BEM-ESTAR À VENDA: O CASO DA FRANQUIA MUNDO VERDE
Renan Ritzmann de Oliveira
BEM-ESTAR À VENDA:
O CASO DA FRANQUIA MUNDO VERDE
Dissertação apresentada ao Programa de
Pós-graduação em Sociologia Política
como requisito parcial para obtenção do
Grau de Mestre em Sociologia Política.
Orientadora: Drª Julia Silvia Guivant
Florianópolis
2014
AGRADECIMENTOS
Primeiramente, e mais importante, à Julia Guivant! Graças aos espaços que
ela abriu para mim, pude adentrar o mundo da sociologia e continuar a me
debruçar sobre questões que intrigam a minha curiosidade desde a
graduação. Seus conselhos foram fundamentais para a delimitação da
pesquisa e para que eu desenvolvesse um olhar sociológico sobre o tema.
Agradeço a ela também a oportunidade de frequentar o Iris. Circular por
esse grupo foi fundamental para me instigar intelectualmente. Nele não
encontrei apenas afinidades temáticas, mas principalmente colegas e
pesquisadores com os quais pude aprender muito. Agradeço principalmente
à Denise Nunes, Laura Guerreiro, Maria Olandina, Manuela Diâmico, Naira
Tomiello, Marília Luz, Ricardo Paz, Fábio Luiz, Carol Bordinhão e
Deberson Jesus.
Sou grato ao Programa de Pós-Graduação em Sociologia Política pelo
espaço e pelos recursos disponibilizados. Principalmente às secretárias
Albertina e Fátima por sempre esclarecerem minhas dúvidas com tanta
atenção. Sou muito grato por ter sido aluno dos professores Carlos Sell,
Márcia Mazon, Jacques Mick e Márcia Grisotti. Suas respectivas disciplinas
me proporcionaram reflexões importantes sobre a minha pesquisa.
Agradeço aos colegas que embarcaram na aventura do mestrado na turma de
2012 pelas risadas e angústias compartilhadas. Um agradecimento especial
para Ricardo Claumann por me permitir compartilhar muitas das angústias e
anseios não apenas da vida acadêmica, mas da vida como um todo. Não
posso deixar de agradecer também à Thaise Dias, por ter me aturado durante
boa parte da confecção desse trabalho.
Agradeço mais uma vez Mari e Paulo por continuarem me apoiando em
minhas escolhas. Sem eles, nada seria possível.
“I chose sickness over health and it saved me every time”
(WHILE SHE SLEEPS, trecho da canção Until the Death)
RESUMO
No início do século XXI, assistimos à emergência e consolidação da
indústria do welleness, ou indústria do bem-estar, como é conhecida em
português. Trata-se de um mercado de produtos que abarca, princi-
palmente, a busca pela alimentação saudável, mas que não se restringe a
ela. O presente trabalho aborda a franquia Mundo Verde, a qual se
apresenta para os consumidores como sendo “a sua loja do bem-estar”.
O caso da franquia é paradigmático, uma vez que seu crescimento
mostra o próprio crescimento do mercado do bem-estar no Brasil. Não
obstante a grande variedade de produtos que disponibiliza sobre o tema,
a franquia também publica muito material informativo, embasado por
especialistas, sobre saúde e alimentação, apresentando-se não só como
uma vendedora, mas como um ator poderoso na definição do termo.
Apesar do crescimento desse mercado, a variedade de produtos ofe-
recidos pela franquia busca atender a demandas diferentes, quando não
divergentes, que revelam uma ausência de consenso sobre os sig-
nificados do termo bem-estar. Esta dissertação explora o rico acervo de
material publicizado pela franquia e sobre ela, analisando as ambi-
valências envolvidas em torno do termo bem-estar. É justamente essa
falta de consenso sobre os significados do termo que permite à franquia
sua utilização, de modo a abarcar uma variedade de demandas e,
consequentemente, de produtos diferentes, relacionados ao bem-estar. A
conclusão desta pesquisa é que a franquia estabelece uma aliança
discursiva com sistemas peritos, como forma crucial para garantir a
legitimidade do que apresenta aos consumidores como sendo produtos
de bem-estar.
Palavras-chave: Franquia Mundo Verde; bem-estar; sociologia da ali-
mentação.
ABSTRACT
The early twenty-first century witness the emergence and consolidation
of the wellness industry, or “indústria do bem-estar” as it is known in
portuguese. This is a product market which mainly covers the quest for
healthy eating, but not restricted to it. This work addresses the Green
World franchise, which is presented to consumers as "your wellness
shop." The case of this franchise is paradigmatic because shows the
growth in the wellness market in Brazil. Despite the wide variety of
products available in wellness, the franchise also publishes very
informative material, grounded by experts on health and food.
Presenting itself not only as a salesperson but as a powerful actor in the
definition of that term. Although the growth of this market, the variety
of products offered by the franchise seeks to meet different, if not
conflicting demands, which reveal an absence of consensus on the
meaning of the term wellness. This dissertation explores the rich
collection of material published by the franchise and on it, and analyzes
the ambiguities involved on term wellness. It is precisely this lack of
consensus on the meanings of wellness that allows the franchise uses
them in ways that cover a variety of demands, and consequently,
different products related to wellness. This dissertation explores the rich
collection of material published by the franchise and on it, and analyzes
the ambiguities involved on term wellness. It is precisely this lack of
consensus on the meanings of wellness that allows the franchise uses
them in ways that cover a variety of demands, and consequently,
different products related to wellness. The conclusion of this research is
that the franchise establishes a discursive alliance with expert systems as
a crucial way to ensure fair that presents consumers as products of well-
being.
Keywords: Franchising World Green; wellness; sociology of food.
FIGURA 1 .
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LISTA DE FIGURAS
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SUMÁRIO
INTRODUÇÃO
19
1. UMA FRANQUIA SUSTENTÁVEL?
31
1.1 MUNDO VERDE, DO QUE ESTAMOS FALANDO?
31
1.2 NÃO É UM SUPERMERCADO
34
1.3 A MUDANÇA NA GESTÃO
37
1.4 RSE E SUSTENTABILIDADE: POR QUE ISSO IMPORTA?
40
1.5 MUNDO VERDE, RSE e SUSTENTABILIDADE
44
1.6 SENSIBILIZAR O CONSUMIDOR PARA A QUESTÃO
AMBIENTAL
51
1.7 ENTRE A ECOEFICIÊNCIA E O ECO-CONSUMO:
UMA NOVA CONCEPÇÃO DE CONTROLE?
54
1.8 OS ESTABELECIMENTOS: UMA BREVE DESCRIÇÃO
55
2. OS PRODUTOS E OS DIVERSOS SIGNIFICADOS
DO BEM-ESTAR
61
2.1 PRODUTOS NATURAIS
63
2.1.1 ORGÂNICOS
64
2.1.2 CHÁS E FITOTERÁPICOS
67
2.1.3 INTEGRAIS
68
2.1.4 O CASO DO MEL
71
2.2 DISTANCIANDO-SE DO NATURAL
72
2.2.1 ALIMENTOS FUNCIONAIS
72
2.2.2 SUPLEMENTOS ALIMENTARES
74
2.3 RESTRIÇÕES, INTOLERÂNCIAS, ALERGIAS
78
2.3.1 DIET e LIGHT
79
2.3.2 SEM GLÚTEN, SEM LACTOSE
81
2.4. KOSHER E ORIENTAIS
84
2.5 O BEM-ESTAR PARA ALÉM DA ALIMENTAÇÃO:
COSMÉTICOS, ESOTÉRICOS, PRESENTES
87
2.6 O BEM-ESTAR COMO ESTILO DE VIDA
91
2.7 A AMBIVALÊNCIA DO CONCEITO BEM-ESTAR
97
3 O PAPEL DOS SISTEMAS PERITOS
100
3.1 QUALIFICANDO O BEM-ESTAR VIA WEB
100
3.2 ALÔ, NUTRICIONISTA: UM CASO DE ATUAÇÃO
DOS PERITOS VIA WEB
103
3.3 PARA ALÉM DOS PERITOS, OS CONSELHOS
E OS EXEMPLOS
109
3.4 AFINIDADES ENTRE BEM-ESTAR E QUALIDADE
DE VIDA
113
3.5 CORPO E SAÚDE: CRUZAMENTO ENTRE BEM-ESTAR
E QUALIDADE DE VIDA
114
3.6 FRANQUIA E PERITOS: UMA ALIANÇA DISCURSIVA
NA CONSTRUÇÃO DO BEM-ESTAR
115
CONSIDERAÇÕES FINAIS
119
REFERÊNCIAS
123
19
INTRODUÇÃO
O presente trabalho nasceu de uma tentativa de compreender a
busca contemporânea pela alimentação saudável. Graças às sugestões da
minha orientadora, voltei minhas atenções para um caso paradigmático
dentro do Brasil, a franquia “Mundo Verde”. A empresa em questão é
emblemática não apenas da oferta de alimentos e produtos diversos, mas
da busca pela vida saudável como um estilo de vida. Isto é bem
sintetizado pelo título que acompanha os estabelecimentos da franquia:
“Mundo Verde: Sua loja do bem-estar”. Uma vez deparado com esse
título, o trabalho em questão foi além da alimentação, transformando-se
numa investigação sobre os significados do bem-estar na sociedade
contemporânea. Qual o significado da expressão “bem-estar”?
A temática do bem-estar é mais relevante sociologicamente do
que pode aparentar de início. O início do século XXI parece assistir ao
surgimento de uma verdadeira indústria do bem-estar. “Grandes
Empresas entram na onda bilionária do bem-estar”, eis o título de um
artigo publicado em periódico brasileiro de grande circulação:
Há algo errado no mundo dos negócios? Não
exatamente. Bem-vindo à era do bem-estar, que
está provocando uma revolução no consumo
mundial. As empresas estão tendo de se
reposicionar - em alguns casos, se reinventar -
para acompanhar uma mudança importante nos
hábitos do consumidor.
O homem moderno ganhou peso e estresse e agora
paga caro para recuperar qualidade de vida. "O
mundo todo busca a saúde do corpo e da mente, os
pilares do bem-estar. Mesmo empresas que não
eram originalmente do segmento querem ter sua
imagem associada a esse conceito", diz Silvia de
Féo, diretora-executiva da Fitness Brasil, empresa
que promove eventos de fitness e bem-estar.1
1 Disponível em: http://www.estadao.com.br/arquivo/economia/2006/not20061009p17270.htm.
20
Um dos arautos dessa indústria é o economista Paul Zane Pilzer,
cujos best-sellers The Wellness Revolution (2002) e The New Wellness
Revolution (2007) fornecem a base intelectual para a transformação
econômica em curso. De acordo com ele, esta pode ser a terceira grande
onda de negócios do mundo — a primeira foi a dos automóveis e a
segunda, a dos computadores2. Entretanto, Pilzer não deve ser
interpretado como um escritor que dita as novas tendências, mas sim
como mais um produto dessas tendências. Como ele mesmo ressalta em
uma entrevista concedida à revista Network Marketing Lifestyle, o que
fez foi encontrar uma oportunidade de negócios nos milhões gastos
pelos norte-americanos em alimentação e cuidados com a saúde3.
Mas se o início do século XXI assiste à emergência de uma
indústria do bem-estar cujo significado está intrinsicamente relacionado
à saúde do corpo e da mente, é preciso ressaltar que o significado dessa
expressão não é consensual.
Não podemos nos deixar enganar pela simplicidade da expressão
“bem-estar”. Longe de ser uma tarefa simples, ela mobilizou intelectuais
e acadêmicos de áreas ligeiramente afastadas, cada qual armado com
seus argumentos e métodos na tentativa de delimitar a semântica dessa
expressão. Logo, deve-se ressaltar que para compreender os significados
atribuídos a essa expressão, é necessário situar a preocupação com o
bem-estar como uma preocupação própria da modernidade a partir do
olhar que a sociologia contemporânea nos possibilita.
Bem-estar: histórico de um termo
A primeira tradição do pensamento moderno a se preocupar com
a questão do “bem-estar” foi o utilitarismo inglês, que ganhou fama nos
escritos dos filósofos Jeremy Bentham, John Stuart Mill e Henry
Sidwivk entre os séculos XVIII e XIX (os chamados “utilitaristas
clássicos”). Como aponta Tim Mulgan, seguidor contemporâneo dessa
escola, a definição de bem-estar foi a questão mais importante a dividir
os utilitaristas. Não por acaso, pois para esses filósofos, “uma teoria do
bem-estar deveria fornecer uma lista de coisas intrinsicamente boas”
(MULGAN, 2012, p. 89).
Os utilitaristas do início da era moderna apresentaram três teorias
amplas sobre o bem-estar, que são descritas por Mulgan. A primeira
2 Idem.
3 Disponível em: http://platero.webs.com/indstriadobemestar.htm. Acesso em: 15/7/2014.
21
delas foi a teoria do estado mental ou da experiência, de acordo com a
qual “as únicas coisas intrinsicamente valiosas são os estados mentais
positivos”, de maneira que as experiências devem ser avaliadas em
termos de prazer ou dor. Outra proposta semelhante foi a teoria da
preferência ou do desejo, para a qual “a única coisa valiosa é conseguir
o que se queria, se prefira ou se deseje”, e a vida de uma pessoa iria bem
contanto que as suas preferências sejam satisfeitas.
Como aponta Mulgan, tanto as teorias do estado mental quanto as
da preferência são subjetivas. “O que é bom para mim depende de
alguns fatos particulares acerca de mim: o que me dá prazer, ou o que eu
desejo” (Idem). A alternativa a essas duas ficou conhecida como teoria
objetiva ou substantiva, e visava refletir sobre uma lista de coisas que
seriam boas para qualquer pessoa, independentemente de querê-las ou
de sentir prazer nelas. Como pode se observar, o que dividiu esses
filósofos foi a elaboração de uma teoria do bem-estar que supera-se a
dicotomia entre objetividade e subjetividade. Como entender o bem-
estar de todos, uma vez que os indivíduos vivenciam experiências
diversas e carregam os mais variados desejos?
Discussões filosóficas a parte, nos voltamos para o período mais
recente da modernidade. Na segunda metade do século XX, psicólogos
estadunidenses debruçaram-se sobre essa expressão com o intuito de
mensurar o bem-estar. Nessa tentativa emergiram duas concepções
divergentes: a do bem-estar subjetivo (BES), cujo principal teórico foi o
psicólogo Edward Diener; e a do bem-estar psicológico (BEP), tendo
como principal defensor a psicóloga Carol Ryff. As divergências podem
ser resumidas da seguinte forma: enquanto BES tradicionalmente se
sustenta em avaliações de satisfações com a vida e num balanço entre
afetos positivos e negativos que revelam felicidade, as concepções
teóricas de BEP são construídas sobre formulações psicológicas acerca
do desenvolvimento humano e dimensionadas em capacidades para
enfrentar os desafios da vida (SIQUEIRA; PADOVAM, 2008, p. 205).
Apesar das tentativas de usar métodos quantitativos e de elaborar escalas
de medição para o bem-estar, a psicologia estadunidense se deparou
com um problema semelhante ao dos filósofos utilitaristas. Como
mensurar uma expressão relacionada a tantas questões subjetivas como
o bem-estar?
No final do século XX, um acadêmico que ganhou notoriedade no
debate sobre o bem-estar foi o economista Partha Dasgupta, com uma
investigação sobre o bem-estar e a miséria, que é o título da obra na qual
elaborou suas reflexões sobre o tema. Em um de seus últimos escritos
Dasgupta ratificou que o bem-estar se refere, em linhas gerais, “ao grau
22
em que o individuo é capaz de exercer independência, escolha e
autodeterminação” (DASGUPTA, 2008, p. 155). Nesse sentido, acredita
o economista, o papel das instituições sociais na obtenção do bem-estar
é mais do que evidente: a vida social é uma expressão do senso de
unidade social do indivíduo, e os bens de primeira necessidade e a
ausência de coerção são os meios que permitem às pessoas ir ao encalço
daquilo que consideram bom (Idem). Não obstante, para Dasgupta “o
bem-estar social é o conjunto do bem-estar dos indivíduos” (Ibidem, p.
158).
As ideias de Dasgupta tiveram influência sobre a renomada
antropóloga Mary Douglas. Em um de seus últimos textos, no qual
discute a relação entre antropologia e economia, Douglas apresenta uma
leitura das teses de Dasgupta sobre o bem-estar extremamente
pertinentes para a presente discussão. Na esteira do economista, a
antropóloga enfatiza que “o bem-estar individual e as instituições sociais
que o apoiam devem ser contados como os resultados do sistema (não
como bens)”. Não obstante, Douglas ressalta, “consumo é o processo de
transformar mercadorias em bem-estar” (DOUGLAS, 2007, p. 26).
Os trabalhos de Douglas foram fundamentais para que o consumo
fosse estudado não como um mero ato alienante, mas como um
constituidor da vida social. No entanto, no que tange à relação entre o
consumo de bens e bem-estar, é de um pensador francês o mérito de
detectar essa relação, Alexis de Tocqueville. Já no início do século XIX,
esse precursor da sociologia e da ciência política chamava a atenção
para a afinidade eletiva que o bem-estar mantinha com o consumo de
bens materiais.
As considerações de Tocqueville ajudam tanto a situar a
emergência do gosto do bem-estar historicamente, como a de
compreendê-la dentro das transformações sociológicas próprias da
modernidade. Para esse pensador, a emergência do gosto pelo bem-estar
está intrinsecamente relacionada a decadência da antiga aristocracia
européia, e a emergência de novas camadas sociais:
Nas nações em que a aristocracia domina a
sociedade e a mantém imóvel, o povo acaba se
acostumando à pobreza, como os ricos à sua
opulência. Uns não se preocupam com o bem-
estar material, porque o possuem sem dificuldade;
os outros nem pensam no assunto, porque
perderam a esperança de adquiri-lo e não o
conhecem bastante para deseja-lo (...) Quando, ao
23
contrário, os níveis sociais são confundidos e os
privilégios destruídos, quando os patrimônios se
dividem e a luz e a liberdade se difundem, a
vontade de adquirir o bem-estar se apresenta à
imaginação do pobre e o medo de perdê-lo ao
espírito do rico (TOCQUEVILLE, 2000, p. 156).
Tocqueville viu a Revolução Francesa destituir a nobreza, e os
antigos papéis sociais sustentados pela tradição serem embaralhados
pela emergência de novas camadas detentoras de capital econômico. Em
meio a essa transformação única da modernidade, o acesso aos bens
deixava de ser restrito aos privilégios de sangue típicos da aristocracia
para ser acessado por qualquer um que pudesse comprá-los:
Busco uma paixão que seja natural a homens que
a obscuridade da origem ou a mediocridade da
fortuna excitam e limitam, e não encontro uma
mais apropriada do que o gosto pelo bem-estar. A
paixão pelo bem-estar material é essencialmente
uma paixão de classe média; ela cresce e se
amplia com essa classe; torna-se preponderante
com ela (Idem).
Não obstante, situar o gosto pelo bem-estar como típico de uma
camada social, para Tocqueville, é característica de um lugar e uma
época bem específicos, os Estados Unidos, que ele teve a oportunidade
de conhecer e analisar no inicio do século XIX.
Na América, a paixão pelo bem-estar material
nem sempre é exclusiva, mas é geral; se nem
todos a experimentam da mesma maneira, todos a
sentem. A preocupação com satisfazer as menores
necessidades do corpo e de prover às pequenas
comodidades da vida toma conta universalmente
dos espíritos (Ibidem, p. 155).
Dessa viagem do pensador francês resultou um de seus mais
famosos livros, A democracia na América. Dentro da exposição de seu
pensamento não é por acaso que Tocqueville situa a América como terra
do bem-estar. Uma terra originalmente sem aristocracia, e motivada pelo
espírito do capitalismo (diagnosticado por Max Weber), encontrava-se
aí o terreno próprio para o desenvolvimento das classes médias. Como
Tocqueville faz questão de enfatizar “não encontrei na América nenhum
24
cidadão tão pobre que não lançasse um olhar de esperança e de cobiça
nas fruições dos ricos, e cuja imaginação não se apossasse de antemão
dos bens que a sorte se obstinava a lhe recusar (TOCQUEVIILE, 2000,
p. 157). Não obstante, na América, “o amor ao bem-estar tornou-se o
gosto nacional e dominante; a grande corrente das paixões humanas vai
nessa direção e a tudo arrasta em seu curso” (Idem).
Apesar da análise detalhada de Tocqueville, não podemos
esquecer que ela é datada do século XIX. Foi um conterrâneo seu, Jean
Jacques Courtine, que deu sequência as suas análises ao pesquisar como
o gosto americano pelo bem-estar estendeu-se ao século XX. Não
obstante, ele descreve muito bem como esse gosto pelo bem-estar
converteu-se numa verdadeira cultura do corpo (e da mente por
extensão).
A convergência entre corpo e bem-estar tem início no final do
século XIX, no período de estabilidade que sucedeu a guerra civil norte-
americana: “A ética puritana do trabalho tinha se infiltrado
profundamente nas práticas esportivas”, desse modo, a emergência do
esporte “ocorreu sobre o pano de fundo de um individualismo
disciplinado” (COURTINE, 2005, p. 99).
Através do esporte, a disciplina puritana se voltou para o corpo.
Na virada do século XIX para o XX, desenvolveu-se o sentimento de
que se podia legitimamente buscar no exercício físico uma gratificação
pessoal e até mesmo um prazer do corpo. Essa percepção vai se
intensificar a partir da década de 1920. É no período entre guerras e no
pós-II Guerra Mundial, que ocorre um relaxamento da disciplina e da
tradição, emergindo uma moral mais leve em relação ao corpo. O caráter
hedonista da atividade corporal foi reforçado pelo desenvolvimento, na
mesma época, de uma abundante literatura psicológica influenciada pela
difusão da psicanálise. Essa literatura teve o efeito de permitir uma
integração mais completa do corpo, então, como componente da
personalidade. É durante esses anos que as noções de feeling good
(sentir-se bem) e de being in shape (estar em forma) ganham sentido e
fixam-se na linguagem cotidiana (Ibidem, p. 100). Como expõe
Courtine, a relação entre essas expressões não poderia ser mais direta:
As ambiguidades desse hedonismo inscrevem-se,
ainda, literalmente, em sua linguagem, isto é, no
caráter paradoxal e na força performática desses
anunciados obrigatórios que levam à busca de um
bem-estar na atividade física. Have fun: a alegria é
um dever moral, uma forma insistente de
25
obrigação. No mesmo contexto, o bem-estar
psicológico (feeling good) é entendido como uma
consequência da forma física (being in shape). (...)
Está última expressão deve também ser tomada ao
pé da letra. O sentimento de prazer provém de
uma aplicação, de um trabalho sobre a forma do
corpo que tende a se confundir, desde essa época,
com uma virtude pública. Mas à medida em que o
discurso religioso que velava pelas práticas do
corpo se esvaziou de toda a significação espiritual
e que o corpo foi “desencantado”, no sentido de
Max Weber, a obsessão pela saúde e a busca
infinita de purificação se intensificaram (Ibidem,
p. 101).
O cuidado com o corpo passaria a ser encarado como
fundamental, não só para a manutenção da saúde física do indivíduo,
quanto para a sua felicidade. Como ressalta Courtine: “O amor pelo
bem-estar produziu suas servidões” entre elas, prossegue o autor, “o
culto ao corpo, nos Estados Unidos, é um de seus grandes exemplos”
(Ibidem, p. 103). Muito além de se tornar parte do american way of life,
essa cultura do corpo disseminou-se com ele pelo mundo, incorporando-
se nas práticas de consumo cotidianas:
É preciso considerar aqui o termo “consumo” de
modo rigorosamente literal. Nos Estados Unidos
e, para além disso, nas sociedades ocidentais, a
cultura contemporânea do corpo é inteiramente
dominada pelo ciclo da absorção e da eliminação,
tanto orgânico, quanto econômico: (...) todo esse
trabalho feito nas máquinas de musculação, o
gasto compulsivo de energia, de matérias, de bens
acumulados, são os usos em espelho, similares e
invertidos, das atividades cotidianas de
preenchimento de carrinhos de supermercados e
de incorporação de alimentação (Ibidem, p. 86).
