e da Shell (BERHAULT, 20O8; KLEIN, 2004), eventos como Fórum Social
Mundial e a proliferação de ONGs ambientais pelo mundo.
1.2 Problema
O problema desta pesquisa foi entender como as controvérsias do discurso
ambientalista mediado, representado e manifesto nos espaços virtuais permitem a formação
de processos de significação capazes de influenciar comportamentos sociais para ‘gerir’ a
natureza. Esse discurso tem se sustentado em diálogos entre atores informacionais em
lugares públicos, como no espaço das mídias sociais da internet.
Após pesquisa exploratória de navegação livre na internet em busca de termos
relacionado à conservação da natureza, constatamos que a dinâmica informacional do
movimento ambiental reflete em ações políticas e econômicas no mundo da vida.
A mediação informacional de ONGs através da divulgação de informações
científicas, pressiona acordos mercadológicos em redes de empresas. Por outro lado, as
empresas se adiantam e praticam outras formas de construção de significados que
permitem agregar o valor da conscientização ambiental à identidade organizacional.
Há indicadores da existência das mediações informacionais em torno do
movimento ambiental, são os padrões de suas comunicações e representações nos
ambientes virtuais. Através das ferramentas de busca que fazem a análise da popularidade
de termos na web, é possível visualizar, de maneira fractal, representações do debate
ambiental.
6 Sob o efeito conjugado do desenvolvimento das tecnologias e da profissionalização da sociedade civil,
surge uma rede eficaz de vigilância, acessível a todos os cidadãos que é ao mesmo tempo fonte de
informação para as mídias e órgão de vigilância e denúncia de instituições públicas e privadas que
desconsideram suas responsabilidades ambientais e sociais. (Tradução nossa)
23
A questão principal dessa pesquisa é a padronização destes fluxos de dados.
Passou por identificar a quantidade de repetições de determinada informação e pela
delimitação da identidade informacional dos perfis, que é efêmera, demarcada pelos
interesses subjetivos conflitantes em torno da questão da preservação da natureza. A busca
por padrões de disseminação considerou também o seu complemento: saber como se
traduz ou se altera a informação entre os diferentes nós da rede – ou entre os diferentes
meios (ambientes virtuais) – por onde ela circula.
1.3 Justificativa
A interseção, nesta proposta, entre a Ciência da Informação e da Semiótica, é
devido à primeira estar inserida em um campo de conhecimento que estuda a informação
contextualizada no tecido social enquanto a segunda é a doutrina que estuda o processo de
produção de signos. Ou seja, ferramentas apropriadas para refletir sobre a dinâmica de
significação, de circulação de signos em uma rede de atos, chamada por Moura (2006, p.5)
de ‘concepção semiósica’, na qual atores das redes ambientais interagem e promovem a
construção do conhecimento legitimador de intervenções ambientais:
Essa interação requer a consolidação de diálogos interdisciplinares nos quais a
mediação, a formação e a interação informacional sejam evidenciadas tornando
possível compreender, no âmbito da Ciência da Informação, o modo como sujeitos e
informações se articulam semioticamente. (MOURA, 2006, p.5).
A inserção na linha de pesquisa Organização e Uso da Informação (OUI) se
justifica por ser uma pesquisa que responde à questão de como se auto-organiza a
disseminação de padrões de informação do movimento ambiental e identificar caminhos
comumente percorridos pela informação. Essa noção permite saber como esses fluxos,
quando instituídos como ‘vias de informação’, podem gerar uma padronização de
significados que determinam a relação do homem com o ambiente onde vive. Essas redes
sociais, e principalmente o sujeito que nelas flui, têm sido objeto da linha de pesquisa
Organização e Uso da Informação da Escola da Ciência da Informação (ECI).
Isso porque a ampliação dos processos de produção, disseminação e
compartilhamento de informação tem resultado em uma relativa autonomia dos sujeitos, que
são atores heterogêneos e fractais em espaços sociais interconectados. A Ciência da
Informação, principalmente a área de organização e uso da informação, se pauta pelo
‘usuário’ que, se antes era o ‘público alvo’, controlado, delimitado, neste momento deixou de
ser passivo para se expressar, categorizar e disseminar informação.
24
A fim de caracterizar esse usuário, fala-se em ‘identidade informacional’, mas na
verdade o processo de identificação é de significação, mediado pela informação que os
atores disponibilizam e consomem de outros. As representações sociais convencionam os
objetos, pessoas e acontecimentos, o que resulta em fragmentos das potencialidades do
sujeito, definido na fronteira entre o que recebe e o que doa.
Esse sujeito, que se pode chamar de sujeito informacional é o objeto que
direciona as pesquisas em organização da informação7, tanto para quem trabalha com este
campo relacionado às teorias da significação, quanto para desenvolvedores de aplicativos e
dispositivos de organização automática de dados.
Existe um fato novo, que é a possibilidade deste sujeito informacional deixar
rastros, vestígios, que configuram sistemas sócio-semânticos e sócio-semióticos, onde se
formam redes epistêmicas. Links, textos, filmes, músicas, avatares são índices do caráter
efêmero dos objetos informacionais em rede e da existência de uma nova tipologia
documental híbrida. Foi necessário compreender os regimes de ação, atores e espaços que
ocorrem em torno da informação de uma perspectiva da significação negociada e produzida.
Comunidades de saberes resultam de reuniões de indivíduos em interação em
uma rede social, que manipulam, trocam e produzem informação ligada a um domínio de
interesse ou especialização partilhada. Segundo Cointet (2009), a partir da interação em
sistemas sociais complexos onde trafegam conteúdos distribuídos, o saber adquire um
sentido mais amplo: é o conjunto de processos que dão lugar à produção de artefatos
culturais variados, distribuídos, discutidos e negociados em uma rede social. No entanto,
observa-se que os engajamentos sociais se processam em variados canais. Se é possível,
por um lado, identificar a agregação semântica que caracteriza certas tribos e comunidades,
por outro lado os laços são perenes e heterogêneos.
A agregação semântica permite caracterizar as redes cognitivas (COINTET,
2009), que revelam acordos semióticos e são a combinação de três redes em evolução: a
rede social, que traduz as interações inter-individuais; uma rede sócio-semiótica, que
descreve como as entidades se mobilizam e interagem; e uma rede semântica, referente
aos padrões no conjunto de entidades semióticas. Dessa forma, atores sociais, grupos,
percursos, linguagens, documentos e práticas informacionais negociadas manifestam um
background semântico.
Os rastros digitais são vestígios significativos que comprovam o caráter
panóptico da tecnologia. O agente em ação é meio de expressão e comunicação com o
7 A maioria das ideias apresentadas aqui são frutos das discussões em classe da disciplina Teorias das
Significações e Redes Sociais, ministrada pela professora Maria Aparecida Moura, na ECI, 2010.
25
ambiente, deixa rastros textuais, observados nas dinâmicas sociais e semânticas online na
contemporaneidade. O avatar é o produto da tensão entre dois universos que não são
regidos nem pelas leis físicas, nem pelas leis morais. Isso resulta em uma nebulosidade que
envolve o sujeito informacional, e em alguns problemas de pesquisa, como citado por Frota:
o da representação do conhecimento numa sociedade na qual é cada vez mais difícil
atribuir sentido à informação: os sujeitos informacionais se agregam a uma
pluralidade de coletivos e redes sociais; os suportes informacionais são moventes e
desigualmente distribuídos e apropriados e, finalmente, no campo das ações
informacionais, as fronteiras entre os produtores, os organizadores e os utilizadores
de informação são cada vez mais porosas e fluidas. (FROTA, 2007, p.55)
A identidade performativa deste sujeito e sua representação indicial se
manifestam pela interface do computador, gerando novas formas de presença e certificação.
Este fenômeno evidencia que a Ciência da informação vai se reposicionar ao considerar nos
sistemas de informação o sujeito diluído pelo digital e vai pensar sobre novos parâmetros
para organizar a informação nos meios digitais.
É um desafio ao campo epistemológico da Ciência da Informação, que reúne a
pesquisa de fundamentos teóricos e sociais da informação às ferramentas conceituais para
a organização da mesma, inclusive em contextos digitais. Este é o lugar de onde se olha o
objeto, de forma orgânica, por esse espectro de estudos. A importância de saber como se
processam esses fluxos de informação na rede, de como é preservada a autonomia de cada
nó, de notar quais pontos são comumente mais ‘emissores’ de informações originais,
enquanto outros se servem de informações reproduzidas para, em processos de
antropofagia cultural, criar novos significados, são dimensões analisadas por essa linha de
pesquisa.
Este estudo está sendo importante não só para identificar as características e
ações dos sujeitos do movimento ambientalista nos espaços virtuais, mas também quais
suas interações empíricas, para explorar tensões e posicionamentos da rede que os
constitui, tendo em vista a carência de estudos acerca do tema. Por ser um índice recorrente
da atualização da memória coletiva, o estudo sobre o fluxo, ou seja, como se dá a
reprodução, atualização e re-inserção de informação em diferentes pontos da rede indica a
mutação dos valores ambientais pelos parâmetros culturais de cada usuário.
1.4 Objetivos
Com essa pesquisa, pretendeu-se descrever o movimento ambiental em sua
dimensão web e visualizar as redes de controvérsias que promovem a gestão da natureza.
Procurou-se identificar como a informação em torno da questão ambiental se organiza em
26
plataformas digitais colaborativas, através das práticas sociais do sujeito informacional
(usuário, produtor, consumidor de conhecimento).
Com isso, categorizamos o interesse em torno do tema específico ‘gestão da
natureza’, a partir da análise de sites escolhidos e através da análise de volumes de
metadados recuperados por mecanismos de busca, que são os vestígios deixados por este
sujeito.
Como objetivos específicos, simultaneamente ao mapeamento das redes sociais
por onde flui informação sobre preservação da natureza, selecionamos e categorizamos os
principais sujeitos informacionais, o que deu embasamento a análise de suas ações e
manifestações na web.
Ainda como objetivos específicos, nós identificamos, nos segmentos
selecionados da rede, termos e conteúdos predominantes, padrões de comportamentos e
de conexões que podem influenciar um regime informacional. Com isso, foi possível
interpretar os processos de semiose que sustentam esses regimes, a partir de suas
representações informacionais, para a formação de uma ideologia que oriente a gestão da
natureza na contemporaneidade.
27
28
2 RELAÇÃO HOMEM E NATUREZA: PRECEDENTES DA CRISE AMBIENTAL
MUNDIAL
“L’empire du climat est le premier de tous les empires, parce qu’il forme la différence dês caracteres et dês
passions dês hommes”
MONTESQUIEU, L’Esprit dês lois, 1748.
A emergência de uma crise mundial ambiental, justificada por relatórios
científicos sobre a mudança climática do planeta tem provocado a troca crescente de
informações sobre a temática, através de redes de trabalho localizadas em espaços
geográficos dispersos. As raízes deste processo envolvem análises profundas das questões
culturais e antropológicas do fenômeno (BECK, 1992; MILTON, 1996; LASH;
SZERSZYNSKI; WYNNE, 1996; ZHOURI, 1998; MEIRELHES FILHO, 2004).
O público, nos espaços virtuais, percebe a questão ambiental a partir de múltiplos
canais de informação, que vão desde meteorologia, contemplação de imagens de paisagens
da natureza, turismo e esportes radicais, defesa de animais, dicas de reciclagem e energias
renováveis e, especificamente em relação ao aquecimento da terra, questiona-se se a
alteração da temperatura é natural ou induzida pelo homem (FELLOUS; GAUTIER, 2007,
p.13). Por outro lado, se os dejetos de processos energéticos, físico-químicos e agrícolas da
sociedade do consumo se tornam problema enquanto não podem ser assimilados pelos
ciclos naturais, eles estão sendo assimilados pela consciência cultural da humanidade:
Vários nomes ecoam nos convidando a tomá-los como referência: Bhopal (Índia),
Seveso (Itália), Chernobyl (Ucrânia), Minamata (Japão), Tree Milles Island (EUA),
Glifosato, Asbeto, Amianto, Ascarel, Césio, DDT, Estrôncio 90, Bário,
Pentaclorofenato de Sódio (Pó da China), Milho Starlink, Vírus Ébola, SARs,
Dengue, Roundup Ready, Terminator, Vaca Louca… (PORTO-GONÇALVES, 2006,
p. 297)
Ao mesmo tempo em que emerge esta crise ambiental – há uma crise de
significação. Lixo radioativo, Organismos Geneticamente Modificados (OGMs) – poluição
genética, chuva ácida de efeito transnacional e construção de hidrelétricas são assuntos
recorrentes e controversos (PORTO-GONÇALVES, 2006). As redes sociais na internet
promovem a discussão e se empenham na circulação de novos significados e a
globalização, como fenômeno que potencializa a interação entre atores de redes trans-
institucionais, para solucionar questões mundiais, tem sido tema de estudo de diversos
autores (ROBERTSON, 1992; FRIEDMAN, 1994; FEATHERSTONE, 1990; HARVEY, 1989;
GUPTA; FERGUSON, 1992; GIDDENS, 1995; CASTELLS; 2002; SANTOS, 2002;
BAUMAN, 2005, PORTO-GONÇALVES, 2006). Este capítulo pontua os precedentes do
movimento ambientalista, suas origens históricas e econômicas, que culminam nas redes
virtuais de ativismo transnacional para preservação da natureza.
29
Foi preciso contextualizar a ação deste movimento anteriormente, suas origens,
a fim de compreender como as ferramentas digitais potencializam o fluxo simbólico e
formam novos significados que influenciam a relação homem/natureza.
2.1 Ambientalismo e Ecologia: origens da ecologia política
Desde quando a civilização urbana e industrial começou a substituir ritos
cotidianos da sua subsistência por orientações da ciência e tecnologia, o homem se separou
da natureza. Surgiu a questão ambientalista e a necessidade de que deveriam haver áreas
protegidas da ação humana. Como essa ligação foi perdida, surgiu a ‘ecologia política’ que
intenciona fazer essa reconciliação entre o humano e a natureza, para tentar alcançar essa
totalidade presente na filosofia ‘agir localmente e pensar globalmente’ (LATOUR, 2004,
p.12).
O problema da ecologia política, segundo Latour (2004), que trata das relações
da natureza com a sociedade, se evidencia porque:
Cette nature devient connaissable par l’intermédiaire des sciences; elle s’est formée
à travers des réseaux d’instruments; elle se définit par le truchement de professions,
de disciplines, de protocoles; elle est distribuée dans des bases de donnés; elle est
argumentée par l’intermédiaire des societés savantes (LATOUR, 2004, p.12)8
O ser humano quer tudo controlar dentro da sua objetividade. Contar, calcular,
sistematizar a natureza. Essa, por sua vez, é muda, um mito incerto. Latour utiliza as
abordagens das ciências, a prática dos movimentos ecológicos (distintas de sua filosofia) e
a antropologia comparada para mostrar que a ecologia política, não pode, de fato, conservar
a natureza.
Mas, o que seria esse ‘todo da natureza’ para o senso coletivo? Diegues (2000)
indica que práticas simbólicas constituem o imaginário do homem sobre a natureza, desde a
visão antropocêntrica vigente na Inglaterra do século XVIII, quando a “autoridade humana
sobre o natural era virtualmente ilimitada” (DIEGUES, 2000, p. 43). Esse pensamento era
influenciado por Descartes, que valorizava a domesticação da fauna e flora como símbolo
da soberania do homem, único animal racional (cujos instintos eram domesticados pela
religião). Somente os campos cultivados tinham valor, até quando o avanço da evolução da
História Natural (1858) começou a valorizar também o que pode ser chamado de ‘mundo
selvagem’, não domesticado.
nessa valorização do mundo natural e selvagem é preciso ressaltar, como faz Corbin
8 Esta natureza torna-se cognoscível por intermédio das ciências, ela é formada através de redes de
instrumentos, é definida através de profissões, disciplinas, protocolos, é distribuída em bancos de dados
e é argumentada através de sociedades de saber. (Tradução nossa)
30
(1989), o papel dos escritores românticos. Estes fizeram da procura do que restava
de "natureza selvagem", na Europa, o lugar da descoberta da alma humana, do
imaginário do paraíso perdido, da inocência infantil, do refúgio e da intimidade, da
beleza e do sublime. Nessa procura, as ilhas marítimas e oceânicas
desempenharam papel essencial nessa representação do mundo selvagem. Não é
por acaso que a ilha de Robinson Crusoé, descrita por Daniel Defoe, no século XVIII
representa a síntese da simbologia do paraíso perdido após a expulsão do homem.
(DIEGUES, 2000, p. 24)
A noção de ‘mundo selvagem’ embutia a ideia de que, mesmo se a organização
da sociedade e a gestão dos recursos naturais fosse totalmente controlada, poderiam existir
ilhas de natureza em estado primitivo, preservadas, como as descritas no romance de ficção
O Admirável Mundo Novo (HUXLEY, 1932), de onde o homem seria afastado, mas para
onde poderia ir ocasionalmente passear:
Esses lugares paradisíacos serviriam também como locais selvagens, onde o
homem pudesse refazer as energias gastas na vida estressante das cidades e do
trabalho monótono. Parece realizar-se a reprodução do mito do paraíso perdido,
lugar desejado e procurado pelo homem depois de sua expulsão do Éden. Esse
neomito, ou mito moderno, vem impregnado, no entanto, do pensamento racional
representado por conceitos como ecossistema, diversidade biológica etc.
(DIEGUES, 2000, p. 24).
Diegues (2000) reflete sobre este paradigma do neomito, ou mito moderno da
natureza intocada, que justifica a criação de parques naturais pelo pensamento da ecologia
preservacionista. Aqui, a natureza é um paraíso intocado que deve ser preservado da
presença do homem e estudado pelos biólogos. Essa corrente vem da experiência norte-
americana que, após exterminarem os povos indígenas, distribuíram toda suas terras
virgens, através do decreto de Homestead, “pelo qual qualquer cidadão americano poderia
requerer a propriedade de até 160 acres (70 ha) de terra devoluta que tivesse cultivado”
(DIEGUES, 2000, p. 25), motivaram o início das preocupações por conservar a natureza da
depredação do homem.
O surgimento do movimento ambiental para a criação de áreas naturais
protegidas nos Estados Unidos, em 1890, teve basicamente duas bases ideológicas, o
conservacionismo dos recursos naturais e o preservacionismo. O primeiro, pautado pela
conservação dos recursos naturais, acreditava que a gestão da natureza se dava em três
instâncias: a eficiência do uso dos recursos naturais, sem desperdício; a garantia de
equidade para que todos tivessem acesso democrático aos recursos; e a preservação
estética e poética de áreas de beleza incomparável (KOPPES, 1989, apud DIEGUES,
2000).
Há três escolas atuais do pensamento ecológico, faces de uma ciência chamada
‘ecologia política’: a ecologia profunda, a ecologia social e o eco-socialismo marxista.
A ‘ecologia profunda’ tem um enfoque biocêntrico, geralmente mais radical que
os preservacionistas e conservacionistas citados anteriormente, pois entende que as
31
reservas naturais se justificam por si próprias, independente se causam algum bem ao
homem. Para essa corrente, o homo sapiens não é mais que uma das espécies que habita o
planeta. Essa linha de pensamento considera que o ser humano interfere demais na
natureza, que a população deveria diminuir e não leva em conta aspectos sociais e culturais.
É criticada por beirar um ‘ecofacismo’: "A história demonstrou que toda justificação da
ordem social pelas leis da natureza serviu ao totalitarismo (o nazismo se prevaleceu da
seleção natural).” (SIMONNET, 1979, p.96 apud DIEGUES, 2000, p. 45).
Para Lipietz9 (2012), a ecologia profunda defende que a natureza não foi dada
aos humanos, que eles não têm o direito de fazerem o que quiserem. O objetivo é perturbar
o menos possível, “o dever de preservar a natureza de uma humanidade hostil,
essencialmente agressiva” (LIPIETZ, 2012, p. 45). O autor aponta críticos que insurgiram
contra essa ideologia:
S’appuyant sur certains discours de ce type prélevés outré-Atlantique, le philosophe
Luc Ferry a jeté l’opprobre sur l’écologie profonde, et par extension sur l’écologie
politique tout entière, accusée se préoccuper davantage des immigrés et des exclus
que de leur prétendu métier, <<defendre la nature>> (LIPIETZ, 2012, p. 45)10
A ‘ecologia política’, segundo este autor, se ocupa de tudo aquilo que Aristóteles
chamava de mundo sublunar, desde o fundo dos poços de petróleo até os raios de sol, a
força da lua nas marés e nos próprios homens. Ela se fundamenta em um triângulo
ecológico: de um lado a relação entre os indivíduos e sua atividade organizada enquanto
espécie (sobre este fenômeno se debruçam os psicólogos, sociólogos, antropólogos etc.). O
segundo lado é estudado pelo campo da economia, a relação entre a atividade social e seu
efeito sobre o ambiente, o valor do meio ambiente para o bem estar humano (LIPIETZ,
2012, p. 21). O terceiro é o contrário, as reações da terra a essa intervenção, estudadas
pelas ciências da natureza e biológicas.
A partir de uma troca crescente de relações entre humanos e não humanos - o
‘coletivo’, a ecologia política ensaia a gestão da natureza. Para isso, é preciso responder
duas questões: quantos somos nós? Nós podemos viver juntos?
Para haver uma constituinte que possa governar a resposta para essas
questões, Latour (2004) evoca o mito da caverna de Platão:
Quelle est l’utilité du mythe de la Caverne aujourd’hui? De permettre une
Constituition qui organize la vie publique en deux chambres: la première est cette
salle obscure dessinée par Platon ou des ignares se trouvent enchaînés sans
pouvoir se regarder directement , ne communiquant que par les fictions projetées sur
une sorte d’écran de cinéma; la seconde si situe au-dehors, dans un monde
9 O autor foi conselheiro da campanha de Eva Joly, candidata do Partido Verde da França nas eleições
presidenciais de 2012.
10 Se apoiando nesses tipos indiginados do Atlântico, o filósofo Luc Ferry envergonhou a ecologia
profunda, e por extensão toda ecologia política, acusados de preferir, “como Hitler”, os animais aos
humanos. Portanto, hoje, os verdes da Europa são algumas vezes chamados a se preocupar primeiro
com os imigrantes e excluídos que com seu pretenso ofício de ‘defender a natureza’.
32
composé nos pas d’humains mais d’inhumains, insensibles à nos querelles, à nos
ignorances et aux limites de nos représentations comme de nos fictions. (LATOUR,
2004, p.27)11
A ecologia politica evoca a junção desses dois ambientes. A caverna em que o
homem se comunica através da tela, sem diretamente ver os seus companheiros e o
exterior, que passa do antropocentrismo cartesiano ao naturo-centrismo dos ecologistas.
Como se desde o Ocidente, desde a expulsão da caverna, não pensássemos em outra
coisa que formar a vida pública entre torno de dois eixos, o homem e a natureza (LATOUR,
2004, p. 33). Para o autor, se a ecologia política representa um problema, não é porque ela
enfim introduz a natureza nas preocupações políticas, mas porque ela continua a utilizar a
natureza para ‘abortar’ a política.
A ecologia política, segundo Latour, não se revela em função de uma crise de
objetos ecológicos, mas sobre uma crise constitucional generalizada que diz respeito a
todos os objetos. Latour lista as sete diferenças que separam os que intentam fazer a
ecologia política e o que ela faz na prática, o que de certa forma não deixam de ser
qualidades.
QUADRO 1 – O que acredita fazer a ecologia política e o que ela faz de fato
(Continua)
O que acredita fazer a Ecologia Política:
O que ela faz de fato:
A ecologia política pretende falar da natureza,
mas ela fala de todos os imbróglios que sempre
supõe a participação dos humanos...
Ela pretende proteger a natureza da ação do
homem, mas os humanos são privilegiados, pois
se utilizam de técnicas cada vez mais sofisticadas
e invasivas para estudar a natureza...
Ela pretende conservar a natureza por ela
mesma, mas são sempre os humanos que tomam
frente dessa missão, principalmente os
americanos, machos, ricos, educados e brancos...
Ela pretende pensar os sistemas pelas leis das
ciências, mas a cada vez que se propõe de incluir
a complexidade, ocorre uma guerra de
controvérsias e os especialistas não entram em
acordo...
Fonte: LATOUR, 2004, p.35-37.
Ela fala de vacas, porcos, consumidores,
instituições, regulamentos, aparelhos...
Ela é tida em conta por seus agentes humanos.
Ao contrário de proteger a natureza, ela é
categorizada da forma mais completa, em relação
ao estudo da biodiversidade de entidades.
Ela não considera a natureza por seu próprio
bem, porque o valor dado a natureza é sempre
dado em função do homem.
Ela ignora o que é um sistema ecológico-político e
considera apenas a ciência cujos modelos e
métodos colocam de lado a pobre humanidade
que pensa e busca.
11 Qual é a utilidade do mito da caverna de hoje? De permitir uma constituição que organiza a vida pública
em duas salas: a primeira é o quarto escuro desenhado por Platão, onde os ignorantes estão
acorrentados, sem poder se olhar diretamente, comunicando-se apenas por ficções projetadas em uma
espécie de tela de cinema; a segunda se situa fora, em um mundo não de humanos, mas não humanos,
insensível às nossas brigas, nossa ignorância e aos limites de nossas de nossas representações, de
nossas ficções. (Tradução nossa)
33
(Conclusão)
O que acredita fazer a Ecologia Política:
O que ela faz de fato:
Ela pretende buscar modelos científicos geridos
pela cibernética ordenada, mas destaca
montagens heterárquicas, que falam da
fragilidade ou solidez da natureza, nos níveis
micro e macro...
Ela pretende dar conta de tudo, mas não chega a
formar opinião e modificar as relações de força
entre lugares, biótipos, situações e eventos
particulares...
Ela pretende alcançar um poder e encarnar a vida
política do futuro...
Nem a cibernética, nem a hierarquia permitem
compreender os agentes desequilibrados,
caóticos, darwinianos, locais e globais, rápidos ou
lentos atualizados pelos inúmeros dispositivos.
Ela é incapaz de integrar em um programa total e
hierarquizado o conjuntos de suas ações
pontuais, o que de certa forma é uma vantagem,
pois não podemos colocar em uma ordem
humanos e camada de ozônio, por exemplo.
Ela é felizmente marginalizada, pois crê falar da
natureza e da totalidade, mas ainda não chegou a
uma maturidade de sentido.
Fonte: LATOUR, 2004, p.35-37.
Para Latour (2004), a ecologia profunda se situa muito longe da ecologia política,
ela nos coloca de volta na caverna o ‘equilíbrio superior da natureza’, ao evocar a definição
clássica de uma política impotencializada pela natureza (LATOUR, 2004, p. 43). No entanto,
a ecologia política peca ao propor que existe um só coletivo para debater a hierarquia entre
seus componentes.
Outros tipos de ecologia esquentam o debate. A ecologia social foi um termo
cunhado pelo norte-americano Murray Bookchin, professor universitário e ativista ambiental,
na publicação do trabalho Ecology and Revolutionary Thought (HERBER, 1964, apud
DIEGUES, 2000). Entende que a degradação ambiental é resultado do capitalismo e das
divisões hierárquicas da sociedade (pobres e ricos, velhos e jovens, brancos, negros e
amarelos), defendendo um retorno aos sistemas primitivos comunitários. Por outro lado, se
afastam do marxismo clássico, pois defendem a utopia do anarquismo.
O Eco-socialismo Marxista acredita que o sistema capitalista e neoliberal é a
causa não só da degradação ambiental, mas também da pobreza e desigualdade social no
planeta. Criticam a noção ecológica clássica em Marx em que as sociedades primitivas
tinham idolatria pela natureza e que esta não era tida como um poder, mas sim como objeto
de consumo. Por ironia, capitalismo, neo-liberalismo e socialismo compartilham a mesma
noção de natureza como bem de consumo. Em evolução, esse pensamento propõe a
contraposição entre a noção de forças produtivas históricas e o conceito de ‘forças
produtivas da natureza’ (fotossíntese, cadeias tróficas etc.), pois “quando essas não podem
mais operar (por exemplo, a capacidade de depuração dos ecossistemas, a fotossíntese),
34
cria-se um impasse para a própria reprodução da sociedade” (DIEGUES, 2000, p. 47).
Já a ecologia humana e a ecologia cultural, que estudam a relação do homem
com a natureza, surgiram entre as duas primeiras guerras mundiais, no século passado, no
contexto antropogeográfico alemão, sendo uma matéria ministrada dentro das Ciências
Biológicas (MEYER, 2008). No entanto, as abordagens de pesquisa estavam “restritas ao
aspecto naturalista e a maioria não contempla os processos produtivos de transformação
dos recursos naturais em bens e desvincula natureza e cultura” (MEYER, 2008, p. 21).
O entendimento cultural do que é ‘meio ambiente’ tende a ser antropocêntrico,
como o meio que cerca ou envolve os seres vivos. Por outro lado, o significado de ‘natureza’
tende a um conceito mais geral, universal. De fato, há duas correntes na biologia:
uma primeira, em que o ser humano, ao ocupar a posição central, se coloca diante
da natureza que está ao seu redor para lhe servir, e uma segunda postura, de
acordo com a qual o ser humano está na natureza, fazendo parte dela e interagindo
com os elementos naturais (MEYER, 2008, p. 23)
Especificamente nos anos 60 do século passado, surgiu o ‘novo ecologismo’
contra o consumo:
o novo ecologismo surgiu com as agitações estudantis de 1968, nos Estados Unidos
e na Europa. As questões ecológicas passaram a ser uma das bandeiras de luta,
lado a lado do antimilitarismo/pacifismo, direitos de minorias etc. Como afirma
Simonnet (1979), maio de 1968 foi um sobressalto na história e um movimento pela
vida ‘contra um mundo senil e triste’. (DIEGUES, 2000, p. 39)
A relação ecologia/cultura começou a ter visibilidade social, política, econômica
e midiática a partir da década de 70 do século XX, segundo vários autores (BRAMWELL,
1989; RIBEIRO, 1991; KECK; SIKKINK 1998). Mais precisamente, a temática ganhou
visibilidade mundial com a Conferência de Estocolmo em 1972, na qual foram formados
grupos de cientistas dispostos à mobilização social pela preservação do planeta, originando
a criação de Organizações Não Governamentais (ONGs), como o World Wildlife Fund.
(WWF), e quando foi criado o Programa Ambiental das Nações Unidas (UNEP).
No entanto, apesar de na Conferência de Estocolmo vários cientistas
concordarem que o aquecimento global e a extinção de algumas espécies da biodiversidade
são uma realidade, não se pode afirmar que a relação homem natureza compartilhe uma
definição central ideológica comum, pelo contrário, pauta-se constantemente por um
paradoxo, o desejo de desenvolvimento e progresso em contraposição à necessidade de
conservação.
A visão da cultura sobre a natureza transmuta de acordo com as variações
sócio-culturais da humanidade. No movimento europeu do Romantismo, na Literatura, por
exemplo, o ambiente natural foi eleito como ‘perfeito’ e o índio como o ser humano em puro
35
estado de bondade, o ‘bom selvagem’, não contaminado pela civilização, que deveria ser
conservado em sua cultura e ecossistema (TAUSSIG, 1993)12.
Em outro contexto, com o mesmo propósito de conservação, a Alemanha nazista
foi o primeiro país da Europa a criar reservas de preservação. Hitler apoiava ideias
ecológicas, especificamente relacionadas ao vegetarianismo e direitos dos animais.
Preocupava-se com a “retenção de plantas selvagens para formar um banco de genes e de
potenciais de resistência” (BRAMWELL, 1989, p. 199). Posicionava-se contra o uso de
fertilizantes artificiais, a favor da agricultura natural, simples e camponesa, produzida de
forma independente do capital. Esses ideais românticos foram absortos e desenvolvidos na
criação, em 1979, do Partido Verde alemão. Segundo Lynton, os ‘verdes’ pregavam “uma
visão orgânica holística da natureza e da comunidade humana” (LYNTON, 1989, p.6), em
contraposição ao individualismo típico da pós-modernidade, tentando promover um
equilíbrio entre essas duas visões.
Nos Estados Unidos, o movimento ecológico foi inicialmente associado ao
protestantismo (ZENCEY, 1989; DALY; COBB, 1989), sendo o conceito de biosfera
principalmente relacionado a uma visão cristã do mundo, como a noção do pertencimento a
uma ‘comunidade das comunidades’. Segundo Daly e Cobb, a “extinção de espécies e a
simplificação dos ecossistemas empobrecem a Deus, mesmo quando não representam
ameaça à capacidade da biosfera de prover uma vida humana sustentável” (DALY; COBB,
1989, p.387). Por outro lado, a lógica protestante é a mesma que sustenta a lógica
capitalista, que valoriza o desenvolvimento e progresso, ameaça a conservação dos
ecossistemas e transforma os recursos naturais em combustível e produtos industrializados.
Devido a essa crescente industrialização, que não considerava como custo do
produto final a degradação do meio ambiente, os empresários e governantes dos Estados
Unidos omitiram muitas informações científicas importantes da sociedade, principalmente na
década de 70, a fim de evitarem mudanças de consumo e comportamento que poderiam
afetar a economia. As informações científicas a respeito de alterações no meio ambiente,
como interesse público, foram especialmente consideradas como ‘segredo de Estado’
quando foram realizados testes com a bomba H na década de 50 do século passado nos
EUA. Existia um grande mito que, se o gado comesse capim radioativo, e bebês tomassem
12 Ao contrário dessa visão romântica, relatos antropológicos do início da exploração inglesa seringueira
na Amazônia, no século XIX, consideram os ecossistemas naturais como terrenos indomados e o
homem nativo das florestas tropicais e equatoriais como canibal, conhecedor de magias e plantas,
ambicioso, sem noção de parâmetros morais (TAUSSIG, 1993).
36
o leite dessas vacas, poderiam ficar tão radioativos a ponto de ‘brilhar no escuro’, segundo
Bazerman (2009)13.
Essa repressão aos cientistas para não divulgarem, por exemplo, que resíduos
de radiação de testes nucleares demoram mais de cem mil anos para serem absorvidos
pelo ambiente, começou a ser combatida nos EUA através de um movimento denominado
“Cientistas cidadãos por informação pela cidadania”14, divulgando através de jornais e
boletins ambientais específicos o fato de que a produção científica atende a interesse de
empresas capitalistas com um horizonte financeiro de curto prazo, que não contabilizam
prejuízos como ‘aquecimento global’.
As décadas de 60 e 70 foram marcadas pelo que se chamou de Revolução
Verde, que se referia a práticas agrícolas que incluíam uso intensivo de insumos industriais,
sementes selecionadas e ‘melhoradas’ geneticamente e mecanização das lavouras.
Segundo críticos do processo (PENNA, 2009; CAPORAL; COSTABEBER, 2004), embora
tenha aumentado a produção de grãos para alimentar a população, por outro lado isso
elevou a concentração fundiária nas mãos de poucos fazendeiros, aniquilou a agricultura
tradicional e causou uma série de problemas de ordem cultural e social. Alterou
significativamente a vida dos pequenos proprietários, principalmente deixando-os
dependentes de sementes modificadas.
Como reação a essas políticas agrícolas de destruição do meio ambiente, de
1980 a 1990 foram criadas redes de trabalho de cientistas e elaboradores de política que
produziram e trocaram informações, nas quais a preocupação primária era proteger árvores
e solos. Na década de 1980, a The World Conservation Union (IUCN), WWF, Programa
Ambiental das Nações Unidas (UNEP) e Estratégia de Conservação Mundial reconheceram
a necessidade de integrar discussões de desenvolvimento e ambientalismo, com objetivo de
estimular governos a terem planos racionais de recursos.
2.2 O contexto para o surgimento de redes ambientais
O debate entre progresso, desenvolvimento e ambientalismo foi a temática da
Conferência de Estolcomo, em 1972, que inaugurou oficialmente a emergência da troca de
ideias entre 114 países representados, entre eles o Brasil. Significou que a questão
13 Em palestra “Informação Ambiental: Conhecimento científico, Vontades Públicas e Representações
Políticas do Meio-ambiente" proferida no dia 12/5/2009, na Universidade Federal de Minas Gerais,
promovida
pelo
IEAT.
Disponível
em:
<http://www.ufmg.br/ieat/index.php?option=com_content&task=blogcategory&id=165&Itemid=403>.
Acesso em: 23 fev. 2011.
14 Idem.
37
ambiental se tornava uma preocupação da comunidade internacional. O evento reuniu
cientistas (biólogos, economistas, antropólogos etc.) e conservacionistas para formar uma
comunidade epistemológica para tratar questões ambientais. Possibilitou também a ligação
entre instituições de pesquisa que, de maneira crescente, começaram a considerar questões
políticas como fundamentais para a conservação da natureza. E, obviamente, mobilizaram-
se em rede para garantir a posterior troca de informações científicas (biológicas e sociais).
A conferência levou ao surgimento do Programa Ambiental das Nações Unidas
(UNEP) que, embora fosse a principal organização intergovernamental ambiental, tinha
menos importância e menos dinheiro e prestígio que outras agências das Nações Unidas,
como a Food and Agriculture Organization (FAO) e o Programa de Desenvolvimento das
Nações Unidas (PNUD), que já publicavam em torno de questões ambientais, como por
exemplo, o Código de Conduta para Distribuição e Uso de Pesticidas, da FAO, em 1986
(LYNTON 1990; PORTER; BROWN, 1991).
Durante os anos setenta, poucas organizações ambientais desenvolveram
estratégias independentes em torno de questões globais. Problemas começaram a
ultrapassar fronteiras geográficas, pois transversal e naturalmente não reconheciam
soberanias nacionais, assim exigiam ações em rede e olhares transdisciplinares em busca
de soluções. Por exemplo, a pesca de baleias foi uma das principais questões que
preocupou cientistas e organizações como Greenpeace, Amigos da Terra15 e outras que,
desde década de 1970, utilizavam as tecnologias da informação e comunicação como
‘tecnologias intelectuais’16. Essas instituições usavam e ainda usam de estratégias
midiáticas de espetacularização de fatos ambientais e da construção de identidades
culturais fomentadas por histórias (construídas por publicitários) para sensibilizar os públicos
urbanos. O sucesso dessa campanha, a favor das baleias, estimulou uma pluralidade de
atores, entre eles os sistemas bancários internacionais, a lutarem por outras questões. Isso
resultou que países do Terceiro Mundo, extremamente dependentes desses sistemas
bancários, foram ‘incentivados’ a pautar em suas agendas a temática ambiental.
Em março de 1980, a IUCN17, o WWF e a UNEP lançaram conjuntamente
eventos em trinta países para colocar em evidência o debate entre desenvolvimento e
ambientalismo. A estratégia dos eventos simultâneos em territórios dispersos
geograficamente incluiu sugestões para reformas nas legislações nacionais visando a
15 Conhecida mundialmente como Friends of the Earth
16 Tecnologias do Intelecto é um conceito desenvolvido inicialmente por Jack Goody, ao se referir à escrita
em sociedades tradicionais, em 1968. Este conceito foi re-apropriado por Pierre Levy (1993), para
pensar as técnicas de comunicação em geral usadas por instituições.
17 Sigla utilizada para definir a The World Conservation Union, Organização ambiental transnacional que
publica, há 40 anos em nível mundial, a Lista Vermelha, com dados sobre seres vivos ameaçados de
extinção. Disponível em: <http://www.iucn.org>. Acesso em: 2 fev. 2009.
38
conservação da natureza e, principalmente, objetivou dar visibilidade à questão ambiental
na mídia. A ideia era mostrar que se considerarmos que as pessoas destroem o meio
ambiente em países pobres por sua ignorância, o que acontece de fato é que elas destroem
porque não tem outra alternativa de vida. Essa foi a primeira vez que se ouviu falar em
desenvolvimento sustentável, que seria o “desenvolvimento que une as necessidades do
presente com o compromisso de possibilitar às futuras gerações de encontrar suas próprias
necessidades”18, conceito publicado no Relatório Brundtland (intitulado ‘Nosso Futuro
Comum’), da Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento da Organização
das Nações Unidas (ONU), solenemente entregue à Assembléia Geral da ONU em 1987 por
ONGs, órgãos governamentais, empresários, bancos e agências multilaterais.
Segundo Ribeiro (1991), a discussão sobre sustentabilidade foi pouco
aprofundada em comunidades acadêmicas, ou por “uma prudência quanto aos modismos
frequentemente associados às construções de utopias, ou à própria novidade do assunto”
(RIBEIRO, 1991, p. 76), o que de certa forma, segundo o autor, continua favorecendo a uma
visão capitalista de sustentabilidade do ‘desenvolvimento’ da natureza, pois:
reinvestir no meio ambiente natural para assegurar sua conservação, sua
recuperação, seu melhor conhecimento, sua ampliação, sua reposição, é condição
essencial para assegurar a sustentabilidade do desenvolvimento. Para isso, se
requerem recursos humanos, técnicos, financeiros, institucionais e legais. Tudo isso
exige obter fundos adicionais que tornem possível a mobilização destes recursos
para aplicá-los ao cuidado do meio ambiente, que é capital e patrimônio ambiental
da sociedade. (RIBEIRO, 1991, p.77)
O termo ‘desenvolvimento sustentável’, desde a Conferência de Estocolmo,
representa um projeto desenvolvimentista liberal, relacionado à ecologia. Ou seja, longe de
ir contra o progresso econômico, o movimento ambiental é incorporado pelo capitalismo
como mais uma estratégia para se alcançar um ‘futuro comum’. Segundo Carvalho, o apelo
“ao bem estar dos povos era usado como álibi, sempre citado ao lado dos objetivos de
crescimento econômico, emprestando uma preocupação humanista a intenções não tão
nobres” (CARVALHO, 1991, p.11).
Essa opinião, especificamente relacionada ao Brasil, corrobora o argumento
desenvolvido por Jacobi (2003) que, durante a década de 1970 e início da década de 1980,
era impossível a concretização das “promessas desenvolvimentistas” (JACOBI, 2003, p.10),
pela não resolução dos problemas sociais e pela desigualdade da distribuição de renda. A
crise do modelo de desenvolvimento, de certa forma, levou a aceleração da consciência
sobre a devastação ambiental: queimadas na Amazônia e no Cerrado, extinção quase total
da Mata Atlântica e a luta contra a extinção de espécies como o mico-leão-dourado e o boto
18 World Comission on Environmet and Development, Our Common Future (Oxford: Oxford University
Press, 1987), p.43. (Tradução nossa)
39
rosa estimularam a articulação entre ONGs europeias, norte-americanas e instituições
brasileiras contra o progresso que não mede a destruição do meio ambiente.
Segundo Scherer-Warren (1993), esse movimento se caracterizou pela não
centralidade organizacional, mas por relações mais horizontais, complementares e mais
abertas ao pluralismo e à diversidade cultural. Agências ambientais estatais e algumas
entidades ambientalistas, portanto, segundo Viola e Leis (1992), viviam uma relação
dialética entre as agências ambientais e as entidades ambientalistas baseada no conflito e
cooperação, pois muitas vezes a necessidade de ‘progresso’ ia contra as aspirações
ambientais. Isso porque, no início do movimento ambientalista brasileiro, o problema se
restringiu, basicamente, a combater a poluição e apoiar a preservação de ecossistemas
naturais, uma visão distante de temas humanistas e de justiça social. Praticamente, não
havia diálogo entre ONGs ambientalistas e de direitos humanos, pois as primeiras não
levavam em consideração os fatores socioeconômicos da devastação ecológica.
A partir de meados da década de 1980, os meios de comunicação de massa
foram levados a dar mais atenção às questões ambientais internacionais. Isso foi motivado
por desastres factuais, como o que ocorreu em Chernobyl e Bhopal, e pela descoberta do
buraco na camada de Ozônio sobre a Antártida, pelos cientistas, que entravam em
consenso e alerta sobre o risco de uma mudança climática no planeta associada à
concentração de gases como CO2 e metano. Já no final da década de 80, as organizações
começaram a usar os e-mails para gerenciar listas de associados e assim conseguir criar
fundos de capital em campanhas globais.
A atuação dessas instituições se diferenciava. Por exemplo, o Greenpeace e a
Amigos da Terra inovavam nas formas de protesto, confrontando governos e fazendo
lobbies institucionais, de maneira a chamar atenção da mídia, enquanto a IUCN procurava
estratégias de persuadir governos e sistemas bancários. A diversificação da abordagem e
das estratégias de organizações conservacionistas determinaram novas táticas de defesa,
por exemplo, pressionar bancos que atuavam em países subdesenvolvidos (BROWNSTEIN,
1983).
2.3 Países, paisanos, paisagens: as questões de território
A natureza, com suas qualidades, dispôs o planeta de modo que hemisfério sul e
norte possuem recursos naturais diferentes, que sofrem apropriação pela espécie humana,
o que se dá por meios culturais e econômicos, em seu espaço-temporalidade. A geografia
da terra limita a atuação nacional de governos, no entanto, não limita a atuação
40
transnacional dos mercados, e como afirma Porto-Gonçalves, “o controle do território
coloca-se como fundamental para garantir o suprimento da demanda sempre em ascensão
por recursos naturais” (PORTO-GONÇALVES, 2006, p. 287).
Assim, a existência dos recursos naturais, naturalmente, não depende do
homem, mas sim seu uso, que tem sido cada vez mais determinado por relações de poder,
no sistema neoliberal e capitalista, que padroniza a cultura.
O Estado Territorial Moderno tende a ser monocultural. A colonialidade, vê-se, é
mais do que o colonialismo. É com base na propriedade privada que se instaura a
ideia de territórios mutuamente excludentes que, como se vê, começa com uma
cerca na escala do espaço vivido e se consagra pelo Direito Romano em escala
nacional. (PORTO-GONÇALVES, 2006, p. 289).
O autor salienta ainda que, para um bem ter valor na sociedade do consumo,
precisa ser escasso. A sociedade separa produtores dos produtos que produzem,
consumidos em outros mercados. E considera ingenuidade o slogan ‘agir localmente e
pensar globalmente’, típico das ONGs que estimulam ações individuais, porque em todo
espaço social “sob o capitalismo, haverá, sempre, relações espaciais de
dominação/exploração, tirando dos lugares, e, mais, tirando dos do lugar, o poder de definir
o destino dos recursos com os quais vivem” (PORTO-GONÇALVES, 2006, p.290).
Não somente os capitais e as intervenções econômicas transnacionais
movimentam os recursos naturais no mundo. Especialmente, nessa era de terror
apocalíptico, as catástrofes naturais agitam o imaginário coletivo. Somente na última
década, o tsunami do Índico em 2004, o terremoto no Haiti em 2010 e o tsunami no Japão
em 2011 mataram mais de 230 mil pessoas19. No Haiti, país de natureza devastada por
anos de exploração de carvão vegetal para ser transformado em energia, a fome e a miséria
provocaram migrações clandestinas de milhares de haitianos para o Brasil, em rotas pela
floresta amazônica peruana, invadindo cidades pequenas e provocando alterações
econômicas, sociais e culturais20.
O resultado é uma fértil mistura da biodiversidade cultural e biológica: os
haitianos negros e grandes, com seu dialeto creolo (uma variação do francês) e os caboclos
da floresta amazônica, que já eram uma mistura entre nordestinos (vindos na febre da
borracha em 1930) e índios, sem falar nos portugueses e espanhóis. 80% da biodiversidade
do mundo está no hemisfério sul, ainda em vias de ser catalogada. Enquanto os territórios
do sul estão sendo ainda disputados, os do norte são mais que bem delimitados. Na Europa,
a noção de terroir está incorporada por todos os produtores locais, grandes indústrias
19 Disponível em: <http://pt.wikipedia.org/wiki/Tsunami>.
20 Ver mais sobre a migração dos haitianos para o Brasil. Disponível em:
<http://ribapills.sertaobras.org.br/haitianos>. Acesso em: 2 set. 2012.
41
agrícolas e alimentares, redes de supermercados: todos querem dar ao seu produto uma
identidade cultural e de território.
Martin de la Soudière (1995) critica esse movimento de ‘retorno ao terroir’ como
se essa recente atração pelo local, o pays, o terroir, independente de período histórico,
fosse uma reinterpretação permanente de um mesmo motivo.
Por outro lado, Marc Augé (1992, p.48) afirma que a noção de terroir começou a
ser valorizada ao mesmo tempo em que os ‘não lugares’ proliferam. ‘Não lugar’, para o
autor, é um espaço desprovido de qualquer identidade cultural ou histórica. Por exemplo,
redes transnacionais de hotéis e restaurantes que conservam a mesma estética seja no
Brasil ou no Japão, que não absorvem nada da cultura onde estão instalados, são ‘não
lugares’, típicos da pós-modernidade, como autoestradas e aeroportos. É uma oposição à
noção sociológica de ‘lugar’. Nesses espaços, os alimentos se tornam “objetos comestíveis
não identificados (OCNI)”, segundo a expressão de Claude Fischler (1990, p. 72), quer dizer
uma comida sem passado nem origem.
Em uma sociedade da informação em que a comunicação padroniza culturas, as
raízes, as tradições e a autenticidade são vigorosamente solicitadas e muitos são os atores
implicados na apropriação de uma imagem que evoque essas noções. Muitas são as
coletividades locais que buscam identidades.
Segundo Bérard e Marchenay (2004), esses ‘produtos do terroir’ existem cada
dia mais dentro de um contexto técnico e econômico que os fragiliza. Enquanto uns podem
revelar uma esfera doméstica (estes geralmente clandestinos), outros são integrados desde
muito tempo em alguma rede de supermercados, mas todos inscritos dentro de uma
‘cultura’. Paradoxalmente, enquanto esperamos ‘tudo’ deles, os verdadeiros produtos do
território restam desconhecidos, ou melhor, não se sabe a sua relação com a cultura.
O conceito de território e a ‘tipicidade’ atraem a atenção de muitas disciplinas,
pois podem ser abordados transversalmente por diversos ângulos. O Instituto Nacional de
Pesquisa Agronômica da França (INRA), diretamente interessado por essas questões,
ocupa uma posição privilegiada, mas percebe-se que o interesse maior na
‘patrimonialização de um produto’ é pautado tanto pela reconstrução histórica (que confere
uma identidade) quanto pela preocupação da construção social de seu relançamento
enquanto produto autêntico, algo que oscila entre o paradoxo da inovação e da tradição.
Para Bérard e Marchenay (2004), os saberes locais, classificados como
‘tradicionais’, vernáculos, populares, indígenas conhecem atualmente uma renovação de
interesse midiático nunca antes vista, principalmente associados ao termo ‘biodiversidade
local’.
42
A questão da biodiversidade é muito controversa. As pesquisas contemporâneas
conseguem compreender somente uma fração da biodiversidade, ou seja, das espécies, dos
ecossistemas, dos procedimentos bioquímicos presentes dentro de cada ser vivo. Os laços
entre ecossistemas (fauna e flora) e as sociedade humanas são também objeto de
pesquisas, ainda mais fragmentadas. Graças a um esforço científico pluridisciplinar e
coordenado, a comunidade internacional tem começado a identificar e valorizar os inúmeros
‘serviços’ prestados pela biodiversidade à nossa sociedade, como a alimentação, fibras,
energia, regulação do clima, água e suporte para muitas atividades econômicas e culturais
(JOHNSON, 2012).
