Luana Bezerra Pinheiro, Raquel Farias Diniz
pessoas lidam com os resíduos, utilizam água e energia, consomem e se locomovem são
práticas sociais inscritas em seus corpos, possibilitadas pela infraestrutura e objetos
disponíveis e ligadas a formas de entender, sentir e querer. Nessa direção, as/os respondentes
disseram optar pela utilização de sacolas de pano, pela compra de produtos a granel, pela
escolha por embalagens biodegradáveis, dentre outras ações. A saber:
(...) por exemplo, a gente não usa mais esponja normal, essa esponja que a gente
compra em supermercado, a gente não usa, a gente usa bucha vegetal, pra lavar louça,
pra vários outros fins, nossa pasta de dente a gente faz a nossa pasta de dente, a gente
parou de comprar pasta de dente (...) a gente mudou geral também nos utensílios da
cozinha, a gente passou a comprar muita coisa de madeira, não comprar mais plástico,
comprar mais vidro, reutilizar vidro, a gente passou a comprar acho que 90% dos
nossos grãos, tudo a granel então a gente sai de casa e leva todas as embalagens (...)
(Participante 4, homem, 33 anos)
Estas ações demandam uma forma de se organizar no tempo e no espaço de maneira a
prever a necessidade de recipientes e considerar o tempo da compostagem, por exemplo.
Segundo Carvalho (2018, p. 5461), a implicação com as atividades domésticas trata-se de
uma mediação entre o lugar de habitação e o resto do mundo e por assim ser está relacionada
ao cuidado ambiental. Esse saber-fazer na relação pessoa-ambiente considera efeitos
socioambientais daquilo que é gerado no ambiente de moradia. Efeitos estes quanto ao que é
consumido, descartado, os tipos de materiais e substâncias, seus processos desde a origem até
após o uso, bem como escolhas, gestos, corpos e subjetividades, que se delineiam a partir
dessas relações. Assim, ainda que estejam inseridas numa sociedade cuja cultura alimentar
hegemônica tem base industrial e danosa aos ecossistemas, essas pessoas têm a seu dispor um
repertório de práticas que lhes servem de caminho para uma transição à ecogastronomia, que
pauta a produção, consumo e o destino dos alimentos numa prática ecossistêmica,
fundamentada no alimento bom, limpo e justo, respeitando as pessoas e a natureza (Campos-
Filho & Matos, 2021).
Pensar um espaço permacultural requer considerar suas repercussões sistêmicas e uma
reflexão complexa, que leve em conta questões físicas, químicas, temporais, causais, pessoais,
dentre tantas outras, articuladas entre si. Uma participante descreveu que para a reutilização
da água em seu espaço ela utiliza produtos de higiene pessoal e de higiene da casa apenas de
origem natural para não contaminar a água que é redirecionada para o solo em forma de
Estud. pesqui. psicol., Rio de Janeiro, v. 22, n. 02, p. 666-686, 2022.
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