O caminho percorrido até agora permite vislumbrar uma
intrínseca relação entre as palavras “bem-estar”, “saúde” e “consumo”.
Entretanto, essa relação é um pouco mais complexa do que as palavras
acima permitem vislumbrar. No caso dos EUA essa complexidade foi
apontada pelos consultores de mercado do Hartman Group. Em seu
relatório publicado no início dos anos 2000 intitulado “The Wellness
26
Lifestyle Shopper: Mapping the Journeys of Wellness Consumers”, os
consultores enfatizam que os consumidores e os caminhos para atingir o
bem-estar são complexos, considerando-se a enorme diversidade de
produtos que cada ano entra no mercado com apelo à saúde. Só para se
ter uma ideia, na ocasião do relatório em questão, estimava-se que a
população americana gastava em torno de $66 bilhões por ano em
produtos saudáveis, sendo ainda um mercado em significativo
crescimento4.
Desde a publicação desse relatório no início do século, e que Paul
Pilzer publicou seus 2 best-sellers já mencionados, a indústria do bem-
estar tem crescido para além dos EUA. É justamente nesse ponto que a
problematização da Mundo Verde, ou melhor, da “sua loja do bem-
estar” revela-se instigante para compreendermos o desenvolvimento do
mercado do bem-estar no Brasil.
A loja do bem-estar
Com um histórico de 27 anos, a franquia conta hoje com 280
lojas atuantes no Brasil. Não obstante seu destaque no cenário nacional,
o que cabe reparar aqui é a diversidade de produtos disponibilizados
pela “loja do bem-estar”. De acordo com a franquia, o seu “mix de
produtos” inclui desde alimentos (diet, light, integrais, orgânicos, sem
glúten e sem lactose, dieta kosher), complementos alimentares e
suplementos para atletas até livros, cds de música clássica, new age e
étnica, incensos, cosméticos naturais, presentes conscientes e outros
produtos voltados para a saúde do corpo, da mente e do planeta.5
Como destacou o sociólogo Don Slater, todo consumo é cultural,
uma vez que toda forma de consumo sempre envolve significados,
sendo que, para ter uma necessidade de consumo, é necessário antes de
tudo dar sentido a essa necessidade (ou seja, significado) (SLATER,
2001, p. 131). Entretanto ao ver a ampla lista de produtos
disponibilizados pela Mundo Verde pode-se pressupor que a “loja do
bem-estar” não lida apenas com uma demanda específica, mas com
várias demandas. Diferentes produtos que permitem vislumbrar que o
termo “bem-estar” está associado à diferentes demandas e que,
consequentemente, possuí diferentes significados.
4 Disponível em: www.hartman-group.com/publications/reports/wellness-lifestyle-shopper-
mapping-the-journeys-of-wellness-consumers. Acesso em: 15/7/2014.
5 Idem.
27
Essa pluralidade de produtos (e de significados) é bem nítida em
todo o marketing da franquia. Um marketing recente, se formos levar
em conta a sua história. Nos últimos 4 anos, em função de uma mudança
de gestão, a franquia expandiu-se de forma mais abrangente,
praticamente duplicando o número de lojas. Essa expansão logística foi
acompanhada de um investimento massivo em comunicação e
propaganda, único na história da franquia. Grande parte desse
investimento se realiza via web: site oficial, facebook, twitter, blog,
flick. Obviamente há também comerciais de TV e periódicos impressos,
mas esses não deixam de estar disponíveis online em canais mantidos
pela franquia.
Nitidamente, as informações sobre saúde divulgadas pela
franquia através desses vários canais de comunicação fazem parte da sua
estratégia de marketing, e buscam, acima de tudo, chamar atenção do
consumidor para os produtos da “loja do bem-estar”. No entanto, o que
deve-se frisar aqui é que, mais do que apenas jogar informações para o
consumidor, com o intuito de despertar atenção para seus produtos, a
Mundo Verde tem uma preocupação com a legitimidade do que é dito.
Praticamente todas as informações divulgadas pela franquia com relação
à saúde são respaldadas por profissionais da área da saúde, e também
profissionais da saúde atuam junto à franquia disponibilizando-se para
tirar dúvidas dos consumidores e informações sobre os produtos.
Problemática: os significados do bem-estar
No início deste texto discorremos sobre o histórico da expressão
“bem-estar”, bem como da dificuldade de achar um consenso quanto ao
seu significado. Constatada a variedade de produtos disponibilizados
pela Mundo Verde, assim como as demandas que ela procura atender, a
pergunta que aqui fica é: qual o(s) significado(s) atribuídos ao termo
bem-estar pela franquia que se autodenomina como “loja do bem-estar”?
Partindo de um ponto de vista do construtivismo social, como a Mundo
Verde constrói o significado do termo bem-estar?
Essa é a questão central desse trabalho. A nossa hipótese é que no
seu discurso, a Mundo Verde lida com uma pluralidade de demandas
dos consumidores. O discurso da Mundo Verde é uma coalisão entre a
franquia e os peritos da área da saúde. Através dessa atuação conjunta, a
pluralidade é reduzida ou neutralizada no âmbito do discurso da
franquia, no qual essas diferentes demandas são abarcadas pelo conceito
de bem-estar. Se de um lado a franquia entra com os produtos, do outro,
28
entram os peritos legitimando a importância daquilo que é oferecido ao
consumidor e, principalmente, correlacionando o produto ao bem-estar.
Essa concepção vai de encontro a elaborada pelo teórico do
discurso Maarten Hajer. Hajer define o discurso como um conjunto de
ideias, conceitos e categorias através das quais o significado é dado a
fenômenos sociais e físicos (HAJER, 2005, p. 300). O discurso do bem-
estar elaborado pela Mundo Verde pode ser muito bem caracterizado
como uma coalizão discursiva como descrita por Hajer. Dentro de uma
coalizão discursiva, elementos de vários discursos podem ser
combinados em um conjunto mais ou menos coerente no qual a
complexidade discursiva é ocultada (Ibidem, p. 304).
A abordagem proposta por Hajer chama atenção para o papel
desempenhado pelas práticas responsáveis pela produção do discurso.
As práticas focadas no nosso trabalho foram as várias publicações feitas
pela Mundo Verde através de seus canais de comunicação com o
consumidor, a saber, mais uma vez: blog, newsletter, home page,
facebook, entre outros. Também foram levados em conta depoimentos
concedidos por proprietários e ex-proprietários da franquia. Esses são
“atores-chave”, como diria Hajer, e o discurso por eles proferido não só
faz parte do discurso da franquia como auxilia na sua compreensão. Para
além disso, o trabalho serviu-se da pesquisa documental, e dos dados
divulgados pela própria franquia e pela imprensa. Tendo em conta o
destaque da Mundo Verde no cenário nacional, não faltam publicações,
especialmente na área de negócios, que apresentam informações sobre a
franquia.
Guivant chamou a atenção para as novas coalizões discursivas
promovidas por diferentes atores sociais para lidar com os mais recentes
riscos alimentares de alcance global (2000). Podemos enxergar o nosso
mundo de várias maneiras, mas não é difícil encontrar em várias deles a
sociedade de riscos da qual Ulrich Beck já falava nos anos 1980. No
caso da alimentação, essa tese parece bastante atual. Sobre diferentes
ângulos aparecem diferentes problemas: obesidade, problemas
cardiovasculares, diabetes, hipertensão, gastrite, alergias e/ou
intolerâncias, quando não a velha contaminação por pesticidas,
poluentes, bactérias ou vírus. Apesar dos progressos da ciência médica
nutricional, riscos que já causavam alarde em meados do século XX
parecem se intensificar nesse início do século XXI, junto a outros que
vem à eles se somar.
Não por acaso, Zigmunt Bauman partiu da tese de Ulrich Beck
para afirmar, com muita razão, que a saúde, longe de ser um estado
natural, identifica-se cada vez mais com a prevenção dos riscos
29
(BAUMAN, 2000, p. 94). Aqui somasse a ideia de que manter um
cuidado para com a alimentação é uma maneira de, não apenas manter a
saúde atual, como de se precaver para o futuro. Alimentar-se bem é uma
maneira de fugir dos riscos, se é que é possível.
É justamente em função dessa necessidade de precaver os riscos
que a “loja do bem-estar” estabelece uma coalizão discursiva com atores
que tem autoridade para legitimar aquilo que é saudável e então
disponibilizá-lo ao consumidor. Bem-estar pressupõe saúde, e no
contexto mercadológico, é uma estratégia interessante oferecê-lo ao
consumidor com o aval dos peritos da área. Mas o discurso do bem-estar
não se restringe apenas à alimentação, como será visto.
O que ficará explícito mais abaixo é que, não obstante a essa
poderosa coalizão entre a empresa e peritos da área da saúde, o seu
discurso sobre bem-estar não deixa de ser assolado por alguns
problemas típicos da condição moderna recente, dentre os quais a
ambivalência é provavelmente o principal.
Metodologia e capítulos
A pesquisa para esse trabalho iniciou-se em meados de 2012 e
perdurou até a sua finalização, na metade de 2014. No que tange à
questão metodológica ela incluiu o levantamento documental de
informações e dados publicados sobre franquia. Muito além disso, o
trabalho é fruto principalmente da observação rigorosa dos canais de
comunicação que a Mundo Verde mantêm abertos com os
consumidores: blog, facebook, newsletter e twitter. A partir da análise
do conteúdo publicado frequentemente nesses espaços virtuais (as
práticas através das quais o discurso da franquia se reproduz) é possível
delimitar quais as demandas que estão em jogo na procura pelo bem-
estar (ou pelo menos, no bem-estar como é oferecido pela Mundo
Verde).
O texto que segue é dividido em três capítulos. De forma
sequencial, ele começa por uma contextualização mais geral da empresa,
passa pelas demandas que ela procura atender para chegar ao ponto
central, que trata da atuação dos peritos junto a Mundo Verde na
significação daquilo que ela entende por bem-estar.
O primeiro capítulo terá por objetivo contextualizar a franquia
dentro dos debates sociológicos recentes sobre o mercado de alimentos.
Esse capítulo inicial visa mostrar como e porquê o discurso da Mundo
Verde é atravessado pelas preocupações com responsabilidade social e
30
sustentabilidade, questões extremamente pertinentes para a
sobrevivência das empresas no atual contexto mercadológico.
O segundo capítulo buscará descrever quais as demandas dos
consumidores que a Mundo Verde busca atender, bem como
contextualizar essas demandas dentro dos debates sociológicos
contemporâneos. Longe de me aprofundar em debates especializados da
ciência nutricional, o que busquei trabalhar aqui com as próprias
definições, simples e diretas que a Mundo Verde trás de seus produtos.
Busquei colocar essas categorias umas contra as outras para evidenciar
suas diferenças, e consequente divergências, para com isso explorar a
ambivalência daquilo que a franquia apresenta como bem-estar. No
respectivo capítulo será discutido até que ponto essas demandas
convergem para um mesmo estilo de vida, como conceituado pelo
sociólogo Anthony Giddens.
O terceiro capítulo mostrará como a franquia “resolve” o
problema da ambivalência apresentado no segundo capítulo. Esse eixo
temático foi montado para uma melhor discussão da atuação dos peritos
em saúde dentro da franquia. Essa atuação é feita principalmente através
dos vários canais de comunicação que a franquia mantém com o
consumidor. Obviamente, será discutido aqui também o papel desses
profissionais na legitimação daquilo que a franquia apresenta como
bem-estar aos consumidores.
As considerações finais serão dedicadas a um balanço sobre a
Mundo Verde e os significados que ela atribuí ao termo bem-estar. Bem
como será discutido até que ponto o termo bem-estar comporta
significados ambivalentes ou convergentes.
31
1. UMA FRANQUIA SUSTENTÁVEL
Este capítulo inicial apresenta a Mundo Verde ao leitor. Além de
um histórico da franquia, contextualiza ela dentro do contexto
mercadológico contemporâneo. Para isso dividirei o texto em três
momentos, ao longo dos quais reduzirei o escopo da análise. No
primeiro me voltarei mais para a Mundo Verde, sua história, bem como
a descrição de suas iniciativas que dizem respeito à sustentabilidade. No
segundo tentarei contextualizar o por quê da preocupação com
sustentabilidade no mercado, tanto a nível global quanto nacional. No
terceiro e último espero poder responder até que ponto a
sustentabilidade é uma preocupação endógena ou exógena a franquia e
até que ponto ela está relacionada ao bem-estar.
1.1 Mundo Verde: Do que estamos falando?
A primeira loja Mundo Verde foi aberta em 1987 na cidade de
Petrópolis no Rio de Janeiro, tendo como proprietários a família
Antunes, que começaram a expansão como uma franquia a partir de
1993. Hoje, 27 anos após ter começado a atuar como franquia, a Mundo
Verde conta com 280 lojas franqueadas, sendo 2 delas em Portugal. No
seu registro na associação brasileira de franchising, a Mundo Verde está
situada dentro do “segmento” de “produtos naturais”, o seu “ramo” são
os “produtos naturais”, e o “tipo do negócio” está registrado como “Loja
de produtos naturais e bem estar”6.
Contextualizar a emergência da demanda por produtos naturais
no Brasil é imprescindível para entender o desenvolvimento da franquia.
O antropólogo José Carlos Magnani rastreou a emergência dessa
demanda nas décadas de 1960 e 1970, conforme o país era influenciado
pelo movimento contracultural originário nos Estados Unidos. Magnani
descreve a contracultura como um movimento de “contestação dos
padrões então vigentes” (2000, p. 11). No que tange à discussão, vale
6 Disponível em: www.portaldofranchising.com.br/guia-de-franquias/mini-site/mundo-
verde/229/imprimir. Acesso em: 15/7/2014.
32
ressaltar, na esteira do antropólogo, que esse movimento abrangeu
vários campos de atuação como o da saúde, a preservação ambiental e a
produção de alimentos, tendo entre suas consequências a introdução de
novos hábitos de consumo.
No caso do Brasil, a incorporação desses novos hábitos de
consumo ocorre mais ao final de 1980 e no decorrer de 1990 e está
muito mais associada a busca por qualidade de vida do que ao
movimento contestatório original. É nessa época que cresce nos grandes
centros urbanos a demanda por itens de consumo (alimentos, ervas
medicinais, acessórios, itens de higiene pessoal) produzidos de acordo
com princípios considerados “naturais” (Ibidem, p. 23). As dimensões
dessa demanda começam a exigir um abastecimento regular, contínuo e
de qualidade que já não pode depender de uma oferta esporádica, com
base em empreendimentos de escala doméstica, de maneira que o
fenômeno ganhou proporções de mercado (Ibidem, p. 24).
Magnani destaca o surgimento de “pontos de venda” responsáveis
por atender essa demanda. Entre esses pontos de venda incluem-se
farmácias homeopáticas e fitoterápicas, feiras e entrepostos de produtos
orgânicos, lojas de comercialização de instrumentos e insumos de
trabalho como óleos e essências, além de imagens, incenso, bijuterias,
artesanato de origem indígena, talismãs, fitas e discos de música new
age (Ibidem, p. 32).
O catálogo de produtos da Mundo Verde abrange boa parte dos
produtos mencionados acima. O surgimento da empresa (1987)
corresponde a época em que Magnani vislumbra a emergência do
mercado para esses produtos no Brasil. Muito mais do que um “ponto de
venda” como descrito pelo antropólogo, a Mundo Verde expandiu-se e
consolidou-se a partir de 1993 como uma franquia de lojas, de maneira
que é necessário contextualizar as especificidades desse sistema de
dentro de um olhar sociológico.
Provavelmente o sociólogo que mais se dedicou a compreensão
desse tipo de empreendimento comercial foi o estadunidense Peter
Birkeland. Pelos dados apresentados pelo sociólogo pode-se ver que a
franquia é um sistema com bastante adeptos. No ano 2000 havia mais de
2000 franquias nos EUA, com atuação em 75 setores diferentes e com 8
milhões de trabalhadores empregados (BIRKELAND, 2002, p. 2).
Como ele ressalta, esse sistema é tão difundido que é possível comprar
uma gama ilimitada de produtos e serviços por meio de franquias. O
amplo catálogo de produtos oferecidos pela Mundo Verde corrobora
essa afirmação.
33
Franquia é um termo utilizado para descrever uma variedade de
relacionamentos através das quais negócios são feitos, incluindo desde
distribuição, contratos de licenciamento, arrendamento e modalidades de
serviços. No entanto, como Birkeland descreve, existem apenas dois
tipos de sistema de franquia. O primeiro deles é o “Sistema de
distribuição de produtos”. Esse sistema data da metade do século XIX
quando foram usados primeiramente pelos fabricantes de máquinas
caras e complexas para distribuir mercadorias para as áreas onde o
transporte era caro ou de acesso difícil. Este método de distribuição
particular, em que o fabricante utiliza a loja de franquia como um canal
para o consumidor final, ainda é amplamente utilizado hoje pelos
fabricantes de automóveis e com suas concessionárias (Idem).
O sistema em que a Mundo Verde se enquadra é o segundo
descrito por Birkeland: o “Negócio em formato”. Esse tipo de sistema de
franquia é aquele em que um franqueado opera uma unidade sob a
marca da empresa e oferece um conjunto de serviços e/ou produtos
proscrito sob as diretrizes da empresa, com preços sugeridos. O negócio
em formato surgiu durante a década de 1930, quando refinarias de
petróleo descobriram que a distribuição em massa de sua gasolina não
era rentável, porque era um produto genérico. Logo, desenvolveram um
sistema de reconhecimento do uso da marca para seus estabelecimentos,
e passaram a vender serviços de apoio aos fraqueados (Ibidem, p. 3).
Nesse sistema, os franqueadores vendem um conceito, uma marca
que implica a coerência com normas, os métodos operacionais, produtos
e serviços. Para Birkeland, o que alimenta o sucesso desse tipo de
estratégia é a sua dupla natureza. Ao mesmo tempo em que é um canal
de distribuição utilizado para facilitar a circulação de mercadorias e
serviços é também um centro de lucro (Idem).
Ao tentar compreender o crescimento desse mesmo tipo de
franquia no Brasil, o sociólogo Roberto Grün apresentou uma descrição
semelhante a de Birkeland. Na sua ótica “os franqueadores vendem seu
produto como um ‘pacote’ em que um de seus pontos-chaves é o
treinamento do futuro empresário nas lides em que se inicia” (GRÜN,
2000, p. 6). Não obstante, a principal virtude do candidato à franquia é
sua boa vontade em engajar-se “de corpo e alma” no empreendimento,
contando com a assistência do franqueador para solucionar quaisquer
problemas que possam ocorrer (Idem).
Como um modelo de ”negócio formato”, ou um “pacote”, a
Mundo Verde apresenta uma lista de informações disponíveis para
aqueles interessados em se tornarem franqueados: apoio na escolha do
ponto, projeto arquitetônico e na montagem da loja, treinamentos
34
presenciais e online, supervisão, central de negociações e centro de
distribuição, suporte na gestão do negócio com equipe especializada,
ações de marketing institucional e apoio no marketing local, assessoria
de imprensa7.
A atratividade das franquias não se reduz apenas aos rendimento
econômicos que pode gerar para aqueles engajados no sistema. Como
destaca Grün, “converge em torno da franquia toda uma constelação de
imagens mais ou menos difusas, associando-a à modernidade” (Ibidem,
p. 5). De acordo com a síntese elaborada por esse sociólogo, essa
constelação de imagens é fruto da generalização da noção de que
vivemos uma época de expansão do setor de serviços, do comércio em
particular, e no interior dele, de grandes empreendimentos urbanos
como os shoppings centers, que aparecem como encarnando justamente
a modernidade das metrópoles e das cidades que almejam esse status.
Logo, “as lojas franqueadas são umas espécie de protótipo do tipo de
habitante desses novos espaços” (Idem).
A Mundo Verde se encaixa nesse quadro. Das 280 lojas da
Mundo Verde espalhadas pelo Brasil, 96 estão localizadas dentro de
shopping centers8. Não obstante, a maioria dessa lojas está situada nas
principais metrópoles do país. Sendo que 129 lojas da franquia se
concentram em São Paulo e Rio de Janeiro, as duas maiores metrópoles
brasileira.
1. 2 Não é um supermercado
Magnani (2000) ressalta que, na medida em que o consumo dos
produtos descritos cresceu, as dimensões dessa demanda começaram a
exigir um abastecimento regular, de maneira que alguns desses produtos
foram parar na prateleira dos supermercados. Um ótimo exemplo desse
fato são os alimentos orgânicos, que passaram a ser vendidos por
grandes redes varejistas. Guivant (2003; 2009) contextualizou como os
supermercados passaram a ser centrais no abastecimento dessa
demanda. Na década de 90, o setor supermercadista passou a assumir no
contexto internacional um papel central no abastecimento de alimentos,
no controle de sua qualidade, na seleção de produtos a colocar nas
prateleiras. No entanto, a crescente presença de alimentos orgânicos não
7 Disponível em: www.mundoverde.com.br/seja-um-franqueado/. Acesso em: 15/7/2014.
8 O número de lojas da franquia, bem como a sua distribuição pelo país pode ser visualizado
em: www.mundoverde.com.br/categoria/nossas-lojas/. Acesso em: 15/7/2014.
35
se deveria a uma estratégia dos supermercados para passar a substituir
os alimentos convencionais, mas sim a de colocar os alimentos
orgânicos como representantes dentro de uma oferta maior de produtos
diversos associados com bem-estar, saúde e qualidade de vida
(GUIVANT, 2003, p. 79).
Se o setor supermercadista assumiu o controle da oferta e
distribuição de alimentos a nível global, o crescimento de uma franquia
como a Mundo Verde chama atenção, uma vez que, aparentemente,
contraria a “hegemonia” desse setor. Nesse ponto, cabe destacar aqui
qual o diferencial da franquia em relação aos supermercados.
Em uma reportagem de 2011 dedicada ao seu crescimento, a
revista “Isto é dinheiro” ressaltou que a confiança (da franquia) decorre
da constatação de que a Mundo Verde atua praticamente sozinha na
área9. O texto menciona que “os supermercados oferecem pouca
variedade e serviço nesse segmento”10. Não obstante “Uma loja Mundo
Verde chega a ter de 5 mil a 8 mil itens, além de contar com uma
nutricionista para ajudar os clientes”11.
Para além da gama de produtos oferecidos pela franquia, os
serviços, ou melhor, o atendimento através de peritos na área alimentar
aparentam ser o seu grande diferencial, que a própria franquia faz
questão de ressaltar:
O segredo de sucesso do Mundo Verde não está
simplesmente na grande diversidade de produtos,
mas em oferecer um conceito completo em
alimentação e vida saudável. Por isso, os
franqueados e equipes de lojas são treinados para
dar informações nutricionais e deixar os
consumidores à vontade, em um ambiente que
estimula o relaxamento, com música e incensos,
denominado pela empresa como Cultura Mundo
Verde de Servir.12
“Cultura Mundo Verde de Servir”: vemos nessa frase que, muito
mais do que uma distribuidora de produtos, a franquia preza pelo
atendimento aos clientes. Esse cuidado com o atendimento deve ser
analisado com cautela, mais do que fruto de uma boa índole por parte da
9 Disponível em: www.istoedinheiro.com.br/noticias/negocios/20110415/piqueniquenature
ba/53237.shtml. Acesso em: 15/7/2014.