Os conhecimentos práticos ligados à biodiversidade estão sempre ligados às
práticas culturais e econômicas locais. Segundo Johnson (2012), quando as relações
econômicas se impõem, as relações entre a biodiversidade cultural e biológica ficam
negligenciadas. A biodiversidade é considerada em três níveis: a diversidade dos indivíduos,
graças ao patrimônio genético de cada um, a diversidade de espécies e a diversidade dos
ecossistemas. A União Internacional de Conservação da Natureza (IUCN), desde 1973 lista
as espécies ameaçadas, desparecidas ou em vias de extinção. Nos últimos três séculos,
40% das nossas florestas foram desmatadas. Mas, por outro lado, a erosão da
biodiversidade cultural ainda é mais grave. Segundo a Unesco21, que desde 2006 compila
dados que permitem estimar o estado da diversidade linguística, 6.900 línguas são
atualmente faladas no mundo, mas ao menos a metade são praticadas por comunidades de
menos de dez mil pessoas que vão desaparecer dentro de um geração. O Brasil tem 190
línguas em perigo de extinção. Normalmente, o ritmo atual de desaparecimento de uma
língua é a cada 15 dias, índice mais elevado que da desaparição das espécies vivas. 660
línguas têm menos de cem falantes, 3.500 são faladas por 1% da população e dez línguas
majoritárias dominam a comunicação da população mundial.
Quase toda a biodiversidade da Europa está catalogada e domesticada com
seus brevês e licenças de utilização, o que Goldringer22 (2012) chamou de Gestão da
Biodiversidade Cultivada, em conferência na ONU em Paris em dezembro de 2012. Mesmo
com o objetivo humano de controlar e possuir os seres vivos, isso significa que esse direito
de propriedade intelectual sobre o ser vivo, a relação entre os humanos e natureza, sempre
está ligado às questões culturais, fato muitas vezes negligenciado. “Toda nossa história no
ocidente, em relação ao desenvolvimento de tecnologia, repousa sobre uma visão
21 UNITED NATIONS EDUCATIONAL SCIENTIFIC AND CULTURAL ORGANIZATION – UNESCO.
Disponível em: <http://www.unesco.org/culture/languages-atlas/index.php>. Acesso em: 27 dez. 2012.
22 Anotações feitas em palestra dada por Goldringer na sede da ONU em Paris, 30 de novembro de 2012,
no evento Assises du Vivant
43
antropocêntrica, o homem é considerado fundamentalmente diferente da natureza, possui
um valor moral, enquanto os “objetos da natureza” não têm vontade, nem razão, nem
liberdade, nem valor moral” (informação verbal)23. Fruto de uma concepção utilitarista, isso
leva a exploração da natureza e seus recursos pelo homem e é a visão que tem prevalecido
nos últimos tempos para o desenvolvimento da ciência e tecnologia. Mas o que acontece é o
contrário. As coisas, objetos e natureza, existem muito bem sem nós. Nós é que precisamos
dela para conhecer, para promover juízos de valor, para gerar conhecimento. Nesse sentido,
são superiores aos homens.
Em contrapartida, como já descrito anteriormente, vimos emergir desde os anos
70, em especial na América do Norte, uma visão um pouco diferente, uma ética ambiental,
que evoca que os seres naturais são iguais e coletivos. Em nossas relações, entre as
comunidades e ecossistemas, a ética ambiental visa dar valor moral à natureza, que resulta
em tendências biocêntricas, e considera valorizar economicamente os serviços prestados ao
homem pela natureza. É a ecologia política que se preocupa com as relações do triângulo
síntese ‘país, paisagem, paisano’ (LIPIETZ, 2012, p. 40).
A paisagem é o começo do olhar para fora, a alteridade, a ideia do outro. É o
indivíduo que observa a natureza, como uma visão, representada. O país, nada mais
natural, é onde se encontra o indivíduo e a paisagem (LIPIETZ, 2012, p.44).
2.4 A ecologia política e as controvérsias entre as filosofias do pensamento
ecológico
Lipietz (2012) define ecologia política como “um estado de espírito, que colhe
flores nas outras ciências para unir em um buquê” (LIPIETZ, 2012, p. 23) tentando se
equilibrar para não privilegiar mais uma do que outra. O que tem de novo, é que além dessa
discussão entre cientistas sociais e naturais para a gestão da natureza, existe hoje essa
enorme participação do grande público através da internet.
Lipietz defende que o papel da ecologia política não é valorizar a oposição estéril
entre a domesticação racionalista da natureza, à francesa, e a preservação romântica da
selvageria (LIPIETZ, 2012, p. 43):
C’est sur quoi j’ai voulu insister, à partir de l’exemple du paysage, c’est qu’il n’y a pas
une muraille de Chine entre l’ecologiste sociale et l’ecologie profonde.
L’apprentissage de l’alterité que nous offre la nature est la base plus solide du “Tu ne
23 Anotações feitas em palestra na sede da ONU em Paris, 30 de novembro de 2012, no evento Assises du
Vivant.
44
tueras point”, et, au-délà, du príncipe de solidarité comme du príncipe de
responsabilité. (LIPIETZ, 2012, p.46)24
Lipietz questiona a necessidade de fazer essas comparações, entre os
diferentes tipos de ecologia. Em certo ponto, corroboramos com o autor, não existe uma
fronteira tão definida, diferentes pontos da rede analisada possuem características de mais
de um tipo. Mas, a riqueza da metodologia da cartografia de controvérsias está justamente
nessa contraposição entre diferentes pontos de vista, por isso toda a nossa categorização
versa para visualizar isso.
Dentro desse cenário, descrito até aqui, e sintetizado na linha do tempo em
anexo, aconteceu a Conferência das Nações Unidas para o Desenvolvimento Sustentável, a
Rio+20, com a presença de líderes de governo, empresas, ONGs, setor privado e
instituições educacionais na cidade do Rio de Janeiro, em junho de 2012. O tema principal
foi a economia verde no contexto da erradicação da pobreza, com sete áreas em destaque:
empregos, energia, cidades, segurança alimentar, agricultura, água, oceanos e clima25.
Percebe-se claramente a intenção da ONU de promover uma gestão global para as políticas
de recursos naturais.
Ao mesmo tempo, ocorreu no Rio de Janeiro outra conferência, bem diversa
dessa última, a Cúpula dos Povos26, encontro de movimentos sociais, ONGs, sindicatos e
partidos políticos (principalmente dos de orientação socialista e marxista) para afirmar o
contrário do defendido na Rio+20, conforme na sua declaração final:
A dita “economia verde” é uma das expressões da atual fase financeira do
capitalismo que também se utiliza de velhos e novos mecanismos, tais como o
aprofundamento do endividamento publico-privado, o super-estímulo ao consumo, a
apropriação e concentração das novas tecnologias, os mercados de carbono e
biodiversidade, a grilagem e estrangeirização de terras e as parcerias público-
privadas, entre outros. (CUPULA, 2012, on-line27)
Por essa declaração explícita contra a política da ONU de gestão da natureza,
percebe-se a existência de uma controvérsia. A ‘gestão’ da natureza na contemporaneidade
se da através da negociação global entre atores, que discutem a questão ambientalista em
esferas oficiais, como ocorreu na Conferência Rio+20. Mas também pela manifestação
individual, local, efêmera, de sujeitos informacionais fractais, como os que participam de
24 Isso é o que eu quis enfatizar, a partir do exemplo da paisagem, que não há muralha da China entre a
ecologia social e a ecologia profunda. O aprendizado da alteridade que a natureza nos oferece é a base
mais forte do "Não matarás", e além do princípio da solidariedade como do princípio da
responsabilidade (LIPIETZ, 2012, p.46) Tradução nossa.
25 Disponível em: <http://www.uncsd2012.org/about.html>. Acesso em: 3 mar. 2012.
26 Disponível em: <http://cupuladospovos.org.br/>. Acesso em: 18 maio 2012.
27 CÚPULA dos povos na Rio+20 por justiça social e ambiental em defesa dos bens comuns, contra a
mercantilização da vida. 2012. Disponível em: <http://cupuladospovos.org.br/wp-
content/uploads/2012/06/Carta-final_Cupula-dos-Povos.pdf>. Acesso em: 23 jun. 2012.
45
movimentos sociais como o Movimento Xingu Vivo Para Sempre e a Via Campesina, que
organizaram o evento Cúpula dos Povos.
Essa diversidade, por si só, representa um desafio para a pesquisa em
ambientes colaborativos dos espaços virtuais (MOURA, 2009) e é a partir dela que iniciamos
nossa cartografia da gestão da natureza na web.
46
3 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
A apreensão teórica do problema pesquisado exigiu a interface entre duas
vertentes teóricas relacionadas: 1) a teoria peirciana da semiótica, com ênfase no
pragmatismo relacionado ao conceito de meme (DAWKINS, 1976; BRODIE, 1996); 2) as
teorias que conceituam as Redes Sociais e a influência das novas tecnologias sobre os
sujeitos informacionais e suas práticas de mediação; com ênfase na Teoria Ator-Rede - TAR
(LATOUR, 2006) que culminam nas cartografias de controvérsias (VENTURINI, 2010;
LATOUR, 2011; BRUNO, 2012), que por sua vez explicitam a existência de regimes de
informação (FROHMANN, 1994, 1995; GOMEZ, 2012).
A justificativa da proposição da interface foi devida, em um primeiro momento, à
necessidade de visualizar as redes por onde perpassam os conteúdos sobre ambientalismo
e saúde do planeta. A Análise de Redes Sociais (ARS) possibilita a visualização da rede de
sujeitos e dos fluxos informacionais, para que sejam posteriormente analisados com
instrumentais metodológicos transdisciplinares. No caso das redes ambientais na internet,
são necessários olhares da geografia, da história, da economia e da cibercultura, no
mínimo, que devem harmoniosamente montar um panorama geral.
A necessidade de análise dos processos de produção de significações emitidas
pelos sujeitos que formam as redes do movimento ambientalista vêm de encontro ao
instrumental da semiótica. Sob esta referência conceitual é possível compreender não só a
lógica estrutural da linguagem digital, mas também caracterizar a internet como meio
intelectual, pois é a ideologia de um determinado usuário, com todas as suas características
culturais, que o faz utilizar a potencialidade de ferramentas de interação sob determinados
propósitos.
Nesse contexto, exploraremos o conceito de ‘regime de informação’,
desenvolvido por Frohmann (1994, 1995) a partir da TAR, como sistemas estáveis nos quais
os fluxos informacionais circulam, ressaltando-se canais específicos, que são estruturas
organizacionais para consumidores ou usuários. A TAR está especialmente dedicada a
encontrar não as grandes rodovias de informação, mas sim as pequenas ruazinhas por onde
perpassam muitas opiniões diferentes.
A TAR foi desenvolvida por B. Latour, M. Callon e J. Law, entre outros autores,
na década de 1980. Depois, teve inúmeros desdobramentos, principalmente nas áreas de
ciência, tecnologia e sociedade. No Brasil, o curso de pós-graduação de Antropologia da
47
Ciência e da Modernidade da Universidade de São Paulo (USP)28, em 2011, foi o primeiro a
tornar-se um curso voltado para a análise de cartografias de controvérsias sócio técnicas. E
foi em 2011 também que no simpósio da Associação Brasileira de Cibercultura, que reúne
pesquisadores da Comunicação Social e Ciência da Informação, houve a mesa “Teoria Ator-
Rede e Cibercultura”29.
Embora não se considere nessa pesquisa que ocorra uma hierarquia entre os
vértices teóricos, a semiótica peirciana será apresentada primeiramente, de forma mais
ampla, por ser uma filosofia fenomenológica através da qual se pretende pensar os outros
referenciais. Em seguida, nessa ordem, serão apresentadas a Análise de Redes Sociais
(ARS), a Teoria Ator-Rede (TAR), os regimes de informação e os conceitos sobre as
cartografias de controvérsias.
3.1 A semiótica de Charles Sanders Peirce
Essa re-visitação breve de conceitos, a seguir, se fez necessária para refletir
sobre a orientação da semiótica de Charles Sanders Peirce30 e sua aplicabilidade na área
da produção de conhecimento da sociedade da informação. Semiótica é a ciência que
estuda os infinitos sistemas de linguagem existentes, desde a comunicação entre plantas
(fitossemiótica), animais (zoosemiótica) e homens (antropossemiótica), podendo ser
aplicada à diversidade cultural e de organização do conhecimento e visão de mundo
peculiar de cada sistema. Atualmente, nos campos disciplinares da informação e
comunicação, a semiótica é muito utilizada para o estudo de linguagens híbridas, como o
audiovisual e o hipertexto (ECO, 1974, 1977; PLAZA, 1987; SANTAELLA, 1995).
O termo semiótica foi adotado primeiramente no século XVII por John Locke
(século XVII), no seu Essay on human understading, no qual propôs uma ‘doutrina de
signos’; por Poinsote, que em 1632 escreveu Tractatus de Signis (DEELY, 1995) e também
por Johann Heinrich Lambert, que em 1764 escreveu um tratado intitulado Semiotik (NÖTH,
28 Atualmente, a Teoria Ator-Rede e a metodologia de cartografia de controvérsias estão sendo
desenvolvidas no MediaLab do curso de Comunicação e Artes da Universidade Federal do Rio de
Janeiro, coordenado por Fernanda Bruno; na disciplina Comunicação e Informática do curso de
Comunicação da Universidade Federal da Bahia, ministrada por André Lemos; e pelo Labic, laboratório
do curso de Comunicação Social da Universidade Federal do Espírito Santo, coordenado por Fábio
Malini. É também a metodologia adotada pelas pesquisas do Centro de Estudos Ameríndios da USP,
coordenado por Stélio Marras.
29 Disponível
em:
<http://dispositivodevisibilidade.blogspot.com.br/2011/11/teoria-ator-rede-e-
cibercultura.html>. Acesso em: 28 jun. 2012.
30 Peirce faleceu em 1914 e a maior parte de suas publicações são póstumas. Considera-se que sua obra não é
legível – quem pode ler mais de setenta mil páginas manuscritas? Foi feita uma coletânea dos textos mais
significantes para publicação por Hartshorne e Weiss (1935), inicialmente, e depois outros autores utilizaram
suas idéias, como Apel (1968) (o que foi de grande importância para o desenvolvimento das teorias sobre
pragmatismo), ou Habermas, que o utilizou para desenvolver sua teoria da ação comunicativa.
48
1995, p.18). Consideramos que a semiótica como ciência floresceu a partir da obra de
Charles Sanders Peirce, no final de século XIX. Mas somente tomou fôlego mundial nos
anos sessenta do século passado. A ‘ciência dos signos’ é denominada semiologia ou
semiótica, desde que o Congresso Internacional de Semiótica de 1969 considerou os dois
termos sinônimos31. Porém, a palavra semiologia corresponde à corrente francesa do estudo
dos signos na vida social iniciada por Ferdinand Saussure (1857-1913), uma ramificação da
psicologia, assim como a linguística, que concebe o signo como uma entidade de dupla face
(significado/significante) e se fundamenta no movimento estruturalista francês.
Já a palavra semiótica está relacionada à tradição anglo-saxônica, que concebe
o signo em uma estrutura triádica, em um processo de mediação que tende ao infinito, e
expande a questão das relações imersas na vida social para outro ambiente de
comunicação. Este processo pode ser desde verbal (como a linguagem falada, cotidiana),
como podem ser os processos de linguagem digital, que convertem todas as mídias e
sistemas de significação em um só suporte.
Resumidamente, um primeiro ponto de diferenciação entre as teorias
saussuriana e peirciana está na própria concepção de signo, que Saussure define a partir de
uma relação diádica entre significado e significante e Peirce entende como um processo
triádico de mediação que dá origem a novos signos. A segunda diferença fundamental é que
Saussure delimita as relações sígnicas dentro da vida social, enquanto Peirce expande esse
domínio, pois o signo pode estar ambientado numa mente interpretadora, não
necessariamente humana (como os dispositivos tecnológicos e os arroubos da natureza).
A semiótica é o estudo dos signos. Os processos de significação, para que haja
comunicação, são chamados de ‘semiose’, é o fenômeno, enquanto a semiótica é um
discurso teórico que pode servir de instrumento para análise dos fenômenos. Segundo
Peirce, a semiótica é a “disciplina da natureza essencial e das variedades fundamentais de
toda possível semiose” (CP: 5.48432).
De maneira bem resumida, há semiose quando um objeto (objeto dinâmico,
segundo Peirce), que é qualquer coisa do mundo, um estado de espírito, uma imagem, uma
ilusão, uma realidade é representado por um signo (representâmen) e o significado dessa
representação (que é o objeto imediato, de acordo com Peirce), se transmuta num
interpretante, uma tradução, ou seja, um outro signo.
31 De fato, os dois termos derivam do grego semeion, que quer dizer signo, portanto, tanto a semiologia
quanto a semiótica significam ‘ciência dos signos’ (NÖTH, 1995)
32 Para as citações diretas de Peirce, adotamos as siglas utilizadas por seus comentadores: CP: Collected
Papers – volume e parágrafo.
49
Esse objeto representado geralmente está fora da nossa percepção, daí a
máxima que signo é aquilo que representa algo para alguém. E essa representação se
manifesta de muitos modos, há várias possibilidades de ocorrências oriundas de um único
objeto. O interpretante, por sua vez, é uma inferência, um signo que equivale ao objeto
representado, mas inserido em outro sistema de signos (para ser compreendido em outro
contexto) e assim por diante.
Peirce desenvolveu as categorias fenomenológicas, que fundamentam a
classificação triádica dos signos e as ciências normativas. Estes conceitos irão fundamentar
o entendimento do que se constitui o pragmatismo peirciano, relacionado ao conceito de
meme (DAWKINS, 1976; BRODIE, 1996), a fim de compreender a formação das crenças
nas redes sociais. Finalmente, a tradução intersemiótica é descrita como o conceito que
pode elucidar sobre a semiose de representação da natureza motivada pela diversidade
cultural, em dinâmicas do olhar do homem sobre o meio ambiente e as representações daí
advindas.
3.1.1 As Categorias Fenomenológicas
Para a construção de sua teoria semiótica, Peirce se baseou na Fenomenologia,
ou estudo dos fenômenos. Para o autor, fenômeno é “tudo que está presente ao espírito,
sem cuidar se corresponde a algo real ou não” (PEIRCE, 2000, p.85). Ou seja, tudo o que
se apresenta à mente, qualquer ideia, quer corresponda ou não ao mundo real. Seu
pensamento está ancorado na observação dos fenômenos, ou como estes fenômenos são
representados. O conceito de mente aqui pode ser entendido como o processo de formação
das significações, ou simplesmente semiose.
Para explicar o modo como os processos de produção de sentido se dão em
nossa mente (SANTAELLA, 2002), Peirce desenvolveu três categorias fenomenológicas:
Firstness, Secondness, Thirdness. Esses termos são traduzidos pela maioria dos autores
como primeiridade, secundidade e terceiridade.
Para Peirce, primeiridade é a qualidade potencial atribuída a algum objeto, a sua
essência ou emoção, ou seja, nada que dependa da mente interpretadora, é um elemento
separado de qualquer contexto. A ideia de primeiridade (que em algumas traduções vem
como ‘presentidade’ ou ‘primeireza’) é a da mônada, da qualidade primeira, novidade, vida,
liberdade, todas as sensações. Na temática da preservação ambiental, por exemplo, é a cor
verde, pois pode remeter a sensações de floresta, mata, natureza, clorofila, planta... uma
variedade de possibilidades de significação, mas enquanto primeiridade ela não se delimita
ainda em nenhuma delas. Essa categoria inicia os processos de compreensão, o primeiro
50
entendimento acerca de algo subjetivo, sem comparação e sem referencial, antes que a
mente se aproprie dela para reflexão. Nas palavras de Pinto (2009b):
A primeireza33 é o modo de ser que consiste no seu sujeito ser positivamente tal
como é, independentemente de qualquer outra coisa. Isso pode ser apenas uma
possibilidade. Pois, enquanto as coisas não agem umas sobre as outras, não há
sentido em dizer que elas têm algum ser, a menos que seja que elas são de tal
forma que isso as coloca em relação com as outras. O modo de ser uma
vermelheza, antes de qualquer coisa no universo ser vermelha, era, ainda assim,
uma possibilidade qualitativa positiva. A vermelheza em si mesma, mesmo que
encarnada em algo, é algo positivo e sui generis. A isso chamo de Primeireza. (CP
1.25, apud PINTO, 2009b, p. 40-41)
É a categoria de acordo com a qual não existe nada anterior: “Predomina nas
ideias de novidade, vida, liberdade. Livre é o que não tem outro atrás de si determinando
suas ações” (PEIRCE, 2000, p. 88), não há comparação, não há referencial. Porém, essa
possibilidade de sensação é colocada em confronto na segunda categoria fenomenológica,
a Secundidade.
Em reação a essa explosão de sentidos, e como condição para que seja
compreendida, é necessário um teste, algo que impeça o ceticismo. Quando existe o
conflito, o processo de semiose alcança a secundidade. É a formação da díada. Para
Santaella (2002), Agir, reagir, interagir e fazer são modos marcantes, concretos e materiais
de dizer o mundo, interação dialógica, ao nível da ação, do homem com sua historicidade
(SANTAELLA, 2002, p. 50). Essa reação pode ser exemplificada pela cor verde em um sinal
de trânsito (já não mais o verde repleto de possibilidades), mas aquele que provoca uma
reação, a de seguir adiante. Essa categoria, do segundo, está no domínio “do atual, do
presencial, do visto, do sentido conscientemente, daquilo que percebemos sabendo dessa
percepção” (PINTO, 2009b, p. 10). Ou nas palavras de Peirce:
Temos uma consciência bivalente de esforço e resistência que, parece-me, chega
toleravelmente perto de uma sensação pura de atualidade. No todo, penso existir
aqui um modo de ser de algo que consiste em como é um objeto segundo. (CP 1.24,
apud PINTO, 2009b, p.43)
A Secundidade representa a parte manifesta do signo, a reação que, no entanto,
ainda não gerou uma interpretação. É a categoria do mundo real, da ação e reação, de tudo
que é. Nela, a multiplicidade característica do possível (Primeiridade) se torna existente em
uma materialização parcial, canalizada, rumo a uma nova tendência interpretativa.
O raciocínio de interpretar pode ser considerado o terceiro vértice da tricotomia
peirciana, quando o embate entre todas as possibilidades de significação de um objeto e
seu recorte são mediados num processo de semiose. Por Terceiridade, Peirce entende ser o
mediador entre o primeiro e o segundo. O começo é o primeiro, o fim segundo, o meio
33 Alguns autores preferem traduzir Firstness, Secondness e Thirdness como Primeireza, Segundeza e
Terceireza (PINTO, 2009b)
51
terceiro(SANTAELLA, 2002, p. 92). É a categoria do que tende a ser, da linguagem e do
pensamento:
Cinco minutos de nossa vida desperta não passarão sem que façamos algum tipo de
previsão e, na maioria dos casos, essas previsões se realizarão em um evento.
Entretanto, uma previsão é essencialmente de natureza geral e não pode nunca ser
inteiramente realizada. Dizer que uma previsão tem uma tendência decisiva a se
cumprir é dizer que os eventos futuros, em certa medida, são realmente governados
por uma lei. (CP 1.26, apud PINTO, 2009b, p. 44-45)
Exemplo simples de Terceiridade, que assume este caráter geral necessário
para assim ser considerado, é o próprio verde da ‘economia verde’, aquele que compreende
uma série de mudanças nos modos do capitalismo, proposto pela ONU. Determina a ideia
mais simples de signo útil para analisar variáveis de representação relacionadas à
preservação da natureza: Um signo representa algo para a ideia que provoca ou modifica
(SANTAELLA, 2002, p. 93).
Por estas três categorias o ser humano entende o mundo (a parte acessível a
cada um), porque o representa, e só entende essa representação porque está ligada a
outra, e outra, infinitamente, em cadeias de relações triádicas. As três categorias são
onipresentes. É possível, no entanto ser observado o predomínio de alguma delas:
Na sua forma genuína, terceiridade é uma relação triádica que existe entre um
signo, seu objeto e o pensamento interpretante, ele próprio um signo, considerado
como constituindo o modo de ser de um signo. Um terceiro é algo que traz um
primeiro para uma relação com um segundo. (NOTH; SANTAELLA, 1997, p.24)
Essa relação triádica é o processo de semiose, que Peirce define como uma
ação, uma influência entre “três sujeitos, como por exemplo um signo, o seu objeto e o seu
interpretante, tal influência tri-relativa não sendo jamais passível de resolução em uma ação
entre duplas”. A relação entre o signo e seu objeto é mediada pelo interpretante.
Um signo, co-relacionado às três categorias propostas, tem potencial para se
referir ao mundo real ou fictício, às coisas e ao seu estado, e incorpora nossa relação com
aquilo que eles denotam: “crença, convicção, dúvida, interrogação, apelo, paixão,
indiferença, etc.” (RODRIGUES, 1991, p. 25). A denotação resultante do processo de
semiose depende da enunciação, de como o signo se manifesta, e possui uma significação
que corresponde ao seu conceito, de acordo com a convenção de algum sistema de signos.
De maneira geral, há consenso que o signo comunica informação. Porém, é
preciso saber o que é uma ‘árvore’ para saber escutar e entender ‘árvore’. É necessário um
universo de significados pré-existentes para saber o que o signo deseja comunicar, para
produzir o efeito comunicacional viral que se encontra hoje nas redes sociais.
Como não é objetivo dessa tese uma revisão aprofundada da Teoria Geral dos
Signos (isso já foi realizado na dissertação de mestrado), o próximo item apresenta o
52
conceito de pragmatismo peirciano, associado ao conceito de meme (DAWKINS, 1976;
BRODIE, 1996).
3.1.2 Pragmatismo, memes e a formação das crenças
Peirce estava interessado em descobrir, basicamente, como é possível o
conhecimento da realidade. Sempre através dos signos. O conflito e ou interesse, na teoria,
assim como nas situações de vida, define o limite da investigação. Necessidades definem o
grau de interesse e, neste processo, a verdade é substituída pela probabilidade, ou sucesso.
O pragmatismo peirciano pode ser considerado um método, pois auxilia a
compreensão de problemas da experiência ligada à dimensão social e tem relação também
com o evolucionismo de Darwin, que afirma que os organismos interagem de acordo com as
exigências do meio, empiricamente. Peirce, como filósofo, desejou construir um método
para recuperar a dinâmica da sociedade do conhecimento, um método científico que
esclarece como se formatam as consciências.
No site da rede Avaaz há a foto de uma mulher enterrada, com pedras em volta.
À primeira vista, pensamos ser uma adúltera muçulmana que cumpre sua sentença. Mas, ao
clicar na foto, uma segunda página34 se abre e a legenda anuncia que é uma ativista
iraniana em perfomance contra a realidade do seu país. O interesse em saber mais, na
teoria do pragmatismo, define o limite da investigação. Esse é o pensamento do
pragmatismo contemporâneo, desenvolvido por William James, a partir da obra de Peirce.
É fácil aceitar a verdade do apedrejamento de mulheres adúlteras como
injustiça, para um observador ocidental, sem pensar em questões políticas e religiosas
envolvidas, assim como é fácil olhar um objeto na parede e dizer: ‘- é um relógio!’
independente de suas peças internas, porque desde crianças ‘copiamos’ que relógio é o
objeto que marca cartesianamente o tempo. Mas, há outros processos de significação mais
complexos ao se tornarem verdades.
Nesse ponto é que o pragmatismo e o intelectualismo começam a se juntar.
Primeiramente, sem dúvida, concordar significa copiar, mas vimos que a mera
palavra ‘relógio’ faria ao invés de um quadro mental de suas peças e não cópias de
muitas realidades. “Passado”, “poder”, “espontaneidade” – como pode nosso espírito
copiar essas realidades? (JAMES, 1974, p.28)
Se não há nada contraditório acerca de uma verdade, é fácil copiar seu conceito.
Mas, se há um processo entre dúvida e crença, as crenças orientam os desejos e a irritação
da dúvida gera uma luta, ou o esforço de organizar verdades para gerar conforto:
Relacionamos uma ideia abstrata a outra, estruturando, no fim, grandes sistemas de
verdade lógica e matemática, sob cujos respectivos termos os fatos sensíveis da
34 Campanha da Avaaz. Disponível em: <http://www.avaaz.org/po/stop_stoning>. Acesso em: 11 out. 2011.
53
experiência arranjam-se por fim, de modo que nossas verdades eternas são também
verdadeiras quanto às realidades. Esse casamento de fato com a teoria é
interminavelmente fértil. (JAMES, 1974, p. 27- 28)
Os artigos ‘A Fixação das Crenças’ e ‘Como tornar claras nossas ideias’
fundamentam o conceito de ‘pragmatismo’ (PEIRCE, 1972). ‘A Fixação das Crenças’ se
refere à maneira como as pessoas chegam a ter costumes, tradições, maneiras de pensar,
sejam pessoais ou filosóficas. As crenças influenciam nosso comportamento, são o ‘pano de
fundo’ do ‘mundo da vida’. O ‘senso comum’ está cheio de autenticidade (por exemplo, em
movimentos sociais e políticos) onde, à priori, os pensamentos tendem a construir sistemas,
que não podem ser considerados ruins ou negativos, desde que têm a função de tornar a
vida cognoscível.
Vejamos o hábito de tomar banho. Na Europa, na idade média, a frequência era
de uma vez por ano e, o excesso, motivo de doença (ASHENBURG, 2008). Depois, com o
sanitarismo de Pasteur, banho virou sinônimo de saúde. Agora, justificado por verdades
eco-científicas, o site do governo brasileiro35 aconselha diminuir o tempo do banho de doze
para seis minutos. Já a ONG SOS Mata Atlântica36 anuncia que fazer ‘xixi no banho’ pode
salvar o planeta e a modelo Gisele Bündchen (estrela da campanha da ONG) declara que
1040 pessoas engajadas na sua campanha de urinar no banho economizaram 4.555.200
litros de água por ano37.
Peirce delimita dois métodos para fixação das crenças: a tenacidade e a
autoridade. O primeiro é exemplificado pelo fanatismo religioso, a tendência de não
introduzir novas experiências para modificar a crença, o que faz com que os homens se
apeguem ferrenhamente a posições adotadas, é a fé sólida que proporciona “paz de
espírito” (CP 5.377). O método da autoridade, por sua vez, tem superioridade mental sobre
o da tenacidade, pois consiste em fixar a crença pela enunciação de alguma autoridade
(uma organização política, acadêmica, econômica), que supostamente tem o controle da
verdade.
Quando Pasteur justificou cientificamente que o banho é saudável, aconteceu o
que Peirce chama de ‘impulso social’ (CP 5.378), opiniões adversas chocam-se com as
convicções estabelecidas, é uma autoridade que justifica a criação de um novo hábito. Já
quando a top model Bündchen evoca uma alteração no hábito de tomar banho, mescla-se a
tenacidade da sua presença enquanto ícone fashion da religião do consumismo
contemporâneo, com a suposta autoridade da divulgação da quantidade, simulada, da
35 Disponível em: <http://www.brasil.gov.br/consumo-consciente/html/energia/energia/diminua-o-tempo-no
banho>. Acesso em: 12 out. 2011.
36 Disponível em: <http://xixinobanho.org.br/>. Acesso em: 12 out. 2011.
37 Disponível em: <http://www.giselebundchen.com.br/atitude/>. Acesso em: 12 out. 2011.
54
economia de litros d’água de indivíduos que aderiram a sua campanha. É o método da
tenacidade travestido de autoridade.
Esse exemplo simples demonstra a complexidade do pragmatismo peirciano. As
significações são lógicas estruturais semânticas, e não fatos biológicos ou psicológicos
apenas, e mais, são estruturas emergentes de padrões de relacionamento oriundos das
respostas do organismo humano com o universo. Envolve a otimização do raciocínio em
relação a valores cognitivos.
Willian James38 tinha uma visão da linguagem, e do pragmatismo, mais
orgânica, como se os processos de significados pudessem ser explicados como processos
de interação entre organismos vivos. Outro estudioso, Dewey, que foi aluno de Peirce,
entendia o pragmatismo dentro de uma perspectiva naturalista, influenciado pela teoria do
evolucionismo das ciências naturais, o que era um pouco contestado por Peirce. A
ambiguidade da palavra “naturalista” está no fato de que a mesma pode interpretar o
comportamento humano como o dos primatas, insetos, ou bactérias. Isso porque, assim
como esses últimos tipos, o homem é um ser vivo, que evolui em redes com outros homens,
em comunidades linguísticas, que transmite conhecimento e cultura, segundo Dewey:
a concepção naturalista da lógica, que subjaz à posição aqui assumida, é um
naturalismo cultural. Nem a investigação, nem sequer o mais abstrato conjunto
formal de símbolos podem escapar da matriz cultural na qual eles vivem, movem-se
e têm sua existência (DEWEY, 1938, p. 19).
Esse naturalismo cultural ajuda a entender a dinâmica das organizações, entre
sujeitos informacionais inseridos em um contexto onde espaços culturais se sobrepõem em
camadas digitais, o que torna a análise mais complexa, pois a tradução de um signo se
processa, no mínimo, no saber social compartilhado entre o emissor, tradutor e receptor,
que se encontram no novo significado gerado pela tradução.
É a partir desta perspectiva que o pragmatismo peirciano se encontra com o
conceito de meme (DAWKINS, 1976; BRODIE, 1996), considerado um vírus da mente, ou
seja, uma ideia que se propaga. Segundo Brodie (1996), a partir da ação do meme, as
pessoas desenvolvem e fortalecem crenças que passam a ditar regras de comportamento,
desde a religião, publicidade, fantasias sexuais, hábitos de higiene e limpeza até outros
tipos de costumes que caracterizam tribos, como os ambientalistas e vegetarianos.
O conceito de meme, como uma unidade, pode ser comparado ao signo
degenerado de Peirce (REIS, 2006), ou ‘quase signo’ (SANTAELLA, 2001, p.56), aquele que
não é bem definido, que é repleto de possibilidade de interpretação, com predomínio de
primeiridade. Pela interconectividade potencial característica da informação disponível em
38 Por curiosidade, James tinha uma formação inicial dentro das ciências biológicas. Em 1865, aos 23
anos, conta-se que ele participou de uma expedição naturalista à Amazônia (MENAND, 2001).
55
rede, o isolamento do meme não é possível, pelo contrário, sua capacidade viral é
proporcional à sua interatividade com outros sistemas cognitivos, suas potencialidades
interpretativas determinadas pelo contexto cultural, econômico e social do intérprete.
O desenvolvimento do conceito de meme, inicialmente descrito como o gene
egoísta de Dawkins (1976), cria uma nova abordagem, o memetics, (BRODIE, 1996,
BLACKMORE, 1999; AUNGER, 2002) que unifica biologia, psicologia e ciências cognitivas.
Dentro desta última, e no contexto das Tecnologias da Informação e Comunicação (TICs), a
aproximação com o pragmatismo peirciano expande o conceito de memetics para os
sistemas informacionais, a partir do entendimento da organização e uso da informação em
ambientes virtuais colaborativos.
Memetics pode ser comparado ao conceito de módulo cultural (MANOVICH,
2001, p.51), pois constrói blocos de cultura (de padrões de pensamento) da mesma forma
que um gen é a construção básica que dissemina a vida. E as mutações genéticas podem
ser comparadas à transcodificação cultural (MANOVICH, 2001, p.63), pelas quais todas as
velhas mídias (livros, rádio, TV, jornal impresso, cinema) se convergem para os meios
digitais.
A ciência da memetics é baseada na Evolução das Espécies de Darwin, que
através da seleção natural, transformou completamente o campo da biologia.
Metaforicamente, essa teoria evolucionária moderna faz entender os caminhos da mente, ou
como as pessoas aprendem e crescem, como ocorre o progresso cultural.
Na idade média, a mulher da alta sociedade não amamentava seus filhos por
achar que deformaria seu corpo e que o leite da escrava poderia ser mais forte que o dela
própria. Hoje, campanhas de incentivo ao aleitamento materno são justificadas como uma
forma de emagrecer no período pós parto, e inclusive ONGs que incentivam a
amamentação, como uma prática ecológica, estavam presentes na Rio+20. Isso é uma
mostra do paradigm shift (BRODIE, 1996, p. XVI), quando o ‘vírus da mente’ propaga sua
crença, a ideia começa a ser reproduzida em uma rede social, se torna vírus da mente,
mudando a consciência de pessoas, em contextos diferentes da sua origem.
Memetics explica como a cultura evolui em processos comunicacionais de
formação de crenças espalhados involuntariamente, a partir de fatos não programados, ou
implantandos propositalmente, como em campanhas publicitárias.
Há contaminações passivas, como ouvir rádio, ler jornal e ver televisão e outras
motivadas pela interação do usuário, como seguir alguém no Twitter, reproduzir um link no
Facebook, indexar e categorizar conteúdos no Delicious. Se ao mesmo tempo somos
56
programados pelos meios de comunicação de massa, pode haver uma reprogramação, a
partir do momento que usuários disseminam informações que consideram relevantes.
Os memes que ganham a competição de serem mais propagados podem se
tornar uma crença. São responsáveis pelas dinâmicas de criação que constituem a cultural
atualmente. Isso nos faz questionar porque algumas crenças se espalham e outras não, ou
como são traduzidas de acordo com contextos culturais e de linguagem diferenciados.
Essa transmutação do objeto sígnico entre duas ou mais representações do
pode ser chamada de tradução intersemiótica. Definida como um tipo de tradução “que
consiste na interpretação dos signos verbais por meio de sistemas de signos não-verbais”
(PLAZA, 1987, p. XI), ou mais especificamente a transposição sígnica de um sistema de
signos, como um livro, para outro como um filme.
Tradução, grosso modo, é o ato de transferir, transportar. Plaza inicia seu
raciocínio analisando a poética sincrônica e acredita na existência de algo inerente ao texto,
um entendimento que vai ser traduzido à medida que é lido, pela mente interpretadora, o
que elimina a possibilidade de um texto acabado e que corrobora com o pensamento de
Walter Benjamim de que “toda forma de arte situa-se no cruzamento de três linhas
evolutivas: a elaboração técnica, a elaboração das formas de tradição e a elaboração das
formas de recepção” (BENJAMIN, 1980, p. 23, apud PLAZA, 1987, p. 2). Traduzir envolve
um processo mais abrangente do que a via unidirecional emissor/receptor. O texto
resultante, a tradução, não consiste da incorporação do texto anterior "transportado", e sim
de um texto que se refere a outros textos, que os afeta, que mantém entre eles uma relação,
que pode os representar de algum modo. O objeto de estudo da tradução intersemiótica,
portanto, é a relação que existe entre elementos textuais externos e internos, co-
relacionados a uma determinada obra, quando ela é transposta para outro dispositivo
corpóreo.
Plaza relaciona tradução e temporalidade para analisar a história como mônada,
como um módulo que pode ser recombinado para novas traduções determinadas pelo olhar
da atualidade. Isso é devido aos fatos históricos serem absorvidos como palimpsesto, ou
seja, presente-passado-futuro mutuamente modificam as percepções dominantes sobre os
mesmos:
Na medida em que a criação encara a história como linguagem, no que diz respeito
à tradução, podemos aqui estabelecer um paralelo entre o passado como ícone,
como possibilidade, como original a ser traduzido, o presente como índice, como
tensão criativo-tradutora, como momento operacional, e o futuro como símbolo, quer
dizer, a criação à procura de um leitor. (PLAZA, 1987, p. 8)
Sendo a tradução como uma trama das relações do tempo, a tradução
intersemiótica é definida pelo autor como uma prática crítica e criativa da historicidade dos
57
meios de produção e reprodução, “como leitura, como metacriação, como ação sobre
estruturas eventos, como diálogo de signos, como síntese e re-estrutura da história”
(PLAZA, 1987, p.14)
A estrutura diagramática pela qual o autor (PLAZA, 1987) suporta a sua teoria é
apoiada na lógica das categorias fenomenológicas peircianas, pensando as traduções como
operações de semiose em suas várias subdivisões, como vistas anteriormente. O
autorestabelece inclusive uma tipologia de traduções: icônica, referencial e simbólica: “como
pensamento em signos, como trânsito dos sentidos, como transcriação de formas na
historicidade" (PLAZA, 1987, p.14). O ‘tradutor’, portanto, é também produtor, depois de ser
leitor, e tem sua experiência moldada pela obra e pela noção da existência de um
espectador, a quem ele deve se dirigir, e que possui condicionadores sociais, os quais ele
considera.
Numa análise de tradução, não podemos restringir-nos aos sistemas como
produtores de signos e à sua equivalência. É preciso levar em conta aspectos que, em
ambos os sistemas, moldam a experiência do espectador e sua equivalência:
A recuperação imediata (on line) da informação em tempo real (através de sistemas
eletrônicos) modifica a nossa percepção dessa mesma informação, provocando
tradução e contaminação. Se o poeta Mallarmé achava que o “mundo existe para
acabar num livro”, hoje estamos numa posição de ir além, transferindo bibliotecas e
o espetáculo da história para um computador. (PLAZA, 1987, p.13)
Temos nossos sentidos de percepção e recuperação das informações
potencializados pelas tecnologias. Os nossos sentidos naturais audição, visão, olfato, tato e
paladar são as nossas antenas de percepção do mundo. Mas há uma diferença entre as
apreensões da realidade despertadas naturalmente e as apreensões traduzidas pelas
tecnologias.
Verifica-se uma relação relevante entre sentidos, meios e códigos, segundo
Plaza (1987). O autor corrobora com o pensamento de Mc Luhan de que a tecnologia é uma
‘extensão’ ou ‘amputação’ do corpo humano. Assim, a tecnologia expande e altera a
percepção do real, age como uma prótese, seu uso depende de uma adaptação ao corpo
que recebe, o que exige um equilíbrio entre os órgãos ‘humanos’ do sentido e as
tecnologias. Segundo o autor, como extensão e acelerador da vida sensória, todo meio afeta
de um golpe o campo total dos sentidos (PLAZA, 1987).
Na internet, é comum a reprodução de conteúdos entre ambientes virtuais
diferentes, que acoplam informações repetidas oriunda de outras arquiteturas
informacionais. Se temos um fato jornalístico ambiental apresentado em duas páginas da
web diferentes, temos duas traduções de um mesmo signo (o mesmo objeto), isto é, são
58
signos em cadeia semiótica, um pode ser visto como uma transformação, ou tradução, do
outro, ou uma tradução intersemiótica.
Em busca de estabelecer uma tipologia (não no sentido de uma grade
classificatória rígida), mas de indicar referências para classificação das traduções em
ambientes diferentes, Plaza (1987, p. 89) distingue três matrizes fundamentais: 1) As
traduções icônicas, determinadas por similaridade do objeto, dividas em isomórficas (mesma
forma) e paramórficas (grande variedade de formas) - ambas relacionadas a processos
químicos e físicos de substâncias que se transformam em outras, e ainda em ‘tradução
icônica ready-made’, onde o original e o traduzido são totalmente iguais, como os idiomas.
2) As traduções indiciais: há correspondência e continuidade entre o objeto e sua tradução,
em experiências concretas de transposição de sentidos – podem ser dividas em ‘topológica
homeomórfica’ e ‘topológica metonímica’; e as 3) Traduções simbólicas, através da qual um
signo dá surgimento a outro, por força de convenção, de uma regra que determina a
significação. Este último tipo é chamado pelo autor de transcodificação (PLAZA, 1987, p.94).
Estes conceitos apresentados até aqui ajudaram a classificar os processos de semiose nas
redes visualizadas.
3.2 Análise das Redes Sociais
Neste item, apresenta-se uma discussão teórica acerca das redes sociais em
dois tópicos: 1) sua inserção nos espaços virtuais e das características do sujeito
informacional que emerge das práticas em redes, e 2) conceitos mais específicos e
nomenclaturas da ARS, enquanto método de pesquisa.
Atualmente, as inovações tecnológicas nos constrangem a crer na
funcionalidade do ‘tudo em rede’. De fato, essa metáfora, em termos de figura, é apropriada,
pois evidencia a conexão entre elementos dispersos geograficamente e organizados em
sistemas sociais, econômicos e políticos. É mais favorável para representação da sociedade
atual do que a própria metáfora do ‘mecanismo’, ou da produção fordista, utilizada para
simbolizar processos de trabalho na revolução industrial.
Redes podem ser de cidades, de empresas multinacionais, de supermercados,
de igrejas, bancárias, de movimentos sociais, de personagens virtuais... O conceito de rede
varia através da perspectiva de análise, pela arquitetura (desenho), pelos tipos de interação,
conteúdo ou fluxos informacionais. Sua função, mais do que transportar significados de um
lugar a outro, é organizar a ação da rede. Se considerarmos a rede como uma forma de
59
comunicação, tudo o que é concretizado por meio dela deve ser visto sob a ótica da
circulação da informação e dos valores a ela conectados. Redes podem ser:
toda infra-estrutura, permitindo o transporte de matéria, de energia ou de
informação, e que se inscreve sobre o território onde se caracteriza pela topologia
de seus arcos de transmissão, seus nós de bifurcação ou de comunicação.
(SANTOS, 2002b, p. 262)
Santos (2002b) crê em redes como um suporte corpóreo do cotidiano, algo que
se orienta pelas práticas sociais, que provoca um impacto, não só oriundo da técnica, mas
do ‘mundo da vida’. O autor (SANTOS, 2002b) define três momentos da ‘vida em rede’, que
evolui de um nível simples para um mais complexo, à medida que o uso da tecnologia impõe
o caráter deliberativo na constituição das redes. No primeiro momento essa constituição era
espontânea, entre pequenas relações cotidianas; necessitava pouco engenho humano para
fluírem dados naturais entre atores, pois o próprio consumo era menor. Quanto mais avança
a civilização, surgem ‘rugosidades’ - a necessidade de corrigir e melhorar o território por
intermédio das redes – ou seja, o segundo momento é marcado pela ampliação do
consumo, que demanda o estabelecimento de unidades funcionais de relações para além
das fronteiras, que tratem de questões econômicas, fiscais, diplomáticas, militares e
políticas. No terceiro momento, o fenômeno das redes se torna absoluto, ubíquo.
Potencializada pelo uso da tecnologia, implementa-se uma sociabilidade à distância, onde o
tempo social coincide com o tempo dos dispositivos técnicos e a memória social (em
permanente transformação) encontra-se quase totalmente objetivada em dispositivos
técnicos (LÉVY, 1993).
A experiência da ‘ideia de totalidade’ é concomitante com o enfraquecimento das
fronteiras e compromete a autoridade dos Estados Nacionais. Outros fenômenos sociais
agregados são: a fragmentação do conhecimento (criticada pelos pesquisadores
transdisciplinares39) e intensificação das especializações; maior assimetria entre as relações
e entre os atores, frente à necessidade de repelir as ditas rugosidades sociais; e a unicidade
da técnica, que amplia a circulação da informação pragmática (operacional). Há uma busca
voraz por mais fluidez (em termos de condição, causa e resultado), na qual é a circulação de
bens que determina a produção e o consumo (SANTOS, 2002b).
Outros autores (BAUMAN, 2005; CASTELLS, 2003) também concordam como
pensamento de Santos (2002, 2002b) de que redes sempre existiram. Para eles, a novidade
é o aprimoramento técnico que, se por um lado potencializa a quantidade das interações,
por outro, esvazia o sentido de profundidade social: à medida que diminuem as relações
39 Sobre o enfoque transdisciplinar, mais informações detalhadas no Manifesto da Transdisciplinaridade
(NICOLESCU, 1999) e em Ambrósio (1997). Mais relacionado à Ciência da Informação e
Transdisciplinaride, ver Bicalho e Oliveira (2005).
60
face a face, o envolvimento entre atores se torna superficial, composto por laços fracos. De
fato, é muito mais fácil protestar e fazer ‘movimento social’ pela Internet, pois não exige um
comprometimento político e social profundo. Um sujeito pode fazer parte de várias
comunidades tribais diferentes, mas talvez a ideia de pertencimentos múltiplos a diversas
comunidades e a própria noção de ubiquidade absoluta podem exaurir a qualidade de
nossas relações.
Essa condição do homem moderno permite a constatação, segundo Augé
(2006), de alguns paradoxos – o mundo unificado e dividido, a solidão povoada de
conexões, os lugares desprovidos de contexto cultural relacionado à sua posição geográfica,
os já citados ‘não lugares’ (AUGÉ, 2006, p. 101). Esses espaços urbanos genéricos não
tornam possível que o visitante faça uma leitura identitária e histórica da sua origem, pois
foram transformados de acordo com uma ‘planetarização’. Também não permitem que neles
se inscrevam relações sociais duradouras. Como afirma Santos, “as redes são um veículo
de um movimento dialético que, de uma parte, ao mundo opõe o território e o lugar; e de
outra parte, confronta o lugar ao território tomado como um todo” (SANTOS, 2002b, p. 270).
Essa fluidez de dados é catalisada, segundo Santos (2002b, p.276), pela
realização conjunta de três possibilidades provindas da existência de: 1) Formas perfeitas
universais, fruto da nova evolução técnica da informação tornada ubíqua e instantânea; 2)
Normas universais (tratados, protocolos e acordos entre países e atores institucionais
diversificados) e 3) Informação Universal40, ou a pretensa vontade de um discurso universal.
O autor (SANTOS, 2002a) interpreta a globalização – e seu conceito de redes flui dessa
concepção - como consequência da unicidade da técnica, da interdependência funcional, da
convergência dos momentos e do aumento da troca de informações. O espaço unipolar de
dominação, pois, é possibilitado pelas novas conexões de comunicação e tecnologia – ou
seja, as redes de informações e de fluxo de capital.
Santos (2002a) vai do julgamento da globalização, como ‘perversa’, a uma visão
(ou desejo) de que um senso comum mais justo desperte a esperança de que ‘um novo
mundo é possível’:
A partir dessas metamorfoses, pode-se pensar na produção local de um
entendimento progressivo do mundo e do lugar, com a produção indígena de
imagens, discursos, filosofias, junto à elaboração de um novo ethos e de novas
ideologias e novas crenças políticas, amparadas na ressurreição da ideia e da
prática da solidariedade (SANTOS, 2002a, p. 167-168).
Embora o autor anuncie um senso comum, resultante do entendimento
progressivo do planeta, é a conectividade que faz emergir conteúdos, que partem de grupos
40 Armand Mattelart (2006) utiliza a expressão “Nova Ordem Mundial da Informação”, ao expressar seu
desejo de “uma sociedade civil ampliada, preocupada por inserir a questão da técnica no porvir da
democracia” (MATTERLART, 2006, p. 246)
61
culturais e ideológicos que, mesmo possuindo interesses diferentes, estão em contato. É
essa interação que estrutura uma rede. Nesse sentido, estabelecer conexão entre
instituições e seus agentes significa estabelecer vias de comunicação, nas quais
experiências são trocadas.
