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São tópicos que guiam de forma crítica uma análise zoológica da espécie humana,
pontuando caraterísticas acerca de hábitos referentes à higiene, organizações sociais,
resolução de conflitos, sexo e habitat, dentre outros. A análise deles feitas pelo autor tende a
indicar de forma ácida os pontos de vista que ele explicita, por exemplo, quando diz que:
[...] apesar de ter se tornado tão erudito, o Homo sapiens não deixou de ser um
macaco pelado e, embora tenha adquirido motivações muito requintadas, não perdeu
nenhuma das mais primitivas e comezinhas. Isso causa-lhe muitas vezes certo
embaraço [...]. Na verdade, o Homo sapiens andaria muito menos preocupado, e
sentir-se-ia muito mais satisfeito, se fosse capaz de aceitar esse fato. (MORRIS,
1967, p.7-8)
Segue a sinopse da vídeo-performance-instalação como divulgada na época de sua
circulação:
Em nosso habitat, mobília e sucata, higiene e isolamento, luta e tédio, fome e vício,
sexo e posse, sono e poder, se confundem. Interações sociais e espaciais se
justificam através de argumentos. Mas um olhar para além da razão, revela o inútil e
a superficialidade. Nossa evolução é a produção de lixo. Somos macacos que
desceram das árvores? Não somos mais animais? E se voltássemos? Como o corpo
civilizado reagiria? (MAZIERI; PIMENTA, 2016, p. 9).
Segue também, a escrita cênica da versão de Estudos para Macaco realizada junto
ao Programa Qualificação em Dança e ao Coletivo Fleuma, como ela foi escrita na época da
finalização desta etapa do projeto, embora tenha sido registrada em minhas anotações pessoais
sem ser publicada.
O público chega e encontra 4 performers vestidos(as) de jeans e camisas brancas. O
grupo está preenchendo o espaço com pilhas de objetos organizadas por tipo como
uma coleção. Tais objetos, não fossem ruínas, poderiam ser uma casa: azulejos,
tijolos, ferragens, ferramentas, restos de eletrodomésticos, canos, etc.
O público pode transitar pela instalação e assistir vídeos exibidos em dispositivos
integrados às ruínas. Em um televisor, um grupo de pessoas colhe e se alimenta de
romãs; em outro, uma mulher limpa folhas secas; e, num terceiro, a mesma mulher
varre um banco de concreto. Num último, um homem carrega pela rua, sem destino,
seus bens materiais. Um fone de ouvido acompanha cada vídeo com uma trilha
sonora ou sugestões de movimento para o(a) espectador.
Em meio às ruínas e aos espectadores, os performers realizam uma série de
articulações de seus corpos em interação com o espaço: uma pessoa medita em meio
a uma mandala de sucatas, outra costura e higieniza objetos aleatoriamente, outra
fotografa closes do corpo dos presentes sem nunca tirar os olhos de sua câmera e
outro caminha com um pneu em suas costas. De repente, aquele que meditava se
levanta e empacota freneticamente o que encontra ao seu alcance. O restante do
grupo se reúne para filmá-lo movimentando seus celulares de forma coreografada.
Por fim, todos se unem em torno de um televisor 29 polegadas antigo, tiram-no do
chão e sustentam seu peso enquanto mostram aos presentes um vídeo. No vídeo,
essas mesmas pessoas habitam uma árvore como se fosse sua casa. Tomam café da
manhã, preparam o almoço, dormem, brigam...15
15 Essa citação faz parte dos registros de meus diários de trabalho.