Determinantes da conservação da água 251
cando que as pessoas de estratos sócio-econômicos mais
altos (que possuem aparelhos e utensílios consumidores de
água) também têm melhores condições (educação, conheci-
mento ambiental) para desenvolver um número variado de
habilidades, incluindo essas relacionadas com a conserva-
ção da água. De qualquer modo, uma vez que é difícil impedir
as pessoas (especialmente as mais ricas) de adquirir apare-
lhos e utensílios que consomem água, a alternativa pró-
ambiental é promover a aquisição de dispositivos de conser-
vação ligados a esses aparelhos e utensílios (como recomen-
dado por Geller et al., 1983).
Também de acordo com nosso modelo, a escassez de
água teve um efeito direto no seu consumo. Pessoas que
vivem sob limitada disponibilidade de água, diminuem o seu
uso. Tais limitações também aumentaram, de modo destaca-
do e significativo, a motivação para conservar água: quanto
maior a escassez de água, tanto mais o indivíduo desenvolve
razões para economizar esse recurso. Uma vez que os moti-
vos de conservação inibem o consumo de água, há também
um efeito indireto da escassez de água no seu consumo, atra-
vés dos motivos de conservação.
Uma outra influência indireta do acesso limitado à água
no consumo do líquido, revela-se na relação entre escassez
de água e habilidades de conservação. Pessoas que sofrem
escassez de água tendem ligeiramente a desenvolver habili-
dades de conservação. Por sua vez, estas habilidades inibem
o consumo de água. Isto revela um outro efeito indireto e
inibidor da escassez de água sobre seu consumo, mediado
por habilidades de conservação.
Um efeito indireto adicional foi identificado: escassez de
água e crenças utilitárias exibem uma covariância saliente e
negativa (quanto maior a limitação do acesso à água, tanto
menor as crenças utilitárias). Uma vez que estas crenças pro-
movem o consumo de água, há mais um caminho indireto e
negativo que conecta escassez de água com consumo de
água, neste caso por crenças utilitárias. Assim, nosso mode-
lo parece demonstrar que esse fator situacional não só tem
um efeito direto no consumo de água, mas também sobre
outras variáveis psicológicas antecedentes. A escassez de
água promove o desenvolvimento de tendências de compor-
tamento (motivos, habilidades e crenças) que levam o indiví-
duo a economizar água.
Que implicações derivam destes resultados? Uma delas
é que uma maneira de aumentar tanto a consciência das pes-
soas sobre problemas de água, como sua tendência para agir
de modo responsável em relação ao recurso água, é expor os
cidadãos a condições de limitação de água. Como os resulta-
dos de nosso estudo mostram, indivíduos que vivem em con-
dições de escassez de água aprendem a dar mais valor a este
recurso, desenvolvem suas habilidades para economizá-lo,
tendem a não manter crenças utilitárias a respeito, e conso-
mem menos água. Pesquisas futuras deveriam testar a
plausibilidade desta explicação.
As variáveis psicológicas também exibiram um padrão
de inter-relações significativas. Habilidades de conservação
afetaram positiva e diretamente motivos de conservação. Este
efeito tinha sido teorizado há algum tempo por De Young
(1996), que cunhou o termo “competência de motivação”,
implicando que quanto mais habilidosa a pessoa é, mais moti-
vação ela desenvolve como conseqüência de suas habilida-
des. Assim, educar as pessoas como indivíduos pró-ambien-
talmente habilitados é uma estratégia duplamente frutífera
porque habilidades inibem diretamente o consumo de água e,
adicionalmente, promovem motivos para sua conservação.
Por sua vez, crenças utilitárias sobre água, além de pro-
mover seu consumo, inibem motivos para sua conservação.
Quanto mais os indivíduos pensam na água como um recurso
ilimitado, tanto menos eles se sentem compelidos a conservá-
la. Assim, uma mudança nas crenças utilitárias é desejada
para aumentar os níveis de motivação para economizar água
e a ação de sua conservação. A literatura pertinente mostra
que uma forma de mudar crenças ambientais é a educação
ambiental (Legault & Pelletier, 2000), neste caso, dirigida a
instigar os cidadãos a desenvolver uma visão pró-ecológica
da água como um recurso limitado.
Em resumo, nosso modelo mostrou que o consumo de
água está sob a influência combinada de fatores situacionais
e disposicionais. Variáveis contextuais, como escassez de água
e aparelhos e utensílios que consomem água, afetam signifi-
cativamente o seu consumo, ao mesmo tempo em que variá-
veis psicológicas, como motivos ambientais, habilidades e
crenças, também influenciam tal comportamento. Além disso,
os fatores situacionais promovem o desenvolvimento de ten-
dências psicológicas que predispõem o indivíduo a
conceitualizar (crenças), valorizar (motivos) e agir efetivamente
(habilidades) no consumo de água.
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