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considera que a questão dos direitos ambientais concerne muito mais ao “campo
educativo” do que a uma normatização ou institucionalização jurídica dos problemas
do ambiente. Assim, “a questão dos valores é anterior a questão do direito. E a
questão dos valores é uma questão educativa” (idem, p. 180). Neste sentido,
apresentamos diferentes valores éticos em relação à “natureza”, pois há múltiplas
instâncias culturais que nos ensinam o que devemos desejar e valorar, e como
devemos pensar e agir. Conforme Solomon (2011), cada sujeito será interpelado pela
publicidade de maneira diferente25. Aquilo que é valorizado ou não por determinada
cultura é aprendido por meio de vários agentes de socialização, dentre eles: os pais, os
amigos, os professores e a mídia26 – essa, aqui, particularmente interessante.
A produção cultural da “natureza” exercida pelos meios de comunicação de
massa – por exemplo, através das construções discursivas publicitárias das noções de
“biodiversidade” e de “sustentabilidade”27 – está envolta por e em inúmeras
estratégias (sobretudo: políticas, econômicas, ambientais, científicas e midiáticas),
gerando diversos sentidos sobre como devemos pensar, considerar e relacionarmo-nos
com a “natureza”. Assim, os vídeos publicitários que circulam na televisão e nas
páginas da Internet voltados ao mercado “sustentável”, lançam mão de certas
estratégias midiáticas (sons, imagens, movimentos, cores) atreladas a determinados
enunciados científicos, de modo a validar os discursos que veicula. Ripoll (2012)
considera que vivemos cercados por uma “bioforia” – termo proposto por Van Dijck
25 Louro (1999, p.25, grifos meus) afirma que “[...] a produção dos sujeitos é um processo plural e
também permanente”. Além disso, é interessante pensarmos sobre os diferentes níveis de atenção que
as propagandas atuais e as antigas provocam-nos. De acordo com Dulac (2007, p. 89), “dispensamos às
propagandas antigas, muitas vezes, uma atenção maior do que às propagandas contemporâneas e isso
pode estar relacionado com o afastamento que nos é permitido tendo em vista sermos as consumidoras
[a autora refere-se a produtos de beleza destinados a mulheres] potenciais para as quais são criadas, ao
contrário daquelas”. Para a autora, não há um modo “natural” de ser mulher; inato às muheres por ser
parte de sua “natureza”; a feminilidade e a beleza são entendidas como construções histórico-culturais
– assim como estou concebendo a “natureza” neste estudo.
26 Conforme Louro (1999, grifos meus), homens e mulheres adultos são “gravados” por determinados
comportamentos e modos de ser ao longo de suas histórias pessoais. Para que estas marcas sejam
efetivas, “[...] um investimento significativo é posto em ação: família, escola, mídia, igreja, lei participam
dessa produção. Todas essas instâncias realizam uma pedagogia, fazem um investimento que,
frequentemente, aparece de forma articulada, reiterando identidades e práticas hegemônicas enquanto
subordina, nega ou recusa outras identidades e práticas; outras vezes, contudo, essas instâncias
disponibilizam representações divergentes, alternativas e contraditórias” (idem, p. 25).
27 A produção discursiva da “natureza”, a partir das noções de “biodiversidade” e de “sustentabilidade”
será discutida no segundo Capítulo desta Dissertação.