10 Idem.
11 Idem.
12 Disponível em: www.mundoverde.com.br/historia/. Acesso em: 15/7/2014.
36
franquia, essa cultura de servir é justamente o seu diferencial
competitivo, e aquilo que permite a ela ter a vanguarda no segmento de
produtos que oferece. Esse cuidado com o atendimento pode também ser
bem observado nas falas do atual presidente da franquia, Sérgio
Bocayuva:
Bom, a arma na realidade é o serviço. É o que
eu digo, quer dizer, eu tenho um foco na variedade
de produtos, e eu tenho o serviço. Um dos
segredos dos Mundo Verde é fomentar pequenos
fornecedores. Quando eu falo em sustentabilidade,
nossa missão é consumo responsável, qualidade
de vida e sustentabilidade. O gancho de
responsabilidade está exatamente no
desenvolvimento de pequenos fornecedores. 80%
dos fornecedores da rede são micro ou pequenos
fornecedores. Então esse é um grande desafio que
novos entrantes não conseguem. Os novos
entrantes o que eles fazem, eles vão na loja do
Mundo Verde, e quando eles não conseguem
ter acesso aos pequenos fornecedores, eles
acabam indo nos grandes fornecedores e aí é
um objeto comum, porque você tem no mundo
verde como você pode ter numa rede de
supermercados. Quer dizer, não tem
diferencial competitivo nenhum. E o outro
atributo, que além da quantidade de produtos, é a
questão do serviço. Eu vendo serviço. Então,
quando você abre uma loja, querendo ser o
concorrente do mundo verde, muitas vezes você
se torna um concorrente do mundo verde porque
você tentou ser um franqueado do mundo verde, e
nós respeitamos bastante a relação nossa com os
franqueados com relação a preferência. Vem
acontecendo isso em São Paulo com o
crescimento muito forte em São Paulo, novos
entrantes desejam ser franqueados, e não podem
ser porque nós já vendemos aquele direito de
exploração de uma determinada área. A pessoa
acaba se irritando e abre uma loja porque não
consegue se franquear no mundo verde. E a taxa
de insucesso dessa pessoa é enorme, porque?
Porque ela não tem o serviço. Esse serviço, da
onde que ele advém? Não adianta você
37
pesquisar. Advém de 24 anos de pesquisa. Eles
tem uma base de dados que foi desenvolvida e
foi criada exatamente pra gerar o serviço que
você precisa.13 (grifos do autor)
Pode-se observar na fala de Bocayuva que não apenas é
importante a variedade de produtos, mas a variedade de fornecedores da
Mundo Verde, de maneira que a franquia consegue oferece produtos que
não são oferecidos pelo setor supermercadista. A variedade de produtos
oferecida pela Mundo Verde, será explorada um pouco mais a frente
(Capítulo 2), assim como algumas questões relacionadas ao atendimento
aos clientes da franquia, como o papel da ciência nutricional e de seus
peritos nesse atendimento (Capítulo 3).
1.3 A mudança na gestão
Desde sua fundação em 1987 até 2009, a Mundo Verde teve
como proprietários a família Antunes, a saber, os irmãos Jorge Antunes
e Isabel Maria Antunes Joffe, já mencionados, além de Rodolfo
Antunes. Ou seja, durante 22 anos a empresa foi uma propriedade
familiar. Esse quadro mudou em 2009 quando a franquia foi comprada
pelo Fundo de Private Equity Axxon.
Contextualizar aqui o que são os Private Equitys é fundamental
para compreender melhor os significados dessa mudança. Uma
definição breve é oferecida por Roberto Grün. Segundo esse sociólogo
private equity é qualquer grupo de investidores que decide se associar
para aplicar numa empresa. Em geral, ela não é cotada nas bolsas de
valores e representa uma novidade de produto ou de mercado8.”
(GRÜN, 2004, p. 163). Logo a compra da Mundo Verde pelo Axxon
representa uma passagem da franquia das mãos de uma família para as
mãos de investidores. Apesar da singularidade do caso da Mundo Verde,
a compra de franquias por Private Equitys tem se tornado comum no
mercado brasileiro. Esse processo é contextualizado em uma reportagem
do jornal Estado de São Paulo:
13 Disponível em: http://economia.estadao.com.br/videos/videos%2cservico-e-variedade-sao-
as-armas-da-mundo-verde-diz-sergio-bocayuva-2%2c130891%2ca%2c0.htm. Acesso em:
15/7/2014.
38
Elas são capazes de crescer rápido com baixo
investimento. Atuam com foco no mercado
interno e estão, em sua maioria, no varejo – setor
que é hoje o principal motor da economia
brasileira. Têm modelos de negócio testados e
replicáveis em larga escala. E como muitas são de
origem familiar, apresentam espaço para
melhorias na gestão. Por tudo isso, as redes de
franquias chamam cada vez mais a atenção de
fundos de private equaty. Dessa maneira, a
presença crescente dos investidores já começa a
modificar o setor. Além de acelerar a expansão
das empresas e profissionalizar sua administração,
os fundos ajudam a promover a consolidação em
alguns mercados.14
O respectivo jornal não deixa de mencionar o caso da Mundo
Verde: “administrada desde 2009 por gestores profissionais, a Mundo
Verde é um exemplo de como uma rede pode crescer com a chegada de
investidores”. Também é mencionado que “em dois anos de parceria, o
número de lojas passou de 126 para 190 e o faturamento subiu de R$
149 milhões para R$ 210 milhões”. Vale lembrar que atualmente a
franquia já ultrapassou a marca de 200 lojas.
Algumas das principais consequências dessa mudança de gestão
podem ser observadas na fala do empresário que ficou responsável pela
presidência da franquia, o já mencionado Bocayuva:
A partir do momento que você tem um rede, com
23 anos naquele momento, uma rede de estrutura
familiar onde nada era cobrado aos franqueados, e
entra um grupo, e esse grupo na realidade tem
mais de 690 empresas investidas no mundo, com 5
milhões e meio de euros investidos, eles ficaram
desesperados, acreditando talvez que essa rede
deixasse de ser uma rede de franquias pra que se
tornasse uma rede própria. E ao contrário, meu
grande esforço foi, ao longo de 5 meses, visitar
quase que a totalidade dos franqueados e mostrar
pra eles o seguinte, olha esse não é nosso
caminho, meu caminho é numa geração de relação
de ganho a ganho, de tal forma que eu vou
14 Disponível em: http://pme.estadao.com.br/noticias/noticias,fundos-de-investimento-miram-
as-franquias,1303,0.htm . Acesso em: 15/7/2014.
39
trabalhar com total transparência, e abrir o meu
plano de negócios de 5, 7 anos, pois olha quero
crescer com você. E temos várias etapas para
serem cumpridas daqui para frente. Acredite que
nós vamos gerar resultados. Esse resultado veio,
tem sido um resultado maravilhoso e efetivamente
estamos aí mexendo com o mercado.15
Para Roberto Grün, os fundos de Private Equity esperam
eficiência financeira das empresas que foram alvo de investimento
(GRÜN, op.cit., p. 164). O ponto alto dessa busca por eficiência diz
respeito à abertura de capital, de maneira que a empresa possa ser cotada
na bolsa de valores e ter seu capital aberto para que outros empresários,
além de seus proprietários, possam investir nela.
Tendo essa perspectiva de eficiência financeira, a questão do
capital aberto foi uma das expectativas geradas sobre a franquia logo
que a nova gestão assumiu. Essa foi mais uma das indagações feitas ao
presidente na entrevista citada mais acima. Abaixo segue o
esclarecimento dele sobre a questão.
Olha, toda vez que você tem uma empresa, que ela
é adquirida por um fundo de investimento, e no
meu caso eu sou sócio de um fundo, e de um
grande fundo que é a Axxon Group, uma das
maneiras de você dar saída pra esse fundo é a
possibilidade, ou da venda de um estratégico, ou
efetivamente com a abertura de capital. Se você
for pensar como o Mundo Verde. O mundo verde,
por mais que eu cresça, eu não terei tamanho para
fazer a abertura de capital. Se for falar somente o
Mundo Verde. Por que? Porque em função da
crise que aconteceu mundial, você certamente só
vai ter colocações de ações em volumes de
empresas que estejam faturando entre 300 a 500
milhões de reais. Hoje o Mundo Verde, a rede
Mundo Verde, fatura 220 milhões de reais. A rede
de franquias. Com o Mundo Verde isso não pode
acontecer. Agora, a partir do momento que eu
monte uma hold, e essa hold venha a adquirir
participação de outras empresas, ai eu ganho
15 Disponível em: http://economia.estadao.com.br/videos/videos%2cvamos-criar-uma-holding-
de-bem-estar-diz-sergio-bocayuva-da-mundo-verde-1%2c130892%2ca%2c0.htm. Acesso em:
15/7/2014.
40
musculatura e posso vir a realizar abertura de
capital. Mas isso é um trabalho de pelo menos 7
anos. Eu não vejo isso num prazo inferior a sete
anos.16
Há metas para abrir o capital da empresa em, no mínimo, sete
anos. É válido destacar aqui que essa declaração de Bocayuva data do
início de 2011. Em uma declaração dada para o mesmo periódico 10
meses depois, o presidente da franquia passou por cima da declaração e
foi mais além em seus prognósticos: “Com a casa em ordem, Bocayuva
já fala em abrir o capital da empresa em dois ou três anos. dois ou três
anos”17. Se o presidente da franquia avançou a sua previsão de abertura
de capital, é provável que tenha conseguido por “a casa em ordem” um
pouco mais cedo do que previu inicialmente. Os números ratificam que
a franquia está em ascensão.
Outra maneira privilegiada de abordar os efeitos da mudança de
gestão sob a franquia é analisar as suas práticas de Responsabilidade
Social ou Responsabilidade Sócio/Ambiental. Além de compreender o
que a franquia entende por sustentabilidade esse exercício permitirá
inserí-la dentro de debates contemporâneos sobre o papel social do
empresariado.
1.4 RSE e Sustentabilidade: Por que isso importa?
Em 25 anos de existência, o MUNDO VERDE se
consolidou como pioneiro e líder na proposta de
desenvolver o conceito de vida saudável e
sustentabilidade no varejo brasileiro, tornando-se
a maior franquia do segmento na América Latina,
segundo a Associação Brasileira de Franchising
(ABF).18
Não só para a Mundo Verde, mas para um grande número de
empresas ao redor do mundo, a preocupação com sustentabilidade tem
se tornado fundamental. Para entender o porquê dessa preocupação é
16 Disponível em: http://economia.estadao.com.br/videos/videos%2cservico-e-variedade-sao-
as-armas-da-mundo-verde-diz-sergio-bocayuva-2%2c130891%2ca%2c0.htm . Acesso em:
15/7/2014.
17 Disponível em: http://pme.estadao.com.br/noticias/noticias,fundos-de-investimento-miram-
as-franquias,1303,0.htm. Acesso em: 15/7/2014.
18 Disponível em: www.mundoverde.com.br/historia/. Acesso em: 15/7/2014.
41
necessário debruçar-se sobre os significados contemporâneos da sigla
RSE (Responsabilidade Social Empresarial) e entender como ela foi
introduzida dentro do Brasil.
A consultora empresarial Elizabeth Laville, autoridade francesa
no assunto, fornece um resumo geral do que é a RSE em nível global. O
que estaria no âmago da RSE é “a tomada de consciência de que uma
empresa não pode prosperar em um ambiente (natural, social, etc.) que
declina” (LAVILLE, 2009, p. 22). Logo o movimento para a
responsabilidade social nas empresas de qualquer tamanho seria uma
missão e/ou comprometimento que especifica a razão de ser da empresa
para além da obtenção de lucro: o que ela pretende oferecer ao seu
entorno (funcionários, clientes, fornecedores, comunidade local etc.), de
que maneira pretende colaborar com a melhoria da existência humana
através de seus produtos e serviços (Ibidem, p. 27).
A socióloga Marina Sartore apresenta uma descrição mais
detalhada da emergência da RSE nos EUA, bem como de sua introdução
no Brasil. A ideia do papel social dos empresários é comumente
atribuída ao economista Howard Bowen, por seu trabalho
“Responsabilidade sociais dos homens de negócios”, publicado em 1953
nos Estados Unidos. Seu livro foi o principal difusor da ideia de que os
empresários tem a obrigação de “desenvolver políticas e de tomar
decisões que estão de acordo com as ações desejadas levando em
consideração os objetivos e valores da sociedade” (SARTORE, 2011, p.
217). Apesar da expressividade da ideias de Bowen, a partir dos anos
1970 elas sofreram forte oposição do principal economista da época,
Milton Friedman, que enfatizava que a única responsabilidade do
executivo é servir aos interesses dos acionistas, ou seja, gerar lucros.
A ideia de que os empresários tem um papel social seria ratificada
na década de 1980 pelo acadêmico Edward Freeman e sua ênfase na
importância dos stakeholders (Idem). Esse termo (stakeholder) abrange
duas ideias: a primeira refere-se à noção de que o empresário deve
desenvolver as ações sociais para o público interessado (fornecedores,
funcionários, clientes, sociedade civil); a segunda, advinda da primeira,
enfatiza que a boa interação entre as partes interessadas afeta
positivamente a performance econômica da empresa. Logo:
Estas duas ideias criam as bases para a noção
contemporânea de Responsabilidade Social
Empresarial, a partir da qual agir, considerando os
interesses dos diferentes públicos interessados, é
uma atitude estratégica, pois sua performance
42
econômica será superior à das empresas que não
desenvolveram estratégias sociais (Ibidem, p.
218).
Originário nos EUA, esse modelo de RSE chegou ao Brasil
graças ao contato de empresários brasileiros com aquele país. É possível
vislumbrar aspectos da RSE no Brasil desde a década de 1960 com
iniciativas filantrópicas por parte do empresariado nacional,
caracterizadas principalmente pela prática de doações. Contudo, é na
década 1990 que a filantropia empresarial se transforma em RSE,
principalmente pelo protagonismo de algumas instituições como a
Fundação Abrinq pelos direitos da criança e do adolescente e o Instituto
Ethos (Ibidem, p. 221).
O protagonismo dessas duas instituições foi descrito pelo
cientista político Felipe Agüero (2005, p. 72) ao pesquisar as origens da
RSE na América Latina. A Abrinq foi criada no começo dos anos 1990
com o intuito de defender os direitos da criança e do adolescente,
principalmente em relação ao trabalho infantil. Um pequeno grupo
dentro da Abrinq passou a estudar como a Responsabilidade Social
Empresarial era desenvolvida nos Estados Unidos e na Europa, o que os
levou a tomar contato com um dos principais difusores da RSE dos
EUA, o Business for Social Responsibility (BSR). O principal resultado
desse contato foi a fundação do Instituto Ethos em 1998.
Na esteira de Agüero, Sartore destaca o marco que foi a criação
do Ethos para a prática da RSE no Brasil. Em primeiro lugar, por sua
ligação com os EUA, ele serviu como uma ponte que ligava empresários
brasileiros ao espaço internacional. Em segundo, o conceito de RSE
difundido pelo instituto tornou-se referência nacional e preponderante
no país. Desse modo, a concepção de RSE, baseada na ação social do
empresário voltada para todos os stakeholders, foi introduzida no Brasil
pelo Ethos (SARTORE, op.cit., p. 222).
Para além do desenvolvimento da RSE com atitudes voltadas para
o stakeholder, na década de 1990 tanto o Brasil como o resto do mundo
assistiram à emergência das preocupações com o meio ambiente natural
em escala global. O intenso uso dos recursos naturais bem como as
consequências advindas dele gerou a necessidade de uma reunião com
representantes de vários países para discutir alternativas para a situação.
Realizada no Brasil em 1992, a “Conferência das Nações Unidas sobre
Meio Ambiente e Desenvolvimento” foi responsável pela difusão do
conceito de desenvolvimento sustentável. De forma resumida “o
desenvolvimento sustentável é o desenvolvimento que satisfaz as
43
necessidades do presente sem comprometer a capacidade das gerações
futuras de satisfazerem as suas próprias necessidades”19. Uma vez
colocada em evidência como preocupação global, essa concepção de
desenvolvimento não pode ser negligenciada pelas empresas.
A conferência de 92 teve como um de seus desdobramentos a
inserção mais explícita dos empresários nas questões do meio ambiente,
tanto no nível internacional quanto no nacional (Ibidem, p. 224). Não
obstante, os anos 1990 viram a emergência da responsabilidade
socioambiental das empresas (LAVILLE, 2009, p. 39). Deve-se reparar
aqui que, a responsabilidade para com o meio ambiente e a consequente
busca pela sustentabilidade, tornou-se tão importante para as empresas
quanto à responsabilidade clássica para com os stakeholders. No caso
brasileiro vale destacar mais uma vez o protagonismo do Instituto Ethos.
Eduardo Gomez, outro pesquisador que se debruçou sobre a história do
instituto, ressalta que o Ethos tornou-se o principal promotor da RSE no
país. O Instituto colocou para si próprio como missão a “construção de
uma sociedade sustentável e justa”, além de buscar contribuir “para o
alcance do sucesso econômico sustentável em longo prazo” (GOMES,
2007, p. 172).
Junto ao estabelecimento da RSE e da preocupação com a
sustentabilidade, na década de 1990 o Brasil também presenciou o
desenvolvimento da governança corporativa. Como resume Grün, a
Governança Corporativa diz respeito a relação existente entre mercado
financeiro e o mundo empresarial. Essa relação é quase sempre vista
como um processo de financeirização, pois implica “a prevalência
absoluta do ponto de vista financeiro sobre outras considerações na
estratégia da empresa e a focalização desse na valorização do retorno
dos investimentos dos acionistas” (GRÜN, 2003, p. 3).
O desenvolvimento da governança corporativa é antitético ao
desenvolvimento da RSE? Até certo ponto sim, uma vez que o primeiro
prioriza o interesse dos acionistas, aqueles que investem na empresa,
enquanto o segundo prioriza os interesses dos stakeholders, as várias
partes que de alguma maneira se relacionam com a empresa. Entretanto,
esse paradoxo é solucionado na medida em que a dimensão social da
empresa é incorporada à sua dimensão financeira. É a passagem da
Responsabilidade Social Empresarial para o Investimento Socialmente
Responsável muito bem descrito por Marina Sartore (2011). No caso
brasileiro o principal exemplo dessa prática foi a criação, em 2005, do
Índice de Sustentabilidade Empresarial (ISE) na Bolsa de Valores
19 Disponível em: www.un-documents.net/ocf-02.htm. Acesso em: 15/7/2014.
44
nacional, bem descrito pela referida socióloga. Quais as implicações
desse processo na maneira como as empresas buscam a
sustentabilidade?
Quem dita o que gera valor para a empresa, em
termos de Sustentabilidade Empresarial, não são
as instituições que fomentaram o movimento da
Responsabilidade Social Empresarial na década de
1990, e sim instituições ligadas ao mercado
financeiro, que passaram a atuar nesta temática no
começo do século 21 (SARTORE, op.cit., p. 236).
A consolidação ao longo dos anos 1990 da RSE no Brasil
implicou o comprometimento com os stakeholders e posteriormente
com o desenvolvimento sustentável. No entanto, o histórico apresentado
permite vislumbrar a ascensão da autoridade dos acionistas sobre as
empresas no século XXI, principalmente no que tange à sua relação com
o meio ambiente. Feito esse histórico com detalhes em excesso, cabe
agora observar em que parte dessa história se situa a franquia
pesquisada.
1.5 Mundo Verde, RSE e sustentabilidade
Nos anos de 2003, 2004 e 2005 a Mundo Verde recebeu
consecutivamente o prêmio “Valor Social”. É válido deter brevemente a
análise nessa premiação, uma vez que ela permite observar a
legitimidade concedida as práticas de RSE da franquia dentro do
contexto nacional.
Resultado de uma parceria entre o jornal Valor Econômico, o já
mencionado Instituto Ethos de Responsabilidade Social e o Instituto
Akatu pelo Consumo Consciente, o prêmio em questão foi promovido
de 2000 até 2008 com o objetivo de reconhecer e homenagear as
companhias que se destacam por seu trabalho na área da
responsabilidade social e sustentabilidade20. Para além do prêmio em
questão, o que cabe destacar aqui é o peso dessas três instituições na
difusão e na legitimação das práticas de RSE dentro do Brasil.
No caso do jornal Valor Econômico, este foi o primeiro veículo
da grande imprensa brasileira a publicar um caderno regular sobre
20 Disponível em: www1.folha.uol.com.br/institucional/812051-valor-economico-
responsabilidade-social-e-sustentabilidade.shtml . Acesso em: 15/7/2014.
45
responsabilidade social corporativa21. Quanto ao Instituto Ethos, vale
frisar mais uma vez a sua importância. Em seu estudo comparado sobre
a RSE na América Latina, o cientista politico Felipe Agüero enfatizou
que no Brasil, o Ethos “é o centro indiscutível de referência para a
maioria das atividades de RSE” (AGÚERO, 2005, p. 66). Eduardo
Gomez levou além o trabalho de Agüero e ressaltou o protagonismo do
Ethos no estabelecimento de parâmetros para avaliar as empresas dentro
do cenário brasileiro. Dentro do Brasil o instituto reuniu o maior número
de requisitos internacionalmente reconhecidos de RSE e de
sustentabilidade (GOMES, 2007, p. 182). O Ethos argumenta ser a
entidade apropriada para qualificar as empresas em RS no país (Ibidem,
p. 185). Por último vale destacar que o terceiro incentivador do prêmio
em questão, é um desdobramento do Ethos. O Instituto Akatu pelo
Consumo Consciente nasceu dentro do Instituto Ethos, e suas ações se
concentram não na empresa, mas no consumidor (Ibidem, p. 188).
Como mencionado, o prêmio Valor Social durou até o ano de
2008, sendo que atualmente o jornal Valor Econômico promove o
prêmio Eco, cujos objetivos e público são similares aos que norteavam o
antigo prêmio. Essa breve contextualização das instituições
promovedoras do prêmio em questão permite evidenciar o seu peso na
legitimação das práticas de RSE no Brasil. Passados 8 anos desde que
recebeu o prêmio em questão, a Mundo Verde continua a se vangloriar
desse destaque:
Com certeza, o reconhecimento da sociedade em
nossos investimentos sociais e ecológicos,
refletem a conquista de vários prêmios, entre eles,
os Prêmios – Valor Social 2003, 2004 e
2005, promovidos pelo Jornal “Valor Econômico”
e Institutos “Ethos” e “Akatu”. Somos a única
empresa a conquistar por três vezes este prêmio.
Em 2004 concorrendo com mais de 450 franquias,
inclusive internacionais, que operam no País,
recebemos o prêmio de ”Melhor Franquia do
Brasil”, promovido pela Editora “Globo” (Revista
“Pequenas Empresas e Grandes Negócios”).
21 Idem.
Através da nossa união e da dedicação de nossos
funcionários, também conquistamos, em 2003,
2004 e 2005, o Selo de Excelência em
46
Franchising, concedido pela ABF (Associação
Brasileira de Franquias).
Pesquisa realizada e publicada pelo “Jornal do
Comércio”, em 02/06/2003, na cidade do Rio de
Janeiro, mostrou que o Mundo Verde é negócio
dos sonhos, a marca preferida dos cariocas com
22%, inclusive superando marcas internacionais.22
Tendo em conta o tempo passado, é difícil supor que uma
franquia que cresceu tanto nesse período tenha continuado com as
mesmas ações. Logo, para situar as atuais ações de RSE dentro da
empresa, é necessário partir de uma perspectiva histórica, observando as
significativas mudanças que ocorreram na franquia nos últimos anos.
Vale começar essa breve historicização pelo discurso proferido
pelo diretor da franquia, Jorge Antunes, ao receber pela segunda vez o
prêmio “Valor Social” em 2004:
Em 2003 iniciamos o Projeto Mundo Verde
Solidário, que envolve o Projeto Mundo Verde
Casazul, que favorece 60 crianças, em uma favela
no Rio de Janeiro, o Projeto Mundo Verde APAE,
que é um programa de inclusão social pelo
trabalho de portadores de necessidades especiais,
que emprega atualmente 11 alunos em nossas
lojas de forma profissional e mostra a toda
sociedade que um deficiente pode ser um grande
eficiente e também o Projeto Mundo Verde Eco-
Social, que é a nossa loja solidária, onde
comercializamos produtos artesanais e reciclados
oriundos do terceiro setor.23
Para dar continuidade a esse histórico, mencionamos o trabalho
de Fábia Rocha. Em sua pesquisa de mestrado acadêmico da área de
marketing e administração abordou justamente a temática da RSE na
Mundo Verde. Datado de 2006, seu trabalho lista as práticas de RSE
desenvolvidas pela Mundo Verde justamente no período em que elas
estão em destaque no cenário nacional. Além dos projetos descritos mais
acima, Rocha acrescenta mais alguns, todos incluídos dentro do Projeto
22 Disponível em: www.mundoverde.com.br/premios/. Acesso em: 15/7/2014.
23 Disponível em: http://sofranquias.com.br/noticias/mundo-verde-leva-pela-segunda-vez-o-
premio-valor-social. Acesso em: 15/7/2014.
