JOSÉ LUIZ DE ANDRADE FRANCO e JOSÉ AUGUSTO DRUMMOND
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vem o problema de uma nacionalidade, como a nossa, que preci-
sa viver por si e para si. (Corrêa, 1936, p. 236-7)
Para Corrêa, a sociedade brasileira deveria se desenvolver a par-
tir de um projeto político original, que levasse em conta as particu-
laridades do meio natural e valorizasse a população nacional, espe-
cialmente os sertanejos, que viviam em contato mais direto com a
natureza, “fonte de toda a riqueza e beleza de um povo”. No en-
tanto, mesmo no Rio de Janeiro, capital federal, os habitantes dos
sertões estavam “abandonados completamente pelos poderes pú-
blicos, sem código rural, sem assistência médica eficiente, sem
instrução adequada, vivem esquecidos nessa vasta região do Dis-
trito Federal, como se não fossem brasileiros” (Corrêa, 1936, p. 236).
Vale acrescentar que a análise que Corrêa fazia da sociedade bra-
sileira era fortemente influenciada pelo pensamento de Alberto Tor-
res (1865-1917), notório propugnador de um ‘projeto nacional’
integrador e autoritário. Para ilustrar as suas opiniões, Corrêa ci-
tava trechos de um texto de Torres, As fontes da vida no Brasil, entre
os quais podemos destacar o seguinte:
Os brasileiros são todos estrangeiros na sua terra, que não apren-
deram a explorar sem destruir, e que têm devastado com um des-
cuido de que as afirmações dos meus trabalhos dão ainda um
pálido reflexo. Os que habitam as cidades fazem-se, por sua vez,
ainda mais estrangeiros, exibindo uma fictícia civilização de lu-
xos mentais e de luxos materiais, inteiramente alheios à vida na-
cional; e os que nos dirigem e nos governam, estranhos à realida-
de da nossa existência, agitam e mantêm essa efervescência de
interesses e paixões que formam toda a superfície da nossa vida
pública, com o fervilhar de atos, e, principalmente, com a brilhan-
te ebulição intelectual, que lhe é própria – opostos, e até hostis aos
sentimentos, aos interesses e aos direitos da Nação, e de que a
atitude crítica e condenatória, comum a quase todos os nossos
intelectuais, é o expressivo e deplorável modelo... Deste estado de
desencontro, de ignorância e de conflito, entre a terra e os seus
habitantes, entre as raças e o meio cósmico, e entre as raças, o
meio, as instituições, os costumes e as idéias, resultam os traços
que formam o relevo convulsionado da nossa estrutura nacional.
(Torres, citado por Corrêa, 1936, p. 237)
Corrêa defendia o estabelecimento de um vínculo mais direto do
homem brasileiro com a terra e a adoção de um estilo de vida fru-
gal. Embora não dispensasse a disseminação ampla dos confortos
trazidos pela modernidade, principalmente aqueles que garantiam
conquistas nas áreas da saúde, do saneamento, da educação e da
tecnologia aplicada, considerava desnecessários os luxos caracte-
rísticos de uma sensibilidade por demais afetada pela vida urbana.
Ele propunha um modelo de sociedade em que fossem reduzidos os
História, Ciências, Saúde – Manguinhos, Rio de Janeiro