Para Elias (1994), o surgimento de uma determinada rede de relações sociais
está atrelado a um modo de vida específico. A cultura, linguagem, economia e forma de
socialização moldam o indivíduo que vive nessa rede, que por sua vez é moldada por ele.
Consequentemente, as formas mnemotécnicas de armazenar conhecimento também são
construções sociais. Em seu estudo41, o autor parte do ponto de vista de que uma sociedade
é um conjunto de indivíduos, ou um sistema de relações que entrelaça os mesmos. A
própria civilização é um processo de controle que submete o sujeito a práticas de
socialização em rede, de maneira sutil e natural. Essa perspectiva interacionista considera
que "é essa rede de funções que as pessoas desempenham umas em relação a outras, a
ela e nada mais, que chamamos 'sociedade" (ELIAS, 1994, p. 23).
Tal rede de funções inclui a possibilidade de pensar na relação entre o indivíduo
e a sociedade em condições históricas específicas. Embora se fale muito em
individualização, em afirmação de um self ou de uma autoconsciência, na verdade,
corroboramos com o autor que tudo é um produto histórico, não existe "eu puro". Ou seja, a
consciência do homem moderno "corresponde à estrutura psicológica estabelecida em
certos estágios de um processo civilizador" (ELIAS, 1994, p. 32). Este indivíduo pode sim ter
suas experiências íntimas pessoais, colaterais, profissionais...
Os paradoxos inerentes ao processo de individualização se dão diferentemente
em cada sociedade considerando as dimensões de espaço e tempo. Além dessas
dimensões, o autor destaca funções interligadas que servem de instrumentos de observação
e análise das questões humanas: o ‘controle da natureza’, algo perseguido desde as
sociedades mais primitivas como estratégia de sobrevivência; o ‘controle social’, que se
remete a esfera coletiva e o ‘autocontrole’, situado na esfera do indivíduo. Em algumas
sociedades, por exemplo, a dominação da natureza gera por extensão um domínio e um
aprisionamento dos instintos dos próprios indivíduos.
Com o uso do computador e com a facilidade dos indivíduos se manifestarem e
se movimentarem no ciberespaço, o controle e aprisionamento social não são tão efetivos
41 O autor (ELIAS, 1994) busca fundamentos na teoria da linguagem e na sociologia histórica para
evidenciar conexões entre linguagem, práticas sociais, história e biologia, em um diálogo transdisciplinar
entre a sociologia e a biologia evolutiva (pesquisa bastante incomum, pois os sociólogos não costumam
corroborar com a teoria da evolução).
62
quanto antes. Embora, por outro lado, a prisão se apresenta de outras formas, como por
exemplo, o imperativo da conexão constante.
O sujeito informacional se apresenta paradoxalmente na pós-modernidade.
Segundo Machado (2002), ao mesmo tempo em que ele tem mais possibilidades de se
expressar, por multicanais acessíveis, “o sujeito se torna anônimo, sem identidade (porque
em essência, é uma máquina que vê e enuncia), mas o seu papel estruturante, o seu papel
“assujeitador” é potencializado” (MACHADO, 2002, p. 88).42
Manovich (2001, p. 234) evoca dois fenótipos como origens e precedentes
históricos para definição do sujeito que habita o ciberespaço: o flâneur segundo Charles
Baudelaire e o explorador aventureiro dos romances norte-americanos de Mark Twain, que
correspondem respectivamente ao navegador e ao explorador. O autor constrói uma
trajetória histórica que conduz da flanérie parisiense43 ao espaço navegável dos
computadores e apresenta uma arqueologia de modo de percepção que, segundo ele,
caracteriza o cinematismo moderno, televisual e as ciberculturas.
Este modo, chamado de "olhar virtual mobilizado", combina duas condições: a
percepção recebida mediada através da representação e a viagem na "flaneria", o espaço
de navegação, através de um tempo e lugar imaginários. Percebe-se em Manovich uma
tentativa de ver o papel privilegiado na cultura do computador como um signo da vasta
mudança cultural.
O papel assujeitador do sujeito é o que dá sentido à sua própria montagem para
a leitura de uma informação, e que vai de encontro ao conceito de rede da TAR, onde a
tradução, baseada nas experiências colaterais do usuário, dão forma à sua experiência.
Significa aliar o processo sígnico de tradução à estrutura das redes, para além de simples
sistemas técnicos.
Essa potencialização do papel ‘actante’ nas redes se dá principalmente pela
apropriação de ferramentas técnicas para fins sociais.
3.2.1 O método de Análise de Redes Sociais - ARS
A Análise de Redes Sociais (ARS) é um método que possui, como o próprio
campo da Ciência da Informação, característica epistemológica transdisciplinar. Nem
42 Essas discussões são frutos da disciplina Comunicação Mediada pelo Computador, ministrada pela
professora Beatriz Bretas, no segundo semestre de 2008, no Programa de Pós-Graduação em
Comunicação Social da UFMG.
43 Flanérie é algo que pode ser traduzido, grosso modo, como vadiagem, aquele usuário que navega sem
compromisso, marca conteúdos, interage indiscriminadamente, sem um objetivo específico. Esse é o
chamado por Manovich (2001) de ‘navegador’, enquanto o aventureiro dos romances de Mark Twain
seria o ‘explorador, aquele que tem uma missão de pesquisa determinada.
63
sempre utilizado pelas disciplinas para produzir dados novos, a ARS re-dimensiona
perspectivas existentes para indagar questões específicas das redes analisadas. São
comuns, portanto, aproximações entre campos distintos para gerar conhecimento novo. Ao
conjugar saberes, é preciso saber mais do que o contexto da análise (lugar para onde se
olha), mas, também, saber o contexto de realização da mesma (lugar de onde se olha), que
pode afetar as pautas de pesquisa.
A ARS pressupõe que as relações sociais constituem a unidade básica da
sociedade, ajudam a identificar atributos de vários tipos, que não devem ser isolados, pelo
contrário, o foco deve ser na inter-dependência dos indicadores (WASSERMAN;
FAUST,1994; LAZEGA, 2007; HANNEMAN, 2001; TOMÁEL;MARTELETO, 2006;
CABALLERO, 2005; PIZZARO, 2004; MARTELETO, 2001).
Embora seja um método sociológico rigoroso de modelização, frequentemente
indutivo das estruturas relacionais na sociedade, é flexível, propõe a hibridação entre
matrizes diversas para interagir uma série de elementos conceituais em busca de novas
contribuições advindas dessas interações (CABALLERO, 2005). É utilizado para a
contextualização dos comportamentos para alcançar a visualização, de maneira sistemática,
da dimensão relacional, às vezes invisível, das conexões sociais de uma sociedade. Assim,
ajuda a redefinir conceitos disciplinares e produz conhecimento novo, a partir de
perspectivas que contextualizam a visão do pesquisador.
Duas categorias de rede guiaram a geração de gráficos para visualização
(RECUERO, 2009, p.69):
Redes de ego. A rede centrada no ego é a que parte de um nó
determinado para traçar conexões, ou seja, se desenha a partir de um ator
central. Desse ponto de vista, os dados foram coletados a partir dos fluxos
informacionais emitidos por esse centro.
Redes inteiras, que partiram de uma fronteira pré-existente, escolhida
intencionalmente pelo pesquisador como referência, que pode ser
geográfica, temática, institucional ou definida por outros limites. Nesse
caso, se fez mister saber definir a rede, arbitrariamente, consciente que
essa escolha influenciou nas propriedades da mesma.
De acordo com Garton, Haythornthwaite e Wellman (2007), a ARS não está
atenta apenas aos atributos de atores específicos nas redes, mas também considera as
relações e trocas sociais entre os mesmos, associado aos tipos de laços, sua multiplicidade
e sua composição. Estes quatro elementos foram considerados unidades de análise. De
forma mais detalhada, medimos na rede:
64
Relações: caracterizadas por conteúdo (tipo de informação ou recurso
trocado na rede), direção (quem recebe, quem emite) e força (de acordo
com os aspectos que envolvem medidas de diferentes tipos de capital
social). Também foram classificadas como diretas ou indiretas,
considerando-se que atores podem estar ligados a outros através de
terceiros, de forma simétrica ou assimétrica.
Laços: têm função de conectar atores em uma ou mais relações, e variam
em conteúdo (relacionado ao capital social que move a conexão), direção
e força. Atores considerados laços fortes têm a característica de serem
mais representativos dos motivos e recursos da rede em si, enquanto os
considerados laços fracos (com menos representatividade dentro de uma
determinada rede) são úteis para conectar a rede a outros grupos sociais,
pois geralmente transitam em mais de uma esfera relacional.
Multiplexidade: diz respeito à quantidade de fios que ligam os atores dentro
de uma rede, de acordo com o grau de interativade (se há muitas trocas,
muitos fios, por exemplo). Laços múltiplos tendem a ser mais íntimos,
voluntários e duráveis.
Composição: de uma relação ou laço é derivada dos seus atributos sociais,
como gênero, hierarquia, idade e outros.
As redes também foram analisadas de acordo com seu fluxo de comunicação,
sendo classificadas como centralizadas, descentralizadas ou distribuídas, (FRANCO, 2008,
apud RECUERO, 2009, p.56). Uma rede pode apresentar ao mesmo tempo essas três
características. Recuero (2009, p. 59-67) define ainda três outros tipos de redes
comunicacionais dinâmicas, em movimento e evolução constante:
Redes Igualitárias: nas quais os nós possuem mais ou menos o mesmo
número de conexões, portanto, bem distribuídos, sem muitos clomerados.
Redes mundo pequeno (small world): caracterizado por possuir altos
coeficientes de clusteirização44 e pequena distancia entre os nós. Este
modelo demonstra que, a partir de laços estabelecidos entre pessoas mais
próximas, de modo aleatório, reduz-se a distância entre outras pessoas no
planeta.
Redes sem-escalas (scale-free): nas quais poucos nós possuem bem mais
conexões que os demais. O modelo caracteriza a distribuição de links ao
44 Cluster são grupos de nós mais densamente conectados em uma rede.
65
longo dos nós (graus de distribuição), com baixo coeficiente de
clusterização.
3.3 Regimes de informação
O Estado, desde a antiguidade, sempre teve necessidade de coletar
informações sobre as populações governadas (BURKE, 2003, p.110). Censos demográficos
e populacionais, registros de casamento e nascimento, listas de registro de imóveis para
cobrança de impostos e documentos de identidade para regulamentação de entrada e saída
de pessoas em outros países são ferramentas aperfeiçoadas através dos tempos, para fins
de controle. Se desde a crescente digitalização destes dados, a partir da década de 1990,
aumenta o poder de vigilância dos governos sob as pessoas, isto não é novidade, seu uso é
recorrente desde as primeiras civilizações humanas. A arte de controlar o imaginário dos
povos está associada à prática de governar, ou seja, o controle informacional pode ser eleito
uma das condições para a estabilização do Estado, pois a informação desempenha um
papel tão relevante quanto na antiguidade clássica, quando todos os recursos
informacionais disponíveis eram de propriedade do governante (HERMAN, 1996, p.11), não
se distinguindo informação pública de privada.
Ao mesmo tempo, é fato que os governos não podem ter domínio informacional
sobre esferas íntimas do indivíduo, como nos regimes totalitários. As sociedades modernas
estão situadas num delicado equilíbrio paradoxal entre a necessidade do controle do Estado
e a garantia das liberdades individuais, fundamentadas na privacidade informacional.
Braman (2006) afirma que o mundo vive um paradoxo – de um lado, as
tecnologias descentralizam os fluxos informacionais, do outro o controle das fronteiras e
políticas de migração impedem pessoas de se deslocar pelo mundo. Braman (2006) conclui
que o ‘estado informacional’ utiliza os sistemas de informação para governar e pode ser
comparado ao “panóptico”, pois o governo “sabe cada vez mais sobre os indivíduos, mas,
por sua vez, os indivíduos sabem cada vez menos sobre o estado” (BRAMAN, 2006, p.
314). Goméz (2009) chega a falar em ‘incomunicação’ ao desenvolver a ideia de que os
movimentos globalizados de transferência da informação, em oposição à multiplicidade de
um “diferencial pragmático” nos espaços plurais de comunicação, conduzem a um resultado
não esperado, que é o crescimento ilimitado da informação – ou incomunicação.
Por outro lado, o que equilibra esse estado de ‘incomunicação’ é a formação de
regimes de informação, que pode ser definido como “o modo de informação dominante em
uma formação social, o qual define quem são os sujeitos, as organizações, as regras e as
66
autoridades informacionais e quais os meios e recursos preferenciais de informação”
(GOMEZ, 2012, p.43). Ele está exposto a condições sociais, culturais, econômicas e
políticas e foi dividido pela autora em duas faces:
Num primeiro caminho, propomos situá-lo numa família de palavras que, por suas
vizinhanças semânticas e temporais, dariam visibilidade as redes conceituais que
estimularam e deram ancoragem a sua formulação. Para reconstruir a família de
palavras, partimos dos conceitos de cadeia de produção de informação (information
production chain), infraestruturas de informação, modos de informação, para chegar
as construções do conceito de regime de informação, considerando em cada caso
seus contextos de uso e os principais domínios de referência, a saber, as esferas da
política, da administração e da economia, a partir da segunda década do século XX
(GOMEZ, 2012, p. 44)
O segundo caminho, segundo a autora, é uma leitura transversal do conceito de
regime enquanto modo de informação, que coincide com o que Latour chama de ‘regime de
enunciação’ em seus estudos sobre a política, de uma maneira mais ampla, que não apenas
os discursos dos políticos. “Cada regime de enunciação elabora seus próprios critérios de
verdade e de mentira, seus próprios critérios de felicidade e de infelicidade” (LATOUR,
2004a, p. 16).
Mas, esse conceito de regime, defendido por Gomez, se instaura a partir de
infraestruturas que dão sustentação, “dispositivos caracterizados por sua capilaridade e
penetração em diferentes ambientes e sistemas” (GOMEZ, 2012, p. 49). Como afirma a
autora, é um conceito que “parece pesado demais para as morfologias fluidas e mutantes
das redes digitais” (GOMEZ, 2012, p. 49).
No caso da rede coletada, apresentada na análise, falar em infraestrutura e
regimes pode ser exagero, pela fluidez e informalidade, mas por outro lado podemos afirmar
que existe um certo capitalismo cognitivo, um capital semiótico que configura as relações de
poder, cultura e economia da informação.
Se a palavra ‘regime’ ou ‘modo’ de informação, ou mesmo a expressão ‘regime
de enunciação’ denotam um monopólio informacional, dominado por modelos, a principal
tarefa para compreendê-los seria evidenciar as tensões que existem para que se estabeleça
essa configuração. “As regras, as normas, os padrões, os códigos, seriam justamente o
domínio onde acontecem essas tensões e essa imposição” (GOMEZ, 2012, p.56).
Como então compreender o movimento ambientalista na internet a partir dos
conceitos de regime da informação? Exatamente explorando as tensões, diferenças, modos
de existência, ver quais padrões perduram e quais ficam inviabilizados pela efemeridade do
seu capital cognitivo.
67
3.4 Teoria Ator-Rede
Bernd Frohmann, em comunicação realizada na Conferência Anual da
Associação Canadense da Ciência da Informação de 1995, reconhece que a literatura de
Biblioteconomia e Ciência da Informação (LIS) é obscura e insuficiente para tratar questões
que envolvem poder informacional nas estratégias governamentais e aponta cinco
limitações de abordagem das políticas de informação pela CI que prejudicam estes estudos.
As duas primeiras se referem às limitações do objeto de estudo: 1) A literatura da Ciência da
Informação interpreta política informacional somente em relação aos documentos
governamentais; 2) Os estudos são restritos às esferas governamentais (ministérios,
departamentos, agências etc.). Os sistemas de informação dos governos, para Frohmann
(1995), são incapazes de operar planos nacionais de informação porque, partindo do
pressuposto que informação é um tipo de commodity, ela não se situa apenas nas esferas
governamentais, mas principalmente na sociedade civil e econômica, nas quais o estado é
pouco mais do que um facilitador da acumulação privada de capital. A terceira limitação,
portanto, deriva de um foco epistemológico estreito para os estudos de política informacional
e a quarta limitação é a fixação em questões instrumentais, principalmente concernentes às
políticas de informação governamentais, que levam a quinta e mais importante limitação
imposta pela Ciência da Informação aos estudos de política informacional, que é a oclusão
de questões concernentes à relação entre informação e poder. Não são considerados de
forma abrangente questões acerca de como o poder é exercido e através de quais relações
sociais mediadas por informação ele é mantido, ou quais são as formas específicas de
dominação (classe, gênero, raça etc.).
O autor sugere que o estudo da dominação dos fluxos informacionais por
determinados grupos sociais pode levar a melhoradas relações de poder, no sentido de
promover a gestão mais igualitária da informação, o que reflete diretamente em questões
econômicas e culturais. Frohmann (1995) transcende a noção de política informacional dos
limites governamentais, definindo regime de informação como qualquer sistema ou rede
mais ou menos estável, nos quais fluxos informacionais alimentam determinados canais.
Entre os elementos de um regime de informação, são citados os dispositivos
tecnológicos (chamados pelo autor de ‘artefatos’), os bancos de dados (alimentados pelas
linguagens documentárias e sistemas de informação), os canais de transferência (que são
os mecanismos de distribuição, acesso e produção), os sistemas de recuperação, os
agentes produtores e usuários de informação (os seres humanos), no contexto de
determinadas diretrizes políticas.
68
Frohmann prioriza os artefatos tecnológicos e a flexibilidade do trânsito
informacional nas redes sociais, apoiado na TAR de Latour (1995). Para este autor, as
práticas científicas são nômades e híbridas, vivemos em um mundo de objetos híbridos
(LATOUR, 1995, p. 12), nem plenamente sociais nem totalmente naturais. Não se definem
mais as fronteiras entre o que é um objeto natural e um objeto ‘social’, fabricado, como
seres clonados. Os clones como ‘objetos híbridos’ se assemelham a objetos culturais, sócio-
técnicos. Latour defende que o meio social está repleto de objetos construídos de maneira
sócio-técnica: “o buraco de ozônio é por demais social e por demais narrado para ser
realmente natural” (1995, p.12). Assim, todos os fluxos de informação – imagens, textos,
áudios, vídeos, oriundos de fontes institucionais ou alternativas são “ao mesmo tempo reais
como a natureza, narrados como o discurso, coletivas como a sociedade” (1995, p.12).
Alianças, movimentos, interações e circulação de dados são objetos de estudo
da teoria ator-rede, na qual os componentes não mantêm elos previstos, nem mesmo os
elementos são nítidos, pois estão em constante mutação, como um labirinto de significações
que possibilita a tradução do global para o local, uma “rede de práticas e instrumentos, de
documentos e traduções” (LATOUR, 1995, p.119).
A Teoria Ator Rede compreende as conexões pelas quais o social não existe
enquanto sólido, ele se recria em instantes efêmeros. Para compreender como
controvérsias transitam nestes espaços híbridos, técnicos informacionais e sociais, é bom
estar atento a cinco questões consideradas como fontes de incertitudes’ (LATOUR, 2006,
p.34):
a natureza dos grupos: há muitas maneiras opostas de dar identidade aos
atores;
a natureza das ações e a diversidade do engajamento dos atores nas
mesmas;
a variedade da natureza institucional, ou o que podemos chamar
biodiversidade institucional;
a natureza de eixos de associação;
buscar fontes de informação que justificam a ocorrência de grupos e semi-
grupos, e as opiniões encontradas sobre determinado assunto podem cada
vez mais ir se ramificando, como vasos sanguíneos.
A Teoria ator rede se preocupa com o social, no sentido da associação, quando
dois ou mais atores criam um nó, um laço, se associam. Por isso se desvincula da
sociologia convencional e pode ser chamada de sociologia do social. Mas, na nossa atual
conjuntura, o social é feito de humanos e máquinas, e podemos acrescentar ainda os
69
eventos da natureza que alteram humanos e máquinas. Tudo isso influencia a formação dos
hábitos comuns.
Dessa forma, a TAR se empenha na tarefa de um cartógrafo, de listar e
visualizar todas as opiniões à respeito de um assunto, de dar a cada uma delas um valor
dentro da rede, de acordo com seus padrões de conexão. É possível rastrear ligações mais
robustas e descobrir padrões reveladores ao registrar as ligações entre atores que são
referências instáveis e mutantes (LATOUR, 2006, p.37).
Em relação a primeira incertitude, a abstração da palavra ‘grupo’ incomoda.
Segundo Latour, a palavra ‘grupo’ é tão vazia que não estabelece tamanho nem conteúdo,
pode-se aplicar a um planeta ou a um indivíduo (LATOUR, 2006, p.44) Por outro lado, a
existência dos grupos é delimitada por rastros e vestígios.
Bruno (2012) faz algumas considerações acerca desses rastros, para
compreender a cibercultura, pois os mesmos são matéria prima fértil que obrigam as
ciências sociais a reverem conceitos e métodos de análise, ou seja, “além e mesmo na
contramão deste comércio e desta polícia dos rastros digitais, há aí uma ocasião para se
recolocar o problema da produção de um saber dos rastros.” (BRUNO, 2012, p.3).
Pessoas que se manifestam por um grupo não são vozes silenciosas, mas um
clamor constante de milhares de vozes contraditórias (LATOUR, 2006, p. 48). Certamente,
há as lideranças que se esforçam em manter os agrupamentos, marcando fronteiras,
redistribuindo, em constante movimentação e trabalho. Um ator, na TAR, é aquele que age
atuado por algum sentimento ou motivação, ou seja, considerando que sua inserção em um
cenário social, suas ações não dependem somente dele, mas de conjunturas.
Essa palavra ator, como explica Latour, significa que nunca está claro quem é
que está atuando por trás de uma representação. As fronteiras dos cenários entre o que é
falso e realidade dependem da iluminação e da reação do público (LATOUR, 2006, p.73). É
a segunda fonte de incertitude.
Para evitar esse aspecto figurativo da palavra ator, a TAR usa o termo ‘actante’,
que significa aquilo que age – humano ou não. É ver os fatos sociais de maneira plural, de
acordo com seus desdobramentos semióticos, podendo este actante variar, por exemplo,
entre uma ruptura estrutural, um corpo coletivo, um indivíduo ou uma rede de indivíduos,
entre outras possibilidades de atuação. A TAR toma emprestado das teorias narrativas o
direito de descrever e narrar essas relações, com mais liberdade de movimento, menos
rígida, no sentido de registrar as comunicações do actantes, e não filtrar; descrever, e não
disciplinar (LATOUR, 2006, p.67).
70
A partir destas definições de Latour (1995), Frohmann (1995) desenvolve a
concepção de autoestrada da informação, que são os construtos que dão suporte ao regime
de informação, algo bastante complexo, composto por elementos naturais, diversas classes
de usuários da informação, interesses de corporações, ou seja, em si, é o resultado de
práticas que estabilizam as propriedades naturais, sociais e interativas do meio. Essa
autoestrada da informação constitui um ecletismo de relações sociais, envolvendo ciência e
tecnologia, nas quais mesmo os elementos não humanos exercem algum tipo de
agenciamento, em um regime que sustenta a dinâmica entre atores sociais específicos e
dispositivos técnicos particulares.
A infobahn45 (information superhighway) é parte de um regime de informação em
construção, ainda não totalmente estável, no qual um grupo de sistemas de informações
digitais age ao combinar elementos naturais, discursivos e sociais. É o resultado de práticas
entre elementos heterogêneos, organizados em rede, que obtêm suporte em elementos
naturais (tubos, cabos e transmissores) e elementos sociais (produtores, consumidores e
corporações interessadas na acumulação de capital obtido pelo lucro da mídia difusora)
(FROHMANN, 1995). Rede, nessa perspectiva, é um plano de múltiplas entradas e
conexões heterogêneas, partindo de um enfoque não dualista, que supera a dicotomia
emissor/receptor para se definir em torno de agenciamentos internos, abertos e em
constante construção, das quais podemos apreender momentos fixos, como fotografias,
mas nas quais interessa mais, como ciência, o movimento, formas e direções instáveis.
3.4.1 Regimes de informação em ambientes colaborativos
No contexto das redes, os regimes de informação são os modos de produção de
conhecimento dominantes em um determinado contexto social, potencializados pelos
dispositivos tecnológicos de conexão, que catalisam as trocas informacionais, aumentam o
alcance dos regimes e capacitam os sistemas de recuperação de dados com novas formas
de retroalimentação e funcionamento.
Já o conceito de regime de informação desenvolvido por Gómez (1995, 2002)
prioriza o aspecto político e baseia-se na concepção de dispositivo de Michel Foucault. A
autora (GÓMEZ, 2002) desenvolve um enfoque complementar ao conceito de regime de
informação de Frohmann (1995), definindo-o como:
Um modo de produção informacional dominante em uma formação social, conforme
o qual seriam definidos sujeitos, instituições, regras e autoridades informacionais, os
45 Alusão feita ao termo alemão autobahn cujo significado é autoestrada. Infobahn é um termo popular
que refere-se aos sistemas digitais de comunicação ou a uma estrada de informação, utilizado nos anos
noventa e associado ao ex-vice presidente Al Gore.
71
meios e recursos preferenciais de informação, os padrões de excelência e os
arranjos organizacionais de seu processamento seletivo, seus dispositivos de
preservação e distribuição. (GÓMEZ, 2002, p.34)
Os dispositivos de distribuição e colaboração, de acordo com a autora,
possibilitam ao regime de informação uma combinação de relações plurais e diversas que
são intermediáticas (TV, jornais, conversas informais, Internet, etc.); interorganizacionais
(empresa, universidades, residências e associações) e intersociais (atores comunitários,
coletivos profissionais, agências governamentais etc.).
Gómez (2002) entende que a internet pode estar entre o desenvolvimento de
experiências democráticas e inovadoras e o fortalecimento de tendências monopólicas,
sobre codificadoras, de regulamentação e controle. Ambos, Frohmann (1995) e Gómez
(2002) reconhecem que o regime de informação se origina das suas práticas, é configurado
pelas diversas conexões entre seus múltiplos atores. A articulação de artefatos (ou
dispositivos) com objetivos, interesses e propósitos diversos favorece o surgimento de
disputas, nas quais as escolhas tecnológicas e as práticas informacionais podem legitimar
forças dentro de um regime.
Os sistemas digitais colaborativos de comunicação e informação, tendo como
elemento central a internet, são partes de um regime de informação que pode ser analisado
sob diversas dimensões, determinado por tipos de conteúdos, por sua desterritorialização e
ou territorialização (LEMOS, 2006), e por escolhas técnicas e ou interesses políticos de
naturezas diferentes. Os regimes de informação não estabilizados constroem e reconstroem
as regras através das práticas informacionais. Nesse contexto de disputa, as políticas de
informação se estabilizam, tácita ou explicitamente, legitimando as relações.
A circulação social do saber é privilegiada no âmbito das redes sociais. Modifica
o nosso modo de trabalhar e pensar, pois os aspectos de percepção e cognição do usuário,
no contexto digital, em relações fractais, são potencializados.
3.4.2 Cartografia de Controvérsias
Representar a web e disputas semióticas que nela circulam é uma das funções
do método de cartografia de controvérsias desenvolvido por Bruno Latour, Tommaso
Venturini, Mathieu Jacomy, Paul Girard e outros professores da equipe do MediaLab da
Sciences Po, em Paris, que trabalham para construir modelos de visualização.
As questões científicas e técnicas se tornaram tão disseminadas na vida
cotidiana que se tornou obrigatório se interessar. A cartografia de controvérsias é um
método que ensaia ajudar o cidadão comum a tomar decisões, em uma época em que as
72
opiniões dos especialistas são cada vez mais duvidosas e não existe one best solution
(LATOUR, 2011).
Na cartografia de controvérsias, não há uma hierarquia entre as opiniões dos
especialistas e as ‘profanas’, o objetivo é justamente colocar todas em um mesmo plano.
Isso porque as ferramentas de pesquisa na internet são as mesmas tanto para seguir os
produtores de fatos científicos quanto os produtores de rumores, portanto, não há razão de
lhes impor uma diferença.
On ne peut pas forcèment avoir des consensus, mais tout au moins un accord sur le
désaccord. Cartographier une controver, c’est ne pas la regarder depuis Sirius, dans
un ideal d’objectivité parfait, mais adopter une objectivité de second rang. (LATOUR,
2011.p. 76)46
A objetividade de primeiro grau, segundo Latour, é aquela em que o especialista
olha a controvérsia, examina as posições, escolhe aquela que lhe parece melhor e a
defende na hierarquia. Na objetividade de segundo grau, quem olha a controvérsia se
posiciona como um cartografista: identifica dezenas de posições presentes, que dependem
de interesses, de dispositivos técnicos, de todos seus elementos marginais, e apresenta um
conjunto de posições. É a diferença dos olhares do cartografista e do especialista.
No projeto Macospol47, financiado pela União Europeia, foi desenvolvido um
dispositivo que permite detectar automaticamente os conflitos de interesses capazes de
influenciar resultados científicos. Se trata de listar os pesquisadores que publicam na
imprensa e colóquios sobre determinada controvérsia e comparar em quais outras
controvérsias eles intervêm. Pode-se constatar, por exemplo, que os mesmos defensores de
uma posição em uma controvérsia são de um mesmo grupo de pesquisa, ou recebem
financiamentos de uma mesma fonte (LATOUR, 2011, p. 78). Segundo a definição da
documentação oficial da Macospol:
The word “controversy” refers here to every bit of science and technology which is
not yet stabilized, closed or “black boxed”; it does not mean that there is a fierce
dispute nor that it has been politicized; we use it as a general term to describe
shared uncertainty. (VENTURINI, 2010, p. 6)48
O objetivo é criar uma interface de pesquisa na internet sobre a controvérsia,
indicando o porquê, desde quanto tempo, por quem, relacionado a quais profissões e
46 Podemos não necessariamente ter consenso, mas pelo menos um acordo em discordar. O mapeamento
de uma polêmica, não é olhar para Sirius, em um perfeito ideal de objetividade, mas adotar uma
objetividade de segundo grau. (LATOUR, 2011.p. 76) Tradução nossa.
47 O projeto reúne oito universidades e centros de pesquisa: Sciences Po, University of Munich, University
of Oslo, University of Amsterdam, Ecole Polytechnique of Lausanne, University of Manchester,
University of Liège, Osberva.
48 A palavra "controvérsia" refere-se aqui a cada porção de ciência e tecnologia que ainda não está
estabilizada, fechada em uma "caixa preta"; isso não significa que há uma disputa feroz nem que foi
politizada. Podemos usá-la como um termo geral para descrever a incerteza compartilhada.
(VENTURINI, 2010, p. 6). Tradução nossa.
73
autoridades, em qual país, segundo quais argumentos. E colorir o mapa para poder ver
melhor (LATOUR, 2011, p. 79).
A definição de controvérsia é bastante simples: controvérsias são situações
onde os atores discordam. A noção de desacordo tem um sentido mais amplo: controvérsias
começam quando os atores descobrem que não se pode ignorar o outro e terminam quando
conseguem um compromisso sólido para viver juntos. Qualquer coisa entre esses dois
extremos – o consenso frio de desconhecimento recíproco e o consenso quente de acordo e
aliança. (VENTURINI, 2010, p.17).
Controversies are the place where the most heterogeneous relationships are formed.
Biodiversity economic assets, CO2 international quota, intergovernmental scientific
panels the debate on global warming develops through the relentless invention of
new chimeras. Every controversy functions as a “hybrid forums”, a space of conflict
and negotiation among actors that would otherwise happily ignore each other. After
all, where else could coral reefs and recycling factories meet if not in global warming
debate? Controversies are the living demonstration that the borders between physics
and politics, finance and biology, law and engineering are as insuperable as they
often seem. (VENTURINI, 2010, p.6)49
Pode parecer mais fácil aos sociólogos escolher um grupo do que cartografar as
controvérsias sobre as formações de todos os grupos. Mas, é o inverso que vale:
Les controverses laissent beaucoup plus de traces dans leur sillage que des
connexions déjà établies qui, par définition, restent muettes et invisibles. Si un
groupement donné est simplement donné, alors Il est muet et on ne peut rien en dire;
Il n’engendre aucune trace et ne produit par conséquent aucune information.
(LATOUR, 2006, p. 46)50
Venturini afirma que, ao considerar qualquer controvérsia, podemos ter uma
ilustração clara do significado do hífen na Teoria Ator-Rede: qualquer ator pode ser
decomposto em uma rede frouxa e qualquer rede, não importa o quão heterogênea, pode
coagular e funcionar como actor (VENTURINI, 2010, p.7).
O autor aconselha evitar controvérsias frias, em que não há debate ou o debate
é letárgico, a cartografia resultante será ou entediante ou parcial. É bom evitar também as
controvérsias do passado, salvo se os dados anteriores podem ser investigados para
relacionar com o momento do fechamento da controvérsia. Ao contrário, controvérsias
ilimitadas, que mobilizam muitos atores e questões, mapeamento de debates enormes,
49 Controvérsias são o lugar aonde as relações mais heterogêneas são formadas. Ativos econômicos da
biodiversidade, cotas internacionais de carbono, painéis científicos intergovernamentais - o debate
sobre o aquecimento global se desenvolve através da invenção incessante de novas quimeras. Todas
as funções da controvérsia são como "fóruns híbridos", um espaço de conflito e negociação entre os
atores que poderiam alegremente ignorar o outro. Afinal, onde mais recifes de coral e fábricas de
reciclagem poderiam se encontrar, se não em debate sobre o aquecimento global? Controvérsias são a
demonstração viva de que as fronteiras entre física e política, finanças e biologia, direito e engenharia
são tão insuperáveis como muitas vezes parecem ser. (Tradução nossa)
50 As controvérsias deixam muitos mais vestígios, mais em seu rastro que nas conexões já estabelecidas
que, por definição, permanecem mudas e invisíveis. Se um determinado grupo é simplesmente dado,
ele é mudo e não pode dizer nada, ele não gera qualquer traço e, portanto, não produz, por
conseqüência, nenhuma informação. (Tradução nossa)
74
requer enorme quantidade de trabalho. Como regra geral, quanto mais uma controvérsia é
restrita a um determinado assunto, mais fácil será a sua análise. Outro fator importante é
que para uma controvérsia ser observável, é necessário que seja, ao menos parcialmente,
aberta a debates públicos. A cartografia de questões confidenciais expõe ao risco de caírem
teorias da conspiração, não porque poucos atores estão envolvidos nessas controvérsias,
mas porque esses actores têm uma atitude reservada. A cartografia de controvérsias foi
desenvolvida para mapear o espaço público e não pode ser visualizada se não existem
traços. (VENTURINI, 2010, p. 12)
Latour ressalta que se um traço se torna visível, é porque ele está em fase de se
proliferar ou de desaparecer. O conselho dado pelo autor é de seguir não os porta-vozes de
cada grupo, em determinada controvérsia, mas fazer uma segunda lista, mais abstrata, com
os elementos do grupo que estão sempre presentes, que revelam conexões com outros
elementos (LATOUR, 2006, p. 47). Isso pode ser explorado, por exemplo, nas listas de links
de sites e, principalmente, nos traços deixados por pessoas que se manifestam em
comentários.
A discussão é fértil, mas se torna profundamente modificada. Hoje em dia, os
humanos e não humanos têm direito à palavra. Cada vez que o leitor procura uma nova
informação, reacende a controvérsia, de uma maneira positiva:
Nous avons supprimé nos pas les certitudes des sciences, mais l’une des anciennes
barrières dressées entre l’assemblée visible des humains discutant entre eux et
l’assemblée savante qui, certes, discutait beaucoup mais en secret et qui ne
produisait in fine de que faits indubitables. (LATOUR, 2004, p. 103)51
Essa complementaridade entre humanos e não humanos está sempre presente.
Os vírus têm em seu encalço os virólogos, um fazendeiro a sua paisagem, um obreiro seu
sindicato, um santo seus devotos... (LATOUR, 2004, p. 223). Mas cada um vem
acompanhado de instrumentos capazes de transpor o que tem sido dito, o que causa ainda
mais incertitudes sobre a fidelidade das representações. Quem pode julgar? Os salmões
podem abandonar os rios e ficar presos nas barragens? Os elefantes têm mais direito aos
pastos que as vacas na África? (LATOUR, 2004, p. 228). Nesse senso, todos os coletivos
são, segundo o autor, sempre mal formados. É inútil buscar uma satisfação:
Les délibérations du collectif ne doivent plus être suspendues ou court-circuitées par
une connaissance définitive, puisque la nature ne donne plus de droit qui soit
contraire à l’exercise de la vie publique. Le collectif ne prétend pas savoir, mais Il doit
51 Nós não deletamos as certezas das ciências, mas uma das velhas barreiras colocadas entre o conjunto
visível dos humanos que discutem entre eles e o conjunto do conhecimento que alguns discutiam muito,
mas em segredo, e que não produzia enfim senão fatos incontestáveis. (LATOUR, 2004, p. 103)
Tradução nossa.
75
experiménter de telle sorte qu’il puísse apprendre dans l’épreuve. (LATOUR, 2004,
p.260)52
Essa experimentação de visualizar os coletivos, nas cartografias de
controvérsias, passa por três objetivos no sentido de promover a science de la vie
ensemble– ciência da vida unida (LATOUR, 2006, p. 233), nessa ordem:
colocar toda sorte de controvérsias e suas associações possíveis;
mostrar por quais dispositivos e práticas essas controvérsias se
estabilizam no espaço e tempo;
definir os procedimentos aceitáveis para compor o coletivo se tornando útil
para os estudiosos da questão.
As redes, especialmente as sociais, não são apenas gráficos, são também
mapas. Da geografia, os mapas herdam a noção de proximidade e a noção de limite, claro,
de maneira profundamente redefinidas. Mas, ao contrário da tradição da geografia, os gráfos
não são projetados sobre um fundo determinado, que define a localização espacial. No
mapa das cartografias de controvérsias, a posição de um nó é definida pelas suas relações.
A fim de facilitar a leitura dos dados, a maior parte dos programas de visualização de dados
são concebidos para aproximar os nós conectados e distanciar os não conectados, como
duas forças, uma de atração e outra de repulsão. (VENTURINI, 2010a, p.8).
Os programas de exploração de gráficos hoje são tão avançados que permitem
espacializar rapidamente redes de milhares de nós e também de os manipular e
acompanhar em tempo real. Com isso, o trabalho de zooming-in e zooming-out que
caracteriza os métodos quali-quantitativos se torna fácil e instantâneo. O zoom representa
múltiplas possibilidades de interagir com os gráficos (VENTURINI, 2012a, p.9).
O diâmetro de uma rede é a distância mais longa entre dois nós, cuja existência
é sempre dependente dos arcos. Clusters são os agrupamentos de nós que são mais
conectados entre eles que com o exterior. Os clusters podem ser identificados tanto por
algoritmos matemáticos (por exemplo, a modularidade), quanto por suas fronteiras.
(VENTURINI, 2012a, p.7-8)
De acordo com a cartografia de controvérsias, debates públicos (vagamente
definidos como situações em que os atores discordam) são as melhores formas para
observar a construção da vida social. Nas controvérsias, os atores são incessantemente
movidos a amarrar e desamarrar as relações, argumentando categorias e identidades,
revelando o tecido da existência coletiva. A multiplicidade de pontos de vista que surgem em
52 As deliberações do coletivo não devem ser suspensas ou colocadas em curto-circuito por um
conhecimento definitivo, uma vez que a natureza não dá mais direito a quem seja contrário ao exercício
da vida pública. O grupo não tem a pretensão de saber, mas deve experimentar de modo que possa
aprender com o evento. (Tradução nossa)
76
controvérsias pode ser útil para a cartografia social, pois faz com que enfrente a sua
complexidade. Isso tem desvantagens. Se por um lado multiplica os pontos de vista e
perspectivas, as noções de contraste e metodologias para explorar o social ficam mais
complicadas, os estudiosos estão logo submersos na complexidade. Cada parte reivindica
sua exceção e a soma das partes torna-se maior que a totalidade. (VENTURINI, 2012b, p.
2)
Nem os métodos quantitativos nem os qualitativos não parecem capazes de
aproveitar plenamente da abundância dos traços numéricos. Com os quantitativos, podemos
visualizar tendências globais. Os métodos qualitativos ajudam a identificar os argumentos a
favor e contra essas tendências, mas sempre correndo o risco da generalização
(VENTURINI, 2012b, p.5).
Na construção de uma cartografia, exploração e representação sempre estão
juntas. O bom cartógrafo viaja pelos territórios tomando notas, esboçando planos, altera os
atlas anteriores. Os mapas sempre foram fabricados através de observações e descrições
ajustadas em discursos. (VENTURINI, 2012a, p. 2). Tommaso Venturini conta que Bruno
Latour, quando questionado sobre sua cartografia, respondeu: “Apenas olhe as
controvérsias e diga o que você observa”. Concordamos com Venturini que essa questão,
no fundo, é incrivelmente difícil.
“Apenas olhe as controvérsias” traz no mínimo três constrangimentos
(VENTURINI, 2012a, p.3): 1) o pesquisador precisa olhar a controvérsia antes, ter uma
ligação fruto de exploração, que sempre deve preceder a teoria e a metodologia; 2) o
pesquisador não pode ter a pretensão de ser imparcial, apenas porque cumpre alguma
orientação teórica e metodológica; e, 3) os pesquisadores são obrigados a reconsiderar sua
atitude para com os temas de estudo, respeitando todos os atores da diversidade da
controvérsia. Os atores estão constantemente imersos nas questões que os estudiosos
contemplam por tempo limitado e de um ponto de vista externo. Ou seja, é preciso ouvir as
vozes dos atores mais que nossas próprias presunções (VENTURINI, 2010, p.4).
Ao contrário da objetividade positivista "de primeiro grau", a objetividade de
segundo grau não está interessada em identificar as questões sobre fatos acerca dos quais
todos estão de acordo, mas sim em revelar toda a gama de oposições em torno de questões
relacionadas. "Basta observar" significa permanecer aberto a todas as perspectivas. O
mesmo vale para "apenas descrever", mas com um refinamento crucial: estar atento a todos
os pontos de vista não significa conceder a todos o mesmo status. (VENTURINI, 2012a, p.
3)
Venturini (2012a) relata que iniciantes, muitas vezes, confundem objetividade de
77
segundo grau com a imparcialidade muda. Confrontando, por exemplo, o debate
criacionismo/evolucionismo, eles assumem que ambos os lados devem ser tratados da
mesma forma. É o caminho certo para interpretar mal ambos. Se essa controvérsia é
envolvente, é precisamente porque opõe dois cosmos divergentes. Objetividade não é
creditar o mesmo peso para todas as perspectivas, nem equilibrar o espaço atribuído a cada
lado. O segundo grau de objetividade atribui a cada ator uma representação na qual que se
encaixa a sua posição e relevância na disputa. (VENTURINI, 2012b, p. 4)
Corroboramos Venturini (2012b) que ser proporcional em cartografia social
significa dar diferente visibilidade para pontos de vista diferentes, de acordo com sua
representatividade, sua influência e seus interesses. A representatividade depende de
quantos atores assinam o mesmo ponto de vista. Uma declaração ou um argumento
partilhado por muitos atores em uma controvérsia merece mais visibilidade do que um
relativamente marginal.
Ser proporcional na descrição significa transmitir que os cientistas que acreditam
no aquecimento global são dez vezes mais numerosos do que os seus adversários. Mas, os
céticos não devem ser negligenciados. O objetivo do mapeamento de controvérsias é
apresentar pontos de vista, tantos quanto possível, e também a representatividade é uma
questão mais ponderada do que apenas a contagem dos nós. Essencialmente, os mapas
devem evitar o ‘achatamento’ da paisagem do debate público. Nem todas as perspectivas
são igualmente apoiadas e os cartógrafos sociais devem encontrar maneiras de exibir tal
disparidade. (VENTURINI, 2012a, p. 4)
Em relação à influência, o número de aliados a um ponto de vista não é o único
critério para identificar sua influência. Controvérsias têm centros e periferias, posições de
fronteiras e pontes. Nesses territórios, nem todas as posições são iguais e atores lutam para
conseguir influência: posições que dão a eles o poder. (VENTURINI, 2012a, p. 5)
Segundo o autor, representatividade e influência de um ponto de vista devem ter
lugar central na cartografia social, mas não devem preencher todo espaço de
representação. O mapeamento de controvérsias não pode contentar-se com os relatórios da
maioria, pois o aumento de disputas depende muito das discordâncias das minorias. São
essas discordâncias que dão existência às controvérsias, por reabrirem as caixas-pretas da
ciência e da tecnologia. Não importa quão marginal seja um ponto de vista discordante, eles
podem ser interessantes, porque oferecem perspectivas originais de questionamento
(VENTURINI, 2012, p. 5)
Para facilitar o trabalho dos cartografistas, Venturini desenvolveu um quadro
base para o mapeamento de controvérsias: o “website da controvérsia”. Consiste na
78
seguinte arquitetura da informação, que se torna o lugar onde as disputas são coletivamente
elaboradas e organizadas, disponibilizadas como interface web (VENTURINI, 2012a, p. 13):
1. O glossário de elementos não-controversos. São as noções mais comuns,
as verdades em torno das quais não há disputa.
2. O repositório de documentação. São todos os dados coletados de forma
digital, notas de campo, gravações de entrevistas, dados brutos,
documentos de arquivo, todos os vestígios devem ser oferecidas a
concurso público. Quanto as referências bibliográficas, devem ter ligação
direta com sua fonte, se possível, facilitando assim o acesso às fontes
originais. Graças aos ambientes digitais agora é possível publicar não só
os resultados, mas cada passo de uma investigação, incentivando a
reutilização de dados e técnicas de pesquisa. (VENTURINI, 2012b, p. 14)
3. A análise da literatura científica. Os resultados destas análises podem ser
exibidos como indicadores ou na forma de gráficos de conexão. Este
segundo método é preferível, uma vez que permite revelar a oposição e
alianças da comunidade científica e a existência de agrupamentos
disciplinares ou institucionais. (VENTURINI, 2012a, p. 14)
4. Conteúdos advindos de meios de comunicação e opiniões públicas. A
expansão da mediação digital alarga a aplicação das técnicas para todos
os tipos de discursos. Notícias, fofocas, rumores, opiniões, discussões,
brigas podem ser seguidos as mesmas ferramentas utilizadas para as
teorias científicas. Os links desses conteúdos podem ser disponibilizados
ou o seu registro do dia em que foi feita a coleta do dado. (VENTURINI,
2012a, p. 15)
5. A árvore da discórdia. Nenhuma controvérsia pode ser reduzida a um
binário de oposição entre dois pontos de vista alternativos. Elas envolvem
sempre uma pluralidade de questões diferentes e algumas dessas
perguntas podem ser respondidas com um simples sim ou não. Os
cartógrafos devem traçar como os argumentos são conectados e
estruturados em discursos. Árvores hierárquicas encaixam perfeitamente
estas estruturas ramificadas, revelando como a menor discordância entre
os atores é frequentemente associada a maior oposição nas redes sociais
(e vice-versa). (VENTURINI, 2012a, p. 15)
6. A escala das controvérsias. Há várias sub-controvérsias ligadas a outras
controvérsias. Cartógrafos são livres para escolher a granularidade de sua
79
investigação, mas devem ser capazes de situar o seu objeto de estudo na
escala de disputas onde pertence. Identificar como as controvérsias são
ordenadas, de acordo com seu grau de generalidade-especificidade é
fundamental. O desenvolvimento de uma disputa é frequentemente afetado
por eventos que ocorrem acima ou abaixo de tal disputa. É preciso tentar
mostrar como espaços controversos são organizados.
7. O diagrama da liquidez dos atores e redes. Se cada ator pode ser
decomposto em uma rede e cada rede pode ser conectada o suficiente
para se tornar um único ator, esse ator pode se dissolver em uma explosão
de agentes conflitantes. Isso pode se tornar visível por animações que
representam o fluxo magmático dos fenômenos sociais.
8. A cronologia da disputa. Mostrar a evolução das controvérsias, que não é
uniforme, em linhas do tempo digitais navegáveis. Os leitores podem
diminuir o zoom para obter uma visão geral ou aumentar para examinar
eventos específicos e recuperar informações, conteúdo multimídia ou
hyperlinks. É importante para mostrar a posição dos atores em um dado
momento, como ela muda ao longo do tempo e como isso afetou a
definição da própria controvérsia.
9. A tabela do cosmos. É uma forma de visualizar as ideologias controversas,
as visões conflitantes do mundo. A tabela do cosmos deve representar
todos os envolvidos no cosmos de uma controvérsia, mostrando onde eles
divergem e onde eles podem se sobrepor.
A cartografia de controvérsias é a tentativa de aliviar a TAR de suas sutilezas
teóricas e ajudar os estudantes em aplicações práticas, a fim de criar uma versão amigável
para o usuário. (VENTURINI, 2010, p.2) Por outro lado, permite aos cientistas sociais o
estudo de uma quantidade de dados jamais imaginada:
Grâce à la traçabilité numérique, les chercheurs ne sont plus obligés de choisir entre
la précision et l’ampleur de leurs observations: il est désormais possible de suivre
une multitude d’interactions et, simultanément, de distinguer la contribution
spécifique que chacune apporte à la construction des phénomènes collectifs. Nées
dans une époque de pénurie, les sciences sociales entrent dans un âge
d’abondance. (VENTURINI; LATOUR, 2010, p. 6)53
53 Graça à traçabilidade digital, os pesquisadores não são mais obrigados a escolher entre a precisão ou a
amplitude de suas observações: agora é possível seguir uma multidão de interações e,
simultaneamente, distinguir a contribuição específica que cada uma faz para a construção de
fenômenos coletivos. Nascidas em uma época de escassez, as ciências sociais chegam a idade da
abundância. Dada a riqueza e a extensão de dados novos, nada justifica manter velhas distinções.
Equipadas com uma quantidade de dados comparável às ciências exatas, as ciências sociais podem
finalmente corrigir o estrabismo seus métodos: ao mesmo tempo, manter o foco e a extensão de sua
observação.
80
Nessa multitude de interações, é preciso ir aonde estão as comunidades em
torno de uma controvérsia. O modelo de web en couches de Frank Ghitalla (on-line),
presidente do coletivo WebAtlas de desenvolvedores de ferramentas de visualização da
web, explica que o acesso aos conteúdos na web se dá em três dimensões (FIG. 1):
FIGURA1 – Le Modèle de web en couches
Fonte: GHITALLA, on-line.
Na tarefa de coletar os nós, devemos evitar os atores da parte alta da web,
porque sua alta conectividade pode encobrir outras relações entre sites não tão populares,
como os que estão na parte intermediária. É nessa parte que os conteúdos mais engajados
da controvérsia se manifestam.
81
4 METODOLOGIA DE PESQUISA
O conhecimento não é insular. Para conhecê-lo, temos de ligá-lo ao continente
do qual faz parte (MORIN, 2002, p.228). Para conseguir compreender e captar o que se
pode chamar de ‘véu digital’ das redes ambientais, composto pelas inúmeras mediações de
atores e instrumentos em espaços de socialização virtual, se faz necessário indagar quais
os aspectos específicos da sua experiência neste ambiente. Para medir algo como o
sentimento do homem em relação à natureza, mediado pela tecnologia, não há
conceituação clara ideal a partir da qual trabalhar, nem operação de medição confiável.