47
Mundo Solidário: Projeto Mundo Verde Recicla Três Rios, Projeto
Mundo do Faz de Conta, e Primeiro Emprego Empresa Parceira
(ROCHA, 2006, p. 65).
O que cabe reparar aqui é no papel do Projeto Mundo Verde
Solidário como um centralizador de todos os projetos desenvolvidos
pela franquia no âmbito da RSE. Os mesmos projetos inclusos por
Rocha são descritos mais abaixo em uma entrevista concedida por Isabel
Antunes Joffe, sócia fundadora da franquia e irmã do diretor Jorge
Antunes. A entrevista data de 2009 e o trecho em questão descreve as
práticas de RSE desenvolvidas por sua franquia:
Baseado no nosso lema "Preserve o VERDE, o
MUNDO é seu", ajudamos a transformar o
Mundo por uma vida melhor. Esse é o nosso
compromisso. Acreditamos num MUNDO mais
VERDE, justo e solidário! Assim, criamos e
distribuímos gratuitamente em nossas lojas o gibi
MUNDINHO VERDE. Com um toque de
brasilidade e uma linguagem simples, esta história
em quadrinhos trata de temas ligados à reeducação
alimentar, à preservação do planeta, à cidadania e
à responsabilidade sócio-cultural. Um grande
trunfo, ajudando a criança a despertar o interesse
pela leitura.Outra ação de destaque é o Projeto
Mundo do Faz e Conta. Criado especialmente
para tratar, com bom humor, assuntos como
responsabilidade eco-social, cidadania e segurança
alimentar, este projeto promove a visita de uma
contadora de histórias (Tia Dulce) a escolas,
asilos, hospitais e outras instituições. O objetivo é
fazer brotar sorrisos, semeando um mundo
melhor. Sempre através de canções, brincadeiras,
artes com material reciclável, sessões de leitura e
muita diversão!Apoiamos também o Projeto
Recicla Três Rios, que gera emprego e renda para
diversas famílias a partir do material reciclável
coletado na cidade de Três Rios/RJ, que vira
matéria-prima para vassouras ecológicas feitas de
garrafas pet. Este projeto estimulou o Mundo
Verde a participar como colaboradora da questão
que representava a sua grande deficiência: a
promoção da venda ao consumidor final, inclusive
no exterior. Desta forma, o lixo é transformado
em oportunidade de trabalho, cidadania e um
48
ambiente muito mais saudável. Na nossa empresa
tudo gira em torno da visão de que um outro
mundo é possível, um mundo em que as pessoas e,
principalmente as empresas, tenham uma
preocupação socioambiental cada vez maior.
Também somos parceiros de programas sociais
oficiais, como o PNPE - Plano Nacional de
Estímulo ao Primeiro Emprego e do Projeto de
Inclusão Social pelo Trabalho da Fundação Leão
XIII, do Governo do Estado do Rio de Janeiro.
Estes programas integram investimentos públicos
e privados, com o objetivo de gerar mais e
melhores oportunidades de empregos para todos.
Os beneficiados são pessoas menos favorecidas,
que vivem em áreas carentes e sobrevivem em
situação de vulnerabilidade e risco social.O
programa Primeiro Emprego é parceiro do
Consórcio Social da Juventude, que tem por
objetivo preparar jovens para o mercado de
trabalho, através de oficinas de capacitação
profissional. Já o Programa de Inclusão Social
pelo Trabalho tem como objetivo o ingresso de
pessoas no mercado de trabalho, por meio do
Cadastro de Pessoas. Para participar do projeto é
pré-requisito que a pessoa resida em uma
comunidade menos favorecida.Apoiamos ainda o
projeto "Amazônia para Sempre", idealizado
pelos atores Christiane Torloni e Victor Fasano,
que visa a defesa da floresta amazônica.24
Esse longo trecho da entrevista concedida por Isabel levanta
muitas questões. No que tange o objetivo em questão, cabe reparar na
ausência do Projeto Mundo Verde Solidário, bem como a ausência do
projeto Mundo Verde Casa Azul, do Projeto Mundo Verde APAE, e do
projeto Mundo Verde Eco social. Aparentemente o Projeto Mundo
Verde Solidário foi substituído pelo lema descrito por Isabel, “Preserve
o Verde, o mundo é seu”. Muito mais do que uma mudança nos títulos,
deve-se perceber a mudança nos projetos mencionados na declaração de
Jorge (2004) e naqueles mencionados na declaração de Isabel (2009).
Essas mudanças nas práticas de RSE precisam ser relacionadas a
significativa mudança de gestão pela qual passou a franquia. Até que
24 Disponível em: www.gastromania.com.br/artigos.php?codigo=283. Acesso em: 15/7/2014.
49
ponto essa mudança influenciou nas suas práticas de ser? No seu site
oficial, na seção intitulada “institucional” há uma parte dedicada só a
“Responsabilidade Sócio Ambiental”25. De acordo com as informações
apresentadas o único projeto ainda desenvolvido por ela é o “Mundo do
Faz de Conta”. De resto, ela continua a apoiar o já mencionado projeto
“Amazônia Para Sempre”, além, “o projeto água”, e o “projeto Brasil”.
Vale destacar que o projeto “Amazônia para sempre” se encerrou em
2010, enquanto os outros 2 projetos mencionados continuam em
atividade. No entanto, cabe lembrar, por mais que a franquia apoie esses
projetos, eles são protagonizados por atores externos a ela.
Para além dessas iniciativas protagonizadas ou apoiadas pela
Mundo Verde há a questão aqui em foco, a preocupação da franquia
com a sustentabilidade. A relação da nova gestão (de investidores) com
essa preocupação foi bem descrita por Bocayuva, em uma entrevista
concedia ao jornal O Globo um ano após ter adquirido a empresa
(2010). Quando indagado com a pergunta “o senhor considera que a sua
empresa é sustentável?”, Bocayuva respondeu:
Não, ainda não. Sou uma empresa que trabalha
com franqueados (…) e o meu grande desafio,
como rede, é resgatar os franqueados, trazê-los
para a mesma causa. Há pequenos deslizes que
foram cometidos por uma falta de visão
profissional da antiga gestão, eles não sabiam
como fazer. Mas estamos investindo numa
tecnologia potente. Daqui uns seis meses eu vou
poder lhe garantir que cem por cento dos produtos
que o Mundo Verde está vendendo estão sendo
monitorados e estão ok. Portanto, para mim, ser
sustentável é ter preocupação com toda a
cadeia. 26
O que se percebe na fala de Bocayuva é uma iniciativa de
promover a sustentabilidade da cadeia que compõem a franquia como
um todo. Passados três anos dessa entrevista essa preocupação aparenta
nortear as metas de crescimento da Mundo Verde. Segundo as
informações por ela divulgadas, desde 2010 “todas as novas unidades
25 Disponível em: www.mundoverde.com.br/responsabilidade-socio-ambiental/. Acesso em:
30/7/2013.
26 Disponível em: www.empresaspeloclima.com.br/index.php?r=noticias/view&id=195324.
Acesso em: 30/7/2013.
50
Mundo Verde seguem os mais modernos padrões de sustentabilidade”27.
Dentro desses padrões, os pisos, a fachada e os móveis são feitos com
madeira certificada com o selo FSC do Conselho Brasileiro de Manejo
Florestal28. Essa iniciativa foi premiada em 2010 com o “Prêmio de
Design ABF - RDI 2010", organizado pela Associação Brasileira de
Franchising (ABF) em parceria com a associação americana Retail
Design Institute (RDI)29.
Identificadas as ações desenvolvidas pela franquia atualmente no
âmbito da responsabilidade socioambiental é necessário observar as
mudanças no tipo de ação bem como no público alvo. Na época em que
obteve o prêmio Valor Social por três anos seguidos a franquia, através
do Mundo Verde Solidário, desenvolvia mais projetos visando aos
stakeholders (para usar a terminologia da RSE). A declaração de seu
atual presidente, bem como as informações oficiais apresentadas pela
franquia, evidenciam que a preocupação para com os stakeholders
diminuiu, enquanto a sustentabilidade interna da franquia foi elencada
como primordial.
Não obstante essa mudança nas suas ações de RSE, vale lembrar
(mais uma vez) que a franquia em questão passou para o controle de um
Private Equity, de maneira que deixou de ser propriedade de uma
família para ser gerida pelo grupo de investidores do fundo Axxon.
Como bem destacou Roberto Grün, os fundos de Private Equity esperam
eficiência financeira das empresas que foram alvo de investimento.
Como já mencionado acima, em uma declaração feita em 2011,
Bocayuva afirmou que a empresa ainda não tinha capital aberto (não
estava ligada ao mercado financeiro) mas que esperava abrir o capital da
empresa dentro de dois ou três anos30.
É válido retomar aqui a descrição do desenvolvimento das
práticas de RSE no Brasil feita ao início do texto. Será que as
transformações observadas na Mundo Verde não fariam parte da
transição da Responsabilidade Social Empresarial para o Investimento
Social Responsável, tendo por meta a sustentabilidade empresarial? No
caso da Mundo Verde, seus investidores ainda estão restritos ao Axxon,
mas pela declaração de Bocayuva, pode-se pressupor que seu
crescimento levará a abertura para o mercado financeiro.
27 Disponível em: www.mundoverde.com.br/premios/ . Acesso em: 15/7/2014.
28 Idem.
29 Idem.
30 Disponível em: http://pme.estadao.com.br/noticias/noticias,fundos-de-investimento-miram-
as-franquias,1303,0.htm. Acesso em: 15/7/2014.
51
Como ressaltou Sartore, no início do século XXI, quem dita o que
gera valor para a empresa, em termos de Sustentabilidade Empresarial,
não são as instituições que fomentaram o movimento da
Responsabilidade Social Empresarial, mas sim instituições ligadas ao
mercado financeiro. A ênfase da Mundo Verde na sustentabilidade da
franquia e sua meta de se tornar uma empresa de capital aberto ratificam
essa tese.
1.6 Sensibilizar o consumidor para a questão ambiental
Se por um lado a Mundo Verde diminuiu significativamente as
ações voltadas para os stakeholders, por outro a sustentabilidade da
própria franquia passou a ser preocupação primordial. No entanto, não
se pode pensar que a franquia simplesmente “fechou-se em si mesma”
nessa busca por sustentabilidade, uma vez que ela faz um expressivo
esforço para estimular em seus clientes o consumo consciente
(sustentável).
Esse estímulo para que o cliente leve em consideração o meio
ambiente em seus hábitos de consumo pode ser visualizado nos vários
meios de comunicação utilizados pela Mundo Verde — facebook, blog,
site, revista. No site oficial da franquia, por exemplo, dentro da parte de
“saúde e bem estar”, pode ser visualizada uma sessão dedicada a
“sustentabilidade”. Nela há um arquivo com vários artigos postados com
frequência mensal ou semanal, com o intuito de informar ao consumidor
como incorporar a sustentabilidade. Abaixo segue um artigo, retirado da
respectiva sessão, incentivando o consumo de alimentos orgânicos.
Produtos orgânicos: benefícios para a sua
saúde e do planeta!
A preocupação com a saúde, qualidade de vida e
respeito ao meio ambiente, têm feito muitos
consumidores optarem por produtos orgânicos.
Frutas, verduras, hortaliças, carnes e cereais são
exemplos de alimentos produzidos de forma
sustentável que tem ganhado espaço no cenário
mundial. A alimentação orgânica se preocupa
com o que chega ao nosso prato, desde a produção
até a hora do consumo. Afinal, o alimento
orgânico não é simplesmente aquele que é
produzido sem o uso de agrotóxicos. Toda a
52
cadeia produtiva, desde o plantio até a venda, é
manejada de forma a evitar danos ao meio
ambiente. Ou seja, de maneira sustentável.31
Pode-se perceber no trecho mais acima a intrínseca relação
estabelecida entre o consumo de produtos orgânicos e a preservação do
meio ambiente. Outro artigo que ilustra bem o caráter da referida sessão
enfatiza que o consumidor “pratique os 8 Rs do consumo consciente”:
Comece e passe esta ideia para frente. Ajude a
fazer do mundo um lugar melhor!
- Refletir: Lembre-se de que qualquer ato de
consumo causa impactos do consumo no planeta.
Procure potencializar os impactos positivos e
minimizar os negativos;
- Reduzir: Exagere no carinho e no amor, mas
evite desperdícios de produtos, serviços, água e
energia;
- Reutilizar: Use até o fim, não compre novo por
impulso. Invente, inove, use de outra maneira.
Talvez vire brinquedo, talvez um enfeite, talvez
um adereço...
- Reciclar: Mais de 800 mil famílias vivem da
reciclagem hoje no Brasil, quer fazer o bem?
Separe em casa o lixo sujo do limpo. Só descarte
na coleta comum o sujo. Entregue o limpo na
reciclagem ou para o catador.
- Respeitar: A si mesmo, o seu trabalho, as
pessoas e o meio ambiente. As palavras mágicas
sempre funcionam: “por favor” e “obrigado”.
- Reparar: Quebrou? Conserte. Brigou? Peça
desculpas e também desculpe.
- Responsabilizar-se: Por você, pelos impactos
bons e ruins de seus atos, pelas pessoas, por sua
cidade.
31Disponível em: www.mundoverde.com.br/2012/08/03/produtos-orgânicos-benef%C3%AD
cios-para-a-sua-saúde-e-do-planeta/ . Acesso em: 15/7/2014.
53
- Repassar: As informações que você tiver e que
ajudam na prática do consumo consciente.
Retuite, reenvie e-mails.32
É possível encontrar várias “dicas de sustentabilidade” na referida
sessão do site. No entanto vale comentar também a presença desse
conteúdo em outros materiais divulgados pela franquia. No blog da
Mundo Verde é possível encontrar vários lembretes de datas e eventos,
nacionais e internacionais, relacionados ao “meio ambiente”:
Figura 1
Fonte: Blog Mundo Verde33
A imagem acima diz respeito ao “Dia Internacional da Terra”,
mas entre a lista de dias lembrados no blog pode-se observar “O dia
Internacional do Meio Ambiente”, a “Hora do Planeta”, “O dia nacional
da criação do Ibama”, e o “Dia do reciclador e da reciclagem de lixo”.
Outro veículo de informação da franquia que vale destacar é a
Revista Mundo Verde. Distribuída com frequência quadrimestral nas
lojas da franquia e disponível também online, desde 2011 a revista
apresenta o seguinte título em sua capa “Revista Mundo Verde: Vida
saudável, Mundo Sustentável”34. De fato, o foco principal da revista é a
divulgação de informações sobre produtos que visam a saúde do corpo.
Não obstante, é possível encontrar em algumas edições artigos
32 Disponível em: www.mundoverde.com.br/2011/11/18/pratique-os-8-r%C2%92s-do-
consumo-consciente/ . Acesso em: 15/7/2014.
33 Disponível em: www.mundoverde.com.br/blog/ . Acesso em: 30/7/2013.
34 As edições da revista podem ser copiadas em formato digital no respectivo endereço:
www.mundoverde.com.br/revista/.
54
relacionados a sustentabilidade. Um exemplo é o artigo sobre moda e
sustentabilidade encontrado em uma edição de 2012 da revista:
Como fazer moda sustentável?
Conheça algumas atitudes que podem ajudar o
mundo por meio de suas roupas
Para responder a essa pergunta temos de pensar
em todo o processo de produção da indústria da
moda, desde a utilização de materiais orgânicos,
até a valorização da produção local, o que reduz a
emissão de gás carbônico (Revista Mundo Verde,
n. 9, 2012, p. 22).
Obviamente esses poucos exemplos não dão conta da totalidade
de informações divulgadas pela franquia referentes à sustentabilidade.
No entanto elas permitem vislumbrar a sua preocupação em estimular os
consumidores a tornarem-se adeptos de práticas de consumo
sustentáveis.
1.7 Entre a eco-eficiência e o eco-consumo:
uma nova concepção de controle?
Feitas essas observações é necessário analisar as ações
desenvolvidas pela respectiva franquia em conjunto. Se de um lado ela
preza por tornar-se uma empresa sustentável, por outro ela busca
estimular o consumo sustentável. É possível vislumbrar aí o que Guivant
caracterizou como o “controle do mercado através do eco-consumo e da
eco-eficiência”. A referida socióloga analisou os diversos tipos de
envolvimento de redes varejistas globalizadas como Wal-Mart e Tesco
em práticas que podem ser identificadas como sustentáveis. Como ela
bem ressaltou “o conceito de sustentabilidade é suficiente amplo para
abranger estratégias que visem desde o estimulo do eco-consumo verde
até padrões de construção eco-eficiente” (GUIVANT, 2009, p. 194).
Para Guivant, ao prezar pela eco-eficiência e pelo eco-consumo,
essas empresas estariam em sintonia com a modernização ecológica. A
noção de modernização ecológica pode ser vista como a interpretação
sociológica do processo de reforma ambiental em múltiplas escalas no
mundo contemporâneo. Essa corrente teórica se propõe a analisar como
as diversas instituições e atores sociais podem integrar suas
55
preocupações ambientais no seu cotidiano, e transcender a divisão entre
ecologia e economia, internalizando os “custos externos” em funções do
mercado e da economia em geral. Parafraseando Guivant, os atores
econômicos como as empresas não são vistos só como forças que
deterioram o meio ambiente, mas como instituições de mercado que
podem trabalhar em favor de uma reforma ambiental (Ibidem, p. 175).
Sem excluir os pressupostos mencionados da modernização
ecológica, é válido aqui dialogar um pouco com alguns pressupostos da
sociologia econômica. Se o controle do mercado pode ser feito através
do eco-consumo e da eco-eficiência como sugeriu Guivant, vale
perguntar se não estaria emergindo uma nova concepção de controle
como sugerida pelo sociólogo Neil Fligstein.
Como bem aponta Fligstein, o objetivo da ação num determinado
mercado é a criação e manutenção de mundos estáveis entre as
empresas, bem como no seu interior, que propiciem a sua sobrevivência.
Logo “uma concepção de controle constitui, simultaneamente, uma
visão de mundo que permite aos atores interpretar as ações dos outros e
um reflexo do modo como se estrutura o mercado” (FLIGSTEIN, 1996,
p. 199). Não obstante, “as concepções de controle refletem
entendimentos específicos do mercado”, que orientam não apenas a
organização dos atores dentro da empresa, como também suas táticas de
competição ou cooperação (Idem).
Como já falado, o desenvolvimento sustentável “é o
desenvolvimento que satisfaz as necessidades do presente sem
comprometer a capacidade das gerações futuras de satisfazerem as suas
próprias necessidades”. Seria o desenvolvimento sustentável a busca por
um “mundo estável” como descrito por Fligstein? Fato é que o meio
ambiente alcançou status de preocupação global, de maneira que a busca
pela sustentabilidade orienta a ação de muitos atores econômicos, sejam
eles indivíduos ou empresas. A busca pela eco-eficiência e o estimulo ao
eco-consumo são ações decorrentes dessa orientação que emerge com
mais força no século XXI. No caso da Mundo Verde, é essa orientação
que atualmente prevalece sobre suas ações no que diz respeito à
sustentabilidade.
1.8 Os estabelecimentos: uma breve descrição
Descrever as lojas da Mundo Verde não é uma tarefa fácil, uma
vez que há uma pluralidade de Mundo-Verdes distribuídas pelo Brasil
(280, para lembrar mais uma vez), sendo que duas unidades da franquia
56
estão situadas em Portugal. A franquia orgulha-se de cada nova unidade
inaugurada. Tal sentimento é compartilhado online através do álbum de
fotos virtuais que a franquia disponibiliza ao público35 (obviamente,
outra estratégia de marketing). O álbum em questão permite ter um
panorama geral do que é a Mundo Verde, visto que trás imagens das
várias unidades da franquia espalhadas pelo Brasil.
De acordo com a franquia ela oferece aos franqueados “apoio na
escolha do ponto, projeto arquitetônico e na montagem da loja”36. No
que tange à escolha do ponto, vale relembrar o argumento mencionado
anteriormente de Roberto Grün. As franquias são o protótipo de loja que
caracteriza o espaço urbano do atual estágio da modernidade, seja nas
ruas das grandes metrópoles, ou no seu lugar de vanguarda, os
shoppings centers. Como já observado, 1/3 das lojas da franquia estão
situadas dentro de shopping centers. Se aparentemente esse pode ser um
local estratégico, impõe limitações de espaço para as lojas da franquia
situadas dentro desses espaços. Por outro lado, pelo que as imagens
evidenciam, as unidades localizadas foras dos shoppings centers são
maiores, e consequentemente, podem comportar maior quantidade de
produtos.
Quanto ao projeto arquitetônico e a montagem da loja, vale
mencionar mais uma vez a questão da eco-eficiência (GUIVANT,
2009). Desde 2010 “todas as novas unidades Mundo Verde seguem os
mais modernos padrões de sustentabilidade”37. Padrões que como já dito
incluem fachada e móveis feitos com madeira certificada com o selo
FSC do Conselho Brasileiro de Manejo Florestal.
Vale destacar a distribuição dos produtos dentro da loja. Como
ressalta Guivant, as políticas internas dos estabelecimentos para a
informação e comunicação podem influenciar as práticas de compra dos
consumidores (Idem, ibidem, p. 183). No caso da Mundo Verde, essa
política pode ser vista na prática da franquia de dividir os produtos em
seções com placas de identificação38. As placas carregam os 17
segmentos de produtos oferecidos pela franquia que inclui
principalmente alimentos: “orgânicos”, “funcionais”, “sem glúten” e
“sem lactose”, “alimentos kosher”, “suplementos e vitaminas”,
“integrais”, “diet e light”, “funcionais”, “chás e fito terapêuticos” além
35 O respectivo álbum encontra-se disponível online no seguinte endereço:
www.flickr.com/photos/mundo_verde.
36 Disponível em: www.mundoverde.com.br/seja-um-franqueado/. Acesso em: 15/7/2014.
37 Disponível em: www.mundoverde.com.br/premios/. Acesso em: 15/7/2014.
38 Disponível em: www.mundoverde.com.br/produtos/. Acesso em: 15/7/2014.
57
de itens não alimentares: “cds, dvds e livros”, “decoração e presentes” e
“oriental”39.
O leitor poderá contemplar as várias características mencionadas
podem ser contempladas nas imagens que seguem logo abaixo.
Figura 2 – Mundo Verde Natal
Fonte: www.flickr.com/photos/mundo_verde/4774362043/sizes/m/in/set-
72157624451134644/
39 Idem.
58
Figura 3 – Mundo Verde Fortaleza
Fonte: www.flickr.com/photos/mundo_verde/6721206703/sizes/z/in/set-
72157628928562747/
Figura 4 – Mundo Verde Fortaleza
Fonte: www.flickr.com/photos/mundo_verde/6721207927/sizes/z/in/set-
72157628928562747/
59
Figura 5– Mundo Verde Curitiba
Fonte: www.flickr.com/photos/mundo_verde/4774330165/sizes/z/in/set-
72157624326323049/
Figura 6 – Mundo Verde Salvador
Fonte: www.flickr.com/photos/mundo_verde/5164469722/sizes/z/in/set-
72157625354857900/
60
Figura 7 – Mundo Verde Praça da Árvore-SP
Fonte: www.flickr.com/photos/mundo_verde/5692861943/sizes/z/in/set-
72157626535487863/
Figura 8 – Mundo Verde Praça da Árvore – SP
Fonte: www.flickr.com/photos/mundo_verde/5692861041/sizes/z/in/set-
72157626535487863/
61
2. OS PRODUTOS E OS DIVERSOS SIGNIFICADOS
DO BEM-ESTAR
O primeiro capítulo tentou historicizar e situar a “loja do bem-
estar” dentro do contexto mercadológico que caracteriza o início do
século XXI. Feita essa contextualização, é hora de aprofundar a
problemática do trabalho e indagar quais os produtos que a “loja do
bem-estar” vende. Ou seja, é hora de perguntar o que é o bem-estar que
a “loja do bem-estar” disponibiliza aos consumidores e como nestes
produtos se traduz o significado de bem-estar.
