Vera Regina dos Santos Wolff, Cristine Elise Pulz, Daniele Campos da Silva, Cristiane Carvalho Paes, Carla Patrícia Severino
da Silva, Juliana Conte Zanotelli, Fernanda de Oliveira de Andrade
Devemos abandonar a visão de um homem dono e
senhor da natureza, não só porque conduziu a violências
destrutivas e danos irreparáveis sobre a complexidade
viva, mas também porque essas violências e danos re-
troagem de modo nocivo e violento sobre a própria es-
fera humana (MORIN, 2003).
A crise ambiental atual e, mais particularmente, a difi-
culdade de se reverter o impasse gerado pelo conflito en-
tre desenvolvimento e meio ambiente reflete a distância
que separa as lógicas em prática na economia e ecologia.
O desenvolvimento sustentável é a meta a ser atingida pelo
homem, na medida em que se revele compatível com a
preservação do ambiente (BURSZTYN et al., 1994).
A educação deve favorecer a aptidão natural da mente
em formular e resolver problemas essenciais e, de forma
correlata, estimular o uso total da inteligência geral. Este
uso total pede o livre exercício da curiosidade, a facul-
dade expandida mais viva durante a infância e a adoles-
cência, que com freqüência a instrução extingue e que,
ao contrário, se trata de estimular ou, caso esteja ador-
mecida, de despertar (MORIN, 2001).
Capra (2002) considera que a educação e a agricultura
são duas áreas importantes no Brasil, que devem cami-
nhar juntas, e que precisamos de uma agricultura ecolo-
gicamente correta, que respeite a saúde do solo, que não
use agrotóxicos, mas sim processos ecológicos.
O projeto “Ciência na Escola: os princípios da ecologia
profunda através do estudo dos insetos e o meio ambien-
te” foi desenvolvido através de um convênio da Financia-
dora de Estudos e Pesquisa do Ministério da Ciência e Tec-
nologia (FINEP) e a Fundação Estadual de Pesquisa Agrope-
cuária (FEPAGRO), cujo objetivo foi o de integrar as ações
do laboratório e Museu de Entomologia professor Ramiro
Gomes Costa (MRGC), da FEPAGRO com a comunidade de
escolas do ensino médio. Uma das metas foi o desenvolvi-
mento de uma consciência ecológica que, segundo Capra
(2001), é espiritual: “Quando o conceito de espírito huma-
no é entendido como o modo de consciência em que o in-
divíduo se sente ligado ao cosmo como um todo, fica claro
que a percepção ecológica é espiritual em sua essência mais
profunda, e então não é surpreendente o fato de que a nova
visão da realidade esteja em harmonia com as concepções
das tradições espirituais da humanidade”. Através do estu-
do dos insetos foram vivenciados os princípios da ecologia
profunda, ou seja, a interdependência, a reciclagem, a par-
ceria, a flexibilidade e a diversidade. Buscou-se conscienti-
zar a população que a importância dos insetos está princi-
palmente relacionada às diversas funções que eles exercem
no ecossistema, como agentes polinizadores, como contro-
ladores de populações de outras espécies (predadores ou
parasitóides), como alimento de diversos seres vivos, além
de favorecerem a decomposição de matéria orgânica entre
outros processos biológicos e assim valorizando e respeitan-
do a vida de todos os seres.
Descrição do caso
Foram realizados dois cursos, o primeiro “Formação de
laboratório e museu escolar” e o outro “Coleta, montagem
e identificação de insetos” dirigidos aos alunos e profes-
sores da Escola Estadual de Ensino Médio Padre Reus, da
Escola Estadual de Educação Básica Presidente Roosevelt,
e para alunos de cursos superior de biologia (PUCRS, UNI-
LASALLE, UFRGS). As temáticas desenvolvidas foram den-
tro de uma visão ecocêntrica, abordando os princípios da
ecologia profunda. Alguns participantes dos cursos rea-
lizaram estágio no laboratório e museu de entomologia
da FEPAGRO, sendo oportunizadas práticas para monta-
gem de coleções de seres vivos. Os alunos de ensino mé-
dio, orientados pelos professores das escolas, estagiários
de curso superior e pesquisadores da FEPAGRO, escolhe-
ram temas sobre insetos e outros seres vivos para elabo-
ração de gavetas didáticas. Após pesquisa em referências
bibliográficas e internet os alunos montaram as gavetas
onde foram representadas as relações entre os seres vi-
vos e o meio ambiente. Este material está depositado nos
museus da FEPAGRO (WOLFF et al., 2006) e das escolas
envolvidas no projeto. O material didático serviu para ex-
posições nas escolas e em eventos científicos, bem como
para a utilização em sala de aula como recurso pedagógi-
co dos professores. Os demais alunos das escolas tiveram
a oportunidade de visitar o museu e laboratórios da FEPA-
GRO e assistir exposições nas escolas, nos eventos cientí-
ficos das instituições de ensino superior, participar de pa-
lestras, oficinas e aulas práticas.
Como avanços, pôde-se verificar o entusiasmo dos
alunos do ensino médio pela pesquisa científica mos-
trando possibilidades na escolha de um curso superior,
a instrumentalização dos docentes das escolas com no-
vas práticas pedagógicas, a experiência oportunizada aos
estagiários de curso superior na docência, na orientação
de alunos, no desenvolvimento de metodologias de en-
sino e materiais didáticos e para os pesquisadores da FE-
PAGRO na interação com a comunidade escolar. Porém o
que se considera mais relevante é a contribuição para a
construção de um sistema de ética em que valoriza todos
os seres vivos e a sustentabilidade do planeta.
Resultados
Foram capacitadas 46 pessoas (alunos e professo-
res do ensino médio, alunos de cursos de ensino supe-
rior de Ciências Biológicas) nos dois cursos oferecidos
no MRGC; 17 destes participantes realizaram estágio no
laboratório e museu da FEPAGRO e 34 alunos nos labo-
ratórios e museus das escolas. Aprenderam a utilizar as
novas tecnologias (digital e informática) para a cataloga-
ção e formação de banco de dados nos museus, com o
uso da internet.
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PESQ. AGROP. GAÚCHA, PORTO ALEGRE, v.15, n.1, p.77-80, 2009.