Para tratar objetos complexos, Morin (2002, p. 18) destaca a necessidade de
abandonar a maneira linear de conceber a causalidade das coisas de uma maneira
simplista. Através dessa articulação híbrida proposta na fundamentação teórica dessa tese,
elementos disciplinares de distintas naturezas irão oferecer referências para intercâmbio, a
fim de explorar, explicar e facilitar a constatação da hipótese da pesquisa.
Segundo Morin (2002), o objetivo do método é ajudar a pensar por si mesmo,
para ajudar a responder ao desafio da complexidade dos problemas. O autor entende por
método um conjunto de procedimentos investigativos, que compreende segmentos
programados, impregnado de características inovadoras. Para Morin (2002), não se deve
restringir as etapas de pesquisa a modelagens e procedimentos científicos lineares, que
recorrem a princípios finalistas mutiladores e à lógica binária cartesiana da separação
arbitrária dos componentes de um conjunto fenomenológico. A ideia de que só se pode
entender algo isolando-o de seu universo é extremamente nociva para a geração de
conhecimento no campo da CI, ainda mais diante das múltiplas fontes de conhecimento que
possibilitam a interação entre saberes diferentes.
O movimento ambiental, como objeto de estudo, demanda uma articulação do
conhecimento, por ser uma questão global. A poluição, o aquecimento climático, a
depredação da natureza, o crescimento desordenado das metrópoles e questões de direitos
humanos são problemas complexos que atingem transversalmente a sociedade. A
especialização do saber, cada vez mais fragmentado, sobretudo a partir do século 18, não
foi suficiente para minimizar a desigualdade social e a fome. Por essas e outras razões,
como o imperativo da boa interação entre o que está dentro da universidade e o mundo
exterior e “a evidência da barbárie, a contrapelo daquele ideal civilizatório que se imiscuía
em torno da ideia de progresso” (BRANDÃO, 2008, p.23), buscamos uma atitude
transdisciplinar, não como método rígido, mas como uma visão que incentiva o pesquisador
a abrir-se a hibridações:
82
a transdisciplinaridade não aceita o relativismo, a fragmentação e a atomização das
práticas sociais e epistemológicas que só servem para abrir espaços para as
hegemonias fortes e construídas à base de violências impostas desde veículos de
comunicação até por artefatos bélicos. Ela não é uma conquista definitiva nem
permanente, mas abre espaço no meio do caminho para aquilo que, futuramente,
pode até tornar-se disciplinar. (BRANDÃO, 2008, p.27)
A transdisciplinaridade se caracteriza por apresentar uma reorganização
epistemológica para fundamentar, sem se apegar à busca de um fundamento. É a
complexidade como sistema em rede54, cuja estrutura não é hierárquica. A Análise de
Redes Sociais, da mesma forma, em interface com a Ciência da Informação, propõe essa
postura transdisciplinar de não dominar as outras disciplinas, e sim estar aberta ao que a
ultrapassa e atravessa.
A partir da assimilação dos conceitos de ARS, descritos no capítulo anterior, foi
realizada primeiramente uma navegação exploratória para identificar atores que dinamizam
a informação ambiental na web: ONGs, empresas e órgãos políticos e governamentais que
dialogam com cientistas e se fazem representar em eventos de discussão ambiental. Acerca
destes actantes, mais em evidência, foi necessário apoio da literatura e da pesquisa de
documentos representados nos seus próprios espaços virtuais, a fim de conhecer sua
história e atuação em relação ao meio ambiente.
A interdependência social complexa das redes não pode ser lida a partir da
formalização matemática apenas, mas, também, pela elaboração de questões sociométricas
pertinentes.
A produção do conhecimento sobre o contexto semiótico das relações nas redes
sociais do movimento ambientalista foi identificada nas seguintes etapas:
A delimitação, visualização e mapeamento de redes de controvérsias
sobrepostas, por onde circula a informação sobre a preservação da
natureza;
B entrevistas com os sujeitos informacionais para traçar seu perfil individual
ou institucional e verificar sua atuação;
C descrição dos processos de semiose que sustentam controvérsias, entre
diferentes regimes de informação do movimento ambiental, a partir da
análise de atores/espaços virtuais específicos eleitos pela sua importância
identificada em pesquisa exploratória.
A descrição e visualização de grupos sociais foram dadas a partir de
propriedades estruturais relacionais, consistiu em verificar o padrão de relações semânticas
existentes entre os conjuntos de atores sociais, identificadas em unidades de análise. Foi
54 Em referência à teoria geral dos sistemas, à teoria da autopoiesis e à teoria da complexidade
(BRANDÃO, 2008, p.20)
83
necessário estar atento para não isolar dados obtidos e focalizar nos indicadores que
representam canais de transferência e troca. As redes sócio-técnicas se utilizam de
dispositivos tecnológicos para potencializar os engajamentos, pois os mesmos ajudam a
organizar um nível de racionalidade (regras) entre os atores envolvidos.
A visualização foi ferramenta amigável para compreensão da estrutura da rede.
Os desenhos evidenciam padrões de conexão a partir de pontos de indagação específicos
(WELSER et al., 2007; DEKKER, 2005) e, normalmente, uma rede varia em número de
diferentes tipos de representação. Quando isso ocorreu, foi importante tratar categorias
diferentes de atores em sub-gráficos distintos, já que os grafos (desenhos) são
fundamentais para entender o funcionamento da rede.
O tratamento visual da informação permitiu explorar, compreender e explicar a
dinâmica da rede. Facilitou a constatação da hipótese de que a fixação de regras leva à
criação de hábitos sociais, sustenta ideologias e fomenta regimes de informação. Além
disso, possibilitou o surgimento de novas questões para análise.
4.1 Ensaios e testes para a visualização dos movimentos ambientais digitais
Diante da concepção transdisciplinar apresentada no item anterior, justificada
pela complexidade do objeto em questão, nos lançamos a experimentar procedimentos
metodológicos, tendo em vista que as ferramentas de pesquisa em ambientes digitais estão
constantemente em evolução. Investigamos quais métodos de coletas de dados em
ambientes virtuais podem nos fazer visualizar conexões cognitivas entre atores de redes
sociais e evidenciar o fluxo de informações sobre a gestão da natureza. Essas
experimentações, que resultaram em artigos publicados em revistas, capítulo de livro e
congressos, são descritas brevemente a seguir. Algumas estratégias metodológicas foram
adotadas na análise final e outras não.
O instrumento mais amigável e acessível de coleta de dados na internet são os
mecanismos de busca. Alguns eventos provocam maior intensidade de fluxos, por exemplo,
o acidente de vazamento de óleo no Golfo do México, que acompanhamos no Youtube sua
popularidade (PEREIRA, 2010b). Utilizamos o mecanismo de busca do Google para mostrar
o movimento autônomo de gestão da natureza e o desenrolar do tema enquanto
representação audiovisual espontânea. Foram analisados os primeiros 20 resultados de
vídeos relacionados ao temo ‘bp oil’, sendo ‘bp’ referente à empresa British Petroleum,
responsável por vazar o óleo no mar, em maio de 2010.
84
A primeira categorização dos vídeos foi entre ‘mídia especializada’ (7
ocorrências) e ‘produções amadoras’ (13 ocorrências), o que comprova o interesse popular
pelo evento, que se sobrepõe ao interesse midiático profissional. Na segunda, de natureza
semiótica peirciana, classificamos a análise da representação imagética (o vídeo) em
relação ao seu objeto, resultando em vídeos icônicos (5 ocorrências), indexicais (9
ocorrências) e simbólicos (6 ocorrências). Isso foi feito na intenção de garimpar, nas redes
sociais, a ontologia semiótica do desastre ecológico do vazamento de óleo no golfo do
México em maio de 2010, e sua relação com a responsabilidade da empresa BP.
No ícone há uma predominância de primeiridade, portanto, não há uma
representação e sim uma apresentação, algo que serve para contemplar, mas que
necessariamente não significa algo mais delimitado, é o desafio aos sentidos para
complementar uma significação. O índice é aquele que representa seu objeto por força de
uma extensão física, pois envolve uma relação efetiva com seu objeto na esfera material
(COELHO NETO, 1999, p. 58). O símbolo é um processo de interpretação determinado por
uma convenção, e varia de acordo com a experiência colateral do observador. A capacidade
de apreensão do significado aumenta à proporção do grau em que o intérprete está inteirado
das regras e normas da dimensão cultural no qual este signo está inserido: “Um símbolo é o
signo que se refere ao objeto que denota, em virtude de uma lei, normalmente uma
associação de ideias gerais” (NÖTH, 1995, p. 83).
Nessa segunda etapa de categorização, foi possível visualizar que o objeto
(acidente de vazamento de óleo no golfo), foi principalmente representado de maneira
indicial, a partir de vídeo-reportagens informativas com números, declarações políticas e
econômicas oficiais e análises de especialistas; em segundo lugar foi representado de
maneira simbólica, em animações, sátiras relacionadas a outros símbolos, como Super
Mario Bros e Acquaman e em simulações computadorizadas dos efeitos; e em último lugar
de maneira icônica, artística e quase poética, com imagens abstratas da poluição no fundo
do mar e trilha sonora instrumental, evocando instâncias sentimentais do sujeito
informacional.
No entanto, embora este tipo de experimentação metodológica comprove a
potencialidade da diversidade das expressões ordinárias dos sujeitos, uma conclusão
preliminar, não nos leva ainda ao nosso objetivo de decifrar as instituições informacionais
centrais do movimento ambientalista, pois a boa colocação dessas representações nas
listas dos mecanismos de busca (analisamos os 20 primeiros resultados) não garante que
esses resultados sejam atores centrais dos movimentos ambientalistas. Dessa experiência,
85
para análise final, utilizamos a classificação de imagens entre ícones, índices e símbolos, ou
seja, em relação à predominância de primeiridade, secundidade e terceiridade.
Em outra experimentação, testamos o intercruzamento de três mecanismos de
busca distintos - Google, Lycos e Yahoo - para detectar e visualizar uma rede sócio-
semântica do movimento ambientalista, em torno dos termos climate changee ‘aquecimento
global’ (PEREIRA, 2011), o que já nos deu algumas pistas em relação a regularidades e
padrões informacionais. Tornou possível visualizar a ocorrência de duas instâncias de
causalidade para o aquecimento do planeta, uma das controvérsias presentes nos mapas
da gestão da natureza na internet.
A primeira instância, predominante, considera que as mudanças climáticas são
culpa das ações humanas, como emissão de gases, poluição e desmatamento. A segunda
afirma que o planeta passa por um processo natural de aquecimento, em ciclos naturais de
resfriamento e aquecimento, que ocorrem de milhões em milhões de anos. Ambas,
obviamente, amparadas por discursos científicos.
Essa análise classificou também a natureza institucional dos espaços
informacionais onde se manifestaram os termos ‘aquecimento global’ e climate change, que
variou entre: instituição científica, governamental, intergovernamental, ONG, mídia,
indivíduos/redes sociais, educativa, religiosa e wikis/thesaurus. A união entre indivíduos e
redes sociais em uma só categoria se deu pelo fato de que os resultados das redes sociais
são manifestações de sujeitos associados a estas redes, o que pode ser considerado uma
falácia da representatividade, pois na maioria destes casos a definição do termo ocorre de
maneira metafórica ou metonímica.
Outro problema dos mecanismos de busca, como o Google, é que eles seguem
seus traços e respondem às suas pesquisas sempre com resultados já relacionados a
pesquisas anteriores. Isso leva a uma repetição de resultados de pesquisa que limita a
coleta. Para resolver isso, utilizamos outros mecanismos de busca (que não os tradicionais
Google e Yahoo), especialmente o DuckDuckGo55, ferramenta que não utiliza dados de suas
navegações anteriores. Isso pode ser bom, como solução para o problema de coleta, mas
na prática, se as pessoas deixarem de deixar rastros, como vamos fazer pesquisa
sociológica em ambientes virtuais? É o paradoxo da ‘ciberdemocracia’, se por um lado
temos facilitadas as coletas, por outro a vigilância aumenta.
O sistema de classificação utilizado pelo Google, o PageRank (PAGE et al.,
1998) é uma avaliação da interconexão de uma página, divulgada em uma escala de zero a
dez. A ferramenta considera a quantidade de links que outros sites direcionam para o site
55 Disponível em: <http://deborapereira.blog.br/2012/04/19/duckduckgo/>. Acesso em: 30 abr. 2012.
86
em avaliação e calcula a relação semântica entre as páginas. Por exemplo, se o assunto de
um site é política, e se ele é relacionado a conteúdos de medicina, isso não aumenta o
PageRank (PR). Mas, se ao contrário, o site for muito referenciado em portais
especializados em política, isso valoriza a pontuação.
Outra forma de classificar a trafegabilidade dos sites é o Índice Alexa Internet
Inc.56, desenvolvido pela Amazon. É um aplicativo que calcula quantos usuários visitam o
site e classifica a origem dos acessos. O ranking estabelecido é mundial, ou seja, considera-
se que a internet tem em média seis bilhões de websites, e qualifica-se em comparação com
todos os outros do mundo, ou por país. É importante assinalar que os dados são obtidos por
amostragem e aproximação, o que não garante os resultados, que são dinâmicos.
A questão da falácia da constância de resultados inúteis nas primeiras
ocorrências de uma lista de busca se deve, entre outros fatores, ao fato que, embora os
sites de comunidades virtuais tenham PR e índices Alexa altíssimos – Flickr (Alexa 34),
Flixya (Alexa 3.246), SlideShare (Alexa 280), Youtube (Alexa 3), Habbo (Alexa 8.589) e
Meet-up (Alexa 504) – pela alta trafegabilidade e por discutirem de tudo, eles apresentam
conteúdos fornecidos e indexados por sujeitos comuns, sem garantias de sua veracidade na
correspondência ao termo. É um paradoxo, pois ao mesmo tempo que essas classificações
permitem a democracia da emergência de usuários comuns nas listas dos buscadores,
contaminam as buscas com a imprecisão da definição dos termos.
Outras ferramentas amigáveis de monitoria de termos na web foram exploradas,
em caráter experimental, na tentativa de adequação à coleta. O Google Insight57 permite o
acompanhamento de termos aleatórios e a comparação entre eles, em tempo real e desde
2004. São coletados dados de milhões de usuários, sem identificação pessoal, e exibidos
resultados das buscas com quantidade significativa de tráfego. Isso impede que sejam
medidos termos não muito populares.
Um fator restritivo é que a pesquisa analisa as buscas na Web coletadas pelo
Google58, e não na Web como um todo. O Google Insights analisa separadamente as
buscas, por região geográfica e por tempo. Ao personalizar a visualização dos dados, há
opção entre: Pesquisa na web do Google, Pesquisa de imagens, Google Product Search e
Pesquisa do Google Notícias, ou todos. Os resultados são:
56 Disponível em: <http://www.alexa.com/>. Acesso em: 3 mar. 2011.
57 Disponível em: <http://www.google.com/insights>. Acesso em: 17mar. 2011. Constatamos em 27 de
dezembro de 2012 que essa ferramenta do Google não existe mais, o usuário é redirecionado ao
Google Trends, que possui uma aplicação mais comercial, infelizmente.
58 Disponível em: <http://www.google.com/support/insights/bin/answer.py?hl=pt-BR&answer=87276>.
Acesso em: 17 mar. 2011.
87
gráfico do volume de pesquisas - indica interesse pelos termos na linha do
tempo, calculado em uma escala de 0 a 100.
Por exemplo, a busca comparativa pelos termos ‘tsunami’ ‘earthquake
(terremoto), ‘Haiti’ e ‘Japan’ mostra (FIG. 2).
FIGURA 2 – Busca comparativa em GoogleInsights
Fonte: GoogleInsights59.
Este gráfico registra, pelos menos, três eventos: o tsunami no Índico em 26 de
dezembro de 2004, o terremoto do Haiti, de 12 de janeiro de 2010 e o mais recente
terremoto no Japão, seguido de tsunami, em 11 de março de 2011.
Em seguida, o Google Insights (FIG.3) fornece descrição das categorias
classificadas, listas dos principais termos relacionados mais acessados e um mapa
interativo que exibe graficamente o índice do volume de pesquisas com regiões, cidades e
áreas metropolitanas.
59 Disponível em: <http://www.google.com/insights/search/#q=tsunami%2Cearthquake%2CHaiti%2CJapan
&cmpt=q>. Acesso em: 22 abr. 2011.
88
FIGURA 3 – Descrição das categorias classificadas
Fonte: Google Insights60.
O Google Trends (FIG.4) apresenta gráficos sobre o desempenho de termos
mais populares na web, desde 2004, por regiões do mundo e em vários idiomas. Desde que
um termo tenha um número mínimo de procura, isso pode ser visualizado, o que possibilita
ao usuário medir sua popularidade e compará-lo com outros. Reportagens relacionadas são
mostradas em links, associadas aos picos de popularidade do termo no gráfico, que podem
ser a causa dos mesmos. A busca pode ser personalizada também para análise de sites,
quando informa quais outros sites foram visitados pelos mesmos usuários e sugere uma
lista de termos buscados, cognitivamente relacionados, a partir de algoritmos que se
baseiam em frequências de utilização. Esse gráfico, com os mesmos termos buscados na
ferramenta dos Google Insights, confirma os resultados anteriores.
60 Disponível em: <http://www.google.com/insights/search/#q=tsunami%2Cearthquake%2CHaiti%2CJapan
&cmpt=q>. Acesso em: 22 abr. 2011.
89
FIGURA 4 – Busca no Google Trends
Fonte: Google Insights61
Essas primeiras ferramentas testadas em artigos publicados – PageRank, Índice
Alexa, Google Insights e Google Trends – são importantes para medir a ocorrência de
termos e sua popularidade na web. Na análise, foram úteis para verificar o acesso a sites
que possuem alta trafegabilidade. No entanto, continuamos com o problema relacionado ao
fato de elas não ajudam a identificar a centralidade informacional dos sujeitos na rede, nem
o valor dos seus discursos, nem denotam a predominância de dispositivos de colaboração,
para o que foi preciso providenciar outra solução.
Para isso, experimentamos as ferramentas Netdraw e Ucinet para visualizar
relações entre os atores que escreviam o termo ‘Pizango’ no Twitter (PEREIRA, 2010a).
Pizango é o nome do líder de protestos de mais de 65 associações indígenas no Peru,
contra leis que os índios consideram prejudiciais por permitirem concessões a empresas
estrangeiras para explorar a região amazônica peruana. Ele foi exilado na Nicarágua, após
massacre de mais de 500 índios em conflitos com militares em Baguá. Embora não tenha
sido pautado na mídia de massa, blogs e microblogs iniciaram uma divulgação crescente de
61 Disponível em: <http://www.google.com/insights/search/#q=tsunami%2Cearthquake%2CHaiti%2CJapan
&cmpt=q>. Acesso em: 22 abr. 2011.
90
imagens e depoimentos, com vídeos mostrando helicópteros do governo atirando corpos
ensacados dentro do rio.
A rede (GRAF.1) capturada em junho de 2010, com 137 participantes e 50
conexões consideradas em função deretweets (RT), uma prática no uso do Twitter, que
significa que a postagem está sendo repassada de outro perfil: oriunda de outra fonte de
informação, a informação foi lida, considerada de valor e reproduzida. Ao considerar o RT
como índice das relações da rede, 84 usuários não estavam conectados com ninguém. De
fato, pela visualização, há uma grande área pulverizada por pontos sem conexão. Se por um
lado isso pode confirmar o esvaziamento das relações sociais, que tendem a ser superficiais
nas redes sócio-técnicas, por outro lado, nos fizeram desconfiar que outros índices de
relações precisam ser buscados, como verificar as listas de links em sites que se
referenciam.
GRÁFICO 1 – Mapa da rede em torno do termo Pizango
Fonte: PEREIRA, 2010a.
O ponto positivo foi que o gráfico da rede permitiu visualizar a centralidade
informacional de atores, resultado que ainda não havíamos obtido com as experiências
anteriores.
91
4.2 As ferramentas de medição
Gephi e Navicrawler são ferramentas que foram experimentadas no MediaLab
da Sciences-po, em Paris, no curso de Cartografia de Controvérsias coordenado por
Tommaso Venturini em 2012. Especificamente, Navicrawler permite detectar
automaticamente as interações entre os sites, conforme será melhor descrito a seguir, o que
permitiu visualizar a conexão de mais atores do que havia sido experimentado
anteriormente.
Assim, pudemos estruturar a visualização de conexões entre grupos virtuais que
circulam informação sobre ambientalismo, e fazer análises quantitativas e qualitativas
(antropológica e métricas), após listar os sujeitos informacionais mais referenciados.
Delimitado esse sujeito e suas manifestações virtuais, que formam o movimento
ambiental na internet, foram feitas entrevistas com objetivo de entender a população
selecionada, a fim de saber mais pistas sobre o sujeito informacional que habita essas
redes.
Todos estes dados (visualização das redes e entrevistas) foram indexados de
forma orientada pelo seu conteúdo, a partir de categorias discursivas identificadas, através
do instrumental teórico da semiótica, a fim de eleger argumentos que justifiquem a
existência de regimes semiósicos de informação, situações em que os processos de
semiose são índices da existência de uma via informacional mais instituída. Estas categorias
discursivas foram elencadas durante a análise dos sites, a partir dos assuntos e temas mais
em evidência entre estes atores.
Essas duas etapas (exploração e análise semiótica) foram necessárias para
entender como os conceitos que determinam a representação da natureza e do meio
ambiente fluem da subjetividade da consciência de um indivíduo para a reticularidade fractal
das redes, e como esse fluxo pode influenciar na criação de padrões globais ou tendências
políticas.
A proposta pode ser sintetizada no QUADRO 2:
92
QUADRO 2 – Etapas da Metodologia de Pesquisa
ETAPAS
VISUALIZAÇÃO DA
REDE
REDES DE
CONTROVÉRSIAS
ANÁLISE SEMIÓTICA
- Visualizar os
organogramas da rede do
movimento ambiental
- identificar e selecionar
sujeitos informacionais e
espaços virtuais
relevantes para o
movimento ambiental.
Fonte: Dados da pesquisa
- identificação da
complexidade de padrões
de disseminação de
conteúdos nas vias
informacionais
- identificação de
mecanismos de gestão da
natureza, ou do
aparecimento de regimes
de informação.
- identificar exemplos de
processos de semiose
na rede e evidenciar
relações pragmáticas ao
observar a
predominância das
categorias
fenomenológicas da
semiótica peirciana nas
representações da rede.
A fim de abarcar a ‘gestão da natureza’ e não correr o risco de monitorar apenas
fatos específicos, como ‘aquecimento global’ ou ‘luta contra Belo Monte’, ou mesmo as
catástrofes climáticas citadas anteriormente, tentamos responder a seguinte questão: o que
determina a relação do homem com a natureza, seu meio ambiente, o planeta em que vive,
em uma era mediada pela tecnologia? Essa agenda e suas manifestações nos interessou
aqui, para saber o que mais mobiliza as pessoas a compartilharem informações em
ambientes virtuais sobre o assunto. Selecionamos os temas gerais:
Aquecimento global: que inclui as discussões do Painel
Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC), da Organização
Meteorológica Mundial e que está relacionado à preservação de florestas
em países do terceiro mundo, a créditos de carbono e às tragédias
naturais mais recentes, como o terremoto e tsunami no Japão;
Questão energética: que inclui discussões sobre o uso de energia solar,
nuclear, hidrelétrica, eólica e é acima de tudo uma questão econômica e
desenvolvimentista;
Questões de licenciamento ambiental: que autorizam ou não a
construção de estradas, empreendimentos imobiliários, hidrelétricas,
plantações de alimentos transgênicos, exploração madeireira e de minério,
tornando-se assim uma questão política, judicial e econômica.
O foco foi verificar como essas questões se relacionam às questões humanas,
como chegam às pessoas e comunidades virtuais, como a informação sobe e desce, esse
vai e vem da regularidade informacional, identificamos algumas instâncias produtores de
93
informação: movimentos sociais, ONGs, eventos, educacionais, governos, religiosas e
organizações transnacionais. Essas instâncias, aliadas à categorização filosófica da relação
homem natureza, descrita no capítulo dois dessa tese, foram essenciais para a construção
do protocolo descrito na próxima seção.
4.3 Protocolo e Navicrawler
A fim de colher dados sobre cada site selecionado para compor o corpus da
rede, foi criado um protocolo a partir do plug-inFormidable62 que interopera na plataforma
Wordpress, instalado no blog de pesquisa dessa tese63. Da categorização apresentada no
capítulo 2, sobre a concepção de natureza e visão de meio ambiente, o protocolo se dividiu
entre as correntes:
Ecologia Profunda;
Ecologia Social;
Ecossocioalismo marxista;
Novo Ecologismo;
Outros (como economia verde).
De cada site foram salvas duas ou mais páginas em formato PDF. A opção de
escolha da linguagem do site se deu entre os idiomas espanhol, francês, inglês e português.
Também registramos se o site possui seguidores, comentários e lista de links. Em relação
ao conteúdo, foi classificado entre original, copiado ou ambos. De cada site, foi classificado
seu PageRank e índice Alexa e finalizamos com observações importantes em relação ao
ambiente virtual analisado e a informação referente à natureza do público informada pelo
índice Alexa.
A primeira coleta realizada a partir do protocolo ocorreu durante quatro meses,
de agosto a novembro de 2012. Optamos por monitorar inicialmente a rede ego-centrada no
site Rio+20. No entanto, essa metodologia de coleta de dados a partir do protocolo criado
mostrou-se insuficiente para descobrir os elos de ligações entre os atores das redes,
embora fosse eficaz para capturar aspectos importantes, como índices de trafegabilidade e
utilização de ferramentas da web 2.0. Outras desvantagens do protocolo é que, a partir do
momento que a rede cresce, os gráficos gerados se tornam ilegíveis, o que foi percebido
quando havia mais de cem sites cadastrados.
62 Disponível em: <http://wordpress.org/extend/plugins/formidable/>. Acesso em: 28 jul. 2011.
63 Disponível em: <http://deborapereira.blog.br>. (ANEXO B)
94
De dezembro de 2011 a agosto de 2012, a partir da frequência em seminários e
laboratórios do curso de Cartografia de Controvérsias do MediaLab da Sciences-po, em
Paris e com ajuda do professor Tommaso Venturini, foi possível rastrear ligações entre os
atores. Utilizamos os programas Navicrawler e Gephi, método que será descrito a seguir. A
primeira sugestão de Venturini foi abandonar a coleta pelo protocolo do Wordpress e realizar
a categorização dos sites em tabelas em formato Excel, que poderiam ser visualizados pelo
Gephi. A etapa seguinte foi cadastrar todos os sites que haviam sido registrados pelo
protocolo no programa Navicrawler.
O Navicrawler foi criado em 2006 para ser usado como uma extensão do Firefox
versão 3.6.64. Permite, durante a navegação: aceitar ou recusar sites para a formação de
uma rede que se quer visualizar; listar todos os links externos e internos da página, saber
todos os sites que estão próximos do site, que por ventura possam ter conteúdos
relacionados. No painel de controle (FIG.5) do programa, logo abaixo do menu que marca
‘nav’ (navegação), ‘tag’ (para marcação semântica) e ‘file’ (para geração de formatos
diferentes de arquivos), é indicado a url do site aceito.
FIGURA 5 – Interface do Navicrawler, em interoperabilidade com o Firefox
Fonte: Dados da pesquisa
64 Portanto, para funcionar a extensao Navicrawler, o Firefox deve ser instalado na versão 3.6 e não
atualizado em outras versões mais recentes desse navegador. Esse é um grande problema dessa
extensão, porque não permite a abertura correta de artigos multimídídia de determinados sites da rede.
95
Embaixo da url, a primeira lista de menu indica respectivamente (FIG.6): se a
página já foi visitada, quantos links essa página possui (internos e externos) e a
profundidade do site, ou seja, quantos cliques são necessários para ir da página inicial à
última. Flag page significa marcar o site por ter algo especial, alguma característica
importante para identificar a rede.
FIGURA6 – Primeira barra de informações do Navicrawler
Fonte: Dados da pesquisa
No caso do espaço oficial das Nações Unidas para divulgar a Rio+20, a
profundidade do site é zero, ou seja, quantos cliques ela está da página inicial do site. Como
essa página é a inicial, esse índice é zero.
É um site com 82 links somente na página inicial, a maioria internos (para ele
mesmo), com exceção de alguns links para outros órgãos das Nações Unidas e redes
sociais, como Twitter, Facebook, Youtube e Sharethis (FIG.7). Todos esses sites da parte
alta da web foram recusados no corpus de urls da rede, pois o nosso interesse nessa
pesquisa foi pesquisar a parte intermediária. Essa foi outra desvantagem do protocolo do
Wordpress, pois a partir dele coletávamos sites como Youtube e Facebook, que se
transformam em grandes hubs e destorcem o desenho das redes da parte intermediária da
internet.
96
FIGURA 7 – Lista dos links internos e externos do site
Fonte: Dados da pesquisa
A segunda (FIG.8) barra de informações mostra quantas páginas foram visitadas
dentro do site, em exploração (10), quantas páginas foram marcadas com bandeira (3),
quantos outros sites já visitados tem links para essa página (5) e quantos links hipertextuais
possui (X=>26).
FIGURA 8 – Segunda barra de ferramentas do Navicrawler
Fonte: Dados da pesquisa
Os sites aceitos são listados (FIG.9) em uma coluna ‘in’ e os sites recusados são
listados em uma coluna ‘out’. Os sites ‘next’ (próximos), aqueles que por algum motivo estão
próximos dentro da rede, mas que ainda não foram visitados. Ao clicar em cada botão,
aparece a lista de sites escolhida.
97
FIGURA 9 – Lista de sites aceita no corpus da rede da gestão da natureza
Fonte: Dados da pesquisa
Essa rede foi apreendida em três instâncias. A primeira, se deu de agosto de
2011 a fevereiro de 2012 com a visitação e registro dos sites em torno do site oficial das
Nações Unidas para a Rio+20, que já haviam sido registrados em protocolo. A segunda se
deu de fevereiro a junho de 2012, a partir da exploração dos sites vizinhos e da monitoria de
assuntos relacionados à gestão da natureza no Brasil: a controvérsia em torno da
construção de Belo Monte, as discussões em torno do novo código florestal e,
principalmente, ao evento Cúpula dos Povos, que teve a intenção de ser um contra-ponto
nacional ao evento oficial das Nações Unidas.
Após a conclusão de uma rede, é preciso gerar o arquivo de extensão Gephi,
lido no programa de mesmo nome, onde os nós e tramas da rede podem ser manipulados,
coloridos, destacados e neles aplicados algoritmos de otimização da visualização.
Decidimos parar a coleta de atores da rede justamente pela proximidade do evento Rio +
20, a fim de acompanhar o evento, e com essas informações (anteriores) geramos os
primeiros gráficos.
O processo de categorização, ao contrário da complexidade do protocolo, foi
simplificado para atender aos moldes do Gephi. Para isso, foi gerado um arquivo CSV e, no
programa Excel, foi categorizado cada site em relação a: 1); “Gestão da natureza’
(economia verde, social ecologia, ecologia profunda etc.) 2) Idioma (sites que não
estivessem em português, inglês, espanhol ou francês foram descartados), 3) natureza
institucional (movimentos sociais, ONGs, eventos, educacionais, governos, religiosas e
organizações transnacionais) e 4) Uso de recursos multimídia, com resposta ‘sim’ ou ‘não’.
Essas categorias foram simplificadas também porque, após já haver visitado todos os sites,
98
decidimos criar a nova categoria “economia verde”, que não está entre as filosofias que
regem a relação homem natureza descritas por Diegues (2000). Mas, que optamos em
acrescentar, justamente por ser um termo de alta ocorrência de controvérsia nos sites
visitados, o que nos fez acreditar que é uma nova filosofia de pensamento ecológico que
surge.
Para fazer essa classificação, o corpus de site foi novamente visitado e isso
permitiu mais observações e mais intimidade com o conjunto de sites escolhidos. Para
rastrear esses endereços de maneira automática, foi utilizada outra extensão desenvolvida
por Mathieu Jacomy pelo coletivo WebAtlas: FLEM permite copiar e colar um texto inteiro
com sites dispersos como links externos e extrai apenas as urls, criando assim uma
navegação direta, sem precisar copiar e colar cada endereço da rede no campo de
navegação.
Em 10 de junho de 2012, foi fechado o primeiro corpus da rede, com 402 sites,
que foram analisados em artigo apresentado na Jornada Rede Mussi (PEREIRA; MOURA;,
VENTURINI, 2012), no Rio de Janeiro, em outubro de 2012. Essa rede tem diâmetro 12, ou
seja, para a informação correr de um ponto ao outro mais distante na rede, é preciso
atravessar dozes nós. Como primeira observação, notamos a formação de três clusters
(GRAF. 2), o primeiro da esquerda e maior é o agrupamento de sites classificados em sua
maioria como ecologia social e ecossocialismo marxista, entre eles: Cúpula dos Povos,
Instituto Sócio-Ambiental, Movimento do Sem Terra (MST), Greenpeace, International Rivers
etc. O segundo em tamanho, (GRAF. 2) representa a rede de sites onde predomina a
‘economia verde’, com actantes centrais como as Nações Unidas, UNEP, Organização das
Nações Unidas para a educação, a ciência e a cultura (UNESCO), Unhabitat, FAO, Banco
Mundial, além de uma proliferação de sites de eventos como o Agriculture Day, Waterday e
pequenas cúpulas ambientais promovidas pela ONU em países da Ásia e África. No terceiro
cluster, menor e à direita, predominam sites da ecologia profunda, com informações
científicas sobre aquecimento global, como o Real Climate, IPCC, e Mongabay, especialista
em preservação de espécies.
99
GRÁFICO 2 – Mapa da rede classificado de acordo com a gestão da natureza
Fonte: Dados da pesquisa.
Relacionando o GRAF. 3 (Fig. 2), de idiomas, com GRAF. 2, percebemos que na
ecologia social circula muito mais informação em português (35,66%) enquanto a economia
verde publica mais informação em inglês (39,4%), embora a categoria ‘todos os idiomas’
(17,21%) também seja expressiva, com mais ocorrência na economia verde e na ecologia
profunda.
A consistência do cluster com predominância em ecologia social pode significar
uma maior organização dos movimentos sociais no Brasil e a apreensão crescente do
discurso ecológico como um discurso social.
100
GRÁFICO 3 – Mapa da rede classificada de acordo com o idioma
Fonte: Dados da pesquisa.
A classificação do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas, o IPCC,
que tradicionalmente defende políticas de ecologia profunda, como ‘economia verde’, pode
significar uma migração dos discursos da ecologia profunda para a ecologia dos mercados
de carbono. O site mais conectado deste cluster é o Real Climate, blog científico “do clima
para cientistas climáticos” (como eles se definem), que apresenta estudos e mapeamentos
de áreas da terra atingidas pelo aquecimento.
GRÁFICO 4 – Destaque no grupo da ecologia profunda para os sites do IPCC e do
Real Climate
Fonte: Dados da pesquisa.
101
Em relação à natureza institucional da rede (GRAF. 5), há uma predominância
de ONGs (45,89%), seguida pelas trans-institucionais (11,22%), que em sua maioria
realizam trabalhos transnacionais. No terceiro lugar, os sites de indivíduos (9,48%).
GRÁFICO 5 – Rede classificada de acordo com a natureza institucional.
Fonte: Dados da pesquisa
No cluster com predominância de ecologia social, não há somente um ou dois
actantes em destaque, todos os atores têm mais ou menos o mesmo grau de
referenciamento (e por isso o mesmo tamanho). Ao contrário, no bloco de economia verde,
a ONU é o grande ator central. Isso significa uma maior democratização estrutural nas
discussões feitas pelos movimentos sociais da América Latina, capturadas durante a Cúpula
dos Povos, mas distantes das discussões promovidas pela ONU na Rio+20, que embora
seja um ator central notadamente não conseguiu emplacar acordos significativos. Essas
discussões são negociadas em processos semióticos onde significados ganham mais
sentido a partir do momento em que assuntos são colocados em evidência pela rede.
Durante os eventos da Cúpula dos Povos e Rio +20, de 18 a 23 de junho de
2012, no Rio de Janeiro, foram acrescentados ao corpus mais de duzentos atores que
estavam representados fisicamente no evento (a rede cresceu de 402 para 599 sites). Esses
atores foram coletados a partir da monitoria, no Twitter, das hashtags ‘rio+20’ e ‘rioplus20’
(foram rastreados todos os endereços externos e verificada a sua pertinência para estar na
rede). O mesmo foi feito na página oficial das Nações Unidas no Facebook.
102
A rede cresceu também em função da constatação in loco da existência de um
conjunto de instituições e ou indivíduos, por exemplo, militantes do vegetarianismo e da
desmilitarização, que à priori não eram aceitos na rede, mas, por estarem presentes no
evento, se integraram aos discursos dos movimentos socioambientais. Isso, de certa forma,
aumentou a complexidade da rede, à medida que a diversidade dos actantes, em cada
categoria, foi crescendo.
Após a atualização da lista de sites aceitos, em agosto de 2012, a rede alcançou
diâmetro 13, um ponto a mais que a rede mapeada até junho, os clusters se mantiveram,
embora tenha surgido uma maior heterogeneidade na posição entre os actantes em cada
cluster. A modularidade praticamente se manteve: de 6.34 na primeira rede para 6.48 na
segunda, o que continua sendo um bom indicador de formação de comunidades. Mesmo
optando por não utilizar mais o protocolo, todos os sites coletados tiveram pdfs salvos e
telas de suas páginas registradas, material que poderá ser desdobrado em outras análises
de conteúdo. Isso é uma forma de garantir que o conteúdo estava publicado nesse dia,
tendo em vista a efemeridade dos conteúdos na web.
4.4 Survey Online
Como suporte para compreender quem é o sujeito informacional desses
ambientes virtuais e quais suas estratégias de ação, foi criado um questionário em quatro
idiomas, português, inglês, francês e espanhol. A coleta se deu de 7 de setembro a 6 de
dezembro (ANEXO C).
Para divulgação desse questionário, a rede foi novamente visitada, e deixamos
mensagens de convite nos formulários de contato, além de enviar e-mails pessoais para os
endereços disponíveis no site. Obtivemos 136 respostas cujos resultados foram integrados à
análise.
Perguntamos também se o usuário aceitaria ser entrevistado por skype. O
retorno foi de quatro conversas registradas por skype, com pessoas que se dispuseram a
divulgar seus nomes e suas instituições (trechos de suas entrevistas estão inseridos na
análise). São eles: Henrique Cortez, do site EcoDebate, Telma Monteiro, do site Racismo
Ambiental, Pierre Johson, consultor ambiental e Denis Delbeque, do site Effects de Terre.
Houve duas entrevistas gravadas presencialmente, com Alfredo Pena Vega, organizador do
seminário “A Terra está inquieta”, na Rio+20, e Jorge Abraão, diretor do Instituto Ethos.
103
5 ANÁLISE
De acordo com os objetivos específicos, estruturamos a análise da rede em
quatro tópicos, a fim de gradualmente situar o leitor. Primeiro o mapeamento das redes
sociais por onde flui informação ambientalista (sua visualização gráfica) e a relação dos
clusters com as categorias de gestão da natureza. Foi observada a coincidência entre a
predominância de uma determinada filosofia de gestão da natureza e o idioma de
publicação dos sites e os índices de representação do estatuto institucional. Em segundo
lugar, ressaltamos os padrões e conteúdos predominantes representados nos processos de
semiose.
A rede completa, com um total de 598 nós e 1.222 conexões, teve sua coleta
finalizada em julho de 2012. A fim de potencializar a visualização, agrupamos as categorias
‘ecologia social’ e ‘ecossocialismo marxista’ em uma só, ‘ecologia social’, pela proximidade
de sua filosofia, e por outro lado agrupamos as categorias ‘nova ecologia’ e ‘religiosas’ em
‘nova ecologia’. Outra medida foi representar os atores classificados como “ecologia
profunda” com a cor azul (no ensaio anterior de visualização da rede essa categoria era
verde escuro, o que confundia com a cor verde claro que representava economia verde).
Isso permitiu visualizar melhor a diversidade da rede. Foram obtidos os seguintes índices
em relação às categorias do pensamento ecológico:
Ecologia Social – 35,93%
Economia verde – 32,36%
Ecologia profunda – 20,81%
Nova ecologia – 8,94%
Outras – 1.95%
Notamos que os sites classificados com a mesma categoria se aglutinam. A
espacialização da rede foi realizada com o algoritmo de vetor de força (em Gephi, usando
ForceAtlas2, modo LinLog, escala 0,35 e gravidade 0,2) que impedem que os nós se
sobreponham e torna evidente que esta rede é altamente clusterizada. Os nós e as arestas
enchem o espaço da rede de um modo muito irregular. É, portanto, relativamente fácil
identificar os buracos estruturais da rede. O núcleo do gráfico (contendo a maioria dos nós
e arestas da rede) está claramente separado do anel externo de nós, a chamada nebulosa.
A separação entre a parte superior e a parte inferior do gráfico é também evidente, bem
como uma separação nítida entre os lados inferior esquerdo e inferior direito.
Esta separação dupla implica que o centro do GRAF. 6 é relativamente vazio.
Voltando a nossa atenção a partir das zonas mais vazias para as mais densas, a rede é
104
organizada em torno de três grupos principais (A, B, C). Três conjuntos menores também
estão presentes no núcleo da rede (M, E, F, L).
A inspeção mais aproximada entre os três principais clusters (A, B e C) revela
diversos sub-clusters, grupos de nós que não podem ser separados dos clusters maiores,
embora sejam claramente distintos. O mapeamento realizado foi feito considerando as
categorias de gestão da natureza em relação à posição e conexão dos atores. Esses nós
formam um anel exterior de aglomerados marginais, como satélites (K, G, I, D, J, H).
Em particular, os nós do cluster A são distribuídos em cinco diferentes sub-
conjuntos (a1, a2, a3, a4, a5) e os nós do cluster de C em três (c1, c2, c3). O cluster B, ao
contrário, é tão denso que não podemos distinguir subclusters. A estrutura da rede pode
ser resumida nas explicações do QUADRO 3:
105
GRÁFICO 6 – Rede separada em clusters e subclusters
Fonte: Dados da pesquisa
106
QUADRO 3 – Estrutura, atores e regularidades dos clusters da rede
Cluster
A
O que caracteriza
Atores
Regularidades
Predominância de
ecologia social
Mais heterogêneo (com
muitos atores
classificados em outras
categorias)
Possui autoridades
informacionais fracas
Subdividida em cinco
subclusters
Movimentos sociais e ONGs
ambientalistas e de direitos
humanos,
principalmente
brasileiras.
Sites principais: MST, MAB, Via
Campesina, CPT, Racismo
Ambiental, Cândido Neto, Telma
Monteiro, Ecodebate Xingu Vivo,
Cúpula dos Povos, Greenpeace,
Iso, International Rivers, Fórum
Br163, Fórum Carajás, Ingá,
Rainforest, Governo do Brasil.
- Memes de protestos e
conflitos sociais, indígenas,
contra
construção
de
barragens,
manifestações
culturais, cursos de agroe-
cologia, educação ambiental,
manejo florestal, evento da
Cúpula dos Povos
Predominância de
Instituições ligadas à ONU e ONGs Memes de reportagens sobre
economia verde
que trabalham com os conceitos conferências,
debates
Mais homogêneo
de economia verde
desenvolvimento sustentável.
e propostos pelas Nações
Unidas, participação de
B
Possui três autoridades
informacionais que
dominam as relações.
Sites principais: ONU, evento
oficial Rio+20, Unep.
cibercidadão em campanhas
ambientais virtuais. Termos:
energias alternativas, limpeza
Não tem subclusters
da água e do ar, seqüestro de
carbono,
biomateriais,
biosoluções, TI verde.
Predominância de
Ecologia Profunda
C
Possui três subclusters.
Fonte: Dados da pesquisa.
ONGs pela preservação de
florestas, movimentos indígenas e
grupos científicos que defendem o
aquecimento global como causado
pelo homem.
Termos científicos, textos
longos, campanhas e apelos
para doação.
5.1 O cluster de ecologia social
O cluster com predominância da categoria de ecologia social se subdivide em
cinco pequenos clusters, que serão descritos a seguir. Essa separação comprova que o
potencial semântico dos fluxos de informações emitidos são aglutinadores de suas posições
na rede. Existe uma coincidência, um padrão informacional que rege as pautas desses
actantes (suas enunciações semióticas chegam a ser repetitivas), o que configura e
fortalece o que podemos chamar de ‘regime de informação’ da ecologia social. Esse regime
se caracteriza pela divulgação de manifestações, protestos e conflitos relacionados a
direitos sociais e humanos, por um lado, e, por outro, reflete a agendas de actantes
107
voltados para a defesa do meio ambiente e dos animais. A constância de eventos, como a
Cúpula dos Povos, e de micro-eventos que configuram um movimento social, como o caso
do Movimento Xingu Vivo, promovem o aumento dos fluxos de informações que fortalecem
o regime.
O caso do a1 sub-cluster e a2 é particularmente interessante. Como esses dois
sub-grupos são tão próximos um do outro, quase não há nenhum espaço vazio entre eles.
Apenas uma diferença de densidade entre os centros e as fronteiras permite distingui-los.
O critério para escolher os actantes que serão descritos a seguir foram, em
primeiro lugar, os sites mais referenciados (que têm mais links em direção a eles por parte
dos outros sites) e com localização estratégica dentro da rede enquanto conectores. Mas,
no caso dos clusters A e C, como não existem autoridades informacionais fortes,
escolhemos alguns sites mais representativos para comentar sobre sua trajetória, lutas e
formas de organização da informação e tipos de conteúdo. Esse esforço foi feito seguindo a
orientação da objetividade de segundo grau de Latour, descrita no capítulo teórico, de dar
voz mesmo aos actantes considerados não tão importantes.
No caso do cluster B, por ser o mais coeso, fizemos uma descrição dos nós
mais fortes. Atentamos também para o papel dos actantes que servem como ponte entre os
clusters mais fortes e da ocorrência de outros clusters menores, que revelam padrões de
circuitos informacionais ligados à eventos, muito comuns para alimentar os regimes de
gestão da natureza.
As observações referentes a cada nó da rede foram em função de sua história e
atuação, da organização da informação do site e da existência, nos conteúdos, de termos
em repetição, geralmente identificados nos títulos das reportagens e em nuvens de tags.
5.1.1 a1 – Ecologia social: ecossocialismo marxista
Embora tenhamos optado por uma união dos sites de ecologia social e
ecossocialismo marxista em apenas uma categoria – ecologia social – os ecossocialistas
marxistas naturalmente se posicionam mais agrupados em a1. Em comum, todos os
actantes descritos a seguir tratam em primeiro plano a questão da agricultura familiar, sendo
a questão ambiental/ecológica abordada de maneira transversal.
108
GRÁFICO 7 – Agrupamento ecossocialista marxista no cluster de ecologia social
Fonte: Dados da pesquisa
Mais à esquerda, acima, está o site do Midia Independente. Esse coletivo se
declara uma rede ‘anticapitalista de produtores de mídia autônomos e voluntários’. É
utilizado para articular protestos de movimentos sociais, como os ‘sem terra’, pessoas
deslocadas por barragens e indígenas. O site está nos idiomas português, espanhol, inglês
e esperanto. Mesmo sendo sua localização um pouco marginal em relação ao cluster A, a
presença desse site na rede significa que o tema da preservação ambiental tem sido
incorporado aos assuntos dos movimentos sociais (de direitos humanos) e na cobertura
independente de mídia, o chamado ‘jornalismo cidadão’.
Já em posição central, nessa ala direita do cluster de ecologia social, estão os
sites de ideologia marxista. Embora não haja grandes autoridades informacionais no cluster
A, ressaltamos em a1 a presença do MST, Comissão Pastoral da Terra Nacional e Via
Campesina.
109
A Comissão Pastoral da Terra (CPT) atua no Brasil desde 1975. Trabalhou com
os atingidos pelos fazendeiros da Amazônia e luta junto a lavradores contra a violência.
Publica anualmente o relatório Conflitos no Campo65 no Brasil, sobre a escravidão e mortes
de camponeses em disputas de terra (seu conteúdo mais importante), que pode ser
considerada a publicação mais oficial desse grupo de actantes. O relatório conta que, de
2010 para 2011, o número de assassinatos diminuiu de 34 para 29. E ressalta que, dentre
eles, apenas dois casos repercutiram na mídia, o casal José Cláudio Ribeiro e Maria do
Espírito Santo, no Pará, e o cacique indígena Nísio Gomes no Mato Grosso do Sul. O que
comprova que esses atores estão atentos para as reações, nas mídias e sociedade, das
informações que emitem.
Podemos considerar esses signos, dos mártires anônimos, como um
representâmen com ausência da força do objeto, pois esse objeto não foi explorado pela
mídia na essência do seu drama. É uma espécie de signo degenerado.
O texto denuncia que o governo Lula, ‘desenvolvimentista’, seguido pela Dilma,
considera indígenas, quilombolas e movimentos sociais como ‘entraves’ ao progresso. Em
2011, foram mais de 600 mil conflitos no campo, entre assassinatos, trabalho escravo e
super exploração. O Brasil tem mais de 851 milhões de hectares de terra66. Os conflitos de
terra geralmente se passam no interior, nos chamados ‘sertões’, e segundo esse relatório,
eles se dão em 14 milhões de hectares e envolvem mais de 600 mil pessoas, segundo a
CPT. Mas, do ponto de vista ‘desenvolvimentista’, 29 assassinatos podem parecer pouco,
por exemplo, frente a mais de 13 mil mortes por acidentes de trânsito no país por ano. E 14
milhões de hectares não correspondem nem a 2% da área total do país
Outra organização transnacional que trabalha a temática ‘conflitos de terra’ é a
Via Campesina, fundada na Nicarágua, em 1992, que desde então se autodenominam o
mais forte movimento social dos campesinos no mundo. Começou reunindo 84 instituições
em 18 países da América Latina e Caribe e atualmente reúne cerca de 150 instituições de
países da África, Europa, Ásia e América67. Surgiu como fruto de uma melhor estruturação
de povos indígenas dos Andes, que se uniram ao levante zapatista em Chiapas, no México,
e às marchas e guerrilhas cocaleras na Bolívia, entre outras injustiças sociais seculares na
América do Sul e Central, como as revoltas indígenas no Peru e Equador. No Brasil, a Via
Campesina é ligada aos movimentos pela reforma agrária e ao MST e o seu trabalho
65 A versão de 2011, disponível em: <http://www.cptnacional.org.br/index.php/component/jdownloads
/finish/43/274?Itemid=23>.