Antes de prosseguir, vale citar, mais uma vez, a descrição feita
pela própria franquia daquilo que ela disponibiliza aos seus clientes.
Esse trecho abaixo permite vislumbrar a pluralidade de produtos por ela
vendidos:
Hoje, as lojas Mundo Verde recebem diariamente
mais de 150 mil pessoas em busca de pelo menos
um dos cerca de 10 mil itens oferecidos por mais
de 1.200 fornecedores. O mix de produtos inclui
desde alimentos (diet, light, integrais, orgânicos,
funcionais sem glúten e sem lactose),
complementos alimentares e suplementos para
atletas, até livros, CDs de música clássica, new
age e étnica, incensos, cosméticos naturais,
presentes conscientes e outros produtos voltados
para a saúde do corpo, da mente e do planeta.40
A descrição acima pode parecer concisa, mas não podemos nos
ludibriar pela simplicidade das palavras. É justamente aí que mora a
problemática (do bem-estar). Como exposto acima, a franquia oferece
10000 itens, oferecidos por, pelo menos, 1200 fornecedores. O que se
propõe aqui não é descrever os 10000 itens um por um, nem identificar
os fornecedores com os quais a Mundo Verde trabalha. Todo consumo é
cultural, uma vez que toda forma de consumo sempre envolve
significados, sendo que, para ter uma necessidade de consumo, é
40 Disponível em: www.mundoverde.com.br/historia . Acesso em: 15/7/2014.
62
necessário antes de tudo dar sentido à esse necessidade (ou seja,
significado) (SLATER, 2001, p. 131). Logo, o presente capítulo é uma
tentativa de elucidar quais as várias demandas que a Mundo Verde
procura atender, para com isso compreender os significados em torno do
qual gira o seu conceito de bem-estar.
No site oficial da franquia há um catálogo com 14 categorias
dentro das quais a Mundo Verde encaixa os 10000 itens que oferece ao
consumidor41. Essas categorias incluem respectivamente: Orgânicos;
Integrais; Chás e Fitoterápicos; Mel e Derivados; Diet e Light;
Funcionais; Sem Glúten; Sem Lactose; Suplementos e Vitamínicos;
Kosher; Oriental; Cosméticos; Livros, CDs e dvds; além de decoração e
Presentes.
Para avançar nesse compreensão, o que segue logo abaixo é uma
tentativa de identificar as demandas que a franquia procura atender.
Muito mais do que uma “descrição densa”, é um exercício de
categorização, através do qual tentou-se separar os produtos oferecidos
de acordo com as afinidades que eles possuem uns com os outros, para
com isso possibilitar uma interpretação sociológica das necessidades
que essas demandas procuram atender, e assim compreender os
significados envoltos em torno de cada necessidade — e principalmente
do bem-estar.
No que tange à questão metodológica, este capítulo é fruto da
observação rigorosa dos canais de comunicação que a franquia mantêm
abertos com os consumidores: blog, facebook, newsletter, twitter. A
partir da análise do conteúdo publicado frequentemente nesses espaços
virtuais (as práticas através das quais o discurso da franquia se reproduz)
é possível delimitar quais as demandas que estão em jogo na procura
pelo bem-estar (ou pelo menos, no bem-estar como é oferecido pela
Mundo Verde).
Feito esse exercício de identificação das categorias com as quais
a Mundo Verde trabalha, o capítulo segue com um aprofundamento da
análise sociológica sobre os estilos de vida com os quais a franquia
trabalha, bem como as ambivalências do bem-estar.
41 Disponível em: www.mundoverde.com.br/produtos/. Acesso em: 15/7/2014.
63
2.1 Produtos Naturais
No seu registro na associação brasileira de franchising a Mundo
Verde está situada dentro do “segmento” de “produtos naturais”, o seu
“ramo” são os “produtos naturais”, e o “tipo do negócio” está registrado
como “Loja de produtos naturais e bem estar”42. Logo, é válido começar
com uma especificação do que são os produtos naturais que a franquia
vende.
Antes de apresentar alguns exemplos, vale a pena deter-se em
uma breve distinção conceitual, visto as polissemias que o termo natural
carrega consigo. Como bem apontou o psicólogo Paul Rozin o conceito
de “natural” é, em uma primeira abordagem, positivo em todo o mundo,
“mas seu sentido varia de uma pessoa para outra, de uma cultura para
outra, e de um período da história para outro” (ROZIN, 2010, p. 209).
Entretanto, como enfatiza o referido psicólogo, não é simples definir a
ideia de natural: “para um bom número de indivíduos, trata-se de um
conjunto complexo de pensamentos que remetem ao que é autêntico,
saído da natureza e não transformado pelos humanos” (Ibidem, p. 210).
As pesquisas recentes realizadas por esse psicólogo evidenciam
que no campo alimentar, “natural” constitui, dessa forma, uma
qualificação muito atraente, sendo que cada vez mais a ideia de
“natural” é associada à boa saúde e, como consequência, há uma clara
preferência pelo natural (Idem). Mas a verdadeira preferência parece
fundamentar-se mais em uma preferência intelectual pelo que se
identifica com a “natureza”, não em uma relação de utilidade entre a
noção de natureza e a de um beneficio que isso poderia tirar. Nesse
sentido Rozin faz uma distinção entre as motivações instrumentais e as
intelectuais/ideias que levam a busca pelo alimento natural.
As três justificativas instrumentais mais frequentes são que os
elementos naturais, sobretudo em se tratando de alimentos, são mais
sadios, têm mais gosto ou ainda, são os de incidência mais positiva do
ponto de vista ecológico (Idem, ibidem, p. 211). As razões intelectuais
subjacentes à preferência pelo natural se focalizam na noção de que os
produtos naturais são essencialmente melhores, ou melhores porque
estão disponíveis em sua forma original, ou, ainda, melhores porque são
mais puros. Como ele aponta, é difícil achar um contra-argumento de
que os produtos naturais seriam melhores, pois eles são sem dúvida mais
próximos de sua forma original, do estado natural anterior aos estados
42 Disponível em: www.portaldofranchising.com.br/guia-de-franquias/mini-site/mundo-
verde/229/imprimir. Acesso em: 15/7/2014.
64
criados pelas civilizações humanas (Ibidem, p. 213). Não obstante essa
distinção, Rozin ressalta, na maioria das vezes ”a saúde justifica,
frequentemente, a preferência pelo natural, e é assim associada de forma
espontânea ao termo ‘natural’” (Ibidem, p. 216).
Antes de prosseguir é relevante se deter em mais uma questão
levantada pelo referido psicólogo. Como ele bem aponta as plantas, os
animais e a maioria dos elementos não orgânicos que nos rodeiam
constituem o que chamamos de universo natural. Nesse campo, as
rochas vêm antes da plantas, que vêm antes dos animais. Mas esses três
elementos são todos considerados perfeitamente naturais. Todavia, em
termos práticos, associa-se em primeiro lugar o conceito de “natural” ao
que é vegetal: às florestas, às árvores e aos alimentos vegetais (Ibidem,
p. 218).
Tendo em vista as considerações elaboradas por Rozin, pode-se
afirmar que a busca pelos alimentos naturais se limita aos de origem
vegetal, motivada, acima de tudo, por questões de saúde? É hora de
voltar à franquia e analisar o que ela diz.
2.1.1 Orgânicos
Na descrição que a Mundo Verde faz de sim mesma, ela se
apresenta como “maior rede de lojas de produtos naturais, orgânicos e
bem-estar da América Latina, tem como propósito a vida saudável, bem
estar e sustentabilidade”. Qual é a relação que o discurso da franquia
estabelece entre produtos naturais, orgânicos e bem-estar?
De acordo com a franquia, os orgânicos são os “alimentos
produzidos através de um cultivo biológico, que preserva os nutrientes e
as características naturais. Cultivo socialmente justo e ecologicamente
correto. Possuem certificados de órgãos reguladores, o que garante um
produto com qualidade em sua mesa”.43
É possível identificar aqui as características apontadas por Rozin,
o cultivo biológico, orgânico, como “preserva os nutrientes” e as
“características naturais”, mantém a autenticidade e traz benefícios a
saúde. Para além disso, ele é “ecologicamente correto” tendo impacto
positivo no meio ambiente, contrapondo-se dessa maneira a agricultura
à base de agrotóxicos. Uma oposição que não deixa de ser vista na
publicidade da franquia:
43 Disponível em: www.mundoverde.com.br/produtos/orgânicos/. Acesso em: 15/7/2014.
65
Figura 9
Fonte: www.facebook.com/photo.php?fbid=560718850632636&set=pb.192882994082892.-
2207520000.1381440536.&type=3&theater
O início do século XXI assiste a uma ascensão do mercado de
alimentos orgânicos. Guivant (2003, p. 65) destacou que mercado
mundial de orgânicos movimentava cerca de US$ 23,5 bilhões de
dólares por ano, com uma expectativa de crescimento da ordem de 20%
ao ano De acordo com Wilkinson, a expansão do mercado orgânico foi
aberta pela crítica ao modelo de produção industrial e suas
consequências para a saúde, que promoveram a identificação da
qualidade do alimento com produtos agrícolas frescos (2003, p. 162).
No caso em questão trata-se de produtos vegetais produzidos sem
agrotóxicos. Isso é bem exemplificado no caso do Brasil, onde a
demanda por alimentos saudáveis contribuiu significativamente para o
crescimento da produção e consumo de orgânicos (GUIVANT, 2009, p.
182).
Se essa busca por alimentos frescos abriu caminho para o
mercado de orgânicos, ela não se restringiu à ele. Como destacou
Guivant (2003, p. 65), neste mercado incluem-se produtos frescos,
processados, industrializados e até artigos de cuidados pessoais,
produzidos com matérias primas obtidas sob o sistema orgânico. Essa
variedade não escapa à “loja do bem-estar”, que trabalha tanto com
alimentos orgânicos frescos quanto com os processados e empacotados:
Nas lojas Mundo Verde você encontra uma série
de produtos orgânicos entre eles: soja (grão,
66
farinha); açúcar mascavo; açúcar demerara; café;
clorofila; sucos de frutas; chás; quinoa (farinha,
flocos, grão, espaguete, cabelinho de anjo e mini
rigattoni), banana passa; xarope de guaraná; erva
mate; arroz integral; feijão; biscoitos integrais;
geléias; conservas de cenoura; palmito entre
outros.44
Por um lado, a franquia trabalha com orgânicos in natura,
vendidos empacotados, como cereais (quinoa, arroz) e leguminosas
(soja, feijão), além de conservas (cenouras, palmito); por outro lado, ela
oferece produtos orgânicos processados como biscoitos, geléias e
espaguete.
Em um estudo sobre o mercado para processados orgânicos no
Brasil, Silveira e Guivant (Idem, p. 191) ressaltaram que este ainda não
supera a venda de orgânicos frescos; no entanto, a sua ascensão deve-se
ao peso dos atributos de conveniência e funcionalidade que caracterizam
os padrões alimentares contemporâneos. Estes atributos são centrais
nas estratégias da “loja do bem-estar”. O fato de passarem por uma
espécie de processo industrial altera a condição natural desses
alimentos? De acordo com a Mundo Verde o que importa é a
certificação. Uma vez que o alimento foi feito com ingredientes
orgânicos, sua condição de autenticidade se mantém ao longo da cadeia
de produção, como bem enfatiza o discurso da franquia:
A qualidade dos produtos orgânicos é assegurada
por selo de certificação, que é fornecido pelas
associações de agricultura que verificam e
fiscalizam a produção de alimentos orgânicos
desde a sua produção até a comercialização. O
selo é a garantia de que o consumidor irá adquirir
produtos saudáveis e livres de contaminação.45
Não obstante essa conveniência dos processados, a “loja do bem-
estar” disponibiliza também produtos orgânicos frescos, de fácil
perecimento, como frutas, legumes e verduras (os denominados FVL),
através de pequenas feiras realizadas semanalmente em algumas de suas
44 Disponível em: www.mundoverde.com.br/fique-por-dentro/noticias-do-site/a-importância-
dos-alimentos-orgânicos-para-a-saúde/. Acesso em: 15/7/2014.
45 Disponível em: www.mundoverde.com.br/2014/05/27/10-razões-para-consumir-orgânicos/.
Acesso em: 15/7/2014.
67
unidades46 do eixo Rio São Paulo. O que cabe reparar aqui é a tentativa
da franquia de cobrir as várias demandas do mercado orgânico.
2.1.2 Chás e fitoterápicos
Chás e fitoterápicos, eis aqui outra categoria de atuação da
Mundo Verde. Provavelmente a primeira palavra é mais conhecida do
publico leigo, enquanto a segunda é um nome cientifico para primeira.
De acordo com a franquia, os fitoterápicos abrangem “ervas dos mais
variados tipos utilizadas na forma de chá, para prevenção, alívio e/ou
tratamento de doenças”47. Aqui vislumbramos novamente as
especificações de Rozin: produtos oriundos do reino vegetal, que trazem
algum beneficio para a saúde.
A popularidade da fitoterapia no Brasil é enfatizada pelos dados
do Ministério da Saúde (BRASIL, 2012, p. 15), segundo os quais cerca
de 82% da população faz uso de plantas medicinais de diferentes
maneiras, tendo como norteadores diversas lógicas de cura. As práticas
de consumo de plantas medicinais podem ser justificadas pelas tradições
culturais, pela milenar utilização das plantas nos tratamentos de diversas
doenças e pelas suas propriedades nutricionais, flavorizantes e
medicinais (BENARROZI; CARVALHO; PRADO, 2011, p. 10).
Tendo em vista essa popularidade da fitoterapia, não é estranho
que a “loja do bem-estar” disponibiliza um amplo acervo de ervas para
consumidores. Seu catálogo incluí Alcachofra, Amarelo, Amora,
Branco, Camomila, Capim-cidreira, Capim-limão, Carqueja, Cavalinha,
Espinheira-Santa, Eucalipto, Flores diversas, Frutas diversas, Guasco,
Guaraná, Hibisco, Hortelã, Maracujá, Melissa, Unha de gato, Verde,
Vermelho48.
A franquia disponibiliza ervas embaladas para ser utilizadas na
preparação de chás, que podem ser orgânicos ou não. Logo, carregam
consigo todas as consequências que essa escolha pode trazer. Não
obstante tal questão, a franquia não restringe seus fitoterapêuticos a
ervas em seu estado natural. Seu acervo inclui também chás enlatados,
engarrafados, prontos para o consumo ou de preparo instantâneo. Esse é
o caso do “Chá Branco com Lichia” da marca Feel Good. Como expõe a
46Disponível em: www.facebook.com/notes/mundo-verde/feiras-orgânicas/317116121659578.
Acesso em: 15/7/2014.
47 Disponível em: www.mundoverde.com.br/2013/08/04/chás-e-fitoterápicos/. Acesso em:
15/7/2014.
48 Idem.
68
franquia este é uma “forma prática e saborosa de consumir o chá
branco”, “acrescido de extrato de lichia, rico em antioxidantes”49. Outro
exemplo de fitoterápico processado é o chá verde solúvel da Supravita.
Produto em pó, enlato, é apresentado pela franquia como “uma opção
prática e saborosa para consumo do chá verde”.50
Tais exemplos evocam questões semelhantes aquelas levantadas
mais acima em relação aos orgânicos. De um lado autenticidade daquilo
que não foi modificado, de outro a necessidade cotidiana da praticidade.
2.1.3 Integrais
Para além dos alimentos orgânicos e dos fitoterápicos, outra
categoria que pode ser incluída dentro dos produtos naturais é a dos
“alimentos integrais”. “O alimento integral é aquele que não passa pelo
processo de refinamento, mantendo, assim, todas as suas características
naturais, preservando inclusive seus nutrientes”51. Dentro dessa
definição, o alimento integral é aquele que preserva uma espécie de
autenticidade. Não obstante, praticamente todos os integrais oferecidos
pela franquia são de origem vegetal, de maneira que, além de parecerem
mais autênticos, aparentam maior proximidade com o mundo natural.
49 Disponível em: www.mundoverde.com.br/2011/02/01/feel-good-chá-branco-com-lichia-
wow-sufresh/. Acesso em: 15/7/2014.
50 Disponível em: www.mundoverde.com.br/2012/10/30/chá-verde-solúvel-supravita/. Acesso
em: 15/7/2014.
51 Disponível em: www.mundoverde.com.br/produtos/integrais/. Acesso em: 15/7/2014.
69
Figura 10
Figura 11
Fonte: www.mundoverde.com.br/emkt/2013/0710/index.html
Dentro da variedade de integrais da franquia encontram-se arroz 7
grãos, arroz integral (agulhinha, cateto e vermelho), arroz preto, arroz
70
selvagem, arroz vermelho, leguminosas como feijão (carioca, vermelho,
azuki, manteiga, branco), ervilha, grão de bico, lentilha, cereais como
quinoa, aveia, cevada, centeio, açucares não refinados (demerara,
frutose, light, mascavo, melado, orgânico). Farinha de banana verde,
farinha de frutas, pães e massas feitos dos cereais já citados. Soja e
derivados como a lecitina de soja. Misturas de cereais como a granola
ou a ração humana. Além de salgados integrais prontos para lanches, e
biscoitos empacotados52.
Aqui novamente se observa uma questão semelhante aos
orgânicos. Se por um lado a franquia vende alimentos integrais no seu
estado original como cereais e leguminosas, por outro ela vende
alimentos integrais resultantes de algum processo — menor escala no
caso das farinhas e dos pães, e escala muito maior no caso dos biscoitos
e dos cookies.
Aparentemente misturar diferentes alimentos integrais na
confecção de um único produto não alteraria a condição “integral” do
produto final. Essa afirmação é corroborada pelas pesquisas de Rozin,
que ressalta que a mistura de vários elementos naturais não reduz sua
qualidade natural aos olhos do público, não mais que outras
modificações físicas, como as mudanças de temperatura — assar ou
congelar, por exemplo (ROZIN, 2010, pp. 209-210).
Essa constatação pode ser aplicada aos vários produtos naturais
da “loja do bem-estar” descritos até agora. Seja na forma de pães ou
biscoitos, integrais ou orgânicos, ou ainda na forma de chás enlatados
e/ou engarrafados, certos produtos não perdem seu caráter natural por
estarem mais distantes do seu estado original:
O fato de os indivíduos considerarem as
combinações naturais quase tão naturais quanto os
diferentes elementos que as compõem autoriza a
fabricação de uma quantidade importante de
combinações de alimentos naturais, que também
são qualificados como alimentos naturais. É o que
chamaremos de “particularidades da combinação
natural”. Assim, em termos lógicos, a maioria das
regulamentações relativas à garantia “natural”
deveria considerar a garantia natural perfeitamente
adaptável aos produtos que consistem de uma
combinação de vários produtos naturais. O termo
“natural” se impõe para nós, efetivamente, na
52 Disponível em: www.mundoverde.com.br/produtos/integrais/. Acesso em: 15/7/2014.
71
medida em que cada ingrediente é natural. Como
os consumidores querem dispor de um vasto leque
de produtos e como a indústria agroalimentar quer
fabricar tais produtos a fim de responder aos
gostos do público, não falta criatividade para a
combinação natural (Idem, 2011, p. 220).
Todos os produtos apresentados até agora foram de encontro as
considerações de Rozin sobre os alimentos naturais. No geral, são
alimentos de origem vegetal. Principalmente no caso dos orgânicos, dos
integrais, dos fitoterapêutícos, saídos do reino vegetal, que preservam
características que lhes dão um ar de autenticidade e originalidade,
como se não tivessem sido (tão) modificados pela ação humana.
2.1.4 O caso do mel
Segundo Rozin, as plantas parecem estar mais próximas da
natureza (2010, p. 219). Um alimento que destoa dessa especificação é o
mel, que não é de origem vegetal. “Fluído doce e viscoso, constituído
por glicose e frutose, produzido pelas abelhas a partir do néctar das
plantas e estocado em favas”53, é destacado pela franquia como um
“antibiótico natural” visto que “é imunoestimulante, sendo eficaz contra
os sintomas de gripes e resfriados, pode ser utilizado ainda para auxiliar
no tratamento de problemas pulmonares e de garganta”54. O leque de
derivados do mel oferecidos pela Mundo Verde incluí balas de própolis,
geleia real (in natura e cápsula), mel composto, mel eucalipto, mel
laranjeira, mel orgânico, mel silvestre, pólen (tradicional e cápsula),
própolis (tradicional, verde e vermelha), sprays a base de mel e
própolis55.
O mel chama atenção aqui não apenas por ser uma exceção em
relação a variedade de produtos naturais de origem vegetal oferecidos
pela franquia, mas também por não estar livre dos outros paradoxos já
indicados. Como pode-se ver no catálogo mais acima, o mel oferecido
pela franquia pode ser orgânico ou não, vir em seu estado original ou
armazenado em spray e/ou cápsulas e outras misturas com mel.
53 Disponível em: www.mundoverde.com.br/fique-por-dentro/noticias-do-site/produto-da-
semana-mel/. Acesso em: 15/7/2014.
54 Idem.
55 Disponível em: www.mundoverde.com.br/produtos/mel-e-derivados/. Acesso em: 15/7/2014.
72
Por mais que ele seja apresentado como um produto natural, não
está livre das ambiguidades que suscitam os alimentos naturais.
2.2 Distanciando-se do natural
Mais acima discorremos sobre o catálogo de alimentos orgânicos,
integrais e fitoterápicos oferecidos pela franquia, bem como utilizamos
as considerações de Rozin para mostrar por que tais produtos são
associados a uma ideia de alimentação natural. Como o intuito desse
trabalho é mostrar as ambivalências do bem-estar oferecido pela
franquia, agora passamos a analisar os produtos que se distanciam
gradativamente da alimentação natural, isso quando não diferem dela
totalmente. Essa distinção não é direta, mas pode ser finamente
observada em duas categorias particulares de produtos oferecidos pela
franquia, os alimentos funcionais e os suplementos alimentares.
2.2.1 Alimentos Funcionais
Segundo a franquia, os funcionais são “alimentos que, além das
funções nutricionais básicas, quando consumidos como parte da dieta
regular, produzem efeitos benéficos à saúde. Apresentam componentes
ativos capazes de prevenir ou reduzir o risco de certas doenças”56. O
leque de alimentos funcionais disponibilizados engloba azeite, biomassa
de banana verde, cação, cápsulas de licopeno, centeio, cereais integrais,
cevada, chás verde e branco, cranberry, farinha de banana verde,
iogurtes e leites fermentados, linhaça e derivados, oleaginosas (nozes e
castanhas) óleo de alho, óleo de coco, probióticos, soja e seus derivados,
suco de uva e vinho tinto orgânico57.
A lista é grande e engloba uma variedade de produtos. Nela
podem ser observados vários alimentos já mencionados na parte dos
naturais como chás e cereais vendidos de forma in natura. O que deve-se
reparar aqui são os alimentos da lista que não se encontram in-natura,
como as cápsulas de licopeno ou os probióticos. Licopeno, segundo a
franquia, é uma substância presente no tomate responsável pelo combate
os radicais livres, prevenindo o câncer de próstata, o envelhecimento das
56 Disponível em: www.mundoverde.com.br/2013/08/04/funcionais/. Acesso em: 15/7/2014.
57 Idem.
73
células, além de estimular o sistema imunológico58, que é
disponibilizada em forma de cápsulas. Quanto ao probiótico, “é um
suplemento alimentar microbiano vivo que afeta de forma benéfica o
animal hospedeiro por meio de melhoria no balanço microbiano
intestinal”59.
Esses exemplos não dão conta da variedades de alimentos
funcionais oferecidos pela franquia. Mas eles são paradigmáticos
daquilo que ela define como alimentos funcionais. Mais uma vez:
alimentos que “quando consumidos como parte da dieta regular,
produzem efeitos benéficos à saúde”. E principalmente “apresentam
componentes ativos capazes de prevenir ou reduzir o risco de certas
doenças”
O que interessa no caso dos alimentos funcionais não é sua
origem nem seu estado de autenticidade que mantém a pureza do
alimento como no caso dos naturais. O que realmente interessa é sua
composição nutricional, ou melhor, seu componente ativo e os efeitos
para a saúde. Dentro dessa lógica, não interessa se o alimento encontra-
se em seu estado natural (farinha de banana verde) ou em cápsulas
(licopeno).
