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em torno de um mesmo domínio do real ou de um problema social percebido e
designado pela consciência comum.
Em um contexto social e histórico particularmente instável e mutante, no qual
os meios tradicionais de produção de identidade (a família, a religião, a política, o
trabalho) se encontram enfraquecidos, é possível que os grupos e os indivíduos
também estejam se apropriando do corpo como um meio de expressão do eu
(GOLDENBERG e RAMOS, 2002). Um exemplo deste fenômeno é o crescimento,
nas últimas décadas do século passado, do fisiculturismo entre os homens, como
modo de enfrentamento da solidão urbana e, afirmam alguns, da crescente
emancipação das mulheres (COURTINE, 1995).
Para Le Goff e Truong (2006) a concepção de corpo, seu lugar na sociedade,
sua presença na realidade e no imaginário, na vida cotidiana sofreram modificações
em todas as sociedades históricas. A escolha da atividade física se constitui em uma
das dimensões do estilo de vida dos grupos sociais. Assumem também outras
funções como as de recuperação. (CASTRO, 2003 apud SANTOS, 2006)
Détrez (2003, apud PAIM e STREY 2004) afirma que o corpo apresenta-se
como a conexão entre a individualidade, no que ela tem de mais singular, e o grupo.
Além disso, deve-se lembrar, também, da força da socialização na definição de
modelos prestigiosos de corpos, pois os hábitos ou técnicas corporais dependem
muito, para sua eficácia, dos valores atribuídos às diferentes corporeidades
(BERGER, 1976). Esta socialização é responsável pela transmissão de padrões de
corpos que são oferecidos, juntamente com sanções e estímulos, por meio das
representações culturais e simbólicas próprias de cada sociedade. Neste sentido,
tem-se o corpo como o laço da interação entre o indivíduo e o grupo, a natureza e a
cultura, a repressão e a liberdade.
Como desdobramento do movimento de contracultura no Brasil e no mundo,
uma perspectiva oriental se desenhou nos horizontes do Ocidente. Como
conseqüência novas possibilidades, uma nova consciência ética, uma nova
mentalidade, uma nova forma de viver, nas quais a oposição homem/natureza,
espiritual/físico, corpo/mente não mais são características. A partir disso surgem
novas práticas terapêuticas derivadas de antigos e tradicionais sistemas de cura. O
contraste entre as cosmologias oriental e ocidental perpetua-se também no campo
da saúde, marcando as diferenças entre a medicina ocidental contemporânea, ou
biomedicina, e as práticas holísticas (NOGUEIRA; CAMARGO, 2007).