66 Considerando que o pais tem 851.487.659.900 km2, conforme o censo do IBGE.
67 Disponível em: <http://viacampesina.org/es/index.php/organizaciainmenu-44>. Acesso em:
110
transnacional pode ser percebido nos sites mantidos em inglês, português, francês e
espanhol, o que demostra a articulação internacional.
O Movimento Anti-Barragem (MAB)68 atua desde os anos 70, época da
construção das hidrelétricas de Itaipu, bi-nacional com o Paraguai e Tucuruí, no Pará a favor
das famílias que são deslocadas de suas vilas de origem. Pode-se dizer que, nos últimos
trinta anos, com ajuda internacional e aliados ao MST e à Via Campesina, houve um avanço
nas indenizações e processos de mudanças de populações durante construções de
hidrelétricas. Seu site é espaço de denúncia:
O MAB denuncia que nos últimos dias a Companhia de Desenvolvimento dos Vales
do São Francisco e do Parnaíba (CODESVASF) expulsou famílias, destruiu suas
casas e ameaça expulsar centenas de famílias das Colonizações da região atingida
pelo Projeto Gurutuba, na região norte de Minas Gerais. (MAB, 2012, on-line)
Nos títulos das reportagens do site do MAB (e de outros atores de a1) a
ocorrência de notícias de conflitos sociais pode ser considerada um padrão informacional
que reforça a existência do esforço de gestão da natureza pela ecologia social:
“Camponeses e operários lançam Manifesto sobre as concessões do setor elétrico”;
“Moradores de comunidade bloqueiam transamazônica para exigir medida de segurança
contra acidentes”; “O agronegócio é o grande inimigo do Brasil e da democracia”; e “Guerra
no Xingu” são índices de intensa luta política. São promovidos seminários de
conscientização nas comunidades atingidas por barragens com toda sorte de
acompanhamento jurídico, psicológico e social.
Outro site bem referenciado em a1 é o Brasil de Fato, dos jornalistas Heitor
Scalambrini, Elaine Tavares e João Brant. Pautam fatos ignorados pelas grandes mídias e,
assim como também é prática nos circuitos de informação em rede do CPT, realizam cursos
de formação ‘ideológica’ dos jornalistas e simpatizantes69. Suas matérias se transformam
em memes nos outros sites desse subcluster.
Ainda no subcluster a1, encontramos o blog Censored News70, do movimento de
resistência indígena norte-americano, feito pela jornalista Brenda Norrell (GRAF.8). Ela
trabalha na divulgação de informações para populações nativas há mais de 30 anos. Na
rede, a importância desse blog é grande pois conecta os subclusters a1 e a2 da ecologia
social, sendo referenciado pelo site Ingá.
68 MOVIMENTO DOS ATINGIDOS POR BARRAGENS – MAB. 2012. Disponível em:
<http://mabnacional.org.br/>. Acesso em: 23 set. 2012.
69 Disponível em: <http://www.brasildefato.com.br/cursos>. Acesso em: 30 out. 2012.
70 Disponível em: <http://bsnorrell.blogspot.fr/>. Acesso em: 31 out. 2012.
111
GRÁFICO 8 – Relações da actante Brenda Norrell
Fonte: Dados da pesquisa
A contradição entre desenvolvimento econômico e conflitos de terras indígenas
e quilombolas é controvérsia recorrente no cluster A. O EcoDebate, também bem
referenciado por outros sites, é coordenado pelo ambientalista Henrique Cortez e funciona
desde agosto de 2005. São 30 colaboradores que alimentam o boletim diário por e-mail
para mais de 8.200 pessoas, com até 18 matérias por dia. Os fluxos de conhecimento
processados por esse site se originam no mundo da vida, repercutem em vias
informacionais já instituídas e refletem em novas publicações. O boletim diário e sua alta
receptividade é signo da existência do regime de informação da ecologia social, é uma via
já demarcada e utilizada.
O processo de significação se desenvolve assim: Henrique faz a seleção das
informações a partir de interações do grupo em lista de discussão fechada. Como os
participantes possuem outros engajamentos sociais e profissionais, isso possibilita a
ampliação das vias para os fluxos de informação, não só das informações que são
selecionadas, mas também da replicação do boletim em outros ambientes informacionais.
Há ainda os colaboradores que não participam dessa lista de discussão fechada, como o
caso de dois pesquisadores da Embrapa, que enviam dois artigos por mês.
Continuando o processo, dependendo da repercussão, assuntos já divulgados
podem ganhar novas abordagens. Foi o caso da Rio+20. O EcoDebate publicou mais de
400 textos desde um ano antes sobre a conferência, configurando um padrão de repetição
informacional. Mas, a cobertura foi mais voltada para a Cúpula dos Povos e os eventos
paralelos, onde estavam as ONGs, centros de pesquisas e universidades, do que para o
próprio evento oficial. O que denota que o discurso oficial da ONU não foi muito absorvido,
embora negado, entre os atores da ecologia social.
112
A equipe de Henrique produz a revista “Cidadania e Meio Ambiente”, bimestral,
com 30 mil exemplares distribuídos gratuitamente, que teve número especial para a Rio+20,
outro signo de que existe uma via informacional instituída no regime informacional da
ecologia social. Segundo Cortez71, o público alvo são “dirigentes, funcionários das áreas de
Comunicação, Responsabilidade Social e Meio Ambiente, professores e alunos do Ensino
Médio e militantes dos movimentos sociais e membros do Ministério Público”: todos os
sujeitos informacionais potencialmente prontos a reagir, validar e ou transformar a
mensagem recebida.
A revista é produzida em parceria com a Câmara de Cultura72, Organização da
Sociedade Civil de Interesse Público(OSCIP) que possui patrocínio do governo brasileiro e
da Eletrobrás – Centrais Elétricas Brasileiras S.A, a principal empresa de energia do Brasil,
parceira da Eletronorte na construção da usina de Belo Monte. Isso, por si só, representa
uma controvérsia. O EcoDebate critica em vários artigos73 a construção da usina de Belo
Monte, por outro lado, a Câmara de Cultura, co-produtora da revista Meio Ambiente e
Cidadania e parceira do EcoDebate, é patrocinada pela Eletrobrás. Questionado sobre isso,
Cortez respondeu:
Essa é uma equação complicada no jornalismo, é evidente que você vai ter
anunciantes que conflitam com o que você publica, mas isso é saudável na medida
em que há conflito. Por exemplo, se você não alinha sua linha editorial com a do
anunciante, é positivo, você afirma a sua independência Nenhum dos nossos
anunciantes nunca tentou pressionar, ou censurar, ou alguma coisa parecida
(informação verbal)74
Isso é um conflito pragmático, uma controvérsia, pois ao mesmo tempo que o
jornalista afirma que a pauta não se adapta ao patrocinador, nos faz questionar porque o
patrocinador aceita pagar a promoção dessa discussão. Esse fato comprova a tese de
Venturini (2012a, p. 5) que os opostos sempre estão em diálogo próximo, para se
contraporem.
Dois ativistas que participam do EcoDebate e possuem seu próprio blog são
Telma Monteiro e Rogério Almeida. “Energia elétrica, ambiental e socialmente limpa” é o
slogan do blog de Telma, ‘pesquisadora independente na área de energia elétrica e infra-
71 Henrique Cortez, em entrevista por skype para essa pesquisa
72 Disponível em: <http://camaradecultura.org/>. Acesso em: 9 dez. 2012.
73 Veja as matérias: “Entidades manifestam seu posicionamente contra Belo Monte e contra a discussão
de condicionantes/mitigação”. Disponível em: <http://www.ecodebate.com.br/2012/03/26/entidades-
expressam-seu-posicionamento-contra-belo-monte-e-contra-a-discussao-de-
condicionantesmitigacoes/>. Acesso em: 9 dez. 2012; e “Belo Monte e seu rastro de caos e destruição”.
Disponível
em:
<http://www.ecodebate.com.br/2012/04/19/belo-monte-e-seu-rastro-de-caos-e-
destruicao/>. Acesso em: 9 dez. 2012.
74 Henrique Cortez, em entrevista por skype para essa pesquisa
113
estrutura na Amazônia’, segundo seu perfil no Twitter75. Ela divulga textos opinativos contra
as construções das hidrelétricas de Belo Monte, Santo Antonio e Jirau e Complexo de
Tapajós e coloca o tema da geração de energia de um ponto de vista social.
Telma demonstra boa articulação com os movimentos sociais organizados
contra as grandes obras desenvolvimentistas na Amazônia. Tem uma lista de links
recomendados, entre eles o blog Língua Ferina, escrito desde 2007 por Cândido Cunha
Neto, engenheiro agrônomo que vive em Santarém, no Pará, o que significa a sua boa
interação nos ambientes digitais da ecologia social.
O blog de Cândido Neto é de tom bem opinativo, é mais uma voz na rede de
formação de crenças contra as hidrelétricas e a exploração dos povos indígenas, com
notícias locais. Segundo ele, sua preocupação é “escrever e acompanhar alguns problemas
agrários, ambientais e sociais que surgem a cada momento por toda a Amazônia”76. Ao
visitar seu blog, notamos que ele comenta também fatos globais, com reportagens, por
exemplo, sobre a política nacional, revolução no Egito, Wikileaks etc. A linha editorial nem
sempre é clara em blogs autorais, mas por outro lado, essa diversidade entre assuntos
locais e globais coloca o ambiente informacional em vias bi-direcionais, como uma ponte
entre pequenas localidades e o mundo.
Os blogs de Candido Neto, Rogério Almeida e Telma Monteiro, enquanto
colaboradores e replicantes de conteúdos do EcoDebate, são exemplos do que pode ser o
diagrama da liquidez dos atores no fluxo magmático dos fenômenos sociais que se
processam nas redes (explicado no capítulo teórico). Muitos nós podem se fundir em um só,
e ao mesmo tempo uma explosão de conflitos em um mesmo nó pode desmembrá-lo em
outros (VENTURINI, 2012a, p.13).
Em a1 temos as católicas Cáritas e Adital. A Cáritas é uma instituição ligada a
igreja católica, que promove eventos e assistência social. Seus principais focos são sociais:
direitos de trabalhadores domésticos, economia solidária, demarcação de terras indígenas,
entre outros. Por terem uma boa estrutura física, promovem eventos e encontros, como a 3ª
Jornada Franciscana pelos Direitos Humanos. Em 2012, apoiaram 16 ‘projetos de
solidariedade’ no Brasil77. No Peru, empregam biólogos e cientistas sociais que trabalham
junto as populações locais a fim de minimizar os impactos do garimpo78 e deslocamentos de
populações, como é o caso da entrada dos haitianos no Brasil pela floresta
75 Disponível em: <https://twitter.com/search/%40TelmaMonteiro>. Acesso em: 9 dez. 2012.
76 Disponível em: <http://candidoneto.blogspot.com.br/2011/12/lingua-ferina-4-anos.html>. Acesso em: 8
dez. 2012
77 São projetos relacionados a terra, meio ambiente, agroecologia, formação de lideranças, saúde
indígena, atividades religiosas etc.
78 Vídeo sobre os garimpos na Amazônia. Disponível em: <http://chipebra.sertaobras.org.br/?p=803>
114
amazônica.79Nesse sentido, a Cáritas também se constitui um ambiente informacional que
dá visibilidade para assuntos locais em vias de informação transnacionais.
Ligado à Cáritas está o site Racismo Ambiental, outro ator mediano de a1.
Instrumento de comunicação para o grupo de trabalho (GT) ‘Combate ao Racismo
Ambiental’, criado em 2005 no encontro da Rede Brasileira de Justiça Ambiental, o site
começou a ter uma rotina de mais de cinco publicações diárias em 2009. Os conteúdos são
informações sobre os conflitos e processos políticos de resistência por entidades e
indivíduos.
O blog do GT é mantido por Tânia Pacheco que, salvo feriados, sábados e
domingos, envia para mais de 200 e-mails cadastrados dois boletins diários com notícias
recebidas dos colaboradores. Ao todo, são 60 entidades, a maioria pequenas associações
que lidam com problemas de racismo em vários estados que enviam e recebem
informações para formar essa publicação. Na Carta de Fortaleza, assinada por todas essas
entidades, a injustiça social e ambiental simboliza a “disputa pelo território e capitalismo”:
De um lado, eles evidenciam as diversas formas de violência que vêm sendo
enfrentadas pelas populações tradicionais; de outro, dão conta também da rica
resistência que elas estão estabelecendo frente aos que buscam dizimá-las em
nome de um suposto “progresso”, social e ambientalmente injusto. Esse processo
tem culminado na constituição dessas populações como sujeitos políticos, na luta
pela garantia dos territórios, autonomia e soberania dos povos. (PACHECO, 2012,
on-line)80
O Racismo Ambiental é próximo, no gráfico, ao Fórum Carajás, rede de
entidades do Maranhão, Pará e Tocantins que promovem atividades de sensibilização da
opinião, como formação de lideranças e audiências públicas. Segundo o site, o fórum surgiu
em 1992 como resposta aos grandes projetos de mineração. São articulados com entidades
não-governamentais da Alemanha e outras regiões do Brasil e do mundo. Com escritório em
São Luiz do Maranhão, seu site divulga notícias de vários outros pequenos jornais,
movimentos sociais e comunidades, sempre no sentido de dar voz às populações
tradicionais, mas conectado com a esfera transnacional, se transformando em um tradutor
de pequenas vias informacionais, locais, para contextos nacionais e internacionais.
A interação entre vias de informação internacional e local é percebida pelos
títulos das reportagens: “Projetos de irrigação fracassados perpetuaram a seca no
Maranhão", do Jornal Pequeno; "Solidariedade internacional pela tribo dos Awá do
Maranhão", da ONG Survival International, além de uma matéria sobre as quebradeiras de
coco babaçu, que hoje vendem seus produtos para outros países, como Itália e Estados
Unidos, redigida pela Articulação Nacional de Ecologia. Isso comprova que os regimes de
79 Disponível em: <http://chipebra.sertaobras.org.br/>.
80 PACHECO,
Tânia.
Combate
racismo
ambiental,
2012.
Disponível
em:
<http://racismoambiental.net.br/ii-seminario/carta-de-fortaleza/>. Acesso em: 10 jul. 2012.
115
informação que fazem a gestão da natureza pelo viés da ecologia social são vitrines para
expor a realidade local em espaços internacionais.
5.1.2 a2 – O lado mais heterogêneo da ecologia social
Esse subcluster (GRAF.9) possui sites que desenvolvem trabalhos no sul e
planalto central do Brasil. É mais heterogêneo que a1, seus integrantes não têm a mesma
militância política associada à ideologia marxista e sim uma militância ambiental que não
entra em política e direitos humanos. Esse subcluster tem a presença de muitas ONGs da
ecologia profunda: os sites do Conselho Nacional da Reserva da Biosfera da Mata Atlântica,
da Agência de Notícias de Direitos dos Animais (ANDA), da internacional People for the
Ethical Treatment of Animals (Peta), que também milita pelos animais e a Rain Forest
Foundation, que apoia a criação de territórios indígenas nos países tropicais.
GRÁFICO 9 – Agrupamento à direita dentro do cluster de ecologia social
Fonte: Dados da pesquisa
116
O regime informacional que percebemos nesse cluster é ancorado mais em
informações em defesa da natureza e dos animais (muitos atores classificados como
ecologia profunda) do que dos direitos dos humanos. Suas agendas incluem eventos e
campanhas para arrecadação de doações.
Esse cluster está bem mais próximo do cluster com predominância de economia
verde que o subcluster a1, descrito anteriormente. O que é índice dos diálogos da ONU com
diversas instituições ambientalistas do Brasil.
Os dois sites mais referenciados são Inga e o site da Reserva da Biosfera da
Mata Atlântica (RBMA). Inga é uma ONG socioambientalista fundada por biólogos em 1999,
com sede em Porto Alegre, que desenvolve projetos locais na bacia do rio Uruguai e divulga
questões nacionais, como a luta pelo veto ao código florestal. Incentivam a valorização de
produtos da culinária nativa em parceria com o Ministério da Agricultura, Pecuária e
Abastecimento (MAPA).
As ONGs do sul do Brasil, em destaque, são o Instituto Econsciência81, fundado
em 1990, em Porto Alegre, que se diz “de caráter ambientalista, científico, cultural e
educativo”. Embora o caráter ‘cultural e educativo’, foi classificado como ‘ecologia profunda’,
por ter como ação principal um projeto de conservação em área particular e por ter seu
design voltado para insetos e natureza. Outro blog conservacionista, que apoia o movimento
contra agrotóxicos no sul do Brasil, é do ambientalista Darci Bergman82, da Associação São
Borjense de Proteção ao Ambiente Natural, no Rio Grande do Sul.
O Portal da Reserva da Biosfera da Mata Atlântica é o site da instituição que
administra a maior área de reserva florestal do planeta, do Rio Grande do Sul ao Ceará,
reconhecida pela UNESCO em cinco processos distintos de 1991 a 200283. (Isso também
comprova a ligação desse subcluster com os trabalhos da ONU). Funciona em rede com
outras reservas das biosferas do Cerrado, Pantanal, Caatinga, Amazônia e o cinturão verde
de São Paulo. Com recursos da ONU, desenvolvem o ecoturismo, recuperação de
nascentes e possuem acervo de informações biológicas sobre os biomas, de caráter
notadamente conservacionista.
A lista de links tem instituições internacionais como WWF, Conservação
Internacional e IUCN, e outras bem locais, como a Fundação Matutu e o grupo ambientalista
baiano Gambá, talvez o que explique sua localização mais conectada dentro do cluster da
ecologia social, e não da ecologia profunda ou economia verde.
81 Disponível em: <http://econsciencia.org.br/site/index.php>. Acesso em: 15 nov.2012.
82 Disponível em: <http://darcibergmann.blogspot.fr/>. Acesso em: 15 nov. 2012.
83 Disponível em: <http://rbma.org.br/rbma/rbma_1_textosintese.asp>. Acesso em: 12. nov. 2012
117
Outra conservacionista inserida no cluster da ecologia social é a Agência de
Notícias de Direitos dos Animais (ANDA), que se intitula ‘o maior portal de notícias sobre
animais do mundo’. Os conteúdos são principalmente denúncias contra maus-tratos e
apelos pela adoção de animais. Na mesma linha editorial, mas mais voltado para o
vegetarianismo, o site da ONG canadense People for the Ethical Treatment of Animals(Peta)
não possui conexão com a ANDA. Seu site faz campanhas internacionais e a estrela
principal é Paul McCartney. São contra o uso de golfinhos em shows de entretenimento e
contra a criação industrial de frangos do Mc Donald’s. Os discursos dessas duas ONGs
lembram o que diz Latour sobre o primeiro imbróglio da Ecologia Política – ela quer falar da
natureza, mas acaba falando de porcos, galinhas e vacas (Cap. 2, p. 18).
A Rain Forest Foundation84 é uma ONG conservacionista inserida no cluster de
ecologia social (agrupamento da direita) que utiliza imagens de paisagens das florestas
tropicais em seus processos de convencimento. Foi fundada em 1989 pelo cantor Sting e a
maior vitória foi a homologação das terras indígenas Kayapós no Brasil, em 1993, pelo
presidente Fernando Collor. Trabalham em mais de 20 países da África e Américas Central
e Sul. Publicam, nos relatórios anuais, os nomes de todos os doadores, separados entre
individuais e empresas, e os valores das doações. Isso é uma forma de agregar valor aos
processos semióticos de convencimento, para transformar o sujeito informacional em
doador, que se sentirá motivado vendo que outras pessoas já aderiram. Isso se traduz em
uma receita concreta, em 2009/2010, que chegou a movimentar mais de um milhão de
dólares85 que são utilizados conforme descrito nas planilhas de gastos publicadas pela
ONG, outras estratégia de agregar o valor da transparência a suas ações. Os links e
campanhas para doação são um elemento de repetição constante nos sites classificados
como ecologia profunda.
A maior parte dos trabalhos da Rainforest consiste em educação e
empoderamento de lideranças indígenas. Isso pode ser compreendido como um processo
de semiose onde os índios passam a ter noções do valor cultural e econômico de seus
territórios e se tornam mais capazes para pressionar esferas de decisão nacional, motivados
por um ator internacional. Segundo o presidente Todd Crider, com essa estratégia
conseguiram conservar 28 milhões de hectares de florestas. Embora tenha conteúdos muito
bem produzidos e ilustrados, não há atualização dinâmica de notícias, a média é de uma por
mês86. Seu trabalho de formação de lideranças junto aos kayapos deu ao cacique Raoni
projeção internacional, enquanto na mídia nacional brasileira ele não tem espaço, o que
84 Disponível em: <http://www.rainforestfoundation.org>. Acesso em: 20 dez. 2012.
85 Disponível em: <https://www.box.com/s/yz4oipy2k211gli5u015>. Acesso em: 20 dez. 2012.
86 Disponível em: <http://www.rainforestfoundation.org/news>. Acesso em: 20 dez. 2012.
118
comprova que assuntos pautados por essas pequenas vias informacionais da ecologia
social funcionam como promotores de uma determinada causa, via outras instituições
internacionais que estão atentas, mas ainda não têm muita repercussão em mídias de
massa. A localização da Rain Forest pode ser explicada no cluster de ecologia social por
manter aberta essa via informacional local/global, entre territórios indígenas brasileiros e
interesses estrangeiros.
Os actantes da ecologia profunda são os mais dispersos na rede, imiscuídos em
comunidades da ecologia social e da economia verde. Outra ONG que promove fluxos de
informação em território locais e globais é a Friends of Earth Internacional, que se denomina
a maior rede ambiental do mundo. São 74 grupos nacionais membros e cerca de 5 mil
grupos de ativistas locais em todos os continentes, com mais de 2 milhões de membros.
Incentiva a participação virtual:
With one simple email, wich takes no more than a couple of minutes to send, you
can make a difference to the lives of people across the globe struggling against a
multitude of injustices. [...] What difference can one email make? A whole lot when
added to thousand of others emails from around the world making the same
demands. The more emails, the louder voice of protest becomes and the more
difficult it is to ignore.87
Isso comprova que a ONG tem uma estratégia informacional de gestão da
natureza em que tenta transformar o usuário desinteressado (o flaneur descrito por
Manovich – ver Cap. 3 p. 51) em alguém engajado. O convite não significa apenas um
simples e-mail, necessário para atender ao apelo do take action. É preciso se cadastrar, ter
um login e uma senha, ou seja, o usuário estabelece uma conexão com o site, que pode
resultar na assinatura de uma newsletter. Portanto, o apelo que pode parecer
desinteressado, em troca de uma causa da natureza, se transforma num engajamento mais
sólido entre sujeito informacional e a instituição que o acolhe.
As notícias são escritas por uma equipe de jornalistas profissionais, com
atualização quase diária, o que comprova que essas vias informacionais já são bem
construídas. As mensagens são replicadas em diversos idiomas.
Embora a gestão dessa ONG seja empresarial e seus fins conservacionistas, os
temas das campanhas são tipicamente da ecologia social, como o Word Food Day, um dia
para lembrar que quase um bilhão de pessoas passam fome no mundo, apesar da comida
produzida ser suficiente, mas não há boa distribuição. Campanhas para encontrar ativistas
87 Disponível em: <http://foie.org/en/who-we-are>. Acesso em: 15 dez. 2012. Com um simples e-mail, que
não leva dois minutos para enviar, você pode fazer a diferença para a vida das pessoas, no mundo, que
lutam contra uma infinidade de injustiças. [...] Que diferença pode fazer um e-mail? Quando adicionado
a milhares de e-mails de outros, fazendo as mesmas exigências. Quanto mais e-mails, a voz de protesto
fica mais forte e torna-se mais difícil ignorar. (Tradução nossa)
119
desaparecidos, como a One year on, where is Sandra?, sobre o sumiço de Sandra Galeggo,
uma ativista da ONG na Guatemala.
Mas, há um caso nesse subcluster de ‘desconexão internacional’. A Fundação
Gaia, criada em 1987 pelo ambientalista José Lutzenberger (1926-202), não está conectada
à importante Gaia Foundation. Ministro do Meio Ambiente no governo de Fernando Collor
(período em que o Brasil decretou o maior número de áreas protegidas e territórios
indígenas, no auge da conferência de 1992 no Rio de Janeiro), Lutzenberger pregava a
chamada ‘agricultura ecológica regenerativa’, contra os transgênicos e contra a ecologia
profunda. Embora ele tenha sido co-fundador da Gaia Foundation88 em meados dos anos
1980, junto a Vandana Shiva e outros ambientalistas, percebe-se que a fundação Gaia no
Brasil tomou um rumo bem local, não tem projetos em comum com instituições
internacionais, nem há conexão entre elas na rede (a Gaia Foundation está localizada no
cluster K, como veremos adiante, conectada no Brasil ao Movimento Evolutivo Pacto de
Resgate Ambiental89).
Entre os sites da economia verde no cluster a2 (GRAF.10) está o site O Eco, de
uma associação de mesmo nome dirigida pelos jornalistas Sérgio Abranches, Kiko Brito e
Marcos Sá Correa, que se desponta na rede como um ego desse subcluster. Desde 2004, já
publicaram mais de 20 mil matérias. Sua estrutura de funcionamento pode ser considerada
empresarial, se comparada à estrutura de alguns blogs citados anteriormente, que
funcionam quase que só em ambiente virtual. Têm editores, fotógrafos, gerente de projetos,
repórter, colunistas, entre outras especialidades, que faz o expediente do site parecer o de
uma revista especializada. É parte da Guardian Environment Network, rede de blogs em
torno do tema ambiental que têm seus conteúdos destacados pelo jornal The Guardian. O
site não pede doações e declara que recebe verbas de várias instituições nacionais e
estrangeiras. Pode ser considerado o site mais estruturado entre os brasileiros, em termos
jornalísticos e um emissor de novas ideias – da economia verde – entre actantes da
ecologia social e da ecologia profunda.
88 Disponível em: <http://gaiafoundation.org>. Acesso em: 15 dez. 2012.
89 Disponível em: <http://pactoderesgateambiental.org>. Acesso em: 15 dez. 2012.
120
GRÁFICO 10 – Rede egocentrada no site O Eco
Fonte: Dados da pesquisa
A presença desse ator nessa localização confirma a tendência do movimento
ambientalista de começar a versar mais sobre o tema da energia, clima, planejamento de
cidades e desenvolvimento sustentável. A ONU é constantemente citada de forma positiva
em reportagens. Os títulos denotam as famílias semânticas que reforçam a gestão da
natureza da economia verde: ‘Economia verde é retorno garantido’, ‘ECO92 à Rio+20: parte
III, a utopia amaina, mas persiste”, “Operação onda verde varre desmatamento da
Amazônia”. Em defesa da economia verde, Sérgio Abranches (2008, on-line) afirma: “O
século XX morreu e, com ele sua indústria e sua principal fonte de energia”90. E, no artigo
que avaliou a Rio+20, a seguinte frase reforça a controvérsia do conceito:
A dita nova “economia verde”, de baixo carbono, em boa medida sustentada na
combinação de novas tecnológicas e crescimento econômico fundamentado na
redução da pressão sobre os recursos naturais e os serviços ambientais do planeta,
valorizando-os, é outro promissor avanço dos últimos tempos. Mas, sem qualquer
ceticismo quanto às suas potencialidades, é necessário reconhecer que estas não
90 ABRANCHES, Sérgio. Da crise sairá a nova economia. 2008. Disponível em:
<http://www.oeco.com.br/sergio-abranches/19904-da-crise-saira-a-nova-economia>. Acesso em: 12 jan.
2013.
121
andam par e passo com a expansão do consumo mundial decorrente da justa
inclusão de milhões de pessoas à economia de mercado, como acontece no Brasil,
Índia e China, por exemplo. (MILANO, 2012, on-line)91
5.1.3 a3 – Xingu Vivo e International Rivers
Esse subcluster (GRAF.11) é dominado pelo movimento Xingu Vivo e denota a
ligação entre entidades locais do norte e nordeste do Brasil com ONGs transnacionais,
como a International Rivers e a Conservation Strategy.
GRÁFICO 11 – Subcluster a3
Fonte: Dados da pesquisa
São actantes que trabalham em colaboração. O Xingu Vivo, no fluxo dos
magmas das relações, é via central de informações para um coletivo de organizações
sociais ambientalistas da região de Altamira que historicamente se opuseram à instalação
da barragem de Belo Monte no rio Xingu. Seu site tem PageRank 5 e é linkado por 298
outros sites, segundo o índice Alexa. Sua atualização é diária e utiliza widgets de redes
sociais (Facebook e Twitter) e vídeos de sensibilização pública, como o do menino indígena
91 MILANO, Miguel. ECO92 à Rio+20: parte III, a utopia amaina mas persiste. 2012. Disponível em:
<http://www.oeco.com.br/convidados-lista/26156-eco92-a-rio20-parte-iii-a-utopia-amaina-mas-persiste>.
Acesso em: 12 jan. 2013.
122
pedindo a presidenta Dilma que impeça a construção de Belo Monte, que replicou como
meme em outros sites.
O conceito de economia verde para o Xingu Vivo é negativo, pela contradição de
grandes barragens serem consideradas positivas, sendo que nos quesitos culturais e
humanos elas são negativas:
Ademais, a caracterização de barragens como “energia limpa” para uma economia
verde que parece fazer parte de uma tendência para “soluções de mercado” definido
pelos interesses dos principais atores do setor privado, onde a relevância dos
direitos humanos, políticas públicas e das instituições democráticas tem sido cada
vez mais menosprezada. (MILLIKAN, 2012, on-line)92
Outros blogs importantes que tratam dessa questão são os de Telma Monteiro,
com o slogan “Energia elétrica, ambiental e socialmente limpa” e Cândido Neto, o Língua
Ferina, que trouxe a reportagem “Economia verde e alterações no Código Florestal facilitam
a internacionalização da terra”, com essa significativa ilustração da terra transformada em
código de barras. (FIG. 10).
FIGURA 10 –Terra transformada em código de barras
Fonte: CUNHA NETO, 2012.93
92 MILLIKAN, Brent. Além do mito das barragens como “energia limpa”, 2012. Disponível em:
<http://www.xinguvivo.org.br/2012/06/06/alem-do-mito-das-barragens-como-energia-limpa-por-brent-
millikan/>. Acesso em: 18 jun. 2012.
93 CUNHA NETO, Cândido. Economia verde e alterações no Código Florestal facilitam a
internacionalização da terra. 2012. Disponível em: <http://candidoneto.blogspot.com.br/2012/07/
123
A mesma linha negativa para o conceito segue o blog de Rogério Almeida, O
Furo. Ele explica no título do blog sua motivação, a esperança de construir um canal de
informação entre um ambiente local e outro global:
Furo na geografia é o canal de comunicação entre um rio e seu afluente. No
jornalismo é o gol de placa, o fato anunciado em primeira mão. O Furo em questão
deseja ser um canal de comunicação entre a Amazônia e o resto do mundo.
(ALMEIDA, 2012,on-line)94
Almeida (2012) recebeu e respondeu o comentário para seu artigo intitulado:
“Economia verde, existe?”, mostrando a necessidade da ‘vigilância’, do estar atento ao que
está acontecendo na gestão da natureza.
FIGURA 11 – Comentários do blog de Rogério Almeida
Fonte: ALMEIDA, 2012, on-line.95
A frase deixada no comentário revela a síntese do conceito de economia verde
por uma usuária, que talvez já tenha percorrido outros blogs desse lado da rede para formar
a sua crença.
Outro destaque que segue essa linha contra a economia verde e a política
desenvolvimentista de Lula e Dilma é o blog ‘Como estão as coisas por aqui’96, da pedagoga
e mestra em Extensão Rural Adrica Coelho. Publicação independente, desde 2009 divulga
informações sobre o que acontece no Pará, especialmente nas regiões do rio Tapajós e
Xingu. Faz cobertura fotográfica íntima das localidades: garimpos ilegais, conflitos de terras,
economia-verde-e-alteracoes-no-codigo.html>. Acesso em: 3 ago. sto de 2012.
94 ALMEIDA, Rogério. Furo. Disponível em: <http://rogerioalmeidafuro.blogspot.com.br/>. Acesso em: 30
out. 2012.
95 ALMEIDA, Rogério. Economia verde existe?. Disponível em: <http://rogerioalmeidafuro.blogspot.com.
br/2012/02/economia-verde-existe.html>. Acesso em: 4 abr. 2012.
96 Disponível em: <http://forumbr163.blogspot.fr/>. Acesso em: 10 dez. 2012.
124
extração ilegal de madeira etc. É um radar local/global de todas as notícias em torno, pois
utiliza o RSS de mais 40 sites e blogs relacionados, desde as de caráter nacional, como
MST, MAB e CPT a outras mais ‘locais’, como o Colegiado de Desenvolvimento Territorial
da BR 163.
Nesse subcluster (GRAF.12) temos exemplos de inserção semântica dos
conceitos de economia verde como algo positivo pelo Instituto Socioambiental (ISA), que faz
a conexão entre a1, a2 e a3. Em relação à rede inteira, está numa posição central, o que
não surpreende, por sua importância histórica no movimento ambientalista brasileiro.
Formado em 1991, com membros importantes como Eduardo Viveiro de Castros e João
Paulo Capobianco, recebem verbas de parceiros internacionais como a Interchurch
Organization for Development Cooperation97 e Norwegian Church Aid98, a Embaixada da
Noruega, a Fundação Gordon & Betty Moore, as Nações Unidas e a Rainforest Foundation.
No Brasil, recebe ajuda da Fundação Banco do Brasil, Natura, da Vale do Rio Doce e
outras. Entre os parceiros que doam recursos para projetos, a maioria é de actantes bem
locais, como a Associação das Mulheres Indígenas da Bacia do Içana e a Associação
Remanescentes de Quilombo do Bairro Ivaporunduva (entre outros). Do ponto de vista do
pragmatismo, publicar os nomes dos patrocinadores internacionais dá legitimidade ao
trabalho do ISA, por outro lado, publicar o nome de pequenas instituições prova aos
parceiros globais que a favorece pequenas comunidades. Outro fato agregador de
credibilidade para essa ONG, que talvez seja a mais importante no contexto atual no Brasil,
é que seu site funciona como um banco de notícias da questão ambiental e repositório de
conteúdos geográficos e sócio-culturais das florestas e populações indígenas.
Embora o foco principal seja a questão indígena, outros conteúdos relacionados
à gestão da natureza pela economia verde são recorrentes no site. A matéria ‘Resolução
abre caminho para que consumidores gerem sua própria energia’99, que esclarece as
vantagens dos consumidores investirem em geradores de energia, atividade regulamentada
por lei, com crédito da Informação dada ao Greenpeace. Isso já denota uma proximidade
discursiva com a economia verde, uma presença que pode disseminar uma tendência
positiva para o conceito, como o site O Eco.
97 Disponível em: <www.icco.nl>. Acesso em: 10 dez. 2012.
98 Disponível em: <www.nca.no>. Acesso em: 10 dez. 2012.
99 Disponível em: <http://www.socioambiental.org/nsa/detalhe?id=3713>. Acesso em: 13 dez. 2012.
125
GRÁFICO 12 – Rede ego-centrada no Instituto Socioambiental
Fonte: Dados da pesquisa
5.1.4 a4 – Cúpula dos Povos
Foi o evento paralelo à Rio+20, no Rio de Janeiro, organizado pelos
movimentos sociais do Brasil, no mesmo período do evento oficial das Nações Unidas e
com o objetivo de ser um protesto contra as negociações oficiais. O grupo que organizou
esse evento, auto intitulado de Comitê Facilitador da Sociedade Civil Brasileira para a
Rio+20 (CFSC) é composto de 33 redes e organizações de representação nacional.
Algumas delas são fortemente marcadas pelo caráter religioso.
126
GRÁFICO 13 – Subcluster a4
Fonte: Dados da pesquisa
A Comissão Brasileira de Justiça e Paz é um braço da Conferência Nacional
dos Bispos do Brasil (CNBB), criado em 1968, no período da ditadura militar. Participante
da Cúpula dos Povos, seu site traz mais informações sobre direitos humanos e sociais do
que ambientais. É o mesmo caso do Sefras e do Portal Ecumênico, ambas participantes da
global ACT, uma rede global de ajuda humanitária e apoio à projetos de desenvolvimento
social. Movimentam 130 igrejas e associações relacionadas, com uma equipe de 30 mil
pessoas pelo mundo. Esses últimos sites utilizam basicamente imagens de manifestações
sociais, crianças em situação de fome e campanhas por melhor acesso a tratamento de
doenças nos processos de convencimento dos seus leitores.
127
FIGURA 12 – Imagens de protestos, crianças e medicamentos, nos sites de a4
Fonte: Cúpula dos Povos, Comissão brasileira de Justiça e Paz e Actalliance100
Esse agrupamento (FIG. 12) de sites revela que o regime de gestão da natureza
da ecologia social é bem articulado, embora não possua nós fortes nem autoridades
informacionais excessivamente referenciadas. As vias, por onde percorrem as mensagens,
são mais estreitas, mas o alcance é grande, se considerado o elevado número de entidades.
5.1.5 a5 – Governo do Brasil
Subcluster (GRAF.14) centrado no site oficial do governo brasileiro, referenciado
pelo Institut National de la Recherche Agronomique da França, pelo governo de Bogotá e
pelo Forest Stewardship Council, que promove certificação de manejo florestal.
100 CÚPULA DOS POVOS NA RIO+20 POR JUSTIÇA SOCIAL E AMBIENTAL. 2012. Rio de Janeiro.
Disponível em: <http://cupuladospovos.org.br/>. Acesso em: 5 jul. 2012.
COMISSÃO BRASILEIRA JUSTIÇA E PAZ – CBJP. 2013. Brasília. Disponível em:
<http://www.cbjp.org.br/>. Acesso em: 3 ago. 2012.
ACT Alliance. 2013. Disponível em: <http://www.actalliance.org/>. Acesso em: 23 abr. 2012.
128
GRÁFICO 14 – Subcluster a5
Fonte: Dados da pesquisa
Esse agrupamento de sites é um pouco marginal no cluster de ecologia social,
mas pode ser considerado central em relação à rede inteira. Nele estão os sites do Instituto
Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA) e dos
Ministérios do Desenvolvimento Agrário (com forte apelo para a agricultura familiar em sua
página inicial) e do Desenvolvimento Social, que nos últimos anos no Brasil se destaca por
política de combate à pobreza (bolsa família, bolsa escola etc.).
Embora o governo do Brasil seja reconhecido pela ONU por seu trabalho de
combate à pobreza, é atacado em fluxos de informação negativos à sua imagem pela
maioria dos sites de a1 e a3, principalmente pela construção da hidrelétrica de Belo Monte
(GRAF.15). A Norte Energia, composta por capital estatal e privado, é a empresa que
venceu a licitação para construção. Mantém um blog, um pouco deslocado na rede (não é
citado por nenhum ator), mas que cita o IBAMA e o site oficial do governo brasileiro:
129
GRÁFICO 15 – Rede em torno do blog oficial de Belo Monte
Fonte: Dados da pesquisa
O título desse blogbelomonte.com.br é ‘Energia para o Brasil, desenvolvimento
para a região do Xingu’. O processo de convencimento para a aceitação pública dessa obra
é construído em torno da imagem da usina de Belo Monte como um passo em direção ao
progresso. Os vídeos são didáticos, uma música tranquila de fundo, imagens do rio, casas e
tribos ilustram o texto com informações positivas, dito por uma voz em off: “As comunidades
indígenas foram ouvidas e puderam escolher os antropólogos que as estudaram, as famílias
que já moram em áreas inadequadas de igarapés de Altamira serão realocadas”... “Estão
sendo construídas escolas, postos de saúde e sistemas de captação e tratamento de água”.
O site apresenta os estudos e não narra nenhum conflito que possa estar prejudicando a
construção, em um processo de convencimento que não reconhece controvérsias.
Para Henrique Cortez, do site EcoDebate, o fato da ONU não ter cobrado do
Brasil, durante a Rio+20, uma discussão sobre a hidrelétrica de Belo Monte reflete a sua
lógica, por consenso, de não ter conflito aberto com nenhum estado membro, o que esvazia
a capacidade de ação. Henrique está de acordo que Belo Monte não vai alagar as terras
indígenas, pelo contrário, vai secar, porque terão o curso do rio desviado. “Na volta grande
vai diminuir 90% do fluxo d’água, isso é secar. Toda meia verdade é uma mentira completa”
(informação verbal101), disse ele.
101 Cortez em entrevista pelo skype para a pesquisa.
130
Enquanto guerra de significações, ao menos dois processos de semiose podem
ser analisados nesse site (FIG.13). O primeiro tem como objeto a imagem de ‘universitários’
defendendo a construção da usina: reforça o eterno conflito do iluminismo contra a
sabedoria tradicional. Os universitários representando a ‘ciência e a tecnologia’ resolvendo
os problemas das populações atrasadas, só que dessa vez a imagem da ‘ciência’ é ilustrada
por dois ‘geeks’, jovens de óculos grandes, com jeito de estudiosos e o cenário da Rio+20
atrás.
FIGURA 13 – Geeks na Rio+20 explicam os benefícios de Belo Monte.
Fonte: NORTE, on-line102
Essa imagem (FIG. 13) é a chamada para o segundo processo de semiose que
vamos detalhar: o vídeo que mostra a viagem dos jovens de Altamira a Rio+20, com
camisetas escritas “Eu sou do Xingu, apoio Belo Monte”. Uma estudante, em seu
depoimento, diz que com a construção da usina “vai chegar curso de Medicina, de Direito, o
que a gente não tem”, que “vai trazer muito progresso”. Em outro momento, o vídeo evoca
que precisam ser destruídos mitos: 1) Paulo, membro do MAB, declara que o Brasil não
precisa da energia de Belo Monte, pois a população consome apenas 25% da energia
gerada no pais, e que o restante é consumido pelas indústrias. Em seguida, uma explicação
bem didática ensina que sem indústria, não há empregos e renda para a população; 2) O
segundo mito é a frase de uma ativista do Greenpeace, Tatiana Carvalho, em que ela
declara que o Brasil não precisa investir em usinas hidrelétricas, e sim somente reparar as
vias de transmissão de energia. A resposta é que dos 17,5% de perda de energia do Brasil,
cerca de 12% são ‘gatos’ feitos pela população para roubar energia, e que isso é um
102 NORTE Energia. Usina Hidréletrica de Belo Monte. Disponível em: <http://blogbelomonte.com.br/>.
Acesso em: 23 abr. 2012.
131
problema ‘social’ e não de tecnologia. Nesse contexto, evidencia a culpa da população no
problema ocasionado. 3) O terceiro mito, segundo o vídeo, é que Belo Monte vai alagar
terras indígenas. Eles respondem que a área alagada diminuiu em mais de 50% do projeto
original e que serão construídos canais para que as áreas indígenas não sejam afetadas. E
finalizam com um índio dizendo que não é contra nem a favor, mas que precisam de
energia na aldeia, para fazer ‘artesanato e marcenaria’ e ‘ver televisão’, pois ele ‘gosta de
se informar’...
Essa lógica de edição do vídeo (FIG.14), de mostrar falas de líderes e pessoas
significativas dos movimentos que são contra a construção de Belo Monte e, em seguida,
argumentar contra essas falas com infográficos, mapas e números, denota um processo
semiótico no qual, racionalmente, contrapõem-se os discursos para afirmar os motivos
hegemônicos. Como um signo que precisa se afirmar no seu contrário para reforçar sua
verdade. De fato, os autores do vídeo usaram imagens de seus opositores para
desestruturar as verdades de suas falas. E o fato desse blog estar situado dentro do cluster
da ecologia social prova que esse conflito é interno, transita nos espaços digitais da gestão
da natureza de caráter social.
FIGURA 14 – Frames do vídeo do blog de Belo Monte
Fonte: NORTE, on-line103
103 NORTE
Energia.
Usina
Hidrelétrica
de
Belo
Monte.
Disponível
em:
<http://blogbelomonte.com.br/?s=universit%C3%A1rios>. Acesso em: 9 ago. 2012.
132
O discurso nacionalista e desenvolvimentista do blog oficial de Belo Monte,
embora bem combatido nas redes dos subclusters a1 e a3 da ecologia social brasileira, tem
sua presença forte em a5, apoiada pelas Nações Unidas. A revista oficial do prêmio
International Green Awards, da UNEP e das Nações Unidas, deu especial destaque a um
texto da presidente Dilma Rousseff, em inglês, em que ela afirma que o modelo
desenvolvimentista iniciado por Lula “é o desenvolvimento sustentável”, sendo que “de
acordo com a ONU nenhum outro país tem dado mais que o Brasil na redução do carbono,
em programas de desenvolvimento sustentável e erradicação da miséria. E reforçou seu
discurso com o número de que, nos dois últimos governos, mais de 40 milhões de pessoas
saíram da pobreza. (UNEP, 2012, p. 25)
FIGURA 15 – Recorte da revista Rio+20: Climate Change, New economy.
Fonte: UNEP, 2012, on-line.104
Após todas essas descrições, que têm a função de contextualizar o leitor sobre
que tipo de informação se debate dentro do cluster com predominância de ecologia social –
seguindo a orientação de “apenas observar”, como diz Bruno Latour – analisamos que esse
cluster tende a ter seu lado direito (a2 e a5) mais próximo das políticas da ONU da
economia verde e seu lado esquerdo, dos clusters a1 e a3 mais contrários à essa política,
evidenciando várias controvérsias, como a construção de Belo Monte e os conflitos de terra
no Brasil. Por outro lado, a existência do subcluster a4, centrado no cluster A, e o seu
propósito enquanto evento, é justamente fazer esse diálogo de oposição com o cluster B,
representante das políticas de gestão da natureza que emergem com foco na economia.
104 UNEP. Rio+20 Climate Change. World News: London, Rio de Janeiro, 2012.
133
5.1.6 O Cluster B: economia verde
Em ordem de importância de referência por outros sites na rede, estão o site
oficial da Conferencia Rio+20105, o site internacional das Nações Unidas106 e o site do
Programa Ambiental das Nações Unidas, Unep107(FIG.16). O regime informacional que
caracteriza a gestão da natureza com foco na economia verde é estruturado por muitos sites
de eventos – debates promovidos pela ONU em diversos países do mundo – em associação
com ONGs, governos, educacionais e instituições transnacionais, que discutem energias
renováveis, planejamentos urbanos e utilização de recursos naturais.
FIGURA 16 – Telas iniciais do site da Rio+20, do site da ONU e do site da Unep
Fonte: ONU, UNEP, UNCSD
O site internacional das Nações Unidas é uma página simples, com a palavra
‘bem vindo’ traduzida em seis idiomas: árabe, chinês, inglês, francês, russo e espanhol,
cada qual direciona para o idioma específico, mas com conteúdos idênticos (não são
personalizados para cada cultura linguística). Isso denota que não há esforço da entidade
em dar destaque a conteúdos especificamente locais em vias informacionais globais, mas o
mais comum é o contrário, evidenciar o alcance das ações globais da ONU e suas
estratégias enquanto maior instituição do mundo em número de estados membros.
Há conteúdos estáticos (não atualizados constantemente) de definição
semântica da entidade: à propósito da ONU, carta de princípios das Nações Unidas,
estrutura e organização, estados membros, centro de informações e organismos principais.
E há a seção de atualidades, notícias diárias e dossiês em destaque, como sobre a situação
da Palestina e da guerra contra a AIDS, na África. A figura presente na maioria das
105 UNITED NATIONS CONFERENCE ON SUSTAINABLE DEVELOPMENT – UNCSD. Rio+20. Disponível
em: <http://www.uncsd2012.org>. Acesso em: 16 dez. 2012.
106 ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS – ONU. Disponível em: <http://www.un.org>. Acesso em: 16
dez. 2012.
107 UNITED NATIONS ENVIRONMENT PROGRAMME – UNEP. Disponível em: <http://www.unep.org>.
Acesso em: 16 dez. 2012.
134
reportagens é a do secretário geral da ONU, o coreano Ban Ki-Moon, que sucedeu o ganês
Kofi Annan.
A seção para o usuário participar (Engage) é dividida em subseções. Em
‘Compromissos voluntários’, a pessoa pode se inscrever e declarar, em formulário, os
resultados tangíveis do seu compromisso, que podem incluir projetos sustentáveis,
educacionais ou de sensibilização, dentre outros. Os projetos podem ser inscritos em
categorias: água, energia sustentável, educação, igualdade de gênero etc. As pessoas
jurídicas têm plataforma diferenciada108, o que comprova a sectarização entre sujeitos
informacionais ‘individuais’ ‘empresariais’.
Todos os compromissos ficam publicados, por exemplo: a Nestlé se
comprometeu a construir 40 escolas e providenciar tratamento de água para outras 55 na
Cote d’Ivoire, um país africano, entre 2014 e 2016; e a BMW prometeu reduzir o consumo
de recursos (água, energia, solventes, resíduos) em 45% por veículo produzido, assim como
reduzir a emissão de CO2 em 50% até 2020. A plataforma é usada de maneira oportunista,
por empresas, para construírem sua imagem enquanto ‘responsáveis sociais”.
A segundo subseção é a Volunteer Actions Counts, disponível em inglês,
espanhol e francês, onde um contador anuncia 64.217.649 ações obtidas a partir da
campanha da Rio+20109. As pessoas deixam testemunhos sobre seus compromissos,
alguns nem tão mensuráveis, como o Movimento de Consciência Universal110, criado pelo
usuário Edson Udson:
All this through the idea for the proposal to make the world a better place to live
without having to create a new doctrine or faction, since the goal is freedom through
respect and love for all. Join us for the real purpose of a better world.(UDSON,2012,
on-line)111
Percebe-se que o site oficial da Rio+20, com maior índice de referências na
rede, promoveu uma intensa emissão de signos e experiências relacionadas às famílias
semânticas para dar a sensação do conforto do pertencimento ao seu regime de informação
da economia verde – um conjunto de ações que evoquem as palavras representativas dessa
categoria de gestão da natureza.
Ainda em relação aos traços deixados pelo sujeito informacional, o usuário
(pessoa física, pois as empresas têm uma plataforma mais específica) pode informar sua
108 Disponível em: <http://business.un.org/en/documents/commitments>. Acesso em: 25 jul. 2012.
109 Dado de 15 de dezembro de 2012.
110 UDSON, Edson. Universal Movement of Consciousnes. 2012. Disponível em:
<http://www.volunteeractioncounts.org/en/testimonials/website-visitors-stories/item/2768-universal-
movement-of-consciousness.html>. Acesso em:
111 Tudo isso através da ideia de uma proposta para tornar o mundo um lugar melhor para viver, sem ter
que criar uma nova doutrina ou facção, já que o objetivo é a liberdade através do amor e respeito por
todos. Junte-se a nós para a verdadeira finalidade de um mundo melhor. (Tradução nossa)
135
localização e ação, que ficam registradas no mapa do mundo virtual. Embora não tenhamos
mais pistas sobre quem é esse sujeito, além do seu nome e vila/país, somente o fato de
haver uma diversidade de nomes e países na lista dos engajados já comprova a importância
da marcação dos territórios, representando a globalidade que alcança a ONU, como algo
que reforça os argumentos dos processos de semiose da economia verde. Por outro lado,
informar somente esses dois traços – nome e território – facilita a participação do sujeito,
que não precisa perder seu tempo preenchendo um formulário mais longo (com outros
dados). Embora de maneira superficial, o sujeito informacional já sai com a sensação que
deu sua opinião que fica marcada no mapa do mundo dos que pensam o ‘futuro que
queremos’.