Essa busca por ingredientes nutricionais que auxiliem na
manutenção da saúde é o que está em jogo na comercialização dos
alimentos funcionais. Uma analogia bem verossímil foi feita por Marion
Nestle (2007, p. 319), que comparou esse mercado a busca por uma
“bala mágica”. Não obstante, como ela menciona, os alimentos
funcionais são muito mais uma estratégia de marketing da indústria
alimentícia do que um instrumento nutricional de efeito garantido60:
“Como todos os alimentos e bebidas incluem ingredientes (calorias,
nutrientes ou água) que são essenciais à vida, qualquer um deles tem o
potencial para ser comercializado por seus benefícios à saúde”
(NESTLE, 2007, p. 315).
O alimento funcional não precisa ser necessariamente orgânico
ou integral, muito menos de origem vegetal (há iogurtes e leites
alocados na lista de funcionais da franquia).
58 Disponível em: www.mundoverde.com.br/2011/08/08/cápsulas-de-licopeno-herbarium/.
Acesso em: 15/7/2014.
59 Disponível em: www.mundoverde.com.br/2006/05/04/probióticos-e-a-saúde-intestinal/.
Acesso em: 15/7/2014.
60 Disponível em: http://revistaepoca.globo.com/Epoca/0,6993,EPT822860-1666-2,00.html.
Acesso em: 15/7/2014.
74
2.2.2 Suplementos alimentares
A definição da franquia dos suplementos alimentares é que são
“produtos que visam fornecer nutrientes importantes à manutenção da
saúde e que, por alguma deficiência, não foram ingeridos através da
alimentação”61. Pegando pela etimologia da palavra, a definição parece
simples, o objetivo do suplemento é suplementar, de preferência algo
que está faltando. Para além dessa definição, o objetivo aqui é destacar o
caráter antinatural da suplementação. Logo, vale mencionar aqui o
catálogo de suplementos oferecidos pela franquia. Este inclui vitaminas
do complexo B, ergogênicos, hipercalóricos, hiperproteicos, repositor
hidroeletrolítico/isotônicos, termogênicos, vitamina C, vitamina D,
vitamina E62.
Nestle (2007, p. 220) caracteriza os suplementos nutricionais
como produtos tomados para complementar a alimentação,
principalmente para fins de saúde, disponibilizados na forma de poções
ou cápsulas. Esta breve caracterização não dá conta da pluralidade dos
suplementos, nem dos diferentes fins para os quais eles são usados. Aqui
é preciso especificar um pouco melhor os produtos apresentados no
catálogo para compreender as diferenças entre eles - e principalmente
por que eles podem ser caracterizados como estando longe do que
identificamos como categoria de alimentos naturais.
Começar pelas vitaminas é mais fácil, pois, como ressalta a
franquia, “as vitaminas e os minerais são nutrientes essenciais para o
funcionamento do nosso corpo”. Tão logo, “para aqueles que não
conseguem atingir suas necessidades nutricionais pela alimentação,
muitas vezes é recomendada uma suplementação dos nutrientes
deficientes na dieta e para isso podem ser usados polivitamínicos e
poliminerais em cápsulas”63. Não é em seu estado natural que as
vitaminas são disponibilizadas ao consumidor, mas extraídas de fontes
“naturais” para serem armazenadas na forma de cápsulas, disponíveis
para vendagem. As cápsulas atendem às necessidades do organismo,
mas definitivamente não são oferecidas em seu estado original, ou
melhor, natural.
Para além das vitaminas, que visam atender necessidades
orgânicas do corpo, o que cabe destacar aqui são os outros produtos
61 Disponível em: www.mundoverde.com.br/2013/08/04/suplementos-e-vitaminas/. Acesso em:
15/7/2014.
62 Ibidem
63 Disponível em: www.mundoverde.com.br/2014/01/28/benef%C3%ADcios-das-vitaminas-e-
dos-minerais/. Acesso em: 15/7/2014
75
oferecidos pela franquia enquadrados na categoria de “suplementos”,
mas cujos nomes ainda podem ser estranhos para alguns leitores:
Ergogênicos,
hipercalóricos,
hiperproteicos,
repositor
hidroeletrolítico/Isotônicos e termogênicos.
De forma generalizada esses termos se aplicam a produtos
utilizados por praticantes de atividade física, estejam eles interessados
em ganhar massa muscular ou queimar gordura. Como definem Goston
e Correia (2009, p. 3), a modulação dietética e/ou a suplementação de
nutrientes específicos com a intenção de melhorar o desempenho físico-
humano deu origem à nutrição ergogênica, tendo comumente o
significado de melhora do potencial para produção de trabalho. Logo,
para que uma substância seja legitimamente classificada como
ergogênica, ela deve comprovadamente melhorar o desempenho. Não
obstante, os respectivos autores ressaltam que não existe classificação de
suplementos esportivos que seja adotada de modo unânime entre os
diversos pesquisadores.
Apesar da falta de unanimidade, essa demanda pode ser
visualizada no discurso da “loja do bem-estar”, que não deixa de dar a
devida atenção para os praticantes de atividade física:
Praticantes de atividade física têm necessidades
nutricionais diferentes de sedentários. Aqueles
que fazem atividade com o intuito de ganho de
massa muscular precisam entre outras coisas se
atentar para o consumo de proteínas e nesse caso a
suplementação é muito bem-vinda.64
Em um estudo etnográfico recente Luz, Sabino e Carvalho (2010,
p. 346) ressaltaram o grande consumo de suplementos alimentares é
feito principalmente por praticantes da musculação intensa em função da
sua capacidade de “fazer crescer”, não apenas aumentar, a massa
muscular, como também deixá-la mais visível. Aqui se enquadram
principalmente os hiperproteicos. Como Luz, Sabino e Carvalho
apontam a indústria dos suplementos alimentares utiliza-se de matérias
primas ricas em proteínas (claras de ovos, ou leite) e os converte em
equivalentes suplementares em pó ou em pílulas, com vistas a atender a
demanda desse público ávido por dietas hiperproteicas (Idem).
64Disponível em: www.mundoverde.com.br/2014/01/16/whey-protein-e-bcaa-mundo-verde-
seleção/. Acesso em: 15/7/2014.
76
Figura 12
Fonte:
www.mundoverde.com.br/2013/01/22/melhore-seu-desempenho-nos-treinos-com-bcaa/
Deixando um pouco de lado o ganho de massa muscular, os
praticantes de atividade física ainda podem necessitar dos repositores
hidroeletrolítico ou, como são mais conhecidos, isotônicos. Como a
franquia destaca, eles “são melhores que água para a hidratação na
prática de atividade física” visto que essas soluções engarrafadas
“apresentam combinação e composição adequada de carboidratos e sais
minerais para acelerar a entrada desses elementos no sangue e também
promover a hidratação de forma mais rápida”65. Para quê água, principal
hidratante natural, quando os esportistas de alto rendimento podem se
hidratar mais rapidamente com suplementos?
Para encerrar essa lista de suplementos, destaca-se aqui os
termogênicos. Eles não aumentam a massa muscular como os
hiperproteicos, nem reidratam os minerais perdidos como os isotônicos.
Pelo contrário, se tem uma coisa a qual os termogênicos suplementam é
a redução, ou melhor, a queima de gordura.
Todos os alimentos gastam energia para serem digeridos, ou seja,
têm a capacidade de aumentar a temperatura corporal e acelerar o
metabolismo, aumentando a queima de gordura, porém existem alguns
65 Disponível em: www.mundoverde.com.br/2012/05/15/a-importância-da-hidratação-para-o-
praticante-de-atividade-f%C3%ADsica/. Acesso em: 15/7/2014.
77
que se destacam mais que os outros, pois induzem o metabolismo a
trabalhar com ritmo acelerado, gastando assim, mais calorias, sendo
estes classificados como termogênicos (CARDOSO et al., 2010, p. 9).
Como mencionado na citação mais acima, atletas tem
necessidades nutricionais diferentes de pessoas sedentárias. Então, cabe
indagar, do que vale utilizar um alimento que queima mais do que
repõem? O discurso da franquia responde essa questão.
Figura 13
Fonte:
www.mundoverde.com.br/2013/04/16/atividade-f%C3%ADsica-e-suplementação-para-perda-de-peso/
A imagem acima traz o link para um texto maior no site da
franquia, com as seguintes recomendações para pessoas interessadas na
perda de peso:
Com as ocupações diárias, como trabalho e
estudos, não damos a devida atenção à
alimentação. É comum realizarmos lanches
rápidos do tipo fast-food ou passarmos horas sem
nos alimentar. Essa rotina alimentar desregrada
favorece o ganho de peso e o aparecimento de
problemas de saúde. O ideal é adotar uma
78
alimentação saudável e equilibrada (…)
Associado a alimentação saudável deve-se realizar
uma atividade física de forma regular e orientada,
já que um dos papéis da atividade física é
aumentar o gasto de calorias, auxiliando dessa
forma na perda e manutenção de peso. (…)
Para aqueles indivíduos que praticam
regularmente atividades físicas os suplementos
termogênicos podem ser utilizados, pois atuam
potencializando a perda de peso.66
Seja na forma de cápsulas ou pós, os alimentos mencionados são
suplementos, transformados de seu estado original pela indústria
alimentar com vistas a atender demandas que vão além da mera
alimentação. Nesse sentido passam longe de qualquer alegação a uma
condição de naturalidade.
Ao discorrer sobre a popularidade dos suplementos alimentares,
Luz, Sabino e Carvalho caracterizam esse estágio como “fim da
comida”. Em suas palavras, trata-se de “descartar a comensalidade em
nome da absorção de pílulas e pós com sabores artificiais”, de maneira
que aquilo que deveria ser suplementação torna-se alimentação, com a
percepção do artifício químico como alimento (LUZ; SABINO;
CARVALHO, 2010, p. 354).
2.3 Restrições, intolerâncias, alergias
Analisaremos aqui os produtos como alimentos sem glúten, sem
açúcar, sem lactose, devido a seu caráter especifico. Em sua maioria,
são produtos procurados por pessoas que apresentação restrições aos
ingredientes mencionados, em função das consequências que podem
acarretar para a saúde de quem ingere determinados ingredientes. Eis
aqui outro campo de atuação da “loja do bem-estar”: disponibilizar
alimentos para portadores de restrições alimentares. Esses alimentos,
originalmente produzidos para quem não pode consumir certos
ingredientes, também são alvo do interesse de consumidores que não
apresentam necessariamente essas restrições. Vale se aprofundar um
66 Disponível em: www.mundoverde.com.br/2013/04/15/atividade-f%C3%ADsica-e-
suplementação-para-perda-de-peso/. Acesso em: 15/7/2014.
79
pouco mais sobre essas categorias, para compreender porque a Mundo
Verde procura atendê-las.
2.3.1 Diet e Light
Produtos diet são destituídos de um dos seguintes componentes:
açúcar, lipídio, proteína ou sódio67. Já os produtos light têm redução de
no mínimo 25% de um desses quatro componentes. Isso faz com que, na
maioria dos casos, o número de calorias seja reduzido68.
“Produtos isentos de açúcar (diet) ou com redução de algum
componente (light), indicados para dietas de restrição ou redução de
peso”69. Cabe observar aqui o duplo caráter dessa descrição feita pela
franquia: se por um lado ela atende pessoas interessadas na redução do
peso, por outro ela visa atender pessoas que precisam restringir o açúcar
da alimentação. Esse último grupo refere-se principalmente aos
portadores de diabete, um grupo de consumidores que a franquia não
deixa de dar a devida atenção:
Figura 14
Fonte: www.facebook.com/photo.php?fbid=534169539954234&set=a.
193905820647276.47484.192882994082892&type=3&theater
Como os próprios nutricionistas da franquia descrevem “o
Diabetes Mellitus é caracterizado pelo nível elevado de açúcar no
67 Disponível em: www.mundoverde.com.br/2013/10/29/festival-diet-light/. Acesso em:
15/7/2014.
68 Idem.
69 Disponível em: www.mundoverde.com.br/2013/08/04/diet-e-light/. Acesso em: 15/7/2014.
80
sangue, causado pela falta ou pela quantidade insuficiente de insulina,
que é um hormônio produzido pelo pâncreas e responsável pela
absorção da glicose pelas células”70. Logo, em função dessa condição,
“os diabéticos precisam rever seus hábitos alimentares e de vida como
um todo”71. Sendo que, “para auxiliar no controle das taxas de glicose é
necessário retirar da dieta alimentos que contenham açúcar (sacarose),
como por exemplo, mel, melado, caldo de cana, rapadura”72.
Isso leva os portadores da doença à busca de alimentos light e
diet. O amplo catálogo de produtos light e diet inclui achocolatados,
balas, barras de cereais, barras de frutas, bebidas, bebidas a base de soja,
biscoitos, cookies, bolos, chocolates, creme de leite, doces (compotas,
barras, cremosos, tabletes), doces em barras, geléias, granolas, iogurtes,
ketchup, leite condensado, mistura para bolos, molhos, temperos, pães,
torradas, pó para gelatina, pó para pudim, própolis, sal, salgados, shakes,
shoyo, sopas, sucos, tortas73. Enfim, um amplo catálogo de produtos
para quem deve restringir o consumo de açúcar.
Para além dos portadores de diabete, vale lembrar, como foi
mencionado mais acima, que esses produtos também são procurados por
indivíduos interessados na redução do peso. Porém, como a franquia
enfatiza “outra coisa importante de esclarecer é o mito de que produtos
light emagrecem: eles não têm esse efeito. Podem fazer parte da dieta de
quem deseja perder peso por terem menor valor calórico, e não porque
emagrecem”74.
Antes de prosseguir, vale fazer uma pequena ressalva histórica. O
Diabetes é uma doença que aflige a humanidade há anos, sendo que há
registros dessa enfermidade em papiros no antigo Egito75 . Não obstante,
tanto o mercado de produtos diet quanto de produtos light assistiu sua
emergência na década de 1970, e se consolidou na década de 1980, e
visa atender as demandas de consumidores interessados em restringir
açúcar e calorias da alimentação (BELASCO, 2007, p. 225). Enquanto a
restrição ao açúcar e as calorias são um pouco mais antigas, as próximas
restrições a serem discutidas fazem parte de um mercado que assiste sua
expansão nesse início do século XXI.
70 Disponível em: www.mundoverde.com.br/2011/11/07/diabetes/. Acesso em: 15/7/2014.
71Disponível em: www.mundoverde.com.br/2010/11/09/saiba-mais-sobre-a-diabetes-mellitus/.
Acesso em: 15/7/2014.
72 Idem.
73 Disponível em: www.mundoverde.com.br/2013/08/04/diet-e-light/. Acesso em: 15/7/2014.
74 Disponível em: www.mundoverde.com.br/2013/10/29/festival-diet-light/. Acesso em:
15/7/2014.
75 Disponível em: www.adj.org.br/site/internas.asp?area=9933&id=610. Acesso em: 15/7/2014.
81
2.3.2 Sem Glúten, Sem Lactose
Trataremos dessas duas restrições lado a lado. Em uma
publicação recente, organizada pelo antropólogo Claude Fischler (2013),
muitas páginas foram destinadas a discussão do impacto social das
alergias e intolerâncias alimentares. Dentro de uma gama de restrições
possíveis que abrange desde os frutos do mar até as nozes, a intolerância
ao leite e a alergia ao glúten apresentam-se como as mais difundidas.
De fato, o peso dessa demanda pode ser visto nas publicações da “loja
do bem-estar”, que não deixa de oferecer orientações quanto a essas
especificidades alimentares:
O glúten é uma proteína encontrada no trigo,
aveia, cevada, centeio e malte de cereais. Esses
alimentos, por serem fontes de glúten, comumente
causam reações alérgicas em um grande número
de indivíduos. Os alérgicos ao glúten são
chamados de celíacos.
Os celíacos não podem ingerir alimentos que
tenham glúten em sua composição ou processo de
fabricação. O glúten agride e danifica as
vilosidades do intestino delgado e prejudica a
digestão e absorção dos alimentos. A má absorção
torna-se um problema sério que resulta em perda
de vitaminas, minerais e calorias.
A doença não tem cura, mas tem tratamento que
consiste em dieta isenta de Glúten por toda a
vida.76
O parágrafo acima refere-se aos celíacos, que devem restringir
alimentos com glúten da dieta. Um texto parecido, produzido pelos
nutricionistas da franquia, pode ser visto no que tange à restrição à
lactose:
A intolerância à lactose é caracterizada pela
incapacidade de digerir o açúcar lactose,
ingrediente característico do leite materno, do leite
de vaca e de seus derivados. A digestão e
consequente absorção da lactose depende de uma
76 Disponível em: www.mundoverde.com.br/2012/04/24/viva-bem-sem-glúten/. Acesso em:
15/7/2014.
82
enzima, digestiva chamada lactase, produzida
pelas células da mucosa do intestino delgado. Na
ausência desta enzima, a lactose não é digerida e
nem absorvida acarretando diversas reações no
organismo, como: náuseas, diarreia, dores
abdominais, gases e desconforto.
A intensidade dos sintomas é decorrente da
quantidade de lactose ingerida e da tolerância de
cada pessoa. As reações podem ocorrer em
minutos ou levar algumas horas.
Quando nascemos temos enzima lactase em
abundância porém, com o passar dos anos sua
produção diminui. A intolerância pode acometer
recém-nascidos ou indivíduos adultos, permanente
ou temporariamente. O tratamento consiste apenas
na retirada total ou parcial de alimentos fonte de
lactose da dieta.77
Como argumenta o epidemiologista John Coveney, as razões para
este aumento da prevalência de alergias e intolerâncias no início deste
século ainda não são claras (2013, p. 79). Não obstante as possíveis
causas ambientais ou imunológicas, os fatores que contribuem para
reações alérgicas e sua prevalência são sujeitos à controvérsia
(COVENEY, 2013, p. 80).
No que tange à “loja do bem-estar”, vale destacar que as
respectivas alergias e intolerâncias implicam uma nova econômica
política, como bem argumenta Coveney. A necessidade de rotular
cuidadosamente os produtos listando qualquer ingrediente, bem como
abre possibilidades para inovações dentro da indústria alimentar, com
vistas a atender a demanda do público com restrições (Ibidem, p. 82).
O catálogo da “loja do bem-estar” apresenta “produtos isentos de
lactose, açúcar presente no leite e seus derivados. Indicados
principalmente para pessoas intolerantes a lactose ou que desejam retirar
o leite e seus derivados da dieta”78. A lista inclui: amaranto, barras de
cereais, barras de frutas, bebidas à base de arroz, bebidas a base de soja,
biscoitos e cookies, bolos e misturas para bolos, cereais integrais, chás e
ervas, chocolates, leite condensado de soja, creme de soja, doces e balas,
77 Disponível em: www.mundoverde.com.br/2009/10/27/intolerância-à-lactose/. Acesso em:
15/7/2014.
78 Disponível em: www.mundoverde.com.br/2013/08/04/sem-lactose/. Acesso em: 15/7/2014.
83
farinhas, frutas secas, e liofizadas, pães e torradas, quinoa, sementes e
oleaginosas, soja e derivados, sopas, sucos, e temperos, tofu79.
Quanto aos celíacos a franquia disponibiliza “produtos isentos da
proteína glúten, ou seja, que não contenham em sua formulação trigo,
aveia, centeio, cevada e malte. Indicados principalmente para pessoas
portadoras de doença celíaca ou para quem deseja retirar o glúten da
dieta”80. Aqui o catálogo incluí açúcares, adoçantes, barras de cereais,
barras de frutas, bebidas a base de soja, arroz, quinoa, biscoitos e
cookies, bolos e misturas para bolos, cereais integrais, chocolates, doces
e balas, farinhas à base de arroz, milho, quinoa, frutas secas e
liofilizadas, geléias, iogurtes à base de soja, massas, mel e derivados,
pães e torradas, produtos a base de amaranto, produtos a base de quinoa,
produtos a base de soja, sementes e oleaginosas, sopas, sucos, temperos
e ervas81.
Produtos sem glúten são “indicados principalmente para pessoas
portadoras de doença celíaca ou para quem deseja retirar o glúten da
dieta”. Por que um individuo que não porta a doença celíaca estaria
preocupado em retirar o glúten da deita? A própria franquia nos aponta
uma resposta.
Figura 15
Fonte: www.mundoverde.com.br/2013/05/14/dicas-de-alimentação-sem-glúten-14052013/
79 Idem.
80 Disponível em: www.mundoverde.com.br/2013/08/04/sem-glúten/. Acesso em: 15/7/2014.
81 Idem.
84
Observa-se nos produtos sem glúten uma situação semelhante à
dos produtos light e diet. Esses podem ser procurados por indivíduos
que necessitam restringir algo da dieta — como é o caso dos diabéticos
com o açúcar — mas também podem ser procurados por pessoas
interessadas em emagrecer. No caso dos produtos sem glúten, este já se
tornou um mercado em potencial para além dos celíacos, abrangendo
pessoas interessadas apenas na questão da perda de peso.
Esse bloco foi organizado em torno dos produtos,
disponibilizados pela “loja do bem-estar”, destinados a atender as
demandas de quem deve restringir algum ingrediente da sua
alimentação, lactose no caso dos intolerantes, glúten dos celíacos e
açúcar no caso dos diabéticos. O que chama atenção é que essas
demandas — mais especificamente sem glúten, light e diet — abrangem
um público para além do original que, grosso modo, limita-se a pessoas
interessadas em emagrecer. O que deve ficar marcado desse bloco é a
relatividade e/ou abrangência do bem-estar. Se, para alguns indivíduos,
um ingrediente é uma questão de saúde, para outros é um luxo do qual
podem se dar o prazer de abdicar.
2.4 Kosher e Orientais
Duas categorias de alimentos aparecem pouco no discurso da loja
do bem-estar, mas estão presentes no seu catálogo de produtos. São elas
as dos os alimentos Kosher e os alimentos orientais. Apesar de serem
categorias distintas, analisamos aqui em conjunto uma vez que,
diferentemente da vasta quantidades de produtos relacionados de alguma
maneira com o corpo ou a saúde, essas duas categorias apresentam, em
principio, um apelo mais cultural do que físico.
De acordo com a franquia “produtos com selo Kosher têm sua
produção supervisionada por um rabino, o que os torna alimentos
autorizados para consumo conforme as leis judaicas”82. Kosher, Kasher
ou Cásher é a definição dada aos alimentos preparados de acordo com
as leis judaicas de alimentação (denominada de kashrut), e encontradas
na Bíblia Sagrada ou na Tora (CODIGNOLI, 2003, p. 2). As restrições
alimentares, como a designação de animais puros e impuros; a proibição
do consumo de misturas com carne e leite, e consumo de sangue, são
citadas na Bíblia. Para ser kosher, a comida tem de obedecer alguns
82 Disponível em: www.mundoverde.com.br/2013/08/04/alimentos-kosher/. Acesso em:
15/7/2014.
85
requisitos básicos encontrados na Torá. Não nos deteremos aqui em
maiores especificações da religião judaica. O que cabe reparar é na
intencionalidade da loja do bem-estar em atender essa demanda, ainda
que ela não seja muito o foco de seu discurso. Não obstante, seu
catálogo de produtos kosher é expressivo e incluí achocolatados, açúcar
mascavo e orgânico, adoçantes, barras de cereais, bebidas de soja,
biscoitos, bolos, cereais integrais, chás, chocolates, condensado de soja,
doces e balas, ervas e temperos, farinhas sem glúten, frutas secas e
oleaginosas, geléias, gergelim, granolas, linhaça, massas sem glúten,
mel e derivados, pães e torradas, sucos de frutas83, todos com o
respectivo selo que garante o seu enquadramento nas leis judaicas84.
Diferentemente dos alimentos Kosher, restrito aos adeptos do
judaísmo, a categoria oriental não se restringe a um consumidor
especifico, bem como não precisa de um selo que legitime essa
condição. O catálogo da franquia refere-se a eles como “alimentos e
produtos típicos da cultura oriental. Naturais e saudáveis, são boas
opções para alimentação diferenciada.”85. A descrição é pequena, mas
cabe reparar no apelo feito para correlação entre oriental e
natural/saudável. E como citado, eles estão disponíveis para todos
interessados em uma alimentação diferenciada. Dentro dessa categoria o
catálogo inclui algas diversas, ameixa, umeboshi, arroz para sushi,
banchá, biscoito da sorte, feijão azuki, gengibre em conserva, missô,
saquê, sementes de gergelim, shitake, shoyo, soja e derivados, tofu,
vinagre de arroz e wasabi86.
Como já mencionado tanto os alimentos Kosher quanto os de
origem oriental não estão tão presentes no discurso da franquia quanto
as várias outras categorias de alimentos aqui já citadas (orgânicos,
funcionais, sem-glúten, suplementos). Entretanto é possível pegar
exemplos de uma dessas categorias do catálogo e observar a sua
presença isolada no discurso da franquia. Abaixo segue uma referência a
soja e os benefícios que ela pode trazer aqueles que a consomem:
Considerada um grão sagrado, a soja faz parte da
alimentação chinesa há cerca de cinco mil anos.
Até os dias de hoje, a soja é tida no Oriente como
um alimento básico.
83 Idem.
84 Idem.
85 Disponível em: www.mundoverde.com.br/2013/08/04/oriental/. Acesso em: 15/7/2014.
86 Idem.
86
Muito versátil, encontramos na composição desta
leguminosa vários componentes que produzem
efeitos benéficos à saúde: proteínas de alto valor
biológico, fibras, vitaminas do complexo B,
vitamina E, ácido fólico, minerais como ferro,
cálcio, fósforo e potássio, além de fitoesteróis e
isoflavonas. Seu teor de carboidratos é
relativamente baixo, além de possuir baixo teor de
gorduras saturadas e alto teor de gorduras
poliinsaturadas. Não contém colesterol.
Diversas pesquisas demonstram que o consumo de
soja reduz o risco de doenças cardiovasculares,
diabetes, aterosclerose, colesterol elevado,
osteoporose, alguns tipos de câncer como o de
mama, colo do útero e próstata, constipação
intestinal, além de auxiliar no tratamento de uma
série de doenças crônicas.87
A menção à soja aqui é bastante emblemática. Ela é um alimento
vindo da China, ou seja, um produto típico da cultura oriental. Para além
disso, sua presença também é mencionada na parte do catálogo que se
refere aos alimentos Kosher. Não obstante, a variedade de benefícios
alegados na citação acima permite enquadrá-la entre os alimentos
funcionais tranquilamente, sem falar no consumo de seus derivados
pelos alérgicos a lactose (o famoso leite de soja). Ela pode ser
encontrada com rótulo orgânico ou não, no seu estado in natura ou em
uma variedade de produtos processados feitos à base de (soja). Um
produto pode se enquadrar em mais de uma categoria.
Diagnosticadas toda essa pequena série de divergências, para não
dizer contradições, é possível dizer qual o alimento exato que manterá o
bem-estar do indivíduo? Não é hora de resolver a questão agora. É
necessário prosseguir um pouco mais e evidenciar que o bem-estar,
como oferecido pela Mundo Verde, não se limita à alimentação.
87 Disponível em: www.mundoverde.com.br/2011/03/04/a-soja-e-seus-benef%C3%ADcios/.
Acesso em: 15/7/2014.
87
2.5 O Bem-estar para além da alimentação:
cosméticos, esotéricos, presentes
A maior parte do catálogo da “loja do bem-estar” envolve
alimentos. O que leva a deduzir que a comida é, não apenas, o “carro
chefe” de vendas da franquia, como também a principal via para os
clientes atingirem o bem-estar. Das 14 categorias que aparecem no
catálogo da franquia, 3 não se referem à alimentação. São elas:
decoração e presentes; cosméticos; e livros, cds e dvds. E é sobre elas
que discorreremos um pouco mais abaixo.
Cosméticos: segundo a descrição da franquia, ela disponibiliza
“cosméticos naturais, com base vegetal, frutas amazônicas, orgânicos,
hipoalergênicos”88. Cabe reparar nessa breve descrição o apelo
(novamente) a ideia do natural e também, principalmente, a correlação
feita do natural com os produtos de origem vegetal. Uma correlação
muito semelhante aquilo que já foi exposto mais acima sobre os
alimentos naturais.
A lista de “cosméticos naturais” da franquia abrange argilas,
colorantes naturais, cosméticos infantis, cosméticos masculinos, cuidado
capilar, cuidado do corpo, cuidado do rosto, cuidados das mãos e pés,
cuidados específicos, dentifrícios, desodorizantes, maquiagem natural,
óleos essenciais, produtos para proteção solar, protetor labial89. Para
além dessa lista é válido trazer aqui um exemplo da publicidade da “loja
do bem-estar” quanto esse tipo de produto. Como pode ser visto no
trecho mais abaixo, bem-estar pressupõe, além de uma boa alimentação,
que os produtos utilizados, tanto para limpar o corpo, como para
embelezá-lo, não causem danos ao mesmo (ou seja, não contenham
riscos). Dentro dessa lógica, o cosmético natural apresenta-se como a
melhor alternativa:
No mundo contemporâneo, as empresas de
higiene e beleza perceberam que atender à
diversidade é a melhor forma para chegar à
beleza, assegurar a jovialidade e proporcionar
bem-estar.
Acompanhando essas novidades, a rede Mundo
Verde, cada dia mais, investe em cosméticos
saudáveis – aqueles em cuja produção entram
88 Disponível em: www.mundoverde.com.br/2013/08/04/cosméticos/. Acesso em: 15/7/2014.
89 Idem.
88
apenas fragrâncias e corantes naturais; e
ingredientes de origem vegetal, sendo que nada de
transgênicos, aditivos químicos, conservantes,
derivados de petróleo. Isso sem falar naqueles
obtidos através de sacrifícios e testes feitos em
animais.
Hoje, além de uma alimentação equilibrada, as
pessoas querem utilizar produtos cosméticos que
reflitam saúde e bem-estar, seja pela pureza dos
seus ingredientes ou pelo respeito ao meio
ambiente.
É importante ressaltar que o que é aplicado na
pele é absorvido pelo corpo, portanto, a qualidade
é fundamental. Os produtos chamados naturais
devem conter entre 5 e 70% de ingredientes
orgânicos em sua formulação. Por isso ler as
especificações na embalagem é importante.
O que mais caracteriza um cosmético
ecologicamente correto é que, além de o produto
não conter substâncias poluentes, este deve ter
sido fabricado com matérias-primas certificadas
oriundas de áreas extrativistas, não utilizando
insumos de origem animal e nem deve ser testado
em animais.90
O trecho acima é emblemático da correlação feita entre
cosmética, natureza, e saúde. Porém nele é possível perceber também as
questões já debatidas no capítulo 1 quanto ao peso da responsabilidade
socioambiental. Uma questão recorrente no discurso da franquia e de
grande importância estratégica.
Deixemos um pouco de lado essa categoria de produtos não
alimentares e passemos para outra que também não envolve alimentos,
mas que, em principio, aparente-se longe de qualquer referência ao
natural: Cds, Dvds e livros. De acordo com a franquia, aí se encontram
“itens de auto-ajuda, relaxamento e bem-estar” 91.
90 Disponível em: www.mundoverde.com.br/2010/01/26/cosméticos-naturais-e-conscientes/.
Acesso em: 15/7/2014.
91 Disponível em: www.mundoverde.com.br/2013/08/04/cd´s-dvds-e-livros/. Acesso em:
15/7/2014.
89
Segundo a descrição, nessa categoria se encontram produtos de
autoajuda, indianos, instrumental, meditação, new age, reike,
relaxamento, shiatsu, sons da natureza, tai chi chuan, ioga, cds, dvds, e
livros92. Parte expressiva deles relaciona-se a questões, ou talvez
demandas, espirituais. E aqui se abre a questão, para além da
alimentação, e dos cuidados com o corpo físico como um todo, a busca
pelo bem-estar também passa por questões espirituais?
Deve-se frisar que a publicidade desse tipo de produto não é
muito visível no discurso da franquia (seja na newsletter, no facebook,
no blog). Ainda sim, é possível encontrar algumas menções isoladas que
evidenciam a busca por esse tipo de produto na “loja do bem-estar”. É o
caso da sua unidade da franquia na cidade de Salvador:
Quem sai ganhando são os clientes e amigos que
terão uma loja espaçosa e confortável, e uma
variedade ainda maior do seu mix de produtos. A
maior oferta de produtos será focada não só em
alimentação saudável, ramo principal da rede em
todo o País, mas também em joias em prata,
objetos de decoração e esotéricos, muito
consumidos em Salvador. “A demanda da região é
bem grande e o público baiano se identifica tanto
com os alimentos, quanto com os produtos de
esoterismo comercializados pela rede”, constata
Marcos Leite, diretor de expansão e operações da
rede.93
A última categoria (que não envolve alimentos) engloba alguns
produtos da categoria anterior. “Decoração e Presentes”. Segundo a
franquia ai se encontram “itens de decoração, artesanatos para presentes,
feitos com produtos naturais e provenientes da prática do comércio
justo”94. A lista em questão também é ampla, e abrange bijuterias,
cristais, fontes, incensários, jardins, zen, luminárias, objetos de material
reciclado, objetos orientais, pedras decorativas, plantas, hidrocultura,
bulbos, porta retratos, porta velas, sementes e bonsais, velas
decorativas95. Para além das bijuterias, dos cristais e do zen, vale reparar
92 Idem.
93 Disponível em: www.mundoverde.com.br/2012/09/04/mundo-verde-amplia-e-muda-ponto-
de-loja-em-salvador//. Acesso em: 15/7/2014.
94 Disponível em: www.mundoverde.com.br/2013/08/04/decoração-e-presentes/. Acesso em:
15/7/2014.
95 Idem.
90
nas menções aos “produtos naturais”, objetos feitos com material
reciclado e com material advindo do reflorestamento. Não obstante, é
ressaltado o apreço da franquia pela prática do comércio justo.
O Comércio Justo é definido por Wilkinson como uma parceria
comercial baseada no diálogo, transparência e respeito, que busca maior
equidade no comércio internacional (2007, p. 222). Visa contribuir para
o desenvolvimento sustentável, oferecendo melhores condições
comerciais, e garantir os direitos dos produtores e trabalhadores
marginalizados, especialmente no sul do país. As organizações de
Comércio Justo estão envolvidas ativamente no apoio aos produtores,
sensibilização, e nas campanhas para mudanças nas regras e práticas do
comércio internacional convencional (Idem). Desse modo, ele propõe
maior atenção (para não dizer monitoramento) perante as práticas
comerciais, com vistas impedir a injustiça nessas relações.
Vale observar como a franquia se define como um arauto dessa
prática. Nos seus próprios dizeres, “O Mundo Verde aposta numa nova
maneira de promover o comércio de justo e solidário faz tempo”96.
Ainda em 2008, pouco antes de deixar a liderança da franquia o ex-
proprietário da franquia, Jorge Antunes enfatizou:
Acreditamos que o movimento crescente do
comércio justo no Brasil está fundamentado na
percepção de que nosso mundo precisa mudar. O
comércio justo, ético e solidário virou um
conceito importante no mundo globalizado e no
Mundo Verde. É um novo modelo de relação
comercial, baseado no tripé ambientalmente
correto, socialmente justo e economicamente
viável“ 2002.97
O que é importante observar aqui é como a questão do comércio
justo conecta-se a questão da sustentabilidade, que por sua vez, insere-se
dentro da normatividade do contexto mercadológico contemporâneo, o
qual preza por isso como foi apresentado no primeiro capítulo. Quanto à
isso a loja do bem-estar parece estar bem atenta. Como citado no
primeiro capítulo, para o atual diretor da franquia “ser sustentável é ter
preocupação com toda a cadeia”, de maneira que um dos seus principais
objetivos para o futuro da empresa era “garantir que cem por cento dos
96 Disponível em: www.mundoverde.com.br/2008/08/19/mundo-verde-vai-ampliar-a-prática-
do-comércio-justo/. Acesso em: 15/7/2014.
97 Disponível em: www.mundoverde.com.br/2008/08/19/mundo-verde-vai-ampliar-a-prática-
do-comércio-justo//. Acesso em: 15/7/2014.
91
produtos que o Mundo Verde está vendendo estão sendo monitorados”
98.
Abordamos aqui uma lista ampla de produtos não alimentares
disponibilizados pela “loja do bem-estar”. Desde esotéricos até livros de
auto-ajuda, passando por cosméticos naturais. Feita essa longa
contextualização é possível achar um eixo de convergência entre esses
vários produtos? Em que medida todos eles dizem respeito ao bem-
estar? Aqui vale retomar as considerações de Magnani sobre aquilo que
ele designou como um estilo de vida neo-eso dentro do Brasil. Ele
abrange um público consumidor formado por pessoas escolarizadas, de
bom poder aquisitivo, sensíveis ao argumento da qualidade de vida e
interessadas por temas tão diversos, como filosofias orientais, ecologia,
terapias soft (1999, p. 18).
Ainda que a “loja do bem-estar” seja capaz de atender a demanda
do público ao qual Magnani se refere, o seu leque de produtos extrapola
esse público, abrangendo muitos outros. É sobre isso que focaremos
atenção mais abaixo.
2.6 O bem-estar como estilo de vida
Após esse mergulho no catálogo da franquia, bem como nas
especificidades dos alimentos que ela disponibiliza ao consumidor, nos
deteremos nas falas dos seus proprietários, para observar o que eles têm
a dizer sobre essa grande variedade de produtos disponibilizada pela
Mundo Verde.
Começamos com a fundadora e ex-proprietária Isabel Maria
Antunes Joffe. Isabel concedeu uma entrevista no inicio de 2009, para
um site especializado em gastronomia, pouco antes de passar a franquia
para as mãos do atual proprietário, Sérgio Bocayuva. Ao ser indagada
quais eram produtos mais consumidos nas lojas, Isabel respondeu de
forma curta e direta: “cereais integrais, sucos, chás e produtos diet e
light”99. Não obstante a brevidade dessa resposta, o entrevistador
prossegue e explana mais à frente “há muitas opções de produtos
vendidos nas lojas Mundo Verde, como os fitoterápicos, os orgânicos,
funcionais”, encerrando com o seguinte pedido “podem nos explicar
qual é a diferença entre eles”.
98 Disponível em: www.empresaspeloclima.com.br/index.php?r=noticias/view&id=195324.
Acesso em: 15/7/2014.
99 Disponível em: www.gastromania.com.br/artigos.php?codigo=283. Acesso em: 15/7/2014.
92
A palavra fitoterápico vem do grego onde phyton
é planta e terapia, tratamento. Então os
fitoterápicos são ervas com propriedades
medicinais, usadas na forma de chás em
tratamentos. Os orgânicos são aqueles alimentos
cultivados sem fertilizantes químicos ou
agrotóxicos. São resultado de um sistema de
produção agrícola que usa de maneira equilibrada
os recursos naturais e humanos. São mais
saborosos e nutritivos que os cultivados de
maneira convencional. Através da agricultura
orgânica o consumidor tem acesso a alimentos que
promovem saúde e a preservação do planeta. Os
alimentos funcionais são aqueles que, além de
suas funções nutricionais, possuem funções
fisiológicas com ação na promoção de saúde e
prevenção de doenças, se incluídos no hábito
regular. É o caso da soja, da linhaça, do tomate,
dos peixes de água fria, do alho etc.100
A ex-proprietária da Mundo Verde fornece uma descrição
detalhada dos produtos da loja. Entretanto, cabe observar a ausência de
algumas categorias já mencionadas como os suplementos, os alimentos
sem glúten ou sem lactose. Tal ausência abre margem para questionar se
a Mundo Verde já trabalhava com essas categorias na época da antiga
proprietária. Antes de resolver tal questão, vale se deter sobre mais um
trecho da referida entrevista. Ao ser indagada se “atualmente as pessoas
estão se preocupando mais em ter uma vida saudável”, Isabel declarou:
Sim. Percebemos que a cada dia as pessoas se
preocupam mais com a alimentação e saúde. Ter
hábitos de vida saudável é o primeiro passo para
viver mais e melhor. Percebemos uma crescente
busca por informações, tanto sobre novos
produtos, quanto para o tratamento e prevenção de
doenças como diabetes e hipertensão, entre outras.
Portanto, priorizamos a constante comunicação
com o nosso público final, com o objetivo de
sempre atender às suas necessidades.101
100 Idem.
101 Idem.
93
A preocupação dos consumidores com a sua saúde transparece na
fala da ex-proprietária. Comer bem para evitar os riscos aos quais a
saúde humana está sujeita. Essa parece ser a principal motivação do
consumidor que entra na loja da Mundo Verde desde o ponto de vista da
representante da franquia.
Deixemos um pouco de lado essa declaração de Isabel para
retomá-la daqui a pouco. Voltemo-nos agora para uma declaração um
pouco mais recente, fornecida pelo atual proprietário da franquia, Sérgio
Bocayuva. Em uma entrevista concedida ao Jornal Estado de São Paulo
em 2011 (2 anos após assumir a franquia), Sérgio foi perguntado: “Qual
o carro chefe da Mundo Verde, qual que é o mais vendido”. Abaixo
segue a resposta do proprietário da “loja do bem-estar”:
Olha, é uma pergunta difícil de responder, deixa
eu explicar porque. Eu tenho na realidade uma
diversidade de Mundo Verdes pelo Brasil. Você
vai dizer “mas que que é isso?”. Se eu for numa
loja do norte, do nordeste, eu tenho um peso
talvez de 40%, 60% em produtos esotéricos. Aí o
esotérico vai desde uma imagem de santo a um
produto de bem-estar de um incenso, a um livro,
uma música diferencia, enfim. Tem vários tipos de
produtos né. Há pedras, que passam energia, quer
dizer você tem uma gama enorme de produtos. Se
eu for pro Rio de Janeiro eu já tenho lojas que tem
o suplemento alimentar, talvez em algumas lojas,
como carro chefe. Ou salgados também. Eu tenho
lojas do Rio de Janeiro que vendem 2, 3 mil
salgados por dia. Salgados integras, né. Quando
eu venho para São Paulo, eu já to muito mais
focado na alimentação natural. Eu já não tenho o
esotérico ligado às imagens de santo vamos dizer
assim, até tenho esotérico ligado a pedra, uma
coisa mais diferenciada. Então, é complicado,
quer dizer, você falar assim. Agora eu tenho
categorias que são muito fortes: light, diet, sem
glúten, e aí eu tenho linhaça, eu tenho ração
humana. O que o mundo verde faz é trazer
inovações. 102
102Disponível em: http://economia.estadao.com.br/videos/videos%2cservico-e-variedade-sao-
as-armas-da-mundo-verde-diz-sergio-bocayuva-2%2c130891%2ca%2c0.htm. Acesso em:
15/7/2014.
94
Cabe reparar que Bocayuva faz menção a categorias como sem
glúten e suplemento alimentar, categorias essas que não aparecem na
fala da antiga proprietária da Mundo Verde. De volta a fala de
Bocayuva, deve-se frisar o quanto ela é emblemática da pluralidade de
demandas que a franquia busca atender. “Eu tenho na realidade uma
diversidade de Mundo Verdes pelo Brasil”. É interessante observar que
algumas demandas variam de região para região. Mundo Verde é a
primeira franquia a se difundir por todo o país disponibilizando
“produtos naturais”, light, diet, sem glúten, sem lactose, suplementos,
funcionais. As demandas podem oscilar de região para região, de
unidade para unidade. Mas ainda assim, a “loja do bem-estar” tem o seu
catálogo de produtos com os quais ela trabalha. Todos são abarcados por
aquilo que ela delimita como bem-estar.
Na mesma entrevista, Bocayuva foi indagado “em comparação
com o resto do mundo o Brasil ainda tá atrasado no consumo de
produtos naturais? Ou já dá para dizer que o brasileiro incorporou esses
itens nas suas refeições?”. Suas respostas evidenciam questões
importantes:
Na realidade, quando você olha pro mundo, como
referência você tem o Whole Foods no mercado
americano. (...) Fora o Whole Foods, não é
prepotência minha, mas você não tem nenhuma
referencia mundial. Você tem o Whole Foods, tem
o Mundo Verde, e depois do Mundo Verde você
tem pequenas redes que não chegam a 10, 15, 20
lojas. O que acontece no Brasil, é que o mercado
orgânico ainda não aconteceu. Diferentemente do
mercado americano, o mercado americano você já
tem uma cadeia de suprimentos bem mais
fortalecida.103
A comparação com a rede de supermercados Whole Foods é
emblemática. Fundada em 1980, é hoje uma das maiores cadeias
americanas de supermercados de produtos orgânicos, sendo que no
início dos anos 2000 ela já contava com 140 lojas nos Estados Unidos e
no Canadá e um faturamento de 2,2 bilhões de dólares (GUIVANT,
2003, p. 66). Feita essa observação do proprietário da franquia, é válido
ressaltar que ela mesma se define como “a maior rede de lojas de
103 Disponível em: http://economia.estadao.com.br/videos/videos%2cservico-e-variedade-sao-
as-armas-da-mundo-verde-diz-sergio-bocayuva-2%2c130891%2ca%2c0.htm. Acesso em:
15/7/2014.
95
produtos naturais, orgânicos e bem-estar da América Latina”. Se seu
próprio proprietário enfatiza que o mercado orgânico não é tão forte
assim no Brasil, o que sobra para ela? Obviamente, o mercado do bem-
estar, muito mais amplo e muito mais variado. O rótulo orgânico pode
ter o seu público e gerar seus dividendos. Mas para além disso ele se
diluí em meio aos vários produtos que podem ser rotulados como
naturais — fitoterápicos, integrais, mel, e em algumas ocasiões, os
funcionais — e o natural se diluí no bem-estar. O que é apenas o
mercado de orgânicos para uma franquia que tem por ambição o bem-
estar em toda sua amplitude?
Feita essa constatação, podemos levantar aqui a hipótese de que o
Mundo Verde teria se lançado no mercado dos suplementos alimentares
(hiperproteicos, termogênicos, ergogênicos) bem como no mercado
emergente das restrições alimentares (sem glúten, sem lactose) para
abarcar um público maior. Isso é provável de ter ocorrido na passagem
da propriedade da franquia da família de Isabel para as mãos do Axxon,
o fundo de Private Equity que designou Bocayuva para liderança da
franquia. É de se esperar que uma pequena empresa de origem familiar
torne-se mais ambiciosa ao ser englobada por um gigante do capital
financeiro.
No histórico que a franquia disponibiliza em seu site oficial
afirma-se que “o segredo de sucesso do Mundo Verde não está
simplesmente na grande diversidade de produtos, mas em oferecer um
conceito completo em alimentação e vida saudável”104. Essa afirmação é
complementada por uma citação da fundadora da franquia Isabel Joffe
que atesta:
Nosso conceito e filosofia formam uma perfeita
união com os anseios dos clientes, que entram em
nossas lojas essencialmente para compartilhar
ideais. O Mundo Verde virou um estilo de vida, de
coisas positivas, saudáveis e boas para o planeta.
Para nós, antes de ser um grande negócio, é um
modo de olhar a vida e o mundo.
Seria a Mundo Verde a propagadora de um estilo de vida? Vale
começar conceituando um pouco melhor a expressão “estilo de vida”.
Giddens usa esta categoria para interpretar problemas recentes
consequentes da modernidade. De acordo com esse sociólogo, nas
condições da alta modernidade existe uma primazia do estilo de vida —
104 Disponível em: www.mundoverde.com.br/historia/. Acesso em: 15/7/2014.
96
e sua inevitabilidade para o agente individual. A noção de estilo de vida
soa um tanto trivial porque muitas vezes é pensada apenas em termos
de um consumismo superficial — estilos de vida como os sugeridos
pelas imagens da publicidade (GIDDENS, 2002, p. 70). Giddens se
distancia do senso comum ao definir os estilos de vida como práticas
rotinizadas, incorporadas em hábitos de vestir, comer, modos de agir,
sendo que as rotinas seguidas estão reflexivamente abertas à mudança à
luz da natureza móvel da identidade (Ibidem, p. 80). Cada uma das
pequenas decisões que uma pessoa toma todo dia contribuem para essas
rotinas, de maneira que todas essas escolhas são decisões não só sobre
como agir mas também sobre quem ser. Logo, um estilo de vida é um
“conjunto mais ou menos integrado de práticas que um indivíduo
abraça, não só porque essas práticas preenchem necessidades utilitárias,
mas porque dão forma material a uma narrativa particular da auto-
identidade” (Ibidem, p. 79).