A mesma estratégia, de evidenciar os traços do território, é utilizada na seção
seguinte Messages of the World (Mensagens do Mundo), um quadro onde as mensagens
que recebem mais apoio crescem na representação visual. A frase em destaque no recorte
(FIG.17), a mais referenciada do quadro, representa o conflito da controvérsia da gestão da
natureza: “Favor lembrar do longo termo da existência da vida, não apenas
desenvolvimento”. Esse conflito é saudável, indica que as partes opostas da controvérsia da
gestão da natureza se visitam e alimentam suas interações com argumentos a favor.
FIGURA 17 – Mural de mensagens do site oficial da Rio+20
Fonte: UNCSD, 2012, on-line112
112 UNITED NATIONS CONFERENCE ON SUSTAINABLE DEVELOPMENT – UNCSD. Rio+20. Disponível
em: <http://www.uncsd2012.org>. Acesso em: 16 dez. 2012.
136
FIGURA 18 – Identificação do nome e território de quem concordou com a mensagem
Fonte: UNCSD, 2012, on-line.
Essas duas últimas seções descritas (geolocalização e mensagens), centradas
nos conteúdos disponibilizados pelos usuários, são exemplos de redes sócio-semânticas.
Nelas, há compartilhamento de engajamentos por uma mesma causa, os actantes agem,
clicam, aceitam esse jogo. Mas, não chegam a formar redes semióticas, porque dar o
acordo a uma mensagem não resulta em novas conexões entre os atores, não existe
comunidade. Essa é a diferença entre as redes sócio-semânticas e a redes sócio-
semióticas, as sócio-semânticas se referem à estruturação da linguagem, como um todo, e
as sócio-semióticas não existem sem os processos sociais, obrigatoriamente criam
comunidades.
O mesmo dispositivo de deixar traços imagéticos estavam disponíveis também
no evento do Rio de Janeiro, presencialmente. Ao invés de se manifestar pelo computador,
as pessoas podiam gravar um vídeo ou escrever sua ideia dentro de uma lâmpada para
pregar no mural de desejos para um futuro melhor. Esse estande da ONU estava presente
também dentro dos pavilhões da Cúpula dos Povos, o que denota a relação semântica
íntima entre esses dois regimes de informação da gestão da natureza, a ecologia social e a
137
economia verde, no Rio de Janeiro, que foi o palco para a encarnação dessas discussões,
que vem acontecendo em ambientes virtuais, no mundo da vida.
Ao estimular as pessoas a descreverem o futuro que desejam, a ONU orienta
esse desejo em direção a seus temas – transportes, cidades, empregos, água, energia
limpa… Se o sujeito informacional se sujeita a escrever e manifestar sua opinião sobre o
futuro que quer, exprime a crença que produziu, reagindo a todas as informações dos
ambientes (físico e virtual) da Rio+20. Mas, no sentido de formar comunidades, a ferramenta
mural de mensagens (figura acima) não te permite interagir com Andreas e Andi, da
Alemanha, ou John e Brian, de Nova York, mas talvez a ocorrência de duas pessoas
seguidas de cada cidade seja significativo, uma pode ter indicado a experiência para a
outra.
Ainda como uma tendência a reforçar a padronização dos fluxos informacionais
do movimento ambientalista como um todo, em relação à formatação de conteúdos
produzidos pelo usuário, a Rio+20 ofereceu o ‘Kit de Conversação do Mundo que Nós
Queremos’, um arquivo em PDF em quatro páginas que incentiva todos os participantes das
delegações dos países membros a colherem em suas localidades depoimentos das pessoas
sobre o futuro que desejam, para expor em um grande mural montado na conferência. Esse
manual indica que ‘todos os pedidos podem ser enviados’, mas determina o formato da
informação: vídeos de até três minutos, desenhos com tamanho limite de uma folha A4 e
histórias escritas com no máximo 500 palavras. Pedem que temas sejam globais, mas com
detalhes ‘locais’ da ‘sua comunidade’ e ‘sua cultura’, especificamente tentando responder à
questão “o que os líderes mundiais poderiam fazer hoje para nos ajudar a alcançar um
futuro melhor?”. Isso pode ser analisado como mais uma estratégia de convencimento
desse actante, de valorizar pequenos testemunhos locais (de até 500 palavras) para dar
legitimidade na construção de um discurso global.
O manual é finalizado com a instrução de quais hashtags devem ser utilizadas
para a cobertura no twitter, uma forma da instituição e dos participantes do evento
acompanharem a cobertura nessa rede social. Fica evidente que, embora a conferência
tenha sido realizada no Brasil, não houve uma preocupação da organização em informar
uma hashtag em português/brasileiro para o significado de ‘nosso futuro’:
138
FIGURA 19 – Hashtags do Kit de Conversação do Mundo que nós queremos
Fonte: UNCSD, 2012, on-line
Comprovando esse estranhamento, da falta do uso do português durante a
conferência, houve protestos de brasileiros, pois não havia tradução para o idioma nas
conferências. Tudo era em inglês, com exceção dos eventos paralelos em pavilhões de
países, que traduziam de seu idioma original para o inglês.
Por essas descrições anteriores, podemos inferir que a informação produzida
pela ONU é um repertório de significados controlado, produzido sob medida, imposto para
animar o debate ambiental, tentando impor ordem para os fluxos de informação do
movimento ambientalista. Manuais de informação e widgets padronizados se alimentam das
mesmas notícias, produzidas pelo veículo oficial que, enquanto “Nações Unidas”, tem a
missão de ser a autoridade científica humana global. A ONU, enquanto um actante, não
pode ser responsabilizada pelo engajamento dos membros em seus acordos, mas por si só
tem o enorme papel de ser a animadora das discussões.
O site da UNEP segue o mesmo regime informacional dos padrões repetidos
pela gestão da natureza pela economia verde. Também possui uma seção de
compromissos, específica para empresas, que nesse caso possuem mais informações que
apenas os traços deixados pelo sujeito informacional pessoa física. Eles podem ser
acessados por nuvem de tags (FIG.20), lista ou mecanismos de busca, ou ainda por região,
setor de negócio, questão global, tipo de parceira ou por organização da ONU.
139
FIGURA 20 – Nuvem de tags dos termos relacionados aos engajamentos
Fonte: UNEP, 2012, on-line
FIGURA 21 – Diferentes formas de acesso à informação dos engajamentos
Fonte: UNEP,2012, on-line
Essas informações – de ações de engajamentos de empresas – é disponível em
linha do tempo, com ações previstas até 2050, confirmando a tendência de simulações
alongo prazo para mensurar a evolução do ‘futuro que queremos’.
FIGURA 22 – Acesso à informação dos engajamentos por ano
Fonte: UNEP, 2012, on-line
Os processos de semiose deslanchados pela UNEP, nas ilustrações da
cobertura dos eventos que promovem, utilizam basicamente dois tipos de design: de
natureza (animais, paisagens) e ou de conferências (líderes políticos, sedes locais das
conferências). As imagens de natureza servem para ilustrar a cobertura dos eventos e dão a
sensação, ao sujeito informacional, que natureza e política ambientalista estão em
harmonia.
140
FIGURA 23 – Destaques do site da Unep
Fonte: UNEP,2012, on-line
5.1.7 Tráfego dos sites da ONU
Comparando os três sites principais do cluster B (Rio+20, Nações Unidas e
Unep) pelas informações fornecidas pelo Índice Alexa, o mais popular é o primeiro, com
ranking mundial113 de 3.366 e uma reputação impecável: 74.633 outros sites o referenciam.
Ele foi publicado há 17 anos e é principalmente acessado nos Estados Unidos (17% de
visitação), Índia (6%) e México (5,2%), mas se compararmos os rankings, ele é o 112º site
mais acessado no Congo, 180º na Uganda e 276º no Quênia, o que denota sua enorme
popularidade na África em relação a outros sites visitados pela população africana.
Já o site da Unep tem ranking no Alexa de 57.549, com uma boa reputação:
16.391 outros sites que fazem referência a ele, e a maior audiência está na Índia, 18%,
seguido dos Estados Unidos com 11,7% e França 4,6%. Mas, ao contrário do site
internacional da ONU, ele não é muito acessado por países africanos, com exceção da
Nigéria e Quênia. Outro detalhe é que, entre as palavras chaves mais buscadas estão dois
eventos, o World Environment Day e o Ozone Day, o que comprova que os eventos são
113 O Índice Alexa considera que existem cerca de 196 milhões de sites na internet e o cálculo desse
ranking não é muito bem explicado, mas segundo eles, consideram a visitação e a popularidade em
vários mecanismos de busca intercruzados.
ALEXA. The Web Information Company. 2012. Disponível em: <http://www.alexa.com/siteinfo/unep.org>.
Acesso em: 23 abr. 2012.
141
motivadores de fluxos informacionais. Green economy é a 5ª palavra mais procurada e não
há menção a algo que corresponda a ‘sustainable development’, o que seria um índice de
que esse conceito, embora muito disseminado pela instituição há quase 30 anos, ainda não
deixa traços entre as buscas dos usuários. O que comprova a necessidade da criação
emergente de um outro conceito mais forte, de choque, a economia verde.
TABELA 1 – Índices Alexa para o site da UNEP
Fonte: ALEXA, 2012, on-line
O site oficial da Rio + 20 possui o ranking 470.956, com reputação de 5.808 sites
que enviam links para ele. O número de acessos foi medido somente nos Estados Unidos,
não existe referência para mensurar em outros países, segundo a ferramenta. Mas, no
gráfico de tráfico, podemos perceber que, em 2011 e 2012, esse site teve somente um pico
de visitação, em junho e julho de 2012, época do evento.
GRÁFICO16 – Comparação dos tráficos do site Rio+20
*períodos de 2011 a 2012 (esquerda) e de junho a dezembro de 2012 (direita).
Fonte: ALEXA, 2012, on-line
De fato, os eventos, como o Rio+20 e outros citados anteriormente, promovidos
pela ONU, são catalisadores de fluxos informacionais da gestão da natureza pelos princípios
142
da economia verde. Mas a vida útil desses nós, específicos de eventos, se limita ao tempo
de preparação e ocorrência do mesmo, nem mesmo suas repercussões são discutidas no
mesmo site, que geralmente tem sua atualização interrompida e transferida para outro
ambiente virtual, como no caso do site da Rio+20.
5.1.8 Cluster C
O cluster C agrega os sites que caracterizam o regime informacional de gestão
da natureza da Ecologia Profunda, em seu núcleo mais puro: previsões e simulações
climáticas, discursos científicos, aliados a sites que promovem a conservação da natureza
como solução para a preservação de culturas indígenas. É dividido em c1, c2 e c3.
Considerado marginal na rede, pois possui muito menos sites que os clusters A e B, a
ecologia profunda apresenta tendências de seguir a ecologia social e a economia verde,
prova disso são os inúmeros sites classificados de ecologia profunda que habitam os
espaços informacionais dos outros clusters.
O subcluster c1 (GRAF.17) composto por autoridades científicas que debatem
as mudanças climáticas. Os actantes mais referenciados são o blog Real Climate,
Ecoequity, Skeptical science, Climateaudit, Simondonner e Indigenize!.
143
GRÁFICO 17 – Subcluster c1
Fonte: Dados da pesquisa
O Real Climate é o site de um grupo de pesquisadores sobre as mudanças
climáticas, o mais referenciado desse cluster. Possuem um fórum de discussão restrita aos
tópicos científicos, que não envolvem implicações econômicas ou políticas114. Acreditam que
o aquecimento global é causado pelo homem. No primeiro item da seção ‘destaques’ está o
vídeo de Al Gore sobre o aquecimento global, meme presente em sites que defendem a
economia verde e medidas de redução de carbono, mas que não comentam questões
sociais. Esse vídeo pode ser considerado um documento central de apoio ao regime de
gestão da natureza da ecologia profunda.
A filiação científica a alguma instituição de pesquisa é imprescindível para ser
autor do site. No editorial, ressaltam que os contribuintes não representam as visões das
instituições onde trabalham, nem de agências que os financiam, que cada um é o único
responsável pelo que publica e que ninguém recebe remuneração. O que, por princípio, vai
contra ao que Bruno Latour nos pede para estar atentos, considerar as outras ligações de
114 REAL Climate. Disponível em: <http://www.realclimate.org/index.php/archives/2004/12/about/. Acesso
em: 18 dez. 2012.
144
um grupo de emissores de opinião, como receber financiamento de uma mesma fonte
(LATOUR, 2011, p. 78). Então, podemos sentir um quê de inocência na afirmação dessa
suposta imparcialidade na influência que outros actantes poderiam representar na
construção dos seus processos de comunicação.
O Real Climate não é filiado a nenhuma organização ambiental. Mas, seu site
cita e é citado por actantes da ecologia profunda, entre elas as conservacionistas Mongabay
e Rainforest Portal, o que demonstra a existência desse regime informacional alicerçado por
fundamentos científicos. A partir das pontes feitas pelo blog Effects de Terre e o site do
Congresso da IUCN, o Real Climate se conecta também com o cluster B.
O design do site é muito simples, sem vídeos, áudios, imagens ou infográficos.
Embora não possa ser considerado um site multimídia, porque faz uso basicamente de
textos, ele possui uma Wiki115 onde conceitos sobre as mudanças do planeta são definidos
como verdades absolutas. Dividido entre publicações por autores, por “mitos” – entre eles,
It's all just the Sun, Modern changes simply part of natural cycle e Observed CO2 rise is
natural116 – e por publicações de jornais científicos, o conteúdo pode ser acessado também
por países, nessa ordem: Estados Unidos, Canadá, Reino Unido, Austrália. Alemanha,
França e ‘outros países’.
O cabeçalho usa uma foto da terra tirada em 1992, com nuvens sobre o sub-
continente indiano, comprovando a tendência da ecologia profunda de “olhar a terra de
longe”. O site tem uma barra fixa direita em todas as páginas, com as seguintes seções:
comentários recentes, respostas aos comentários, páginas de conteúdo (índex e fontes de
dados), as nove categorias do site (entre elas Ciência do Clima, Comunicando o Clima etc.),
a seção de destaques e uma lista com 88 links externos, divididos entre ‘outras opiniões’ e
‘links científicos’. Nessa barra da direita, usa apenas uma imagem animada, uma série de
capas de livros sugeridos.
O segundo site mais referenciado em c1 é o Skeptical Science, com o slogan
“Sendo céptico sobre o cepticismo ao aquecimento global”. O site é mantido por John Cook,
do Instituto Global Change, da Universidade de Queensland, na Austrália. Ele diz não ser
um especialista somente em clima (tem trabalhos científicos em outras áreas), mas é o
animador de uma equipe de 24 pesquisadores, entre cientistas do clima, geólogos,
ambientalistas e outros. O objetivo é comentar o que as revistas científicas dizem sobre
aquecimento global, sempre ressaltando que o homem é o principal causador do problema.
115 Disponível em: <http://www.realclimate.org/wiki/index.php?title=RC_Wiki>. Acesso em: 18 dez. 2012.
116 “É tudo só o sol”. (Tradução nossa)
145
Cook informa que o blog não possui financiamento e conclama os leitores à doação, uma
prática comum entre os actantes da ecologia profunda.
A primeira seção do site, Argumentos, é uma tabela que contém, do lado direito,
os mitos do clima, e do lado esquerdo ‘o que a ciência diz’. Segundo o site, 97% dos
especialistas em clima concordam que o homem é a causa do aquecimento global. São
processos de convencimento que reforçam os princípios desse tipo de gestão da natureza.
FIGURA 24 – Tela da versão mobile do site Skeptical Science
Fonte: SKEPTICAL, 2012, on-line117
Outro site em destaque em c1 é o Indigenize!, importante por fazer a ligação
desse subcluster c1 ao c2 e A. Criado pela professora colegial Tina Fields, PhD em eco-
psicologia, o site tem conteúdos profissionais, mas sobretudo, como indica a mensagem de
boas vindas, “Welcome to the online home of Tina Fileds”, há conteúdos de denotação
íntima no que diz respeito aos seus hábitos cotidianos e às suas crenças espirituais. É
ligado ao site do Banco Nacional do Desenvolvimento através da ONG Climate Change
Education, fica na fronteira do cluster C com os outros principais.
O site mistura conservacionismo e xamanismo, em apoio aos movimentos
indígenas norte-americanos. Tina se declara indigenous wisdom (algo como mulher de
sabedoria indígena) e tem 56 seguidores. O termo padrão, presente em todos os sites da
filosofia indígena norte Americana é a expressão “AHA – AHO”, que significa ‘Por todas as
117 SKEPTICAL Science. Disponível em: <http://www.skepticalscience.com/>. Acesso em: 22 abr. 2012.
146
nossas relações’ (lema principal indígena norte-americano). Outros signos são relacionados
à visão global do animismo, xamanismo e espiritualidade céltica. A linha editorial dos posts é
de sensibilização para questões de conservação e quatro seções de links denotam suas
conexões: ‘aliados da terra’, blogs de amigos ecléticos, organizações imaginativas e ajudas
sustentáveis. O que comprova que o discurso espiritual/xamânico, embora por razões não
científicas, possui o mesmo objetivo do discurso dos cientistas alarmistas do aquecimento
global sobre conservação de florestas e espécies.
Um ator que sai desse padrão no cluster C, nem cientista nem indígena, é o
Ecoequity, que propõe a equidade como solução para o problema do acúmulo de carbono
em volta da terra: delimita que os países que produzem mais, per capita, possam pagar
mais a conta do aquecimento global. Sugere pensar qual o preço do desenvolvimento para
países mais pobres em relação ao fato de que os Estados Unidos, quem mais produz
carbono no mundo, pouco adere a protocolos e acordos para emissão de carbono.
O segundo subcluster, c2(GRAF.18) é centrado na Mongabay, ONG cujo
principal objetivo é divulgar imagens e informações sobre a natureza, focado em espécies e
ecossistemas em extinção (muitas fotos macro).
GRÁFICO 18 – Subcluster c2
Fonte: Dados da pesquisa
147
A partir da ligação com o blog de Lou Gold (no gráfico acima, em vermelho), o
Mongabay se conecta com o cluster de ecologia social e é diretamente ligado ao site oficial
da Rio+20, delimitando as fronteiras semânticas entre os discursos da economia verde e
ecologia profunda.
O terceiro sublucster, c3 (GRAF.19), é formado pela Forests, Rain Forests
Portal, Climateark e Water Conservation: são quatro sites alimentados pela Ecological
Internet118, cuja missão é empoderar o que eles chamam de ‘movimentos globais para
sustentabilidade ambiental’. São actantes especialistas em preservação de florestas,
ecossistemas e povos indígenas. Se não fosse pela presença, nesse cluster do site
Indigenous Peoples Issues (classificado como ecologia profunda) e do New Earth Rising
(economia verde), poderiam ter se fundido em um só nó, porque os quatro sites replicam os
mesmos conteúdos. Se conectam com o restante da rede a partir dos nós da Mongabay e
são ligados ao Real Climate.
GRÁFICO 19 – Subcluster c3
Fonte: Dados da pesquisa
5.1.9 Actantes pontes
Alguns sites ou grupos de sites funcionam para ligar nós, clusters e subclusters,
e assim estabelecer vias de informação para a gestão da natureza. Serão descritos em
118 Disponível em: <http://www.ecologicalinternet.org/>. Acesso em: 31 jan. 2013.
148
destaque as pontes feitas pelo Greenpeace, Lou Gold e Altino Machado, WWF e pelos
clusters menores E e F.
O site da ONG Greenpeace, classificada como nova ecologia, faz uma ponte
importante entre todos os subclusters do cluster A, localizada no centro desse cluster.
Exatamente como é definida a nova ecologia no capítulo dois dessa tese, trabalha pelo
desarmamento e paz, pelo consumo consciente, em defesa dos oceanos e das florestas,
pelo fim da energia nuclear e pela agricultura sustentável. Foi fundada em 1972 por um
grupo de amigos hippies:
A bordo de um velho barco de pesca chamado Phyllis Cormack, os ativistas queriam
impedir que os Estados Unidos levassem a cabo testes nucleares em uma pequena
ilha chamada Amchitka, na costa ocidental do Alasca. Para levar adiante tal
empreitada, o grupo tentou arrecadar fundos com a venda de broches. Verde
(Green) e Paz (Peace) eram as palavras de ordem, mas não cabiam separadas no
broche. Nascia assim o nome Greenpeace. (GREENPEACE, 2010,on-line)119
Seus discursos incluem também a economia verde (geração de energia
sustentável, biosoluções etc.). Em relação ao fortalecimento da identidade da ONG e do seu
regime de informação, a estratégia do Greenpeace é alimentar simultaneamente 55 sites
separados (FIG.25), hospedados no mesmo domínio, com o mesmo design e organização
da informação, mas com conteúdos que diferem de acordo com o território.
Fundamentalmente, a história que agrega identidade para unir os adeptos é uma velha
profecia indígena e se intitulam os guerreiros do arco-íris:
Um dia a terra vai adoecer. Os pássaros cairão do céu, os mares vão escurecer e os
peixes aparecerão mortos nas correntezas dos rios. Quando esse dia chegar, os
índios perderão o seu espírito. Mas vão recuperá-lo para ensinar ao homem branco
a reverência pela sagrada terra. Aí, então, todas as raças vão se unir sob o símbolo
do arco-íris para terminar com a destruição. Será o tempo dos Guerreiros do Arco-
Íris. (GREENPEACE, 2010,on-line)
Guerreiros do arco-íris não têm um território específico, qualquer nacionalidade
pode aderir à identidade simbólica transcendental. Essa identidade, de guerreiro, é
reforçada em processos de semiose nos quais as campanhas internacionais ganham uma
versão local.
119 GREENPEACE. O surgimento do Greenpeace. 2010.
Disponível em:
<http://www.greenpeace.org/brasil/pt/quemsomos/Greenpeace-no-mundo/>. Acesso em: 12 dez. 2012.
149
FIGURA 25 – Sites do Greenpeace, em diferentes idiomas
Telas do site do Greenpeace em outros idiomas.
Fonte: GREENPEACE120
Em 2011 o Greenpeace arrecadou 240 milhões de euros de doações no mundo
inteiro, sendo que somente no Brasil foram gastos mais de 15 milhões de reais no mesmo
ano, divididos entre informação pública e difusão, campanhas, pesquisa de campo,
organizacional e relacionamento com colaboradores.
Todas essas informações denotam transparência e fortalecem a crença em torno
do trabalho do Greenpeace nos processos de convencimento para a doação. Valores e
números de arrecadações são dados muito valorizados nas arquiteturas de informação, não
somente dos sites de quem paga como também nos de quem recebe, como signo de
legitimação mútua.
120 GREENPEACE International. 2012. Disponível em: <http://www.greenpeace.org/international/en/>.
Acesso em: 21 abr. 2012.
150
Essa receita possibilita, entre muitas outras ações, que ativistas façam vídeos
em lanchas indo ao encontro a barcos que matam baleias no Japão (no caso do
Greenpeace). A narração do sujeito que sai em aventura, a sensação de risco que ele
transmite ao sujeito informacional, o perigo, o confronto, o sangue vermelho das baleias, o
vento no cabelo, o alto mar, são signos cujos objetos colaboram para a formação da crença:
alguém está indo à luta contra as injustiças ambientais. Então o processo de semiose se
completa na terceiridade, quando o usuário faz a doação, motivado por uma sensibilização
publicitária. Doar dinheiro, enquanto ação, é um tipo de processo de semiose onde a
aceitação da crença atingiu o lado financeiro, é a aceitação que motiva colaborar com a luta.
Isso se justifica pela existência de uma batalha onde guerreiros do arco-íris precisam salvar
a terra. Pagar gera conforto espiritual, significa se alistar em uma guerra necessária, mas
sem os constrangimentos físicos do combate militar.
Voltando ao papel dos actantes pontes, dois destaques são Lou Gold e Altino
Machado, que fazem a conexão de C e A. Ambos moradores do Acre, Machado é jornalista,
uma das mais articuladas fontes de informação da Amazônia:
O weblog do Altino Machado é o veículo de comunicação mais temido e bem
informado do estado. Quando o governador quer que alguma notícia repercuta além
da imprensa oficial, é para Altino que ele liga, apesar de eventualmente levar uma
cutucada de seu blog. (informação verbal)121
Segundo o contador disponível na barra lateral, mais de dois milhões de
pessoas visitaram seu espaço desde 2004, que não tem registro no PageRank nem no
Alexa. Tem 816 seguidores. Embora seja comprovadamente uma via de informação entre A
e C, como nos outros blogs citados de a1, a organização da informação é confusa. Mistura
relatos pessoais com posts de política e ambientalismo.
Lou Gold é autor do photoblog Visionshare, criado em 2007. Professor de
ambientalismo nos Estados Unidos, 73 anos, resolveu viver a aposentadoria no Acre, na
fronteira do Brasil com o Peru. Lou é personagem de artigos publicados no blog
ambientalista do jornal New York Times, o Dot Earth.
Ele mista mensagens religiosas e xamânicas, plenas de signos da magia da
floresta amazônica, com denúncias do desmatamento pelas construções de estrada no Acre
e Peru, reportagens sobre política internacional e direitos dos povos indígenas.
Os padrões informacionais encontrados nos dois (florestas, magia, jornalismo
ativista) os colocam à margem dos clusters onde estão mais próximos (Lou está na fronteira
de C e Altino na fronteira de A).
121 Comentário de André Vieira (Rolling Stone) no blog de Altino Machado. Disponível em:
<http://altino.blogspot.fr/>. Acesso em: 20 dez. 2012.
151
O site do WWF não se encaixa nem no cluster de economia verde nem no de
ecologia social. Classificado como ecologia profunda, faz uma importante ponte de entre os
clusters A e B.
O WWF possui uma rede de mais de cem sites diferenciados, com domínios
diferentes, adaptados à localidade, que representam seus ambientes virtuais com signos do
território e cultura de cada país, ao contrário de outros sites de ONGs transnacionais, como
Greenpeace, que produz sites em idiomas diferentes, mas com mesmo domínio (por
exemplo, o ‘greenpeace.org/país’) e mesmos conteúdos. Representado por mais de cem
nós (trabalha em mais de cem países e faz um site personalizado para cada), o WWF
provocava uma desarmonia enorme no desenho (GRAF.20), pois criava um quarto grande
cluster que atrapalhava visualizar a complexidade da rede.
Assim, optamos por utilizar a ferramenta de mesclar atores, do Gephi, e todos os
nós do WWF foram unidos em um só. Outras ferramentas do Gephi foram utilizadas para
dar um formato mais inteligível na rede, como o Forced Atlas 2 e a aplicação de variação de
tamanho para os sites mais referenciados. A imagem abaixo ilustra a rede em abril de 2012,
quando ela ainda não tinha sido lapidada por essas ferramentas e nem haviam sido
excluídos
os
grandes
hubs,
como
Facebook
e
Youtube.
152
GRÁFICO 20 – Rede apreendida em abril de 2012
Fonte: Dados da pesquisa
O WWF é um actante representativo das características da gestão da natureza
pela Ecologia Profunda. Desde 1961 sua “missão é construir um futuro em que as pessoas
vivam em harmonia com a natureza”122. Alegam que o bem-estar das pessoas, vida
selvagem e meio ambiente estão intimamente ligados. Tem o suporte de 5 milhões de
pessoas, doadores pessoas físicas e jurídicas e tem mais de cinco mil funcionários no
mundo todo.
122 WWF. Disponível em: <http://wwf.org/>.Acesso em: 3 out. 2012.
153
Sua especialização é a gestão de áreas de conservação, turismo para pessoas
de elite e o lobby para governos declararem mais áreas protegidas. No site há reportagens
sobre intervenções militares (FIG.26) nos parques, que reportam que o presidente do
Camarões enviou tropas para combater assassinos de elefantes, a pedido da WWF, dentro
de áreas protegidas.
FIGURA 26 – Site do WWF
Fonte: WWF, on-line
Em destaque no site do WWF internacional tem o banner Kill the trade that kill
the Tiger (Mate o comércio que mata o tigre), onde Take action now significa basicamente
curtir a página no Facebook e enviar emails para os governantes até doar para a instituição.
A WWF possui mais de 1300 projetos, desde salvar os orangotangos, pandas
(sua logomarca), elefantes, tartarugas marinhas e tigres; seus princípios políticos são
independentes e não partidários; disponibilizam listas de espécies ameaçadas e relatório
anuais; pedem doação e engajamentos principalmente relacionados a mudança de hábitos
cotidianos, alimentação e uso de energia. Nas campanhas publicitárias, por exemplo, adote
um rinoceronte, você paga uma taxa mensal e recebe um kit de rinoceronte de pelúcia e
cartões com imagens do animal. Pauta cenários internacionais do meio ambiente, desde o
anúncio de um grupo de tartarugas marinhas identificados às questões opinativas sobre
política. O usuário pode financiar a ONG com quantias pequenas ou se tornar doador do
grupo de doadores principais ao fundo Trust Nature, com direito a viagens internacionais
pelos parques de conservação e ‘observações de campo’.
As viagens dos grupos de elite aos parques são apresentadas no discurso da
ONG como importantes para sensibilização dos doadores sobre a importância das áreas
protegidas. Por outro lado, em um processo de semiose inverso, se eles pagam se sentem
‘donos’ (embora não proprietários), ou seja, têm acesso ao que não é permitido às
populações nativas.
154
O regime informacional da ecologia profunda, representado pelo WWF, faz essa
ponte importante entre os clusters A e B e representa uma aproximação entre esses
discursos. Embora com predominância de uma abordagem principalmente conservacionista,
o WWF incorpora também os conceitos da economia verde e transfere essa informação ao
cluster da ecologia social. Porém, o contrário não foi verificado.
A partir do site do Conselho Maior da Mudança Climática da ONU, o WWF
estabelece uma ligação curiosa com o pequeno cluster F de desmilitarização, composto,
entre outras, pela No to Nato123, uma rede de mais de 650 organizações, em 30 países, que
promovem o desarmamento. Nato Free Future124, outro actante, promove eventos pela paz.
O Nation Of Change125, site de jornalismo para a ação positiva progressiva, é ligado ao
movimento de Occupy Wall Street, que produz informação contra o sistema capitalista, que
segundo eles, causa a crise mundial. Isso comprova a função da ponte do WWF, que além
de ligar os clusters A e B, possui também conexão com comunidades anti-violência, ao
mesmo tempo que, paradoxalmente, patrocina a vigília militar dos parques naturais na
África.
O actante-ego dessa pequena comunidade é a ONG Desmilitarize, que promove
o Dia Mundial da Ação contra o gasto militar e conseguiu arrecadar, só em 2011, 1,74
trilhões de dólares para investir em ação humanitária. Na seção ‘Encontre um evento perto
de você’, são anunciados mais de 140 eventos em 41 países. Na Rio+20, participou da
manifestação organizada pela Cúpula dos Povos e desfilou um tanque falso coberto de pão
(FIG. 27). Uma manifestação predominantemente de caráter da nova ecologia.
FIGURA 27 – Protesto na Rio+20
Fonte: Dados da pesquisa
123 Disponível em: <www.no-to-nato.org>. Acesso em: 13 dez. 2012.
124 Disponível em: <www.natofreefuture.org>. Acesso em: 13 dez. 2012.
125 Disponível em: <www.nationofchange.org>. Acesso em: 13 dez. 2012.
155
Mas, a ponte mais importante, que faz a conexão entre A, B e C é a revista
Nature, uma das publicações científicas mais antigas do mundo (desde 1869). Classificada
como ecologia profunda, especialmente, porque a maioria dos seus artigos científicos são
pelo aquecimento causado pelo homem, tem relação semântica com a ‘economia verde’,
termo corrente em muitos artigos. Entre as palavras relacionadas ao aquecimento global em
artigos publicados, estão mitigação e ativismo ambiental126.
A palavra mitigação provavelmente é o termo que mais une economia verde e
ecologia profunda. É tema constante de congressos e eventos sobre aquecimento global,
como no congresso da IUCN, actante central do pequeno cluster D, que liga B e C. O site
do congresso da IUCN, pelos assuntos abordados, foi classificado como economia verde.
Ocupa um papel central na rede. Já o site da IUCN, oficial, foi classificado como ecologia
profunda e está em uma posição marginal na rede, abaixo e à esquerda do cluster da
Economia Verde.
Outro site que promove a conexão entre os clusters C e B é o Effects de Terre,
do jornalista francês Denis Delbecq, classificado como ecologia profunda, ator chave do
cluster M. Sua importância se deve à localização chave, de fazer uma ponte entre os
clusters de ecologia social e economia verde. O site é uma versão independente do blog
que Delbecq animou entre 2005 e 2007 no jornal francês Libération sobre mudanças
climáticas e ambientalismo. Atualmente ele escreve artigos para vários jornais da imprensa
francesa e estrangeira, como autônomo.
Quando saiu do Libération, em 2007, Delbecq criou seu próprio site: “tive
propostas de outros jornais para hospedar o blog”, ele disse, “mas me coloquei a questão,
finalmente, será que meu interesse e minha força não eram a minha independência?” Ele
pensa que isso, de não pertencer a uma empresa, é importante para continuar sendo fonte
confiável de outros jornalistas especialistas.
Após cinco anos escrevendo sobre o mesmo sujeito, mudança climática e
ambientalismo (o que comprova uma via informacional firme, habituada a transferir esses
tipos de informação que dão consistência ao regime da Ecologia Profunda), ele diz perceber
que há menos interesse do público no debate. “Quando há catástrofes, as pessoas se
interessam mais”. O desastre de Fukushima, por exemplo, “embora não seja uma catástrofe
sanitária”, levanta a questão sobre energia nuclear na França, o que evidencia a formação
de um processo de semiose. Ele conta que, quando ocorre uma catástrofe, os jornais
126 Disponível em: <http://www.nature.com/nclimate/journal/v2/n8/full/nclimate1532.html>. Acesso em: 3
ago. 2012.
156
querem comprar mais matérias sobre ciência do que sobre ambientalismo, “90% aposta em
uma cobertura de ciência e 10% de ambientalismo”, disse ele. Mas ele reage contra isso, diz
defender a imparcialidade e tenta fugir do catastrofismo:
Meu site tem uma particularidade, primeiro, que é um blog de jornalista, mesmo me
dando a liberdade de dizer o que eu sinto. Eu tento ser imparcial, eu penso que
ninguém pode dizer, pelos meus artigos, se eu sou contra ou a favor do nuclear, eu
tento explicar as coisas, relativizar as coisas, mostrar todos os lados. (informação
verbal)127
Ele diz que Fukushima não ameaça a credibilidade de indústrias nucleares
francesas (que são mais de 50 a vender energia para a Europa).
5.1.10 Clusters marginais
Entre os pequenos clusters marginais à rede, estão em destaque (GRAF.16), os
de letra G, H, I, J e K. Em comum, são nichos provocados por eventos (com exceção de H,
que são instituições tipicamente francesas). De fato, a promoção de eventos é um ponto
catalisador de fluxos de informação na rede, servem para manter as vias abertas e fluentes
e aproximar os atores.
O cluster G (GRAF.21), acima e à direita da rede, tem como actante central o
evento pela alimentação e erradicação da pobreza World Breastfeeding Week. Em parceira,
está outro evento, International Women’s Day, ambos ligados à Association Genevoise pour
l'Alimentation Infantile. Semanticamente, o que é interessante nesse pequeno cluster é a
participação do actante Power Plant Css, uma empresa de gestão de carbono. Isso, de certa
forma, aproxima duas famílias de palavras, no mínimo, ‘erradicação de pobreza’ e ‘gestão
de carbono’. E a presença da Casa Branca (governo dos Estados Unidos), que aparece de
maneira marginal na rede (não cita ninguém).
127 Denis Delbecq em entrevista por skype.
157
GRÁFICO 21 – Cluster G
Fonte: Dados da pesquisa
O cluster H (GRAF.22) são de instituições francesas: o Centre National de la
Recherche Scientifique (CNRS), Science Po, Jardim de Plantas, Portal de Desenvolvimento
do Nord Pas-de-Callais, Agence de l'Environnement et de la Maîtrise de l'Energie, todos
representados no evento oficial Rio+20, mas como se pode visualizar, sem interagir com o
restante da rede.
GRÁFICO 22 – Cluster H
Fonte: Dados da pesquisa
158
O cluster I (GRAF. 23) se movimenta em torno de uma cadeia de eventos
promovidos pela Hidroworld, empresa de construção de hidrelétricas e soluções para
distribuição de água que atua em vários países, como Portugal, Rússia, Brasil, Estados
Unidos. Muitos sites de empresas de distribuição de energia elétrica foram recusados na
coleta de nós da rede, mas o Hidroworld foi aceito justamente pela empresa ter um trabalho
desenvolvido e associado ao terceiro setor e por estar presente no evento oficial.
159
GRÁFICO 23 – Cluster I
Fonte: Dados da pesquisa
O cluster J (GRAF.24), embora marginal, é muito forte e bem heterogêneo em
relação à gestão da natureza, com no máximo dois cliques você navega em todo cluster.
Seu actante central é o Dot Earth, blog ambientalista opinativo do jornal New York Times,
feito pelo jornalista Andrew Revkin. Mas se ao norte tem contanto com a EPA, agência
ambiental do governo Americano, ao sul a ONG See Southern Forests referencia dois
actantes brasileiros, o canal do produtor e a ONG SerTãoBras. No caso, é uma curiosa via
informacional, uma ambiente informacional frequentado por actantes ecléticos.
GRÁFICO 24 – Cluster J
Fonte: Dados da pesquisa
Essa interação eclética pode ser vista também no cluster D (GRAF.25), em torno
da Conferência do De-crescimento, que aconteceu em Veneza em 2012. Nesse cluster, há a
160
presença de ferramentas medidoras e índices dos mais diversos parâmetros: a ONG
Transparency International mede os índices de corrupção no mundo e a Vision of Humanity,
os índices de terrorismo e paz.
GRÁFICO 25 – Cluster D
Fonte: Dados da pesquisa
De fato, a gestão da natureza é carregada de signos da simulação.
5.1.11 Gestão da Natureza, linguagem e estatuto institucional
As fronteiras linguísticas são bem visíveis na clusterização dos gráficos de
referência a idiomas utilizados (GRAF.26). Os sites em inglês tendem a se concentrar no
cluster C (embora diversos desses estejam também no cluster B), enquanto os sites em
português são predominantes no cluster A.
As três categorias de gestão da natureza (GRAF.26) correspondem às
categorias de idiomas, uma indicação da validade de cada classificação. O fato de ambos,
linguagem e gestão da natureza serem consistentes revela correlação entre os dois.
Em particular, em ecologia social parece predominar uma abordagem brasileira,
enquanto ecologia profunda é mais popular nos sites falantes da língua inglesa. Economia
verde domina a categorização entre os sites do cluster B, é lá que estão os sites mais
internacionais (com ao menos 4 idiomas). É o caso da maioria das instituições das Nações
Unidas.
A grande incidência de sites em inglês se justifica por ser a língua mais falada no
mundo e pela ONU centralizar seus debates em inglês.
161
GRÁFICO 26 – Comparação entre categorias de gestão da natureza e linguagem
Fonte: Dados da pesquisa
No entanto, a segunda colocação para a língua portuguesa se justifica pelos
eventos Rio+20 e Cúpula dos Povos terem acontecido no Rio de Janeiro. O alto índice de
sites (terceiro lugar) que utilizam ao menos quatro idiomas, se justifica porque a maioria das
publicações dos sites das Nações Unidas e das ONGs transnacionais são em muitos
idiomas (árabe, chinês etc.).
A terceira categorização da rede foi em relação ao estatuto institucional
(GRAF.27). À princípio, definir isso pode parecer fácil, mas nem sempre, corre-se o risco de
um pouco de arbitrariedade na classificação.
162
GRÁFICO 27 – Partição em relação à natureza institucional da rede
5%2   %2   %  
5%  
6%  
6%  
7%  
8%  
11%  
Fonte: Dados da pesquisa
48%  
Ongs
Trans-institucionais
Educational
Individual
Eventos
Movimentos Sociais
Governamentais
Media
A primeira pista para essa classificação foi o próprio domínio do site. Como a
grande maioria é “.org” ou “.com”, seria fácil dizer ‘organização não governamental” ou
‘comercial’. Mas, organização não governamental por si só é muito abstrato, significa
somente que não é governamental (Individual? Educacional? Social?), então a extensão do
domínio não serviu muito como referência.
Quase metade da rede é de ONGs. Procuramos classificar como ONG128 as
associações, institutos, oscips e ou instituições que têm regulamento e ação centrada na
sua própria identidade. São as clássicas WWF, Greenpeace, IUCN, Mongabay, Sócio-
ambiental, Rainforest Foundation, mas outras nem tão transnacionais, como Amigas do
Peito e a Fase.
Esse alto número da ocorrência de ONGs na rede, especialmente no caso do
Brasil, é coerente com o censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística(IBGE)129. De
1996 a 2005, observou-se um forte crescimento no número de organizações da sociedade
civil por 100 mil habitantes, passando de 66,5 para 184,4, aumento de aproximadamente
270%. São consideradas organizações da sociedade civil as fundações privadas e as
associações sem fins lucrativos.
O censo informa que, em 2010, havia 290,7 mil Fundações Privadas e
Associações sem Fins Lucrativos (Fasfil) no Brasil, voltadas, predominantemente, à religião
128 A denominação organização não-governamental começa a aparecer em documentos da ONU desde a
segunda metade da década de 1940, do século XX, no pós-guerra. Neste momento o termo era utilizado
se referindo às organizações internacionais, que se destacaram a ponto de possuírem direito a uma
presença formal na ONU, contudo não representavam governos. (ACIOLI, 2008, p.9)
129 INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA – IBGE. Disponível em:
<http://www.ibge.gov.br/home/presidencia/noticias/noticia_visualiza.php?id_noticia=
2161&id_pagina=1>. Acesso em: 18 jun. 2012. É o último censo disponível sobre o assunto.
163
(28,5%), associações patronais e profissionais (15,5%) e ao desenvolvimento e defesa de
direitos (14,6%). As áreas de saúde, educação, pesquisa e assistência social (políticas
governamentais) totalizavam 54,1 mil entidades (18,6%), já as entidades voltadas para a
temática ambiental são quase inexistentes, 0,8%. As Fasfil concentravam-se na região
Sudeste (44,2%), Nordeste (22,9%) e Sul (21,5%), estando menos presentes no Norte
(4,9%) e Centro-Oeste (6,5%)130.
Todas as outras categorias de estatuto institucional ficaram com menos de 12%.
Em seguida estão as trans-institucionais (11,22%), sendo a ONU o actante central (mais
bem referenciado da rede) e todas suas instituições agregadas, por promoverem essa
interação de instituições mais estruturadas, com identidade institucional bem definida.
Os grupos de cientistas, universidades e centros de pesquisas foram
classificados como educacionais (7,97%). Caso do Real Climate e do Skeptical Science. No
Brasil, é o caso da Rebea, rede brasileira de educação ambiental. Uma que poderia ser
ONG, por estar na fronteira, mas que classificamos como educacional foi o Instituto Ingá,
pela sua forte atuação em cursos de educação ambiental e técnicas agrícolas.
Os sites de indivíduos estão em quinto lugar (6,99%), com destaques
importantes como os blogs de Telma Monteiro, Altino Machado, Lou Gold e Denis Delbecq.
Nessa categoria, havia também actantes nas fronteiras entre duas naturezas institucionais.
Na categoria eventos (6,02%) está o site com mais referências na rede, o da
Conferência Rio+20, seguido por outros como a Cúpula dos Povos. Os sites dessa categoria
geralmente têm vida limitada, mas se as edições são periódicas, geralmente o mesmo site é
utilizado a cada período, como o caso da pequena comunidade do Hidroworld, que tem
versões brasileira, russa, indiana e mundial (cluster ‘I’).
As redes de ONGs que se articulam em fóruns e funcionam pela interação de
indivíduos em listas de discussão foram consideradas movimentos sociais (5,53%), como o
MST, Via Campesina, MAB, Racismo Ambiental, Xingu Vivo, Fórum Carajás e Fórum Social
Mundial, e também redes de instituições de apoio ao evento da Rio+20, como o caso do
Road to Rioplus20.
Os governamentais (5,37%) incluem o IBAMA, Ministério do Meio Ambiente,
Ministério da Cultura, Ministério do Desenvolvimento Agrícola, Itamaraty e Iphan. E
estrangeiros como a Casa Branca, Agencia Ambiental dos Estados Unidos, governo da
Colômbia, da França etc. Um padrão entre esses sites é a extensão “.gov”.
130 INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA – IBGE. 2010. Disponível em:
<http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/economia/fasfil/2010/default.shtm>. Acesso em: 12mar. 2013.
164
Os sites governamentais foram selecionados por pautarem com frequência a
conferência Rio+20, pela presença no evento e por fazerem referência ao site oficial,
mesmo que sua presença nessa rede possa causar algum embaraço. Foi o caso do
Ministério da Cultura, quando convidado a responder o survey da pesquisa, respondeu: “O
Ministério da Cultura agradece a sua mensagem e informa que não produz informações com
a temática ambiental, o que nos impossibilita em ajudá-la com o questionário.”
Os sites de mídia são poucos (4,72%) porque todas as grandes empresas de
mídia foram recusadas na rede, para não desarmonizarem o desenho com seus nós super
referenciados, característicos da parte alta da web. Nessa classificação, portanto, restaram
sites como o Centro de Mídia Independente, o Global Voices131 e o Brasil de Fato. O blog
Dotearth132, do New York Times, foi registrado por ter um domínio diferente do veículo que o
acolhe.
Religiosas (2,28%) foram classificadas, sobretudo, as que têm uma mensagem
mística sobre a questão ambiental, como o caso da Indigenize, Cáritas, Adital e Actalliance.
Em ‘Negócios’ (2,28%) foram classificadas as empresas de energia, como a Eletronorte
(que faz o blog oficial de Belo Monte) e o Banco Mundial.
Por fim, o único actante identificado com o estatuto institucional ‘político’ foi o
Partido pelo Descrescimento, francês, que atua desde 2006 na França com o slogan: “une
croissance illimitée dans un monde limite est une absurdité133.
5.2 Identificação de práticas e conteúdos
Esse item busca, na organização da informação e originalidade dos conteúdos
dos sites visitados da rede, exemplos de termos e conteúdos que comprovam a existência
dos regimes de informação da gestão da natureza entre ecologia social, economia verde e
ecologia profunda.
As práticas comunicacionais foram reportadas em relação à formação de vias
informacionais, à interação entre vários elementos de um mesmo nó para eleger as
informações publicadas, ao uso de ferramentas de rastreabilidade e à formação de famílias
semânticas, (segundo o conceito de famílias de palavras de Gomez (2012), discutido no
capítulo 2 p. 56).
Entre os sites do MST, Via Campesina, CPT, MAB e Brasil de Fato muitas
matérias são repetidas, como memes que provocam produções de sentido, por isso
131 Disponível em: <http://globalvoices.org/>. Acesso em: 26 jun. 2012.
132 Disponível em: <http://dotearth.blogs.nytimes.com/>. Acesso em: 28 jun. 2012.
133 “um crescimento ilimitado em um mundo limitado é um absurdo”. (Tradução nossa)
165
evocamos a corruptela ‘pragmemetismo’. A diferença do pragmatismo para o
pragmemetismo é que no segundo a produção de sentido é não só entendida, mas também
incorporados seus signos em uma moldura (estética, visual) do próprio sujeito informacional,
que se apropria da informação como sua.
É o caso da entrevista com Luiz Zarref, da Via Campesina, em que ele afirma
que “o agronegócio está se consolidando como o grande inimigo do Brasil e da democracia”
e elogia a presidenta Dilma por ter vetado nove pontos importantes que restringe o
agronegócio.
O conteúdo se torna uma pílula informacional, emoldurada pelo template dos
sites. Nas reproduções das matérias ocorrem pequenas traduções inter-semióticas,
adaptadas ao layout e ao estilo do editor, por exemplo, o Brasil de Fato publicou apenas
uma frase explicando quem é o entrevistado. Já a jornalista Iris Pacheco do MST fez uma
introdução opinativa de três parágrafos ressaltando os pontos vetados no Código Florestal e
a posição do agronegócio como ‘grande inimigo’.
Percebemos uma confusão na autoria da matéria, não se sabe quem fez a
entrevista, se foi Iris Pacheco e reproduzida pelo Brasil de Fato, ou o contrário. A matéria,
enquanto conteúdo, é um módulo cultural, um objeto que se adapta, evidenciando a cultura
das redes como uma cultura modular, como explica Manovich (2001), e sua significação é
mais importante que sua autoria. A maioria dos sites que replica notícias não cita a fonte, e
quando cita, não faz um link direcionando para a fonte (FIG.28).
166
FIGURA 28 – Meme do artigo sobre agronegócio
Fonte: Brasil de Fato, MST, MAB, Cedefes, ANA e Mercado Ético134.
Essa re-interpretação e re-incorporação de uma mesma informação podem ser
relacionadas ao diagrama da liquidez proposto por Venturini (2012a, p. 13). Se os nós, em
134 BRASIL de fato. Disponível em: < http://www.brasildefato.com.br/>. Acesso em: 15 out. 2012.
MOVIMENTO DOS TRABALHADORES SEM TERRA – MST. Disponível: <http://www.mst.org.br/>.
Acesso em: 16 out. 2012.
MOVIMENTO DOS ATINGIDOS POR BARRAGENS – MAB. 2012. Disponível em:
<http://mabnacional.org.br/>, Acesso em: 23 de set.2012.
CEDEFES. Disponível em: <http://www.cedefes.org.br/index.php#>. Acesso em: 21 out. 2012.
ANA
Articulação
Nacional
de
Agroecologia.
Disponível
em:
<http://www.agroecologia.org.br/index.php/sobre-a-ana>. Acesso em: 21 out. 2012.
MERCADO ético. Disponível em: <http://mercadoetico.terra.com.br/>. Acesso em: 22 out. 2012.
167
sua diferença, se igualam em uma informação, eles se fundem em um só ator,
momentaneamente, para depois se diferirem em seguida, quando mudam as publicações,
nos magmas deslizantes dos fluxos informacionais das redes.
O blog de Telma Monteiro (FIG.29), do subcluster c1, tem seus conteúdos
repetidos integralmente e ou com pequenas modificações em sites menos citados, como o
caso da tabela abaixo. A entrevista “Belo Monte, um conto de fada disfarçado”135 é replicada
no site do Instituto Humanitas Unisinos (IHU)136, Revista O Viés137, Envolverde138, TV Meio
Ambiente139, Fórum de Direitos Humanos e da Terra140 e Plurale141.
FIGURA 29 – Meme da entrevista de Telma Monteiro
Fonte: Instituto Humanitas Unisinos, Revista O Viés, Envolverde, TV Meio Ambiente, Fórum de Direitos
Humanos e da Terra e Plurale.
Essas réplicas em outros sites podem ser consideradas traduções semióticas de
uma mesma informação. Nesse caso, a entrevista foi produzida por Thamiris Magalhães, da
revista do IHU. Telma Monteiro está presente em outras evidências de meme de c1. Na FIG.
30, seu blog compartilha conteúdos com os sites O Furo e Língua Ferina. O usuário, ao
135 Disponível em: <http://telmadmonteiro.blogspot.fr/2012/05/belo-monte-um-conto-de-fada-disfarcado.
html>. Acesso em: 9 dez. 2012.
136 Disponível em: <http://www.ihuonline.unisinos.br/index.php?option=com_content&view=article&id=4431
&secao=392>. Acesso em: 9 dez. 2012.
137 Disponível em: <http://www.revistaovies.com/colaboradores/2011/07/falando-a-verdade-sobre-belo-
monte-e-o-plano-decenal-de-energia/>. Acesso em: 9 dez. 2012.
138 Disponível em: <http://envolverde.com.br/ambiente/entrevistas-ambiente/belo-monte-o-calcanhar-de-
aquiles-do-governo-entrevista-especial-com-telma-monteiro/>. Acesso em: 9 dez. 2012.
139 Disponível em: <http://tvmeioambiente.com.br/noticias/belo-monte-um-conto-de-fada-disfarcado-
entrevista-com-telma-monteiro/>. Acesso em: 9 dez. 2012.
140 Disponível em: <http://direitoshumanosmt.blogspot.fr/2012/04/telma-monteiro-belo-monte-e-rio20.html>.
Acesso em: 9 dez. 2012.
141 Disponível em: <http://www.plurale.com.br/noticias-ler.php?cod_noticia=11993&origem=busca&filtro=
ativar&q=Belo+Monte+e+Rio%2B20+%2F+Entrevista+com+Telma+Monteiro. Acesso em: 9 dez. 2012.
168
visitar um site, pode cair em outro e em outro, e na repetição da informação, cria-se um
ambiente informacional de confiança, ou de desconfiança, se algum comentário duvidoso for
acrescentado.
FIGURA 30 – Meme da matéria “Madeira, um rio em fúria”
Fonte: O Furo, Telma Monteiro e Língua Ferina.
Isso evidencia que os autores circulam nos mesmos ambientes informacionais. A
rede íntima de cada produtor de informação deixa rastros, pode ser explorada. Rogério,
Almeida, autor de O Furo, é colaborador da EcoDebate, da rede Fórum Carajás e articulista
do IBASE. Se explorarmos mais, encontraremos outras ligações.
O MAB, MST e Brasil de Fato são ligados ao contexto norte-americano a partir
do blog de Brenda Norrel (FIG 31). Nesse caso, também é possível identificar atores e
ambientes informacionais coincidentes. É evidente a conexão em torno de questões do
movimento indígena, composta pelos blogs Mohawk News142, Tars Sands Blokade143, The
Broom Stick Revolution144, Cultural Survival145, Earth People146e Indigenous
Responsabilities Preventing Pipelines147.
142 Disponível em: <http://www.mohawknationnews.com/>. Acesso em: 2 nov. 2012.
143 Disponível em: <http://tarsandsblockade.org/>. Acesso em: 2 nov. 2012.
144 Disponível em: <http://www.broomstickrevolution.com/>. Acesso em: 2 nov. 2012.
145 Disponível em: <http://www.culturalsurvival.org/publications/cultural-survival-quarterly/free-prior-and-
informed-consent-protecting-indigenous>. Acesso em: 2 nov. 2012.
146 Disponível em: <http://earthpeoples.org/blog/?p=3027>. Acesso em: 2 nov. 2012.
147 Disponível em: <http://unistotencamp.wordpress.com/2012/11/23/solidarity-actions/>. Acesso em: 2 dez.
2012.
169
FIGURA 31 – Blogosfera em torno do site de Brenda Norrell
Fonte: Mohawk News, Tars Sands Blokade, The Broom Stick Revolution, Cultural Survival, Earth
People Indigenous Responsabilities Preventing Pipelines.
Podemos considerar que essa é a blogosfera mais íntima de Brenda Norrell,
com quem ‘se alimenta’ dos mesmos conteúdos.
Entre os sites da blogosfera de Norrell, há em comum a utilização de imagens e
personalidades dos signos do misticismo xamânico para ilustrar informações sobre questões
políticas de território das populações indígenas do hemisfério norte-americano. A evocação
de elementos xamânicos é quase inexistente nos movimentos sociais do sul, citados
anteriormente, talvez porque a tendência marxista inibe essa mística.
Sua presença em meio ao cluster de ecologia social, dominado por instituições
brasileiras, revela uma conexão entre os movimentos indígenas norte-sul das Américas.
Esse grupo de blogs possui um discurso contra as políticas neoliberais, associa diferentes
conflitos indígenas e campesinos por terra com questões da política mundial. A reportagem
The palest’indians, indigenous victory’ (Os palest’índios, vitória indígena), denuncia que a
política colonialista dos Estados Unidos, Europa e Canadá é a culpada da guerra na
Palestina, assim como também a exploração de terras e povos indígenas secularmente é
financiada por banqueiros internacionais:
The bankers send their agents into a country destroy it and steal their natural
resources. Whoever protests gets bombed, starved and economic sanctions, which
is war. This time the heavily armed high tech Israeli army could not defeat poor
weaponless Palest’Indians. They did not wait for someone to free them. They freed
themselves. They set the precedent. Soon the beast will not be in charge. Canada,
US and Israel now have to deal directly with us, the owners of the land and
resources. The UN is another bankers corporation. It will crumble from within. The
170
Indigenous will never be subservient to the bankers again.(THE PALEST’INDIANS,
2012, on-line)148
Seu site tem mais de quatro mil publicações desde 6 de março de 2007, seu
PageRank é 5, ou seja, é relativamente bem citado entre os blogs de mesmo gênero.
Fazendo análises e reivindicações políticas transnacionais, esse circuito funciona como
think tank descentralizado. O Brasil é tema constante. Brenda Norrel replica a notícia do
documento lançado em novembro de 2012 pela Earth Peoples, em parceria com a
Articulação dos Povos Indígenas do Brasil, que denuncia a violação aos direitos humanos,
resultado da política brasileira de país ‘emergente’:
Brazil is seen in the world as one of the fastest economically growing countries
especially in the last decade, and therefore considered to have evolved from the
status of a third world country to the status of an emerging country, but even with the
investment in programs such as the Bolsa Familia that aims to end hunger of the
population living in extreme poverty, there are still many poor, and indigenous
peoples in Brazil are within this context of poverty.(EARTH PEOPLES, 2012, on-
line)149
Isso comprova a existência de processos de significação que denotam uma
comunicação entre entidades brasileiras e estrangeiras, e a importância dos movimentos
sociais ambientais do Brasil no contexto internacional.
Já o site Indigenize!!, da norte-americana Tina Fields publica posts de militância
ambiental conservacionista, mas não tem rastros de contatos externos com outros países.
Sua militância é a arrecadação de fundos para práticas conservacionistas, como a matéria
Native Lands Back in the Hands of Native Peoples150, sobre campanha indígena de
arrecadação de fundos (para a qual ela também pagou) em que foram obtidos 9 milhões de
dólares: “the very idea that the native peoples had to buy their own land back is completely
148 Os banqueiros enviam seus agentes para um país, destroem-no e roubam seus recursos naturais.
Quem protesta é bombardeado com sanções econômicas e alimentícias, isso é a guerra. Desta vez, o
bem armado exército de alta tecnologia de Israel não poderia derrotar pobres palest'índios desarmados.
Eles não esperaram por alguém para libertá-los. Libertaram-se. Eles estabeleceram um precedente.
Logo, a besta não estará mais no comando. Canadá, EUA e Israel agora têm de lidar diretamente com a
gente, os donos da terra e dos recursos. A ONU é outra corporação dos banqueiros. Ela vai ruir por
dentro. O indígena nunca mais será subserviente aos banqueiros. As corporações imperiais serão
mendigos, em vez dos bandidos brutais mentirosos que eles sempre foram. (Tradução nossa).
THE
PALEST’INDIANS,
indigenous
victory.
Disponível
em:
<http://bsnorrell.blogspot.com.br/2012/12/mohawknation-news-palestindians.html>. Acesso em: 19 dez.
2012.
149 O Brasil é visto no mundo como um dos países que mais crescem economicamente, especialmente na
última década, e, portanto, considera-se que evoluiu do status de um país do terceiro mundo para o de
um país emergente, mas, mesmo com o investimento em tais programas como o Bolsa Família, que visa
acabar com a fome da população vivendo em extrema pobreza, ainda há muitos pobres e os povos
indígenas no Brasil estão dentro deste contexto de pobreza. (Tradução nossa)
EARTH PEOPLES. Disponível em: <http://earthpeoples.org/blog/?p=2866>. Acesso em: 18 dez. 2012
150 “Terras nativas de volta às mãos de povos nativos”. (Tradução nossa)
INDIGENIZE. Native Lands Back in the Hands of Native Peoples. 2012. Disponível em:
<http://indigenize.wordpress.com/2012/12/01/native-lands-back-in-the-hands-of-native-peoples/>.
Acesso em: 18 dez.2012.
171
perverse. But the important thing is, They Got It Back. This is cause for big time celebration
(INDIGENIZE, 2012, on-line)151.
5.2.1 Formatação do olhar e participação do público: o caso do EcoDebate e
do Racismo Ambiental
Para alimentar o site Ecodebate, a interação da equipe é virtual. Eles estão
espalhados no nordeste, Porto Alegre e no interior do Rio de Janeiro. Henrique Cortez,
coordenador, ressalta que no grupo nunca houve conflitos, mas que as vezes as pessoas
reclamam de não cobrirem fatos políticos. “A nossa pauta é marginal, não queremos cobrir
o que a grande mídia pauta”, responde Henrique. Isso denota que, nos processos de
convencimento para a formação de uma crença, no âmbito do coletivo-autor do Ecodebate,
pela própria origem contextual de cada membro (suas experiências colaterais fundadas em
vivências da questão ambientalista), existe uma coesão conceitual em torno de valores que
decidem pelos fluxos informacionais, comprovada pela informação de que “nunca tiveram
conflitos”. O que resulta em uma boa organização estrutural capaz de publicar grandes
volumes de dados.
Henrique explica que, como o Ecodebate não tem fins comerciais, as regras de
publicação muito estritas, o que dificulta contratos com anunciantes. Por outro lado, as
assessorias de imprensa enviam 30 a 40 releases por dia. Ele faz uma triagem do que
publicar, textos de empresas só publicam se for de utilidade pública. Geralmente renunciam
os eco-fashions:
os eco-fashions, que gostam de mandar releases todos os dias, nós recusamos.
Quando uma empresa vem nos dizer que inventou um sapato que reduz o carbono,
isso entra no green-wash, o marketing verde mais do que a atitude verde, a
publicidade verde, quando percebemos que é de verdade, podemos até publicar,
mas normalmente é só marketing. (informação verbal)152
Para Henrique, a principal vitória do EcoDebate é ter conseguido quebrar a
lógica da internet de que todos os textos precisam ser curtinhos:
gostamos de fazer conteúdos profundos de 12 laudas, não temos horóscopo, nem
charge [...] Tentamos evitar textos em estilo web, se o cara tem tempo de ficar 7
horas por dia no Facebook, ele pode perder 20 minutos lendo coisas mais sérias,
esse é o nosso público, do eu leio depois, o cara que administra o horário que lê a
informação. (informação verbal)153
Ele afirma que havia uma ideia original de criar um púbico leitor, ajustar uma
pauta reflexiva, que não fosse apocalíptica. Hoje conseguiram, segundo ele, o leitor
151 A idéia de que povos nativos precisaram comprar sua própria terra de volta é completamente perversa.
Mas a coisa importante é que eles a conseguiram de volta. Isso é causa de grande celebração.
(Tradução nossa)
152 Henrique Cortez, em entrevista
153 idem
172
militante, engajado, que comenta, acrescenta dados à matéria. Tem uma visitação de 170 a
180 mil IPs únicos por mês, o que comprova a existência de uma via informacional habitada
por sujeitos já habituados, fortalecendo a crença do regime da informação da ecologia
social. Boletins de informação (newsletters) retornam a visitação ao site, e o retorno é
medido a cada semana.
O Racismo Ambiental envia boletins para oito redes, de químicos e mineração
às redes indígenas, o que é um índice da diversidade desse sujeito informacional. Tânia
Pacheco, a fundadora do site, é pesquisadora e coordenadora do projeto da Fiocruz ‘Mapa
da Injustiça Ambiental no Brasil’. O site é a maior fonte de informação para alimentar esse
mapa e, por outro lado, além das informações que levanta em seu mapa ela também replica
no blog. Isso comprova a fluidez, cada vez maior, entre os espaços profissional e militante
na vida de um pesquisador.
Para eleger as informações publicadas, Tânia escolhe entre conteúdos que
recebe de colaboradores e denúncias anônimas: “dos estados como Rondônia e Amazonas,
muita pessoas enviam denúncias, dizendo que sofreram algo, ou sabem de alguém que
sofre”, disse ela em entrevista para essa pesquisa.
As matérias que não selecionadas para os boletins diários estão no Facebook,
que tem mais de 500 amigos e no twitter, com 914 seguidores e mais de 11 mil tweets
postados. São cerca de 20 mil acessos semanais, sem nenhum patrocinador, o que denota
um público quase predominantemente brasileiro, segundo a entrevistada. Isso comprova
nossas observações sobre o trânsito dos fluxos informacionais da ecologia social serem
mais em português.
Questionada se concorda com isso, Tânia afirmou sim, que não se relacionam
com ONGs internacionais, porque “os estrangeiros têm outros mecanismos, preferem quem
tem um perfil institucional mais estruturado”, disse Tânia.
Nos sites da ecologia social, as controvérsias estão expostas nos próprios
comentários do site. Tânia conta que recebem muitos ‘xingamentos’:
As pessoas levam de fato à sério, hoje em dia, que o blog é um instrumento de luta.
Mas eu também sou xingada, se falamos dos guaranis kaiowas, somos xingados. Na
campanha contra o amianto, fomos xingados, dependendo do nível do xingamento,
se não tem palavrão, nós publicamos. (informação verbal)154
Percebe-se que os diálogos no site do Racismo Ambiental têm sempre
predomínio de secundidade, ou seja, de conflito entre diversos atores que se manifestam.
Isso pode ser considerado um padrão nos sites do cluster da ecologia social de esquerda,
principalmente nos clusters a1 e a3. Mesmo em assuntos que existe já um consenso
154 Tânia Pacheco, em entrevista para essa pesquisa
173
científico comprovado, como o risco de contaminação com o amianto (que pode-se dizer,
tem predomínio de terceiridade, pois já é uma verdade incontestável), eles recebem
comentários como esse:
Edinilson Honório Machado says: 29/10/2012 at 16:24 Boa Tarde! Lamentável essa
discussão, a atividade industrial com o Amianto Crisotila, está dentro do mais alto
padrão de qualidade quando o assunto é: respeito ao ser humano e ao meio
ambiente; Muita demagogia quando se fala em paralisar uma atividade como essa;
Uma das melhores empresas para se trabalhar no Brasil nos últimos anos; O sonho
de muitos que trabalha outras atividades industriais é um dia ter a oportunidade de
trabalhar na Mineradora SAMA (Extração do Amianto), justamente pela forma como
é conduzida suas atividades, com respeito, dignidade e valorização do ser humano,
qualidade de vida e desenvolvimento sustentável; 32.000 pessoas serão afetadas
imediatamente caso venha proibir essa atividade; Tem famílias chorando
antecipadamente; Um apelo pelo AMOR A DEUS, antes de tomar qualquer decisão,
visite a nossa cidade, visite a empresa que estrai o Amianto…. Encarecidamente
Edinilson Honório (MACHADO, 2012, on-line)155
O que para uns significa ‘contaminação’, para outros é ‘respeito, dignidade e
valorização do ser humano’. A crença não fica bem formada, pois ainda é território em
disputa.
Por outro lado, se nas redes que saltam dos comentários existe discussão e
conflito, os actantes da ecologia social costumam se citar e validar as informações uns dos
outros, o que configura seu regime informacional. A maior conquista do site, para Tania
Pacheco, foi quando foram citados pela CPT, no relatório anual Conflitos de Terra no Brasil,
como fonte primária de informação, no quesito violências e mortes no campo. “É a CPT
reconhecendo o nosso trabalho, fiquei muito orgulhosa”, conta Tânia. Esses processos de
semiose deslanchados pelo Racismo Ambiental alimentam a formação das crenças da CPT.
E o contrário ocorre, Tânia se sente motivada a continuar seu trabalho com essa citação e
isso reforça o valor do reconhecimento entre os actantes da rede. Para ela, nos últimos
anos, a situação tem melhorado:
Os povos indígenas e quilombolas, antes, eram totalmente marginalizados, índio
precisava ir pra cidade e fingir não ser índio, essas duas figuras nos últimos 20 anos
são protagonistas de uma luta política, ninguém tira mais isso deles. Quando o
guarani kaiowa berra, o pais escuta. O fato deles virarem protagonistas, de poderem
falar, no lugar de um intelectual falando por eles, significa muito. (informação
verbal)156
5.2.2 Os sujeitos e os widgets no espaço informacional
A aproximação entre o leitor e usuário, ou da intenção do produtor de informação
rastrear o seu usuário é vista em vários nós da rede. Candido Neto compartilha os números
155 MACHADO, E. H. Amianto está na pauta de julgamento do STF da próxima quarta-feira, 31/10.
Disponível em: <http://racismoambiental.net.br/2012/10/amianto-esta-na-pauta-de-julgamento-do-stf-da-
proxima-quarta-feira-3110/>. Acesso em: 23 dez. 2012.
156 Tânia Pacheco, em entrevista para essa pesquisa
174
de visitação de sua página (615.526 em 9 de dezembro de 2012), possui um widget que
anuncia onde estão as pessoas que visitam, na intenção de capturar os rastros que
indiquem sua popularidade. Por outro lado, em um discurso que denota consideração com
os usuários, ele anuncia decisões de organização da informação e adoção de uma nova
ferramenta:
No aniversário do blog, a novidade é o uso do Scribd para compartilhamento de
arquivos. Com ele, paulatinamente darei uma enxugada na barra lateral do blog,
migrando todos os textos que lá estão e deixando apenas um link de acesso. Para
quem não conhece, o Scribd é uma espécie de estante virtual na qual você lê,
publica e compartilha matérias, artigos, textos, fotos e qualquer documento em
várias extensões. Com ele pretendo socializar muitos trabalhos acadêmicos, textos,
decisões judiciais, etc. que geralmente, devido ao tamanho ou ao formato, são
inviáveis de serem publicados diretamente no blog. O endereço é
http://pt.scribd.com/LinguaFerina. (CUNHA NETO, 2011, on-line)157
Essas informações são no sentido de contextualizar o usuário que pode
estranhar se volta ao ambiente informacional e não encontra como havia deixado antes. É
uma maneira também de direcionar a experiência do usuário, como fazem muitos widgets
aplicados aos sites que utilizam plataformas livres de gestão de conteúdo.
O Racismo Ambiental também possui uma lista de rastreabilidade do usuário e o
Fórum Br163 possui a famosa calculadora de emissão de carbono (FIG.32), um widget bem
frequente nos sites dos movimentos ambientalistas, que denota esse caráter de simulação
presente na gestão da natureza.
157 CUNHA
NETO,
C.
Língua
Ferina:
4
anos...
2011.
Disponível
em:
<http://candidoneto.blogspot.com.br/2011/12lingua-ferina-4-anos.html>. Acesso em: 15 jan. 2012
175
FIGURA 32 – Sites Língua Ferina, Forumbr163 e Racismo Ambiental.
Fonte: Sites Língua Ferina, Forumbr163 e Racismo Ambiental.
Formas de visualizar a abordagem das famílias semânticas presentes nos
discursos dos sites são nuvens de tags (FIG. 33), lista de categorias, elementos visuais
repetitivos e ferramentas que evidenciam práticas e conteúdos mais recorrentes. No caso do
site Racismo Ambiental, é evidente, pela nuvem de tags, que seus conteúdos transitam
entre os assuntos povos indígenas, território, violência e comunidades tradicionais.
Se por um lado as nuvens de tags são uma forma de organização e acesso à
informação, por outro elas facilitam identificar rapidamente os termos e conteúdos mais
abordados, que dão base ao regime informacional pretendido pelo actante. São onde estão
publicadas de maneira mais explícita as famílias de palavras que sustentam a gestão da
natureza. As listas de categorias dos sites cumprem essa mesma função.
176
FIGURA 33 – Tags e categorias do blog Racismo Ambiental
Fonte: Site Racismo Ambiental
As famílas semânticas podem ser visuais, como os elementos repetitivos e
interrelacionados dos módulos de informação da ONG Peta (FIG.34). Centrados na figura
de Paul McCartney, galinhas, cachorros, cavalos, ovelhas são memes do discurso
vegetariano presente na ecologia profunda. Embora não sejam escritas, como em nuvem
de tags, vários ícones relacionados a uma mesma causa podem dar a mesma sensação de
padronização de conteúdos.
177
FIGURA 34 – Organização da Informação e seções do site da Peta
Fonte: Peta
5.3 Processos de semiose
Esse item busca, em cinco breves exemplos, destacados de conteúdos dos sites
cartografados, elementos para ilustrar os processos de semiose da rede da gestão da
natureza. São eles: a crença para a doação, as semioses do vegetarianismo, o caso da
mudança do horário do Acre, a teologia ambiental do blog do G1 Mundo Sustentável e as
experiências estéticas e visuais onde os parques são extensões do espaço domésticos.
Embora sejam elementos diversos, seu ponto em comum está em pertencerem a mesma
rede da gestão da natureza, e assim mostrar a sua diversidade cultural, social e econômica.
Em seguida, é feita uma análise das imagens do site oficial da Rio+20,
relacionadas com o predomínio das categorias fenomenológicas de Peirce. Para finalizar a
análise, narramos o caso do conflito do movimento social dos Guarani-kaiowa no Facebook
e descrevemos um pouco a nebulosa da rede, aqueles sites que não são ligados aos
clusters descritos.
5.3.1 O pragmatismo das doações
Como já citados em exemplo anteriores, as informações referentes a doações
são comprovadamente agregadoras de valor que legitimam a existência de um actante.
178
Números e dados referentes ao uso desses valores significam transparência e a lógica de
apresentação semiótica dessas informações revelam que o pano de fundo da gestão da
natureza é, sobretudo, uma questão de dinheiro.
Live below the line é o programa da Rainforest (subcluster a2) que incentiva as
pessoas a doarem US$1,5 por dia (já com mais de 10 mil engajamentos). Esse é o valor
com o qual vivem cerca de 1.4 bilhão de pessoas no mundo. O vídeo de sensibilização da
campanha usa música indígena e imagens de pessoas subnutridas da África, chuvas em
florestas equatoriais, crianças indígenas, com frases de apelo: “salve as florestas, seu
suporte faz toda diferença”.
Os números, nos processos de semiose e formação das crenças, dão ideia de
algo concreto, racional, simbólico, exato, o signo evocado para alcançar a terceiridade, que
é o ato de doação - mas ao mesmo tempo, existe um certo grau de secundidade, de conflito
de significação: 1,4 bilhão de pessoas no mundo não é algo facilmente imaginável. Já
US$1,5 por dia já é um valor aceitável e viável. As paisagens evocam emoções, a
sensibilização do coração para a compreensão da mensagem leva o interpretante ao ato de
doar dinheiro.
As quatro imagens da FIG. 35 ilustram esse processo de semiose: o índio
empoderado pelo computador na aldeia, as meninas vendendo limonada para salvar o
planeta, a logomarca da campanha ‘Viver abaixo da linha’ que arrecada US$1,5 por dia e o
apelo que ‘seu suporte faz toda diferença’ dá ao sujeito informacional a segurança de que
precisa se engajar. Os resultados são mais de dez mil engajamentos já feitos.
FIGURA 35 – Imagens do site da Rain Forest Foundation
Fonte: Rain Forest Foundation
179
5.3.2 O hábito do vegetarianismo
O FatFreeVegan é o site ligado ao movimento eco-espiritual da auto intitulada
suprema mestra Ching Hai, uma vietnamita que estudou na Europa, “iluminou-se” e desde
então distribui conselhos sobre meditação e vegetarianismo como solução para a crise
global. Seu grupo distribuiu marmitas de comida vegana durante a Rio+20, junto com outros
materiais como o livro From crisis to Peace (HAI, 2010) onde a guru defende que a resposta
para a questão da mudança climática é o vegetarianismo (FIG. 36). O processo pragmático
para formação da crença vegetariana se apoia na causa ambiental. Na revista de receitas, a
reportagem afirma que o aquecimento global, a crise da água, do desmatamento e da
escassez de alimentos são causadas pela produção de carne para a alimentação.
E o processo de semiose não para de agregar novos signos. Em outro
infográfico, evoca a imagem de supostos ‘vegetarianos’ famosos: o cientista Einstein, o
pintor Leonardo Da Vinci, o filósofo chinês Lao Tzu, o grego Pitágoras são signos de
sabedoria e grandeza intelectual, e outros como a atriz Natalie Portman (de Stars Wars) e o
campeão de basquete John Salley. Beleza, sabedoria e sucesso esportivo são signos que
fortalecem o processo pragmático para convencer as pessoas à aderirem à filosofia
vegetariana, junto à ameaça da crise do aquecimento.
A mestra vietnamita aparece em montagens kitsch: cabelos loiros, paisagem
paradisíaca, com animais, rio cheio de brilhantes, natureza e arco-íris. A mensagem é clara,
torne-se vegetariano e terá o céu na terra, sabedoria, coragem, fama, beleza e saúde. Tudo
para agregar valor à formação da crença que altera um hábito cotidiano íntimo, a opção de
recusar a carne em sua alimentação.
FIGURA 36 – Recortes de material coletado durante a conferência Rio+20
Fonte: 1) Capa do Livro From crisis to peace, 2 e 3) recortes de material publicitário pró
vegetarianismo distribuído na Rio+20
180
5.3.3 Mudanças de hábitos: o caso de Denis Delbecq
Estudar e escrever sobre ambientalismo fizeram Denis Delbecq, autor do blog
Effects de Terre, mudar seus comportamentos cotidianos. Ele fez reformas em sua casa
para economizar energia em 50% e incentiva sua família a usar mais roupa de frio e menos
aquecedor, mas diz que faz isso para economizar dinheiro. Pensa que alguns hábitos
ambientalistas são ridículos, por exemplo, se ele come menos carne hoje é pela sua saúde,
não pela natureza. E que vê contradições no comportamento de um ecologista que compra
produtos orgânicos que viajaram mais de 1.500 km. “Eu não acho os orgânicos gostosos,
sou um francês que gosta de comer bem, além disso, nessa moda de orgânicos, quem
menos ganha é o produtor, tudo fica com o marketing e a certificação”, disse ele.
Ele afirma que, com a crise econômica, o sentido do ambientalismo está cada
vez mais associado a uma filosofia de vida de ricos, que se restringe a salvar árvores e
pássaros. Esses fatos, para ele, esvaziam o sentido dos eventos promovidos pela ONU:
Eu acho a Rio+20 um tipo de miragem. Evidentemente, se desenvolvemos a
economia verde, é desenvolver o savoir faire, ter uma agricultura sem pesticida...
Precisamos de verdadeiras mutações, e o que se mostra é esse tipo de miragem, de
Eldorado, como se pudéssemos fazer energia pelo nosso lixo... A economia verde
concorda com o crescimento infinito, por outro lado, estimula as iniciativas
individuais, se você transforma o consumo de energia em uma casa, podemos
reduzir de 7 a oito vezes o gasto. Mas para isso precisamos criar leis para tudo,
essa burocratização faz medo. (informação verbal)158
Para Delbecq, a economia verde é vendida como uma solução e todas as
grandes multinacionais esverdeiam seu discurso. Ele não acredita no programa da ONU, o
REDD (do inglês Reducing Emissions from Deforestation and Forest Degradation), “a
extensão do mercado de carbono para recompensar os países virtuosos, que conservam
suas florestas e beneficiam o mundo todo” porque acha que essa remuneração nunca vai
chegar nas pessoas que vivem nas florestas, que quem ganha com isso são os governos, e
não as populações locais.
5.3.4 Mudanças de hábitos coletivos: o horário do Acre
A principal luta vencida pelo blog de Altino Machado (cluster A), através da
mobilização da opinião pública, foi reverter a mudança do horário do estado do Acre.
Durante 90 anos, o Acre teve o horário de duas horas menos que Brasília. Mas, em 2008, foi
158 Entrevista concedida para esta pesquisa
181
igualado ao horário do estado de Rondônia (uma hora a menos que Brasília), a partir de
projeto de lei do atual senador Tião Viana, dizem os rumores, para atender empresas de
telecomunicação, depois que essas foram obrigadas pelo governo a passarem
programações diferentes em estados com horários diferentes, por causa das faixas de
censuras dos canais de televisão (antes disso, a novela das oito passava as seis da tarde
para as crianças no Acre).
Após inúmeras manifestações contra o horário, que foi mudado sem consultar a
população, fizeram finalmente um plebiscito e a mudança foi cancelada três anos depois,
em 2011. O símbolo mais representativo da luta pela volta do horário natural, no blog de
Altino, foi a publicação da foto de uma nota de dinheiro com a frase ‘Tião Viana traidor
mudou o horário do Acre’ (FIG. 37), recebida de troco no comércio. Nesse processo
semiótico, o objeto é o ato do político, que provocou intensa revolta na população: o
sentimento de traição. Na secundidade, o que apareceu do signo, os representâmens foram
as ações advindas disso (mudança do horário, protestos, plebiscito), notícias que foram
veiculadas no blog durante mais de três anos, provocando mobilização social.
O interpretante, o que ficou disso na mente da população, depois da volta do
horário, encarna simbolicamente na frase escrita na nota, que vai passar de mão em mão
como potencial formadora de crença em torno da imagem do político, que ficou associado à
lembrança do desconforto com o horário.
FIGURA 37 – Nota com mensagem “Tião Viana traidor, mudou horário do Acre”
Fonte: BLOG, on-line159
159 BLOG do Altino Machado. Disponível em: <http://altino.blogspot.com.br/>. Acesso em: 3 out. 2012.
182
5.3.5 Espiritualidade e ambientalistmo: a ciberteologia ambiental
O site Mundo Sustentável (subcluster a2) se diferencia dos demais por uma
seção chamada ‘Espiritualidade’, apresentada assim:
Diversas religiões e tradições espirituais têm se manifestado sobre a crise ambiental
que ameaça a vida no planeta. Apresentamos uma seleção de textos que
confirmam a existência de uma teologia ambiental, e uma preocupação crescente
dessas tradições em ratificar a presença do sagrado nas mais diversas
manifestações de vida. (MUNDO, on-line)160
Essa ‘teologia ambiental’ é ilustrada com as imagens de Dalai Lama, Leonardo
Boff e Divaldo Pereira Franco, textos do rabino Nilton Bonder e da Pastoral da Ecologia e
Meio Ambiente de São Paulo, que cita o Papa João Paulo II como o ‘Papa Ambientalista’.
André Trigueiro, o autor, é espírita e assina o livro Espiritismo e Ecologia. Segundo ele, as
duas filosofias se cruzam em vários momentos.
Espíritas e ecologistas utilizam a visão sistêmica para defender a biodiversidade, o
uso sustentável dos recursos naturais, o consumo consciente, a primazia dos
projetos coletivos em detrimento do individualismo. São tantas afinidades, que
certas obras espíritas poderiam perfeitamente embasar alguns postulados
ecológicos.(TRIGUEIRO, 2005, on-line)161
A verdade mais afirmada pelo espiritismo, o reencarnacionismo, confirma a
“impermanência, a transitoriedade de todas as coisas, o eterno devir preconizado pelos
filósofos gregos, a realidade física inexorável do universo onde nada é, tudo está”
(TRIGUEIRO, 2005, p.8). Isso forma a crença de que, se somos eternos usuários do
planeta, na primeiridade, e se não cuidamos bem dele, na secundidade, o preço do futuro
não pode ser evitado. Já a crença em que depois da morte acaba tudo, leva à produção de
sentido individualista do capitalismo: “Por que vou me preocupar com o aquecimento global
se em breve não estarei mais aqui? Por que economizar água e energia se estarei
desencarnado em alguns anos?” (TRIGUEIRO, 2005, p.9).
Os conteúdos informacionais disponibilizados pelo site de Trigueiro estão mais
em consonância com a ONU do que com os conteúdos de denúncia dos movimentos sociais
descritos anteriormente. De fato, seu site foi classificado como nova ecologia justamente por
essa coincidência de assuntos energéticos, cidades sustentáveis, reciclagem de lixo e
certificação, ou seja, aponta as soluções que a economia verde oferece, mas motivado por
uma crença em mundo de regeneração que será alcançado:
160 MUNDO sustentável. Espiritualidade. Disponível em: <http://www.mundosustentavel.com.br/
espiritualidade/>. Acesso em: 12 dez. 2012.
161 TRIGUEIRO, André. Espiritismo e ecologia. 3. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2005. Disponível em:
<http://www.mundosustentavel.com.br/espiritualidade/>. Acesso em: 12 dez. 2012.
183
Não há dúvida de que a terra atravessa um turbulento período de transformação,
após o que, segundo os espíritas, deverá surgir um novo mundo, classificado como
“de regeneração”, onde só aqueles que souberem respeitar e seguir certos
princípios éticos terão a condição de permanecer. (TRIGUEIRO, 2005, p. 13)
Essa dimensão espiritualista dos movimentos ecológicos é muito mais
recorrente no Brasil que na Europa, por exemplo, onde possuir uma religião ou doutrina é
sinal de atraso.
5.3.6 O parque natural como extensão do espaço doméstico
O WWF oferece ao usuário a seção ‘Webcams in Africa’, pela qual se pode
assistir em tempo real elefantes, girafas, hienas e zebras. Dá ao usuário a experiência
virtual de um parque natural, com o apelo:
Sit back and relax as Africam brings you images from their webcams that are always
on and always watching popular waterholes in protected areas of southern Africa.
See elephants, giraffes, zebras, hyenas and other species in the wild from your
computer at home.(WWF, on-line)162
FIGURA 38 – Imagens do site WWF Internacional
Fonte: WWF, on-line.
As traduções intersemióticas entre o espaço da casa, mediada pela webcam, e o
espaço da natureza, presentes nessa experiência, nos mostram a co-relação de elementos
162 Sente-se e relaxe enquanto a Africam traz imagens de suas webcams que estão sempre ligadas e
sempre observando populações em nascente das áreas protegidas do sul da África. Veja elefantes,
girafas, zebras, hienas e outras espécies na natureza a partir do seu computador em casa. (Tradução
nossa).
WWF.
Africam:
live
from
the
wild.
Disponível
em:
<http://wwf.panda.org/about_our_earth/species/camera_traps/africam.cfm>. Acesso em: 2 dez. 2012.
184
internos e externos. Em formato de pílulas que podem ser ativadas quando se deseja, a
vivência relaxante de observar a câmara de vigilância do bebedouro dos elefantes na África,
em tempo real, é algo que subliminarmente reforça a ideia de gestão da natureza, da
garantia de um trabalho de conservação feito, filmado, vigiado.
Essa metacriação de sentidos em torno do que é a vivência da natureza,
mediada pelo computador, significa que as tecnologias, enquanto extensões, promovem
uma ligação do homem com a natureza. Mas até que ponto essa extensão do lago na África
entrando pela tela do computador, na casa do usuário, não seria uma amputação, por dar a
falsa sensação do que seria o ‘estar’ na natureza? Entre a proximidade e o afastamento, a
webcam dissolve um pouco a noção de lugar, mas de forma abstrata, porque a realidade
física é bem concreta. Ela re-contextualiza, mistura “unipresença física e pluripresença
mediatizada” segundo Weissberg (2004, p. 121), para classificar os espaços de
telepresença.
5.3.7 Análise imagética do futuro que queremos
As inferências que faremos a seguir são no intuito de compreender os signos da
gestão da natureza em seus aspectos estéticos, práticos e linguísticos, determinados pelas
influências culturais e sociais.
A seção Pictures of World (Imagens do Mundo), do site oficial da Rio+20, utiliza
uma ferramenta de inserção de imagens pelo usuário. O objetivo é fazer um apelo para que
as pessoas possam compartilhar a foto mais representativa do que desejam para o futuro
do mundo:
Ensuring that our future needs can be met, and balancing our consumption with the
environmental limits of the planet, is a collective effort that will impact all levels of
society. What do you think that will look like? How would your life be different under
a new paradigm of sustainability? What aspects of a sustainable lifestyle would you
enjoy? Show us in pictures! (RIO+20, 2011, on-line)163
Se o sujeito informacional faz esse esforço de eleger a imagem mais
representativa do futuro, no ato de produzir a foto ou buscar uma existente em seu
computador, significa que está aberto a pensar sobre essa questão, reage e interage com a
gestão da natureza da ONU. A análise dessas imagens foi útil no sentido de mostrar as
163 Assegurar que as nossas necessidades futuras possam ser atendidas, equilibrando nosso consumo com
os limites ambientais do planeta, é um esforço coletivo que vai impactar todos os níveis da sociedade. O
que você acha que vai parecer isso? Como sua vida seria diferente sob um novo paradigma de
sustentabilidade? Que aspectos de um estilo de vida sustentável você apreciaria? Mostre-nos em
imagens! (Tradução nossa)
RIO+20. Send your photos! 2011. Disponível em: <http://www.rio20.gov.br/clientes/rio20/rio20/about
the_rio_more_20/envie-suas-fotos.html>. Acesso em: 23 dez. 2012
185
características mais marcantes de cada filosofia, visualizar suas representações imagéticas,
e inferir sobre quais produções de sentido são possíveis. Separamos as imagens de acordo
com os três grandes grupos que sustentam a gestão da natureza nessa tese, relacionadas
com o predomínio das categorias filosóficas de Peirce.
A maioria dos estudos sobre os signos peircianos se atém à categorização de
três tricotomias para o conceito de signo. Como já citado no capítulo terceiro dessa tese, a
primeira relaciona o signo consigo mesmo (representâmen), a segunda é conforme a
relação do signo com seu objeto e a terceira relaciona o signo com seu interpretante. Essa
divisão segue a lógica de percepção dos fenômenos, que vai da possibilidade, passa pelo
desempenho (observância dos fatos) e conclui na certeza, hábito ou lei.
Desenvolvendo a divisão triádica da semiótica peirciana, Charles Morris
decompôs a tricotomia entre as vertentes sintática, semântica e pragmática da
fenomenologia. A sintaxe é do domínio das relações do signo com o representâmen
(qualissigno, sinssigno e legisigno), como a gramática pura, ou seja, expande o conceito de
apenas um ramo da gramática linguística, É o estudo das “combinações de signos ou das
relações sintáticas dos signos entre si” (MORRIS, 1976, p.27-28). Esse sentido ampliado da
sintaxe semiótica se refere às relações entre “signos perceptuais, dos signos estéticos, do
uso prático dos signos e dos signos linguísticos” (MORRIS, 1976, p.31).
A semântica é determinada pelas relações do signo com seu objeto, ou seja,
possui uma lógica própria que parte da semelhança para a relação real e daí para uma lei
(ícone, índice, símbolo). Conforme afirma Moris, “trata da relação dos signos com seus
designata (os objetos que eles designam) e também com os objetos que eles podem
denotar ou realmente denotam” (MORRIS, 1976, p.38). O autor distingue entre semântica
puramente teórica e outra descritiva e subdivide outras classes de signos. Já a pragmática é
a retórica, a força do efeito de uma palavra, que compreende as relações do signo com o
interpretante (rema, discente, argumento). A capacidade de interpretação é algo amplo,
intérpretes são todos os seres vivos “de maneira que a pragmática também trata dos
aspectos bióticos da semiose, isto é, de todos os fenômenos psicológicos, biológicos e
sociológicos que ocorrem no funcionamento dos signos” (MORRIS, 1976, p. 50).
Essa divisão se decompõe em outras, chamada por Peirce de Dez Classes de
Signos, considerando outras numerosas subdivisões. São elas:
1ª Qualissigno: necessariamente um ícone, mas não precisamente uma
qualidade pura, sim uma qualidade agindo como signo de essência (por
exemplo, uma sensação de verde);
186
2º Sinsigno Icônico: envolve, no seu processo semiótico, o qualissigno, pois
uma ou mais qualidades determinam o conceito de um objeto, como um
diagrama individual;
3º Sinsigno Indicial Remático: “é todo objeto da experiência direta na medida
em que dirige a atenção para um objeto pelo qual sua presença é
determinada” (CP 2.256). O exemplo do autor é um grito espontâneo de
susto.
4º Sinsigno Discente: é um signo que, no seu processo de semiose, envolve
um sinsigno icônico (2º), para objetivar, corporificar a informação, e um
sinsigno indicial remático (3º) para indicar o objeto a que se refere a
mesma. Por exemplo, o cata-vento, envolve o conceito de vento (mais
icônico) e o conceito de direção (para onde o vento sopra), a sintaxe entre
os dois promove a significação;
5º Legissigno Icônico: é regido por lei e tem semelhança com aquilo que
denota, por exemplo, o diagrama de uma boneca na porta de um banheiro
feminino;
6º Legissigno Indicial Remático: um pronome demonstrativo, por exemplo, um
modo geral que foi estabelecido, para atrair atenção para este objeto;
7º Legissigno Indicial Discente: é uma lei geral definida para significar a
informação definida, direta sobre esse objeto. Envolve um legissigno
icônico representando a informação e um Legissigno Indicial Remático
para determinar a matéria da mesma, como uma cartilha de leis para
aplicação de multas de trânsito.
8º Símbolo remático ou rema simbólico: evocando o exemplo de um
substantivo, Peirce define esse tipo como conectado ao seu objeto
“através de uma associação de ideias gerais de tal modo que sua réplica
trás à mente uma imagem a qual, devido a certos hábitos, ou disposições
dessa mente, tende a produzir um conceito geral” (CP 2.261). Pode ser
algo que não existe, como a palavra ‘curupira’, é um ser da floresta
amazônica, protetor das matas e perseguidor dos caçadores, que existe
apenas na mitologia e na imaginação popular.
9º Símbolo Discente: como uma proposição ordinária, é um signo que se liga
ao seu objeto por convenções gerais, mas que realmente ‘afetam’ a
natureza da interpretação, por exemplo, se dissermos ‘ele é brasileiro’, ou
‘ele é estrangeiro’ é um fato concreto.
187
10º Argumento: é um símbolo, um legissigno, através do qual uma premissa se
torna verdade. É o argumento base para o pragmatismo peirciano, o qual
iremos aprofundar no próximo item.
A partir desse entendimento, podemos classificar as imagens do site da Rio+20
de acordo com o QUADRO 4:
QUADRO 4 – Filosofias da ecologia política relacionadas às categorias
fenomenológicas
Ecologia
profunda
Imagens de paisagens, parques, flora, fauna, turistas,
Sintática
esporte radical na natureza etc.
(possibilidade)
Ecologia
social
Imagens de pessoas, trabalhos coletivos junto à Semântica
natureza, manifestações, reuniões, populações etc.
(desempenho)
Economia Soluções de tecnologia verde, cidades e imóveis
verde e Nova sustentáveis, transporte sem emissão de carbono,
Ecologia vegetarianismo, movimentos pacifistas etc.
Pragmática
(lei)
Fonte: Dados da pesquisa
A ecologia profunda (FIG. 39) é marcada por imagens que evocam sensação de
natureza externa ao homem: o banco em um parque, para contemplar o verde, a natureza
em uma folha de outono. O homem aparece nesse cenário de maneira exterior, ou como o
turista que toca a tartaruga (sensação de afeto), ou ainda o aventureiro de esportes radicais,
que se conecta com a natureza (sensação de adrenalina). A noção generalista da natureza,
como um todo, se manifesta na imagem aérea da floresta, onde o rio serpenteia; a foto do
incêndio na mata, refletido na água, evoca a sensação de perigo, a foto do búfalos
atravessando o rio é puro instinto, e para terminar, a foto da pesquisadora que vai com o
bloquinho ‘anotar’ a natureza, versão moderna dos naturalistas que iam pesquisar com seu
olhar científico, desde Darwin e Humboldt.
188
FIGURA 39 – Fotos classificadas como ecologia profunda
Fonte: UNCSD, 2012, on-line
Evidenciando as relações do signo com seu representâmen, repletos de
primeiridade, as imagens do conservacionismo evocam sensações do instinto mais puro da
relação do homem com a natureza, o mundo natural, que podem desencadear processos
semióticos em diferentes níveis. O banco na natureza pode ser considerado um qualissigno,
no sentido de sua presença oferecer a oportunidade da contemplação da sensação do
verde. Já a textura da folha, enquanto um diagrama, é um sinsigno icônico, um foco micro
na macro-natureza da paisagem. A adrenalina e a euforia sentidas pelo esportista radical,
189
na tirolesa por sobre a floresta e o mar, é o sinsigno indicial remático, na medida em que
dirige a tensão para foco que determina a experiência. Mas o que dá a esse processo a
característica de um legissigno é a experiência controlada e prevista, para provocar uma
reação sensorial imediata com segurança, como uma lei, pois já se sabe que essa reação
será provocada. Ou o fogo na floresta, também um legissigno de destruição e perigo.
As fotos (FIG. 40) classificadas como ecologia social trazem essencialmente
pessoas em atividades na natureza e em trabalho coletivo. Têm predomínio da relação do
signo com seu objeto: a ação das pessoas para promover sua relação com a natureza.
Sua força está relacionada a fatos desempenhados no campo semântico, ou
seja, aos significados que eles denotam ou podem denotar. Se desdobra nos ícones de
dominação da natureza: a moça sorrindo ao segurar o peixe enorme ou a doçura do olhar
da criança que domina o pássaro em seu ombro, ou é o pássaro que encanta a criança?
FIGURA 40 – Fotos classificadas como ecologia social
Fonte: UNCSD, 2012, on-line
190
Enquanto índices, as fotos (FIG. 41) das mãos unidas em torno do tronco
significa união entre as pessoas, assim como a foto de preparar junto um alimento, são
signos que se preparam para se fortalecer na terceiridade, em uma associação geral de
ideias. E tanto o trabalho de artesanato em madeira quanto a manifestação teatral na rua,
enquanto expressões culturais, são símbolos conectados ao seu objeto porque causam um
efeito na mente interpretadora de uma coletividade que os antecede. São determinados por
convenção e dependem do fluxo contínuo de informações advindas das experiências
colaterais para terem força pragmática.
FIGURA 41 – Fotos classificadas como economia verde e nova ecologia
Fonte: UNCSD, 2012, on-line
191
Os símbolos são signos que têm predomínio de sua relação com o interpretante,
já fortalecidos enquanto lei. Nos processos de semiose, são os signos bem sucedidos em
formar crenças. A foto da indicação para separação de lixo reciclado é um legissigno
icônico. A imagem das crianças atrás do planeta terra apontando para você evoca uma
associação de ideias gerais (as crianças = futuro + planeta) que tende a produzir o efeito
real de comunicar que cada um é responsável, o símbolo remático.
O mural com a miniatura de todas as fotos dos usuários como textura de fundo
para a logomarca oficial da conferência da Rio+20 é um símbolo discente, reforça dizer que
a natureza do evento abarca todas as diferenças culturais, afinal a ONU é o órgão global de
gestão da natureza por excelência. Essa logomarca tem seu potencial simbólico reforçado
pelas inúmeras imagens de grupos posando ao lado do painel na abertura do evento, felizes
em frente ao slogan The future we want.
A logomarca Rio+Veg apresenta a união de dois símbolos, o da conservação da
natureza aliado à filosofia vegana, um comportamento cada vez mais comum, influenciado
pela associação desses dois argumentos. São os signos que surgem quando não há mais
conflito, os processos pragmáticos alcançam o hábito, que é a força para manter um
comportamento social. Beiram a ser inquestionáveis, como as imagens de andar de
bicicleta, construções ecológicas e captação de energia solar e eólica, outras imagens
memes nessa plataforma.
Embora a lista de fotos conste 1.206 imagens em 7 páginas, nota-se que muitas
imagens são repetidas e, subtraindo essas, chegamos a um total de 711 imagens, que
classificamos em quatro álbuns na plataforma do Flickr: ecologia social, com 241 fotos,
economia verde, com 93; ecologia profunda, 275; e nova ecologia 96 fotos, o que pode
significar uma manipulação dos resultados, de fazer parecer mais participação do que tem
na verdade.
5.3.8 O conflito da formatação dos dispositivos na formação da identidade dos
sujeitos: o caso Guarani-Kaiowa
A situação dos Guarani-Kaiowa é um exemplo de enunciação semiósica em que
a etiquetagem social modifica o nome do próprio sujeito informacional. O caso dos guaranis-
kaiowas obteve recentemente uma maior visibilidade, principalmente nas redes sociais,
porque muitas pessoas começaram a adotar o sobrenome ‘Guarani-Kaiowa’ no Facebook,
em apoio às lutas pela demarcação de suas terras. É a tradução semiótica da própria
identidade do sujeito, que se assume índio, com uma intenção, que pode oscilar entre uma
192
atitude política consciente ou um ‘oba-oba’ sentimental provocado por alguma mensagem
sensibilizadora à respeito de conflitos.
Mas, o Facebook decidiu coibir a prática. Segundo usuários, pessoas com esse
sobrenome tiveram sua conta suspensa após receber a seguinte mensagem:
PROCESSO DE VERIFICAÇÃO DO NOME. Sua conta está temporariamente
suspensa, pois aparentemente você não está usando o seu nome verdadeiro no seu
perfil. O Facebook é uma comunidade na qual as pessoas usam identidades
verdadeiras. É necessário que todos forneçam seus nomes e sobrenomes
verdadeiros para que você sempre saiba a quem está se conectando. Não se
preocupe, você poderá acessar sua conta novamente após atualizar o seu perfil com
seu nome verdadeiro completo.164
Ora, o Facebook não pede copia da documentação de quem quer que seja, mas
por outro lado pode perceber que existe uma palavra chave que se dissemina entre os
nomes dos usuários, e tomar uma atitude arbitrária, enquanto administrador de um sistema,
para impedir que seu dispositivo informacional tenha um fim político.
A usuária Katja Guarani-Kaiowa reclama:
Segundo a tal política de nomes, o nome deve ser o mesmo dos documentos. Se eu
fosse trans, não poderia me chamar Carlos. Se a numerologia indicar que devo
trocar uma letra, não posso. Se eu resolver virar índia, talvez a tribo me aceite, mas
o Facebook, não. Vai ter gente dizendo que está certo, que a empresa tem seus
direitos, está nos termos de uso, quem não gosta que caia fora. Eu sei disso, mas
pô... que mente pequena, né? 165
Isso significa também uma tentativa do dispositivo de tirar o véu do sujeito
informacional. A usuária fala de ‘cair fora’, mas ao mesmo tempo o Facebook é a ferramenta
mais onipotente do momento entre as redes sociais, sair significa perder contatos. Por
enquanto não há notícia que o movimento indígena teria a força de derrubar o dispositivo.
Nesse momento constatamos que, mais que uma extensão do homem, a tecnologia pode
ter força própria para provocar a amputação dos seus sentidos.
Embora o Facebook não tenha sido considerado um actante da rede analisada,
pois como foi explicado na metodologia, sua presença enquanto grande hub da internet
(para o qual todos referenciam) impediria a visualização das comunidades mais autênticas
do movimento ambiental, foi imprescindível muitas vezes visitá-lo para comparar, no perfil
dos sites analisados, se existia diferença entre o tipo de informação disponível ali e aquela
oficialmente publicada nos espaços institucionais dos sujeitos.
5.3.9 A nebulosa
Embora toda a análise anterior da rede tenha sido feita em torno dos principais
sites conectados na formação central da rede, onde os três clusters interagem, existe uma
164 Mensagem emitida pelo Facebook aos usuários.
165 Idem
193
nebulosa de actantes que não possuem conexão com ninguém. Elas formam um círculo ao
redor da rede, de sites desligados, que sofrem uma força de atração gravitacional na rede.
Na rede analisada, a nebulosa tem 137 sites, mais de 20%.
Nos primeiros manuais de usabilidade para a web, havia uma noção de
arquitetura da informação centralizada nos próprios conteúdos do site, que desaconselhava
links externos como forma de não deixar o usuário sair do seu ambiente informacional. A
força das comunidades e da formação de redes prova o contrário, que a arquitetura da
informação deve ser centrada no usuário, que tem toda liberdade para entrar e sair de onde
quiser, e se seu site não oferece caminhos externos ele pode sair e buscar em outra janela.
Mesmo a lógica de PageRank aumenta à proporção que seu site cita e é citado por outros
actantes que fluem informação sobre os mesmos assuntos. Se o webmaster cria um link
para outro site, pode criar um ping back, de citação reversa, o que de certa forma é uma
regra de etiqueta entre sites que compartilham mesmos assuntos.
Dois sites que desempenham papel importante nos processos de gestão da
natureza que estranhamente estão na nebulosa são o Instituto Ethos, no Brasil, e o site do
movimento indígena canadense Earth Revolution. A estrela desse movimento é a menina
indígena Ta’Kaya Blaney (FIG.42), norte americana, provavelmente a única criança a
participar das reuniões na Rio+20.
Ela cantou no evento Womens leading the way: mobilizing for a equitable,
resilient and Thriving Future com participação de Marina Silva, Vandana Shiva, duas
senhoras do grupo das 13 Avós Indígenas e o milionário Ted Turner, dono de longas
extensões de terra na América do Sul, que falou sobre a ocupação privada para
conservação de espaços marinhos, seu projeto atual. Em meio a preces indígenas e
preocupações conservacionistas, esse evento pode ser considerado de categoria ‘ecologia
profunda’, mas acontecendo dentro da Rio+20, ou seja, encoberto pelo conceito guarda-
chuva ‘economia verde’.
194
FIGURA 42 – Postal distribuído pelos assessores de Ta’Kaya Blaney
Fonte: UNCSD, 2012, on-line
Mas essa cobertura de um conceito para o outro é um tanto conflituosa. No
momento do lançamento do documento final, na conferência Rio+20, representantes de
ONGs e movimentos sociais fizeram manifestações contra as decisões do documento final
e, em protesto, jogaram seus crachás no chão e se retiraram. Pessoas choraram, Ta’Kaya
Blaney cantou, muitas pessoas se retiraram e foram se confraternizar com as manifestações
no aterro do Flamengo, onde foi realizada a Cúpula dos Povos. Essa reação pode ser
interpretada como a renúncia à pretensão da categoria economia verde englobar, sozinha,
toda a gestão da natureza.
5.4 Os resultados do questionário online
O survey descrito na metodologia ficou disponível aos produtores de informação
sobre a gestão da natureza de julho de 2012 a janeiro de 2013. De julho a setembro a
divulgação do survey foi feito no blog dessa pesquisa166 e nas principais listas e fóruns sobre
assuntos da temática ambiental, em um convite mais geral.
Foi divulgado em quatro idiomas, inglês (56 respostas), português (61
respostas), francês (17 respostas) e espanhol (4 respostas), mas os resultados são
apresentados no total.
A partir de outubro, com a baixa resposta por esse método, decidimos abordar
cada site diretamente, nos emails disponibilizados e nos formulários de contatos, o que nos
166 Disponível em: <deborapereira.blog.br>.
195
fez mais íntimas da rede, após mais uma visita a cada site, o que permitiu acompanhar o
desenrolar dos fatos após a Rio+20.
As respostas permitiram ter uma noção de quem é este produtor de informação
da gestão da natureza. As questões, na maioria com respostas não exclusivas (exceto as
representadas por gráficos de pizza), tiveram em vista capturar a multidiversidade das
funções desse produtor de informação.
A primeira questão (GRAF. 28), sobre o tipo de ambiente informacional para
onde se produz informação, ficou em primeiro lugar seu próprio blog e ou redes sociais,
mais talvez em função das redes sociais. O segundo lugar ficou para o site da ONG que
trabalha ou milita, o que coincide com o fato das ONGs terem a maior expressividade
enquanto categoria de estatuto institucional da rede. Produtores de informação de
empresas, educações institucionais e governos também responderam ao questionário.
GRÁFICO 28 – Local de publicação das informações
Seu próprio blog e ou
redes sociais
O site da empresa onde
trabalha
O site da Ong em que
trabalha ou milita
Sites de governos
Sites de instituições
educacionais
Sites de instituições
religiosas
Fonte: Dados da pesquisa
24.03%  
12.40%  
14.73%  
2.33%  
58.14%  
44.96%  
Esse produtor de informação é bem qualificado (GRAF.29), 40,3% tem curso
superior, 37,2% tem mestrado e o índice de doutores, 15,5%, é superior ao de pessoas com
ensino médio, 3% (o restante não quis responder).
196
GRÁFICO 29 – Grau de instrução
Ensino Médio
Curso Superior
Mestrado
Doutorado
3.10%
15.50%
Fonte: Dados da pesquisa
40.31%
37.21%
A maioria demonstra (GRAF. 30) intimidade em trabalhar nesses ambientes
informacionais, 59,4% trabalha a mais de cinco anos e 25% a mais de dois anos.
GRÁFICO 30 – Tempo de trabalho
Até um ano
Há mais de um
ano
Há mais de dois
anos
Há mais de cinco
anos
8.62%  
6.90%  
25.00%  
59.48%  
Fonte: Dados da pesquisa.
Em relação ao tempo de permanência (GRAF.31) conectado na internet, a
maioria fica até duas horas, 46,6%, seguidos pelos usuários que ficam de duas a cinco
horas, 27,5 %, dos que ficam de cinco a dez horas, 19,17% e os que passam 24 horas
conectados em redes sociais são 7%, o que, se considerando que 24 horas é não haver
momentos de desconexão, é já um montante considerável.
197
GRÁFICO 31 – Tempo de conexão
Até 2 horas
46.67%  
De 2 a 5 horas
27.50%  
De 5 a 10 horas
Estou 24 horas
conectado em
redes sociais
19.17%  
7.50%  
Fonte: Dados da pesquisa
O Facebook é o campeão quase unânime (99%) entre as redes sociais, seguido
do Twitter e de uma tímida ascensão do mais recente Google Plus em terceiro lugar
(GRAF.32).
GRÁFICO 32 – Uso de redes sociais
Facebook
Twitter
Google
Plus
Instagram
Foursquare
11.40%  
1.75%  
35.96%  
64.91%  
99.12%  
Fonte: Dados da pesquisa
Em relação às fontes (GRAF. 33) onde esse produtor se alimenta, ficaram em
primeiro lugar os blogs de conteúdo coletivo e livre, seguido pelas redes sociais, os
materiais impressos e as fontes de informação tradicional e, por ultimo, televisão e rádio.
198
GRÁFICO 33 – Fontes de informação
por fontes de informação
tradicionais: empresas de mídia
por fonte de informações livre,
como blogs e sites autônomos ou
de coletivos sociais de mídias
por redes sociais
51.64%  
75.41%  
59.84%  
por televisão e rádio
por jornal impresso e revistas
impressas especializadas
Fonte: Dados da pesquisa
36.89%  
62.30%  
Sobre o hábito (GRAF.34) de publicar informação de outras fontes, a maioria dos
entrevistados respondeu que sim, mas sem periodicidade definida, o que significa uma
maior flexibilidade de intervalo entre as publicações, a informação flui no seu tempo. O
segundo lugar ficou para produtores que não copiam conteúdos, apenas publicam materiais
originais, o que reforça as produções de sentido nos processos pragmáticos de
convencimento. Eles fornecem o alimento, a material-prima fresca para ser copiada,
principalmente pelos entrevistados que ficaram em terceiro lugar, o grupo de 22% que faz
monitorias e replica informações todos os dias.
GRÁFICO 34 – Hábito de publicação de outras fontes
Sim, todos os
dias fazemos
Sim, ao menos
uma vez por
Sim, sem
periodicidade
Não, nós
publicamos
Fonte: Dados da pesquisa
22.69%  
15.13%  
25.21%  
40.34%  
199
O hábito de fazer monitorias na web não impede esse leitor de se informar
através de livros, 60% leu mais de 6 livros no último ano e 19% de 4 a 5. Isso comprova que
este sujeito informacional estuda, se informa, é intelectualizado (GRAF. 35).
GRÁFICO 35 – Hábito de leitura
Nenhum  livro;  
1%  
1  livro;  4%  
2  a  3  livros;  16%  
Mais  de  6  livros;  
60%  
4  a  5  livros;  19%  
Fonte: Dados da pesquisa
Entre as estratégias de comunicação (GRAF. 36) utilizadas, o e-mail é a
principal, citado por 91,4%, seguido pelas redes sociais e newsletter digital, que é pouco
mais utilizada que o material impresso. Por último, as inserções de televisão, com 25,7%.
GRÁFICO 36 – Estratégias de Comunicação
Email
91.41%  
Newsletter digital
Redes Sociais (Twitter,
Facebook...)
Material impresso
Inserçõess em televisão e
rádio
Fonte: Dados da pesquisa
25.78%  
61.72%  
81.25%  
59.38%  
Sobre o número de pessoas da lista de mailing (GRAF.37), a maioria envia para
até mil pessoas ou até dez mil pessoas. Mas, podemos considerar alta a porcentagem de
envio de conteúdos para mais de 50 mil pessoas (cerca de 10%).
200
GRÁFICO37 – Quantidade de envio de mailing
Mais  de  50  000;  
10%  
De  10  000  a  50  
000;  17%  
Até  1  000;  28%  
De  5  000  a  10  
000;  20%  
Fonte: Dados da pesquisa
De  1  000  a  5  
000;  25%  
O GRAF. 38 confirma a predominância de ONGs que divulgam conteúdo em
inglês, 61,5%, seguidos de português, 42,11%, com os idiomas espanhol e francês
conservando suas proporcionalidades em relação ao resultado obtido nos mapas da
classificação de idiomas.
GRÁFICO 38 – Idioma de publicação
inglês
português
francês
espanhol
61.65%
42.11%
21.80%
24.06%
Fonte: Dados da pesquisa
Em relação à participação dos entrevistados nos diferentes eventos da Rio+20,
os campeões de audiência foram os eventos paralelos e a Cúpula dos Povos, seguidos pela
conferência oficial. O acompanhamento à distância foi considerado baixo, 12,2%. A questão
colocada foi se o usuário ou sua instituição participaram de eventos ambientalistas no Rio
de Janeiro em junho de 2012 (GRAF. 39).
201
GRÁFICO 39 – Tipo de participação no evento
Não
Sim, na programação oficial
da Conferência das Nações
Sim, em eveUnntiodsaspasroablereloos
ao evento oficial
Sim, nos eventos da Cúpula
dos Povos
Sim, mas em eventos à
distância
Sim, em protestos,
manifestações sociais e
marchas contra a economia
19.30%  
12.28%  
13.16%  
41.23%  
42.11%  
57.89%  
Fonte: Dados da pesquisa
A ultima questão foi semi-aberta, sobre o significado do conceito de economia
verde (GRAF. 40). Para as respostas dessa questão, utilizamos duas frases, uma retirada
do documento oficial da ONU, finalizado na Rio+20, e outra retirada do documento oficial da
Cúpula dos Povos. Obviamente, a ONU confere um valor positivo para economia verde
(55%) e a Cúpula dos Povos um valor negativo (45%).
GRÁFICO 40 – Conceito de economia verde
... é uma das expressões do
capitalismo, entre outras como o
endividamento publico-privado, o
super-estímulo ao consumo, a
apropriação e concentração das
novas tecnologias, os mercados de
carbono, a grilagem e
estrangeirização de terras e as
parcerias público-privadas, entre
outros.
Fonte: Dados da pesquisa
... uma política econômica
global para gerar
empregos sustentáveis e
gerar energia sem
poluição e emissão de
carbono.
202
Nessa última questão, se observarmos os gráficos separados por idiomas,
vemos que a versão da Cúpula dos Povos prevalece entre os falantes de língua portuguesa.
(GRAF.41)
GRÁFICO 41 – Conceito de economia verde em português
Fonte: Dados da pesquisa
Enquanto o conceito de economia verde da ONU é mais popular entre os
falantes da língua inglesa (GRAF. 42).
GRÁFICO 42 – Conceito de economia verde em inglês
Fonte: Dados da pesquisa
Esse resultado, de certa maneira, comprova as relações de disparidade
propostas na comparação dos gráficos de idiomas e gestão da natureza da rede, mostrando
203
o quanto as políticas da ONU não são ainda aceitas e sim recusadas entre os actantes da
ecologia social.
Mas, para resumir, quem é este sujeito informacional das redes ambientais na
internet? Se reunirmos as respostas mais votadas em cada questão: ele publica informação
geralmente em seu blog ou redes sociais. Tem formação de ensino superior e gosta de ler
ao menos seis livros por ano. É alguém que trabalha na atualização de ambientes virtuais há
no mínimo cinco anos, passa cerca de duas horas por dia conectado em redes sociais (o
que nos surpreende, ele não é um geek), que são Facebook (unanimidade) e Twitter.
Sua principal fonte de informação são blogs e sites autônomos ou de coletivos
de mídia, as chamadas mídias livres, que têm conteúdos que ele seleciona para publicar
sem periodicidade definida. Embora notamos um crescimento do uso de redes sociais, o e-
mail continua liderando como estratégia de comunicação, mas com poucos destinatários
(até mil). O idioma predominante é inglês, que o habilita para participar dos eventos
paralelos da Rio+ 20, presencialmente. Curiosamente, a participação virtual em eventos é a
mais baixa.
Sobre a efemeridade ou firmeza do conceito de economia verde, constatamos
que ele está no seio da controvérsia: enquanto entre os falantes do inglês é um conceito
bem aceito e compreendido como positivo, nos falantes de português é mal interpretado.
Mas, 22 pessoas escreveram um terceiro significado para o conceito. Dois dentre eles
associaram com as palavras ‘carbono’ e ‘sustentabilidade’:
- La busqueda de esquemas de crecimiento economico con alternativas bajas en
carbono.167
- Padrões de produção e consumo de baixo carbono e baixo impacto ambiental.
(Dados da pesquisa)
Outros assumem a controvérsia, até mesmo associando com a disparidade
geográfica:
- What I would like it to mean is the first answer, however..I think for America and
some other westernized areas, it is defined by our government as the second
answer.168
- Les deux: une nouvelle politique à créer, mais aussi un avatar d'un capitalisme en
mal de croissance169
- A controversial expression170
- Ué, é as duas coisas, depende de como se faz. Espero que do jeito um, e não do
dois, mas não é bem assim que acontece. (Dados da pesquisa)
167 A busca de crescimento econômico com alternativas de baixas emissões de carbono. (Tradução nossa)
168 O que eu gostaria que significasse é a primeira resposta, entretanto... Eu penso que para a America e
outras áreas ocidentais, ela é definida pelo nosso governo como a segunda resposta. (Tradução nossa)
169 Tradução própria: Os dois: uma nova política a criar, mas também um avatar de um capitalismo com mal
de crescimento. (Tradução nossa)
170 Uma expressão controvérsia. (Tradução nossa)
204
E outros ainda a efemeridade do termo, que precisa ser “sempre
contextualizado”:
- Un mouvement en marche et encore infantile171
- nothing, it appears to be mainly a slogan172
- Um conceito que pode ser usado para uma política econô mica global, de
desenvolvimento sustentável, ou apropriado para green washing, e por isso precisa
ser sempre contextualizado. (Dados da pesquisa)
Isso comprova o quão controverso é o termo economia verde, o que nos deixa a
dúvida sobre qual tendência – positiva ou negativa – vai se formar enquanto conceito e
prática social. Certamente, os movimentos ambientalistas que engajam empresas para
soluções de energia limpa ainda em um estágio infantil e as Nações Unidas e ONGs têm
muito a trabalhar na construção de signos inovadores de convencimento do cibercidadão.
Por outro lado, é muito positiva essa diferença, no sentido que as pessoas hoje
questionam mais. O survey demonstra que o público produtor desses ambientes virtuais
forma suas opiniões após estudo e pesquisa. As ferramentas e interações em espaços
virtuais possibilitam esses circuitos de dúvidas e conflitos, campos férteis para o juízo
coletivo das práticas econômicas e governamentais.
171 Um movimento que segue, mas ainda infantil. (Tradução nossa)
172 Nada, parece ser principalmente um slogan. (Tradução nossa)
205
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS
A complexidade de analisar a rede que promove a gestão da natureza nos
espaços virtuais trouxe algumas particularidades para essa tese. Como já previu Venturini, a
análise de controvérsias muito grandes e um pouco abstratas, como a relação homem
natureza, pode ser difícil e demorada. Mas, conseguimos, de forma concreta, visualizar os
três regimes de informação da gestão da natureza, diretamente relacionados à definição de
ecologia política de Lipietz (2012, p.21), enquanto ciência que deve atuar em 3 níveis: de um
lado a relação entre os indivíduos e sua atividade organizada enquanto espécie, de outro as
relações econômicas, entre a atividade social e seu efeito sobre o ambiente e o terceiro as
reações da terra a essa intervenção, estudadas pelas ciências da natureza e biológicas.
Sim, a gestão da natureza na contemporaneidade tem se dado nesses três níveis, embora
uma perna possa estar mais manca que a outra.
Esse tripé pode apresentar problemas. O risco de cair no primeiro imbróglio,
descrito por Latour, da ecologia política, que é tentar falar da natureza, mas no fundo falar
de porcos, galinhas e acidentes climáticos. Foi preciso ir além de descrever todos os
exemplos das representações dos sites, mas pensar e incorporar suas problemáticas, para
poder perceber como esses conteúdos e relações sustentam os regimes de informação de
cada categoria delimitada. Seguindo a receita de Latour de “apenas olhe as controvérsias”
(VENTURINI, 2010, p.3), o primeiro passo, de exploração, precedeu a teoria e a
metodologia, e muitas vezes, mesmo com a licença poética da TAR de considerar a
importância do olhar militante da pesquisadora, questionamos até que ponto a
imparcialidade acadêmica nos ajuda também a ordenar os elementos da pesquisa. Bom,
não tivemos a pretensão de ser parciais, apenas por cumprir orientação teórica e
metodológica definida, mas durante todo processo de pesquisa fizemos um exercício de
deixar o lado ‘militante ambiental’ instruir, mas não influenciar as análises. Esse exercício
nos obrigou a reconsiderar juízos de valor e respeitar todos os atores da diversidade da
controvérsia. Fundalmente, podemos considerar que esse olhar militante foi bastante
alterado pelos resultados da pesquisa, como uma perda de inocência.
Essa tese se valeu da complexidade para entender os processos de significação
que influenciam o comportamento do humano para com seu meio ambiente. Da
retrospectiva histórica da relação do território com as populações, passamos às relações
semióticas de regimes de informação e da teoria ator-rede. Esse arcabouço teórico orientou-
nos para descrever a organização da informação e os processos de significação dos
actantes mais importantes na rede de gestão da natureza.
206
A rede analisada permitiu vislumbrar fronteiras que separam ao menos três
posições diferentes, embora em contato, do pensamento ecológico, que influenciam a
relação do humano com a natureza, descritas no capítulo dois. Esses três grupos
claramente diferentes se intercomunicam e denotam a existência de regimes de informação,
que são fundamentados, fortalecidos ou enfraquecidos, pelos conteúdos postados por seus
defensores. A existência dessas fronteiras é evidenciada pelas contraposições e conexões
informacionais, que se complementam e se re-afirmam enquanto discurso à medida em que
atuam em articulação.
A descrição e observação dos ambientes virtuais dos actantes desta rede nos
permitem considerar a existência de caminhos por onde passam determinados coletivos de
módulos informacionais, que dão corpo aos regimes de informação, como os conjuntos de
reportagens que são replicados ao mesmo tempo, recorrentes na análise.
Nos processos semióticos da rede das pequenas ONGs e movimentos sócio-
ecológicos, os significados são negociados, por não haver presença de atores dominantes
(todos são referenciados mais ou menos por igual). A informação disseminada vai na
contramão das vias da ONU, descentralizada, com inúmeros comentários, mas em alguns
momentos correndo o risco de cair num relativismo absoluto. O cluster de ecologia profunda
fundamenta sua ideologia em processos pragmáticos que se dão em dois grupos
ideologicamente diferentes, o dos cientistas climáticos, como o Real Climate e Skeptical
Science e o dos actantes conservacionistas, como WWF e Indigenize e Rain Forest.
Se os engajamentos e acordos propostos e discutidos pelas Nações Unidas se
concretizarem, a terra terá sua gestão modelo, o Eldorado dito pelo jornalista autor blog
Effects de Terre, (que pode ser comparado ao Admirável Mundo Novo de Huxley, citado no
capítulo 2).O paraíso prometido para o humano que conseguir se certificar em muitos níveis:
reciclar lixo, baixar a emissão de carbono, comer alimentos sem agrotóxicos, construir casas
sustentáveis, não usar fraldas descartáveis, reduzir número de filhos... Na onda das
previsões que compõem o imaginário dessa tese, podemos prever que no futuro cada grupo
humano, ou exagerando, cada humano poderá ter seu selo de certificação, baseado no
controle intenso da sua alimentação, vestuário e hábitos de trabalho e relacionamento, e até
as suas emissões íntimas de carbono.
Se isso é ou está muito longe da realidade, uma conclusão mais realista, que é
possível reafirmar, é que se antes não havia diálogo entre ONGs ambientalistas e de direitos
humanos, agora percebe-se que suas agendas estão mais integradas, devido à militância de
actantes da ecologia social. As pessoas militam por isso. É sentido um maior protagonismo
de indígenas, quilombolas e comunidades tradicionais. Aproveitando do fato de terem mais
207
acesso à informação, essas pessoas criam sites de resistência social, ganham voz, impõem
seu lugar na rede em processos de significação para a representação de seus conflitos.
Mas, quem escuta essas vozes? Ao menos os dois tipos de sujeitos que
navegam nos espaços virtuais. Os da flaneria parisiense, flanando de assunto em assunto,
e o outro usuário, que tem um objetivo, uma missão, buscar determinada informação.
Aquele leitor que seleciona artigos para ler mais tarde, que demora em textos longos,
embora esse tipo de texto não seja a tendência dos manuais de informação para jornalismo
multimídia. Mas, as instituições objetivam transformar esse navegador inocente em uma
extensão da sua ação, a partir de cliques e mobilização em protestos virtuais.
Outro fato é que, enquanto sujeito informacional, os dois tipos de usuário
aprendem cada vez mais a marcar, indexar conteúdos, em nuvens de tags, índices, etc. A
etiquetagem social passa pela apropriação de signos linguísticos no próprio nome e imagem
do sujeito informacional. Existe não só certa flexibilidade para acomodar a diversidade
cultural, mas também re-apropriação de culturas. Por outro lado, os dispositivos “têm
vontade própria” e podem responder à essas manifestações de apropriação cultural como
‘incorretas’.
Em relação aos comentários, as reações nos processos de permeatividade dos
signos são muito mais intensas nos fluxos de comunicação dos clusters de ecologia social
do que no de economia verde. Intuitivamente, as organizações dão sentido ao significado da
sua existência quando deixam um comentário, por exemplo, em nome de uma instituição em
apoio ao trabalho de outra.
A questão da enunciação semiósica é presente quando os atores interagem e
evidenciam uma determinada informação. No caso dos comentários, a enunciação se
diversifica, cada lista de comentários tem em si uma constelação de controvérsias.
No último século e meio, o desenvolvimento científico mudou de forma
impressionante, mas o entendimento desse progresso tem mudado dramaticamente. Se a
ciência é algo certo, confiável, a pesquisa, o buscar saber, é incerto. E, no caso da
controvérsia da gestão da natureza, o ato de se informar não é somente científico, passa
pelos saberes profanos. Por outro lado, a militância de instituições como CPT, ACT, ANPB e
portal ecumênico, embora sejam religiosas, se aproxima mais dos conflitos sociais. O
discurso religioso se aproxima do ambiental por este viés de assistência social.
Em processos de semioses promovidos pela ONU, o ‘futuro que queremos’ foi
desenhado, replicado, discutido em eventos representado na internet. A produção de
imagens e textos, enquanto signos, para alimentar esses processos pragmáticos denotam
208
que o controle da representação das imagens ilustrativas da relação humano natureza
apenas perpetua a visão cartesiana do homem como controlador do meio ambiente.
Se antes existia um abismo no imaginário simbólico da humanidade sobre o
conceito de natureza selvagem, em contraposição ao conceito de urbanidade, hoje podemos
dizer que a natureza selvagem não pode ser tão imaginada, por ser controlada, vigiada,
mensurada por satélites e especialistas, vivenciada virtualmente, o que não deixa espaço
para a imaginação. As áreas de beleza intocada podem ao mesmo tempo ser preservadas e
disseminadas em redes sociais.
Mas, o que acontece no imaginário coletivo da humanidade em meio a tantas
previsões, informações sobre catástrofes, em conferências pela economia verde ou contra o
capitalismo, é que a vigilância coletiva dos dados civis e empresariais, sempre protocolares,
salta para uma vigilância coletiva invisível, amparada nos inúmeros medidores e
simuladores de dados.
A teoria ator rede nos ajudou nessa tarefa de cartógrafos, à medida que fomos
identificando a complexidade de ligações entre actantes e explicitando as suas diferenças. A
fronteira abstrata na categorização dos grupos, por seus vestígios nem sempre muito claros,
incomoda, mas é o que faz ressaltar os padrões e buscar uma melhor definição.
Encontradas as fronteiras e os elementos de repetição entre os actantes, começam a se
desenrolar os fios dos conteúdos, e os grupos coincidentes em suas visões de mundo se
aglutinam.
Foi preciso escutar as vozes contraditórias e ao mesmo tempo ficar atenta para
o que marca essas fronteiras, os padrões de emissão. Em relação ao fluxo da cartografia de
controvérsias, percebemos que enquanto a ONU estabelece vias largas de informação, por
ser o site mais referenciado da rede, o cluster de ecologia social se move em estreitos
caminhos, que passam por muitos actantes pouco referenciados, mas que fazem um
movimento local de apoio umas às outras, um movimento lento e forte.
Essa potencialidade viral e inter-referenciamento presente na abordagem
vinculada à ecologia social comprova, nesse cluster, uma maior multiplexidade, porque
laços múltiplos tendem a ser mais íntimos, voluntários e duráveis. Essa rede é igualitária no
cluster da ecologia social (muitos sites interconectados, sem autoridades informacionais
fortes), mundo pequeno no da economia verde (cluster ego centrado em apenas três atores)
e sem escala entre os sites da ecologia profunda (pois, pela pulverização dos actantes
assim classificados na rede inteira, sua facilidade de interagir com outras categorias, faz
com que sua forma seja sem escalas).
209
A visualização da rede evidencia o aparecimento de mecanismos ideológicos de
gestão da natureza que poderão ser melhor acompanhados e monitorados em um estudo
futuro.
Por isso foi importante a opção de lidar com Análise de Redes Sociais, Teoria
Ator-Rede e Pragmatismo Peirciano. Se por um lado a ARS não valoriza o suficiente o lugar
do sujeito humano nas relações de conformação da rede, ela oferece nomenclaturas e
índices de visualização, como os conceitos de redes ego-centradas, redes igualitárias,
laços, clusters, multiplexidade, composição... foi o nosso primeiro contato com o termo rede,
é um método rigoroso de modelização. A Teoria Ator-Rede, ao contrário, valoriza tantos os
sujeitos quanto os objetos, se desvincula da sociologia tradicional, as conexões se re-criam
em instantes efêmeros pelos espaços híbridos. Mas foi preciso passar pela primeira, ARS,
para melhor compreender e transcender no modo de fazer sociologia da segunda, a TAR.
Lidar com três fundamentações teórica apresentou outros conflitos, por exemplo,
a perspectiva conceitual de ator diferenciada entre a ARS e a TAR. Mas, essencialmente, o
que se buscou nessa tese foi transcender todas essas nomenclaturas: ator, actantes, nó,
instituição, indivíduo, objetos, coisas... no conceito sujeito informacional, não simplesmente
alguém que atua por trás de uma representação, mas a própria noção de signo em Pierce, o
elemento que impulsiona os processos de semiose.
Outro conflito é que a TAR, fundada claramente a semiótica greimasiana, pode
se distanciar um pouco da semiótica peirciana. Mas essa foi uma contradição que não
influenciou na relação dos elementos teóricos com a análise.
Muitos outros vieses poderiam ter sido explorados, se não fosse o limite de
tamanho de uma tese de doutorado, como por exemplo, a sistematização de todos os
comentários, enquanto processos de semiose, e a sua relação com conteúdos de grandes
empresas de mídia. Mas para isso precisamos buscar outra ferramenta, pois com
Navicrawler e Gephi não podemos aceitar os grandes hubs que deformam a estrutura da
clusterização das redes, impedindo de visualizar a comunidade em si.
Quanto ao modo de escolha de concentrar a atenção em alguns sites,
principalmente dos clusters A e C, que não têm autoridades informacionais fortes, foi em
função da importância da análise semiótica dos seus significados, mas também em função
da sua importância no contexto das lutas e movimentos sociais e pela sua conexão, uma
escolha que se por um lado pode ser um pouco arbitrária, por outro, é refletida por nossa
própria experiência, enquanto observadoras do movimentos social ambiental anteriormente
Muitas facetas transversais podem surgir para alterar o conceito de economia
verde e mudar os comportamentos de homens e empresas em relação ao meio ambiente,
210
tanto o doméstico – sua casa - quanto o global - a terra e a noção de território. Território é
conceito chave porque, enfim, todas as características naturais estão sendo delimitadas e
catalogadas, o que determina uma fixação dos seus significados. Mas, se o natural na terra
foi sempre espécies se debaterem para sobrevivência, num ritmo mutante, essa catalogação
por princípio já vai contra a natureza. A própria luta contra a extinção de espécies é algo que
tenta fixar o conceito do ser vivo enquanto algo que não muda, ao invés da constante
evolução que caracteriza o aparecimento e desaparecimento de seres.
Da mesma forma acontece nos ambientes virtuais, ideias surgem e entram em
extinção, as mais fortes eliminam as mais fracas. Assim como os rios que não querem
chegar, mas se tornar largos e fundos, os fluxos informacionais querem circular, garantir a
transmissão em suas vias por alimentação constante entre leitores cativos.
Podemos comparar, entre os clusters, a noção de circuitos culturais e matrizes
culturais (JENKINS, 2008). Enquanto a ONU e suas organizações paralelas são matrizes de
informação sobre a gestão da natureza, os actantes da ecologia social funcionam como
circuitos culturais, que emitem informação descentralizada, que passam por pequenas
traduções e alterações, muitas vezes sem sujeito autoral definido e sem a obrigação de
obedecerem a manuais.
Nessa desordem, conteúdos semânticos padronizados culturalmente,
compartilhados e reafirmados, são emitidos por comunidades virtuais que sustentam
regimes de informação, nos quais não há separação entre autores e leitores, o que de certo
modo significa que a população se informa mais, para poder emitir mais informação.
Essa pesquisa abre muitos caminhos de continuação. A relação homem
natureza, enquanto conceito, ainda está distante de ser compreendida, embora essa tese
tenha dado boas pistas das suas nuances atuais. Cada cluster delimitado pode ter análises
de conteúdos muito mais aprofundadas e suas relações podem continuar a ser monitoradas
para visualizar se haverá maior aproximação ou repulsa. E também para verificar se
economia verde, enquanto termo relativamente recente, vai se fortalecer como conceito
sobrepondo e englobando os outros.
Para aprofundar os estudos das percepções do homem em relação à natureza,
de maneira transdisciplinar, um coletivo de pesquisadores começou a se mobilizar desde
dezembro de 2012, entre eles Edgar Morin e Alfredo Pena Vega173, a fim de criar um
Tribunal Moral Internacional para Crimes da Natureza. A pesquisa começa a ser delineada
com a questão: ‘o que representa a natureza para você’, que será espalhada entre os
173 Ver lista completa. Disponível em: <http://www.tribunal-nature.org/>.
211
actantes da rede analisada nessa tese, a partir de maio de 2013, a fim de obter elementos
para planejar ações entre os actantes.
212
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226
227
ANEXOS
228
ANEXO A
LISTA DE CLUSTERS, SUBCLUSTERS, PONTES E NEBULOSA DA REDE
A1 – Ecossocialismo Marxista e movimentos sociais - 46 nós
1. Adital
2. AdVivo
3. Amazônia
4. Aneel
5. Armazém Memória
6. Assembléia Popular
7. Brasil de Fato
8. Candido Neto
9. Cáritas
10. Cloc Via Campesina
11. Cpisp
12. CPT Nacional
13. Earth Justice
14. Eco Debate
15. Eco-finanças
16. Eco-política
17. Ecoa
18. Fase
19. Global Transition 2012
20. Gonçalo de Carvalho
21. Grupo Ecológico Gean
22. IHU Unisinos
23. India Country Today Media Network
24. IPAM
25. ISA – Instituto Socioambiental
26. Justiça Ambiental
27. Justiça nos Trilhos
28. Limite da Terra
29. Mais Democracia
30. Malunga Pará
31. Mary Allegretti
32. MBA Nacional
33. Mídia Independente
34. MST
35. MST Brasil
36. Peabiru
37. PIB Sociambiental
38. Pro Yanomami
39. Que desenvolvimento queremos
40. Racismo Ambiental
229
41. Reforma Agrária Blog
42. Rios Vivos
43. Telma Monteiro
44. Terra de Direitos
45. Territórios Livres do Baixo Paranaíba
46. Vime Guaporé
Pontes entre A1, A2 e A3 - 9 nós
1. Censored News
2. Coast Al Care
3. CPT dors
4. Darci Bergman
5. Funds for Ngos
6. Greenpeace
7. Movimento em Defesa do Guaíba
8. Mundo Sustentável
9. Risk of nuclear Greenpeace
A2 - ONGs da região sul do Brasil e instituições ambientalistas nacionais e internacionais - 49
nós
1. Agapan
2. Agirazul
3. Aipan
4. Ambiente já
5. Amigos da Terra
6. Amigos da Terra Brasil
7. Anda
8. Aspanrs
9. Assecan
10. Casa
11. Centro de Estudos Ambientais
12. Coiab
13. Eco e Ação
14. Ecoagência
15. Econsciência
16. Festa da Biodiversidade
17. Fgaia
18. Fio Cruz
19. Fiocruz - EPSJV
20. Foei
21. Gesppf
22. Igre
23. Inga
24. Land Action
25. Lúcio Mauro Ambiental
26. MDS Brasil
27. Meio ambiente Urgente
28. Miraserra
29. MMA Brasil
30. Nat Brasil
230
31. O Eco
32. Os verdes tapes
33. Parti pour la Decroissance
34. Peta
35. Peta France
36. Proteger
37. Quem ama preserva
38. Rádio Mundo Real
39. Rain Forest Foundation
40. Rebea
41. Rede Jubileu Sul
42. Roessler
43. Sema RS
44. SOF
45. Upan
46. Upp Dom Pedrito
47. Utopia e Luta
48. VH Ecologia
49. World Rainforest Movement
A3 Movimento em torno do Xingu Vivo e ongs nordestinas - 25 nós
1. Aian attackh the System
2. Aida américas
3. Altino Machado
4. Arno Kayser
5. Atingidos pela Vale
6. Banktrack
7. Belo Monte de Violências
8. Bicusa
9. Dam Watch
10. Dams
11. FAOR
12. Fórum BR 163
13. Fórum Carajás
14. Frente de Ação Pró- Xingu
15. Gearth Blog
16. Global Water Forum
17. International Rivers
18. Nature Blog Network
19. Rio Uruguai Vivo
20. Rogério Almeida Furo
21. Rural Poverty Portal
22. Survival International
23. Upside Down World
24. Xingu Vivo
25. Xingu Vivo (blog)
A4 Movimento em torno do evento Cúpula dos Povos - 28 nós
1. Act Alliance
2. Articulação dos Povos Indígenas do Brasil
231
3. Coletivo Catarse
4. Comissão Brasileira de Justiça e Paz
5. Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura
6. Coordenação Nacional de entidades negras
7. Cúpula dos Povos
8. FES
9. Formad
10. Fórum Brasileira de Economia Solidária
11. Fórum do Consumidor
12. Fórum Reforma Urbana
13. Funbio
14. GTA
15. Imaflora
16. Junk Science
17. Mercado Ético
18. Open FSM
19. Plataforma Brasileira de Direitos Humanos Econômicos, Sociais, Culturais e
Ambientais
20. Portal Ecumênico
21. Rebal 21
22. Rede Cerrado
23. Rede da Juventude pelo Meio Ambiente e Sustentabilidade
24. RTS
25. Serviço Franciscano de Solidariedade
26. União Nacional dos Estudantes
27. Via Campesina
28. World Federation of United Nations Associations
A5 – Sites em torno do site do Governo do Brasil - 20 nós
1. Amazônia News Cerrado
2. Blog Belo Monte
3. Bogotá Humana Gov
4. Ciclo Vivo
5. FBB
6. Fbooms
7. Forest Stewarship Council
8. Fórum Brasileiro de Educação Ambiental
9. Fresh Energy
10. FSC
11. Governo do Brasil
12. Ibama
13. INRA
14. MDA Brasil
15. MInC
16. Planalto Brasil
17. Portal do Meio Ambiente
18. RBMA
19. Saúde e Alegria
20. Wicper - Weeramantry International Center for Peace Education and Research
232
Cluster B – Economia Verde – Cluster dominado por Nações Unidas - 109 nós
1. Agricultures Network
2. Amnesty
3. Anped
4. Aquafed
5. Avaaz
6. Belo Horizonte
7. Bhutan Climate Summit
8. Bio-regional
9. CBD
10. Cepal
11. Clean Star Mozambique
12. Climate non Conformist
13. Climate Sustainability Platform
14. Climate UU Uno
15. Comitê Dorothy
16. Conferência das Nações Unidas para o Desenvolvimento Sustentável Rio+20
17. Consumers International
18. Cop 17
19. Cultural Survival
20. Defra UK
21. Dream
22. Earth Summit 2012
23. Eclac
24. Eco Earth
25. Econexus
26. Ecoportal
27. Ecosystem Marketplace
28. El Tercer Planeta
29. Enlaces da Juventudes
30. Espa
31. ETC Group
32. Eye One Earth Summit
33. FAO
34. GGG Summit
35. Gheorghe47
36. Global Reporting
37. Green Economy Coalition
38. Grida
39. Grist
40. Grito dos Excluídos
41. Gtne
42. http://www.wfp.org;
43. Iccwbo
44. Iclei
45. Icsu
46. Iges
47. Iied
48. Iisd Rio + 20
49. Ilo
50. International Centre for Integrated Mountain Development
233
51. International Fund for Agricultural Development
52. International Institute for Environment and Development
53. Jário Araújo
54. Mountainasia
55. Nação Mestiça
56. Nações Unidas
57. Notícias Ambientais
58. Nrdc
59. Nrg4sd
60. Oecd
61. Office of the High Comissioner for Human Rights
62. Organic Consumers
63. Our mother Tongues
64. Pambazuka
65. Planet under pressure 2012
66. Rcen
67. Redd Monitor
68. Rio 20
69. Rio plus 20
70. Rio plus twenties
71. Rio20 Ebc
72. Risc
73. Rtcc
74. SCP
75. Seacology
76. Sidsnet
77. Soka Gakkai International
78. Stake Holder Forum
79. Sustainable cities collective
80. Switchdoard Nrdc
81. The Adopt a Negotiator Project
82. Turtle bay and beyond
83. Twnside
84. UN Documents
85. UN Global Compact
86. UN Ngls
87. UNCSD Singapore
88. Undg
89. Uneca
90. Unece
91. Unemg
92. Unep
93. Unesco
94. Unhabitat
95. Unido
96. United Nations Convent to combat desertification
97. United Nations Development Programme
98. United Nations Food Security
99. Unohrlls
100.
Unwater
101.
UNWTO
102.
US Green Building Council Chigaco
234
103.
Water Power Magazine
104.
Wedo
105.
Wipo
106.
Women Rio+20
107.
World Bank
108.
World Water Week
109.
WTO
Cluster C – Ecologia Profunda
C1 – Cientistas em torno do Real Climate - 28 nós
1. Carbonbrief
2. Climate Audit
3. Climate Change Education
4. Climate Communication
5. Climate Conservative
6. Climate sight
7. Coinet UK
8. Conservamerica
9. Davi Suzuki
10. Deep Clima
11. Desmogblog
12. Ecoequity
13. Ei Columbia blog
14. Heat is Online
15. Indigenize
16. Marklynas
17. Our Changing Climate
18. Pew Climate
19. Pielke Climate Sci
20. Real Climate
21. Real Climate Economics
22. Simon Donner
23. Skeptical Science
24. South Centre
25. Stephen Schneider
26. Tamino
27. World View of Global Warming
28. Yale Climate Media Forum
C2 ONGs de preservação de florestas e movimentos indígenas norte-americanos - 9 nós
1. Brave New Climate
2. Climate Ark
3. Climate Science Watch
4. E360 Yale
5. Ecological Internet
6. Forests
7. Indigenous People Issues
8. New Earth Rising
9. Rain Forest Portal
235
C3 Sites em torno de Mongabay - 10 nós
1. Cdhal
2. Desdemonadespair
3. Global Issues
4. Hydrovision Brasil
5. Mongabay
6. Mongabay News
7. Mongabay português
8. National Hydro Conference
9. Renewable Energy World India
10. Tree hugger
Cluster D – Em torno do evento Venezia 2012 - 9 nós
1. Amazon Watch
2. Central do Cerrado
3. Global Exchange
4. Peolples, Sustainability Treaties
5. Rights of Mother Earth
6. The rights of nature
7. Transparency International
8. Venezia 2012
9. Vision of Humanity
Cluster E – Em torno do congresso da IUCN - 8 nós
1. Belfercenter
2. Climate denial
3. Forest Legality
4. International Finance Corporation
5. IUCN World Conservation Congress
6. Plantateen Rio20
7. Swarco
8. Think Progress
Cluster F - Pacifistas - 8 nós
1. Centre d’Estudis per la Pau J.M. Delàs
2. Demilitarize
3. Democracy Now
4. Fukushima Disaster
5. IPS
6. Nation of Change
7. Nato free future
8. No to Nato
Cluster G - International Women Day - 7 nós
1. Carbon Management Power
2. Gifa
3. Ibfan
4. International Women Day
236
5. Power Plantccs
6. White House
7. World Breastfeending week
Cluster H - Instituições Francesas - 17 nós
1. Agence de l'Environnement et de la Maîtrise de l'Energie
2. Centre International de Droit Comparé de l'Environnement
3. Centre Ressource du Dévelopment Durable
4. Club France Rio+20
5. CNRS - Centre national de la recherche scientifique de la France
6. Collège des directeurs du dévelopment durable
7. Development Durable du Nord-Pas-de-Calais
8. Environnement SciencesPo
9. Guide de l’éco responsabilité
10. Jardin des Plantes
11. Les ateliers de la terre
12. Mer Terre
13. Ministère de l’écologie, du dévelopment durable e de l’énergie de la France
14. Monde Pluriel
15. Office français de la Foundation pour l’education à l’environnement en Europe
16. Planète Mer
17. Rio + 20 Governo da França
Cluster I - Enventos em torno do Hidroworld - 7 nós
1. Act for Climate Justice
2. Hydro
3. Hydro Event
4. Hydro Power India
5. Hydrovision Russie
6. Hydroworld
7. Peak Water
Cluster J - Em torno do blog ambientalista do NY Times - 10 nós
1. Canal do Produtor
2. Do Earth NYTimes blog
3. EPA
4. My Philanthropedia
5. New Ventures
6. Pico Hidro
7. See southern forests
8. Sertãobras
9. Sustainable Energy for all
10. World Resources Report
Cluster K - Gaia Foundation - 4 nós
237
1. Alliance Alert
2. Conservation Magazine
3. Gaia Foundation
4. Pacto de Resgate Ambiental
Cluster L - Continuação do cluster B - 5 nós
1. End fossilfuel Subsidies
2. IBON International
3. Plataforma Montanhas Rio+20
4. Rio+20.info
5. Un Multimedia
Cluster M - Effects de Terre - 8 nós
1. Arcab
2. Afrodad
3. Centre for Environment Development
4. Climate Scores
5. Desigualdades
6. Economic Justice Network
7. Effets de terre
8. Future Justice
Pontes entre A e C - 13 nós
1. Care
2. Cifor
3. Conservation Strategy
4. Ecorazzi
5. EWG
6. Global Voices
7. Ienearth
8. Ifg
9. RAN
10. Scidev
11. Servindi
12. The Ecologist
13. Vision share
Pontes entre A e B - 11 nós
1. Agua
2. BNDES
3. Cao Ombudsman
4. Crisis 2 Peace
5. Csis
6. Hot Topic
7. Itamaraty
238
8. No Green Economy
9. Pierre Johnson
10. Refacof
11. SIDA
Ponte entre A B e C - 2 nós em destaque
1. Nature
2. Sustainia
Ponte entre C e B - 3 nós em destaque
1. Environmental Justice Organisations
2. World GBC
3. World Mayors Council
Marginais - 18 nós
1. Amigas do Peito
2. Amigos de Mauá
3. Articulação Regional Amazônia Equador
4. Biodiversitas
5. Dieese
6. Earth Charter in action
7. Fórum for the Future
8. FRM
9. Humanidade 2012
10. International Centre for Trade and Sustainable Development
11. International Commission for the Protection of the Danube River
12. Iphan
13. IUCN
14. IUCN Red List
15. Pensar Eco
16. USAID
17. US Water Partnership
18. Waba
Nebulosa - 135 nós
1. 3 Wheeled Chesse
2. A Nova Ordem Mundial
3. Abong
4. Agência Petroleira de Notícias
5. Agenda Total
6. Agriculture Day
7. Agroecologia
8. Aidoh
9. Aliança Internacional de Organizações Católicas
239
10. Apedemars
11. Articulação de Organizações de Mulheres Brasileiras
12. Assema
13. Associação Nacional dos Engenheiros Ambientais
14. Avenir en Heritage
15. Bank de serments
16. Basd2012
17. Beyond 2015
18. Camara de Cultura
19. Catarse
20. Child’s Right to Nature
21. Choose Veg
22. Cinu
23. Climate Connections
24. Climate Eval
25. Climate Reality Project
26. Climate Sustainability
27. Comdema Cruzeiro
28. Comitê 21
29. Comunidade Obra Sustentável
30. CTA Acre
31. CUT
32. Earth Revolution
33. Ecologic
34. Ecopedagogia
35. Eeac
36. Eia Global
37. End poverty 2015
38. Ending Hunger
39. ENO Programme
40. ENO Tree Planting Day
41. Enviroleaks
42. Escola Sesc
43. Ethos
44. Fat Free Vegan
45. Fenadados
46. Floresta faz a diferença
47. Fórum Social Mundial
48. Foundation Earth
49. Fundação Colin Campbell
50. FVA
51. Fwii
52. Global Oceans
53. Global Poverty Project
54. Global Water Partnership
55. Global What?
56. Governo do Rio de Janeiro
57. Grap
58. Green Nation Fest
59. Guarda Parques
60. Gwp
61. Happy Planet
240
62. Human Impact Institute
63. Ictsd
64. IDS Brasil
65. Imazon
66. Initiative for Equality
67. Insights Wri
68. Inspiring Leadership for a Sustainable World
69. Instituto Orbis
70. International Network of Engineers and Scientists Against Proliferation
71. International Network of Engineers and Scientists for Global Responsibility
72. International Service UK
73. International Society for Fungal Conservation
74. IPCC
75. Ipeafro
76. Iran’s Solutions
77. ISBrasil
78. Ituc
79. Kabissa
80. Les papillons - Solidaire du Monde
81. MCT Brasil
82. Media Terre
83. Minambiente Colômbia
84. Museu Goeldi
85. Nações Unidas no Brasil
86. Neaspec
87. Norte Energia
88. Noticias Ambientales Internacionales
89. Oxfam
90. Panorama Ecologia
91. Pesacre
92. Public eye
93. Raoni
94. Reflection Group on Global Development Perspectives
95. Reseau Intercontinental de promotion de l’économie sociale solidaire
96. Rights for Sustainibility
97. Rio 20 Sebrae
98. Rio plus 20 somethings
99. Rio plus 20 Youth
100.
RIO+20 - INGOs Council of Europe
101.
Rio+20 comercial
102.
Rio+20 wikispaces
103.
Salve Embu das Artes
104.
Saúde Ocupacional
105.
SEBRAE Acre
106.
Sempreviva Organização Feminista
107.
Sobrevivência
108.
Solidaires du Monde
109.
SOS Amazônia
110.
South Green Economy
111.
Student Reporter
112.
Sustainabilitank
113.
Sustainability Consortium
241
114.
Sustainlabour
115.
Sustainus
116.
Sustentabilidade Semapi
117.
The Gef
118.
The Women’s Earth and Climate Caucus
119.
Think act vote
120.
TNI
121.
Trabalho Indigenista
122.
Trust
123.
UN TV
124.
Under Story Ran
125.
Veg Web
126.
Vegan
127.
Vegan Nutricionista
128.
Vision Rio 20
129.
Vote Rio Dialogues
130.
Water Blog
131.
We Are Power Shift
132.
World Resources Forum
133.
Xixi no banho
134.
Youth Forum
135.
Zayed Future Energy Prize
242
ANEXO B
243
244
245
ANEXO C
246
247
248
249
250
251
252
253
254
255
256
ANEXO D
257
258
259
260
261
262
263
264
265
ANEXO E
266
267
268
269
270
271
272
ANEXO F
273
274
275
276
277
278
279
280