Feita essa conceituação, podemos argumentar que a Mundo
Verde trabalha com as escolhas do consumidor, e que fornece material
(produtos) para que ele de forma, ou implemente, o seu estilo de vida.
Entretanto, em função da variedade de produtos disponibilizados pela
franquia, podemos dizer que ela trabalha com diversos sub-estilos de
vida (esportistas, pessoas com problemas de saúde, consumidores
ambientalmente preocupados, etc.). Assim, a franquia oferece produtos
orgânicos para quem quer evitar os agrotóxicos, sem glúten para
celíacos, produtos sem lactose para os alérgicos a lactose, produtos diet
para diabéticos, suplementos alimentares para pessoas que tem
deficiência de alguma vitamina, ou ainda que são praticantes de
atividade física, querem melhorar seu rendimento, ganhar massa
muscular, ou queimar calorias (termogênicos).
Para além dessas conexões mais simples, vale pensar a
pluralidade de consumidores que possivelmente “passeia” entre essas
categorias, seja para “manter a forma”, ou para diminuir os riscos de
patologias, pautados na crença de que a prevenção, via alimentação, é o
melhor remédio. Isso tudo apenas na lista de alimentos, aparentemente o
que a franquia mais vende. A variedade de produtos esotéricos (cds,
livros, bijuterias) ou sustentáveis (cosméticos, presentes) que podem
tanto ser consumidos por um comprador regular desses produtos quanto
por qualquer consumidor que entre em uma loja da franquia atrás da sua
variedade de alimentos saudáveis.
Chegamos ao momento em que enfrentamos nosso principal
problema de análise: a indeterminação da palavra bem-estar.
97
2.7 A ambivalência do conceito bem-estar
A variedade de produtos oferecidos pela “loja do bem-estar”
revela a própria indeterminação da palavra bem-estar, uma vez que ela é
usada para se referir a demandas que variam conforme os anseios e
desejos de cada consumidor. Demandas essas que não escapam as
ambições da franquia. Logo o que está em jogo é a própria
indeterminação do termo bem-estar, que pode muito bem ser
caracterizada como produto da ambivalência. Esta seria uma das marcas
da recente vida moderna, como diagnosticado pelo sociólogo Zygmunt
Bauman. Vale se aprofundar um pouco mais nesse conceito, uma vez
que ele nos permite compreender melhor a indeterminação do bem-estar
como oferecido pela “loja do bem-estar”.
Como coloca o sociólogo mencionado “a ambivalência,
possibilidade de conferir a um objetivo ou evento mais de uma
categoria, é uma desordem específica da linguagem, uma falha da
função nomeadora (segregadora) que a linguagem deve desempenhar”
(BAUMAN, 1999, p. 9). Não obstante, tal desordem não é culpa
necessariamente da linguagem, mas sim dos usos feitos dela pelos
agentes. Como prossegue Bauman:
E no entanto a ambivalência não é produto da
patologia da linguagem ou do discurso. É, antes,
um aspecto formal da prática linguística. Decorre
de uma das principais funções da linguagem: a de
nomear e classificar. Seu volume aumenta
dependendo da eficiência com que essa função é
desempenhada (Ibidem, p. 9).
Nesse sentido, o problema do bem-estar não seria um problema
da palavra em si, mas sim dos usos feitos dessa palavra por diferentes
atores sociais. No caso em questão, o problema seria o uso abrangente
desse conceito pela franquia, que ao considerar a si própria como a “loja
do bem-estar”, abarca uma gama de categorias relativamente distintas.
Vale citar Bauman mais uma vez para melhor dar forma ao problema:
Classificar significa separar, segregar. Significa
primeiro postular que o mundo consiste em
entidades discretas e distintas; depois, que cada
entidade tem um grupo de entidades similares ou
próximas ao qual pertence e com as quais
conjuntamente se opõe a algumas outras
98
entidades; e por fim tornar real o que se postula,
relacionando padrões diferenciais de ação a
diferentes classes de entidades (a evocação de um
padrão de comportamento específico tornando-se
a definição operacional de classe) (Idem).
A “loja do bem-estar” não segrega, ou falha ao segregar (e se
falha, falha intencionalmente). O seu conceito de bem-estar abarca uma
série de entidades discretas e distintas, que não são tão próximas e que,
de certa maneira, se opõem umas as outras. Alimentos orgânicos não são
suplementos alimentares, assim como alimentos diet, light, sem glúten,
sem lactose não precisão ser necessariamente orgânicos, muito menos
naturais.
De acordo com Bauman “a função nomeadora/classificadora da
linguagem tem, de modo ostensivo, a prevenção da ambivalência como
seu propósito”. Desse modo, “O desempenho é medido pela clareza das
divisões entre classes, pela precisão de suas fronteiras definidoras e a
exatidão com que os objetos podem ser separados em classes” (Ibidem,
p. 10).
Como o referido sociólogo enfatiza “a ambivalência é um
subproduto do trabalho de classificação e convida a um maior esforço
classificatório” (Ibidem, p. 11).
No caso em questão, a ambivalência do conceito de bem-estar é
um subproduto da classificação operacionalizada pela Mundo Verde.
Mas a franquia não parece interessada em um maior trabalho
classificatório, uma vez que o seu forte aparenta ser justamente a
abrangência do seu conceito de bem-estar, que abarca diferentes
interesses, de diferentes consumidores (assim como diferentes estilos de
vida).
Para o sociólogo da ambivalência, o seu principal sintoma seria o
agudo desconforto que sentimos quando somos incapazes de ler
adequadamente uma situação e optar entre as alternativas disponíveis
(Ibidem, p. 9).
Paradoxalmente, a pluralidade de produtos disponibilizados pela
“Loja do Bem-Estar”, bem como as contradições que levantamos aqui,
não parecem ser um problema para os seus clientes (um número que
aumenta, se levarmos em conta o crescimento em unidades da franquia).
Nesse sentido, eles não parecem padecer do desconforto consequente da
ambivalência, como identificado por Bauman. Porém essa é uma
questão a ser analisada no próximo capítulo.
99
Esse capítulo deteve-se na variedade de produtos que a “Loja do
Bem-Estar” disponibiliza aos consumidores. Além de descrevê-lo e
situa-lo, tentou localizar certas contradições presentes no catálogo.
Apontando para a ambivalência do conceito de bem-estar da franquia. A
Mundo Verde oferece uma variedade de produtos abarcados pelo seu
conceito de bem-estar. Uma vez que o bem-estar não tem um significado
preciso, é possível para a franquia significar muitas coisas dentro dele.
E a partir desses produtos podemos identificar os significados dados ao
conceito de bem-estar. Na próxima etapa, mostraremos como a franquia
lida essa ambivalência. Ou melhor, a neutraliza, de maneira que seu
conceito de bem-estar possa abarcar uma variedade de produtos com
tranquila flexibilidade.
O próximo capítulo versará sobre a autoridade dos especialistas,
que permitem à loja do bem-estar significar uma variedade de categorias
dentro desse conceito. A Mundo Verde é um mundo de possibilidades.
Mas todas as possibilidades são certificadas pelos especialistas que para
ela trabalham.
100
3. O PAPEL DOS SISTEMAS PERITOS
O capítulo anterior explorou a diversidade de produtos oferecidos
pela Mundo Verde, e a decorrente ambivalência daquilo que ela
apresenta aos consumidores como bem-estar. Grande parte do discurso
da franquia explorado no capítulo anterior leva o aval dos profissionais
especialistas da área que trabalham para a franquia. Uma vez que o
objetivo do capítulo anterior era a diversidade de produtos e a
decorrente ambivalência que pode ser encontrada dentro dessa
diversidade, não nos detivemos dentro de uma discussão mais apurada
sobre o papel desses especialistas. O capítulo que segue aborda
justamente a centralidade dos especialistas que atuam junto à franquia,
legitimando os produtos que ela oferece dentro daquilo que apresenta
como bem-estar. Para tanto, o capítulo também discute o peso dos vários
canais de comunicação mantidos pela franquia, onde ela não apenas se
mantém em constante contato com o consumidor, mas também através
dos quais os seus especialistas atuam.
3.1 Qualificando o bem-estar via web
Desde sua fundação em 1987 até 2009 a Mundo Verde teve como
proprietários a família Antunes. Ou seja, durante 22 anos a empresa foi
uma propriedade familiar. Esse quadro mudou em 2009 quando a
franquia foi comprada pelo Fundo de Private Equity Axxon.
Essa mudança nos gestores teve grande impacto na sua estrutura
como um todo. Uma vez que a atual gestão é composta por um fundo de
investidores, era de se esperar que mais capital fosse injetado na
franquia e consequentemente ela crescesse em números, sendo que
atingiu o patamar que está agora. Para além disto a grande
transformação a ser destacada aqui se deu no âmbito da comunicação e
da publicidade.
O ator que personifica essa nova gestão da franquia é o ex-
banqueiro Sérgio Bocayuva, membro do fundo Axxon e nomeado para a
presidência da franquia. Pouco após assumir a presidência Bocayuva
concedeu uma entrevista para o jornal “O Globo” com o intuito de
comentar as mudanças na gestão da franquia. Quando perguntado se a
101
família (os antigos donos) fez algum investimento em marketing,
Bocayuva foi direto ao ponto: “Em 23 anos de existência, a Mundo
Verde nunca investiu R$ 1 em marketing105.
Com a atual gestão esse quadro passou por uma mudança abrupta.
Esta pode ser observada na narrativa com a qual se apresenta a franquia
em um de seus veículos de informação oficial. Narrativa esta que não
deixa de ressaltar o seu pioneirismo, como pode-se observar mais
abaixo:
A página da empresa na internet recebe mais de
300 mil acessos/mês, que geram mais de um
milhão de cliques. Clientes cadastrados no site
recebem semanalmente a newsletter eletrônica,
mais de 90.000 pessoas cadastradas, que trás
informações sobre alimentação e hábitos para uma
vida mais saudável. (…) A empresa - que inovou
ao trazer para o Brasil uma tendência que já era
sucesso no exterior - continua apostando na
inovação para se renovar a cada dia, ao longo
desses 27 anos. Foi uma das primeiras redes de
franquia a utilizar as redes sociais como estratégia
de marketing. Hoje, está presente no Facebook
(com mais de 450 mil fãs), You Tube e Twitter,
além de ter criado o Blog Mundo Verde,
atualmente com mais de 80.000 acessos por
mês. (…) A Revista Mundo Verde, publicação
quadrimestral focada em matérias sobre Esportes,
Meio Ambiente, Alimentação, Ecoturismo e
Informação, é distribuída gratuitamente nas lojas
da rede (grifos do autor) .106
Uma vez que entraram mais investimentos na franquia, parte
desse capital foi direcionado para o marketing. Ação que não se trata
apenas de uma escolha da franquia, mas de uma questão de
sobrevivência. Como bem ressalta Giddens, no capitalismo da alta
modernidade, o estabelecimento de padrões regulares de consumo
promovidos pela propaganda torna-se central para o crescimento
econômico (GIDDENS, 2002, p. 182). Mas o que chama atenção no
trecho citado mais acima é que parte expressiva desse investimento em
105Disponível em: www.empresaspeloclima.com.br/index.php?r=noticias/view&id=195324.
Acesso em: 10/7/2013.
106 Disponível em: www.mundoverde.com.br/InstitucionalHistoria.asp. Acesso em: 15/7/2014.
102
marketing se deu no âmbito virtual. Como interpretar tal forma de
apropriação da internet pela franquia do ponto de vista sociológico?
É possível dizer que essa apropriação se encontra dentro daquilo
que Michel Callon, ao lado de Cécile Méadel e Vololona Rabeharisoa,
denominam de economia das qualidades (2002). O trabalho desses
sociólogos não é apenas é original no esquema interpretativo, mas
também pelo papel que atribuem a internet dentro daquele. O que
caracteriza a economia das qualidades é o alto grau de reflexividade dos
mercados contemporâneos de maneira que aquilo que é comercializado
está numa relação muito próxima entre o que o consumidor deseja e
espera, por um lado, e o que é oferecido, por outro lado. Logo, a
economia das qualidades é baseada, sobretudo, na singularidade dos
produtos oferecidos aos consumidores. Essa singularidade nada mais é
do que o resultado, temporário, de um contínuo processo de qualificação
do produto, no qual determinadas características são postas em
evidências, naquele dado momento (CALLON; MÉADEL;
RABEHARISOA, 2002, p. 202).
Para Callon, Méadel e Rabeharisoa, o usuário da internet é o
exemplo pragmático da maneira como essa economia funciona. Quando
ele vai para a web através de um portal, ele se depara com um
dispositivo de cognição distribuída, uma situação semelhante a de um
cliente diante da prateleira do supermercado, tendo de escolher entre
diferentes produtos. Em frente a tela do computador, esse
internauta/consumidor pode avaliar, classificar, julgar, os vários
produtos a ele oferecidos. Com informações renovadas na tela, com
links e referências cruzadas e com menus de rolagem que multiplicam as
opções a partir do qual os usuários podem e devem escolher, a internet
se torna uma maquinaria inteiramente orientada para a singularização de
produtos (Ibidem, pp. 209-210).
No caso da Mundo Verde, essa maquinaria incluí a newsletter,
seu blog, seu facebook e seu site oficial. É através desses recursos online
que a franquia põe em evidência as características de seus produtos,
qualificando-os e buscando despertar a atenção do consumidor para a
sua singularidade. Mas a originalidade no uso desses recursos vai além
da mera divulgação dos produtos via web. Este é acompanhado de perto
por profissionais que tem o poder de legitimar aquilo que está sendo
dito, e que assim garantem a qualidade daquilo que é apresentado ao
consumidor. É na atuação deles junto a franquia que precisamos focar
nossa atenção para aprofundar a compreensão daquilo que ela apresenta
como bem-estar.
103
3.2 Alô, nutricionista: um caso de atuação dos peritos via web
O segredo de sucesso da Mundo Verde não está
simplesmente na grande diversidade de produtos,
mas em oferecer um conceito completo em
alimentação e vida saudável. Por isso os
vendedores são treinados para dar informações
nutricionais e deixar os consumidores à vontade,
em um ambiente que estimula o relaxamento, com
música e incensos (...) Diversas lojas também
oferecem palestras sobre alimentação e cuidados
com a saúde e a qualidade de vida. (...) Os clientes
ainda podem recorrer ao Alô Nutricionista um
serviço gratuito disponível pelo 0800-022 25 28,
de segunda a sexta-feira, das 9 às 17 horas, ou no
portal - www.mundoverde.com.br.107
É dentro de todo esse investimento em comunicação que deve ser
destacado o recurso a profissionais especializados em nutrição pela
Mundo Verde. Muito mais do que apenas jogar informações para o
consumidor, com o intuito de despertar atenção para seus produtos, a
Mundo Verde mostra preocupação com a legitimidade do que é dito.
Vale destacar aqui a equipe de nutricionistas oficial da franquia. Cabe
ressaltar que os especialistas em questão, não apenas são apresentados
pela franquia como a sua equipe de nutricionistas, como assinam a
maior parte das informações sobre nutrição divulgadas pela franquia,
seja na newsletter, no blog, no facebook ou no site (praticamente todas
as informações citadas no capítulo 2 apresentam o aval dos
nutricionistas listados):
EQUIPE DE NUTRICIONISTAS DA REDE
MUNDO VERDE
Bruna Bolanho Murta. Especialista em Nutrição
Clínica e Pós Graduanda em Nutrição Clínica
Funcional. CRN4: 2004100140
Flavia Morais. Especialista em Qualidade de
Alimentos e Pós Graduada em Nutrição Clínica
Funcional. CRN4: 2001100385
Flavia Figueiredo. Pós Graduada em Nutrição
Clínica. CRN3: 28086/P
107 Disponível em: www.mundoverde.com.br/InstitucionalHistoria.asp. Acesso em: 15/7/2014.
104
Thais Prata de Souza. Pós Graduada em
Nutrição Clínica. CRN4: 2008100731
Viviane Pereira. Graduada em Nutrição. CRN4:
2011100586108
Os nutricionistas da franquia não se restringem ao grupo listado,
sendo que cada unidade da franquia pode escolher ter nutricionistas
junto a ela ou não. A questão a se frisar aqui é o papel desempenhado
por esses especialistas junto à franquia. No caso, vale lembrar mais uma
vez Callon, Méadel e Rabeharisoa. Os mercados contemporâneos são
compostos por agentes altamente reflexivos, constantemente dispostos a
questionar e a julgar aquilo que lhes é oferecido. Logo, a legitimidade
do que é apresentado é uma variável de peso. No entanto, no caso em
questão a intervenção dos especialista que trabalham para a Mundo
Verde vai além de legitimar a qualidade dos produtos oferecidos.
Podemos correlacionar o uso desses especialistas pela franquia
dentro de uma reflexão mais abrangente sobre o próprio papel de
sistemas especializados na constituição da modernidade. Como ressaltou
Giddens, a natureza das instituições modernas está profundamente
ligada ao mecanismo da confiança em sistemas abstratos, especialmente
confiança em sistemas peritos: “A fidedignidade conferida pelos atores
leigos aos sistemas peritos não é apenas uma questão de gerar uma
sensação de confiança”, mas uma questão de calcular os riscos em
circunstâncias onde “o conhecimento perito cria o universo de eventos,
como resultado da contínua implementação reflexiva desse próprio
conhecimento” (GIDDENS, 1991, p. 96).
Os sistemas peritos são representados pela atuação de
especialistas. Um especialista é qualquer indivíduo que pode utilizar
com sucesso habilidades específicas ou tipos de conhecimento que o
leigo não possui. “Especialistas” e “leigos” têm de ser entendidos como
termos contextualmente relativos. Há muitos tipos de especializações e o
que conta em qualquer situação em que o especialista e o leigo se
confrontam é um desequilíbrio nas habilidades ou na informação que —
para um determinado campo de ação — torna alguém uma “autoridade”
em relação ao outro (GIDDENS, 2002, p. 105).
Os sistemas peritos da modernidade criam grandes áreas de
segurança relativa para a continuidade da vida cotidiana (Ibidem, p.
126). Logo, a profusão de sistemas peritos está diretamente ligada aos
panoramas de escolha que confrontam o indivíduo na atividade diária.
108 Disponível em: www.mundoverde.com.br/categoria/saude-e-bem-estar/dicas-da-
nutricionista/. Acesso em: 15/7/2014.
105
De modo que “há muitas vezes uma seleção a ser feita entre maneiras
locais ou leigas de fazer as coisas e procedimentos oferecidos a partir
desses sistemas” (Ibidem, p. 130). Mais do que dar orientação sobre o
que é correto comer, os nutricionistas colaboram na construção e
manutenção da segurança relativa indispensável para a continuidade da
vida cotidiana, em especial naquilo que tange uma das necessidades
mais básicas do corpo, a alimentação.
O exemplo paradigmático da atuação desses especialistas junto à
Mundo Verde é o serviço denominado “Alô, Nutricionista”, que
encontra-se disponível aos interessados tanto pelo telefone quanto pela
internet, no site da franquia e no seu perfil no facebook. A
disponibilização feita pela franquia desse serviço na internet permite
visualizar o tipo de interação desenvolvida entre os especialistas e os
leigos interessados em obter informação nutricional.
Figura 16
Fonte: www.mundoverde.com.br/alo-nutricionista/
106
Figura 17
Fonte: www.facebook.com/photo.php?fbid=536441946393660&set=a.
193905820647276.47484.192882994082892&type=3&theater
107
Figura 18
Fonte: www.facebook.com/euamoomundo/photos/pb.192882994082892.-
2207520000.1401166120./664547630249757/?type=3&theater
Nas imagens acima extraídas do facebook da franquia é possível
visualizar a atuação dos especialistas dentro do serviço “Alô,
Nutricionista”. Nele os internautas escrevem suas indagações, sendo
atendidos logo em seguida pelos especialistas que respondem pela
franquia. Fornecem assim, não apenas orientações nutricionais, mas
orientações na própria construção e manutenção das rotinas dos atores
leigos. Eis aqui talvez o caso mais interessante de como a autoridade dos
especialistas corrobora a fala da “loja do bem-estar”.
Por mais que esse serviço oferecido pela Mundo Verde seja
paradigmático da atuação dos sistemas peritos, a de se levar em conta a
sua especificidade e até originalidade. Nitidamente podemos ver
nutricionistas que trabalham para a franquia e que prestam atendimento
108
via web para clientes ou possíveis clientes da franquia. Como tratar essa
especificidade do ponto de vista sociológico?
Em um trabalho recente e original uma equipe de sociólogas
composta por Madeleine Akrich, Cécile Méadel e Catherine Rémy se
debruçou sobre as novas relações entre médico e paciente que vem
ocorrendo via web, principalmente através de sites e fóruns de discussão
online. Dentro dos vários tipos de relação descritas por essas sociólogas,
um deles se assemelha muito ao “Alô Nutricionista”, aquele que elas
denominaram de “dialogue information”. O que caracteriza essa relação
é a informação obtida através da interação, ou pelo menos de um
diálogo, entre a autoridade médica e o paciente, no qual o paciente, mais
que um simples destinatário, se torna um enunciador, colocando
questões para serem respondidas pela autoridade médica (AKRICH;
MÉADEL; RÉMY, 2008, p. 7).
Como se pode observar nas figuras mais acima, retiradas do
facebook da franquia, no “Alô, Nutricionista” os internautas enviam
suas dúvidas, sendo que essas são atendidas pelos nutricionistas a
serviço da franquia. Pode parecer um tanto quanto estranho chamar
esses internautas de pacientes, visto que aparentemente eles não passam
de meros internautas em busca de informação. No entanto Akrich,
Méadel e Rémy propõem o termo “paciente em potencial” para referir-
se aos internautas, que buscam orientação médica via web sem estarem
sofrendo de alguma moléstia necessariamente, mas interessados
principalmente em prevenção e redução dos riscos à saúde (2008, p. 20).
No caso em questão, podemos dizer que os internautas que vão em
busca do “Alô, nutricionista” são como pacientes em potencial, uma vez
que a situação assemelha-se muito ao exemplo do indivíduo que vai ao
consultório do nutricionista em busca de orientações alimentares, sem
sofrer de alguma moléstia necessariamente. Não se trata aqui de
perguntar até que ponto os nutricionistas estão deixando de lado os
consultórios para prestar atendimento online. O que cabe destacar aqui é
o interesse da Mundo Verde em ter esses profissionais trabalhando junto
à ela, e fornecendo orientação nutricional aos consumidores.
Mais à frente retomaremos o termo “paciente em potencial” na
compreensão dos significados contemporâneos do bem-estar. Antes de
prosseguir vale se debruçar um pouco sobre outro tipo de “orientação”
oferecida pela franquia.
109
3.3 Para além dos peritos, os conselhos e os exemplos
Uma questão que vale ser discutida é a intensa profusão de
conselhos pela franquia. Não orientações médico/nutricionais, mas sim
frases que busquem estimular o consumidor. Esta pode ser observada
principalmente no twitter da franquia. Lá, além da publicidade dos
produtos, são postados conselhos diariamente. Como ressaltado, a
franquia publica frases com frequência diária, de maneira que seria
difícil contabilizá-las aqui. Os exemplos citados mais abaixo servem
apenas para ilustrar o tipo de conteúdo vinculado pela “loja do bem-
estar” através dessas frases.
Mundo Verde @mundoverde
"A minha fé mais profunda é que podemos mudar
o mundo pela verdade e pelo amor." Mahatma
Gandhi. Um final de semana cheio de esperança!
15 de nov. de 2013, 1:30. Tweet.109
Mundo Verde @mundoverde
"Maravilhas nunca faltaram ao mundo, o que
sempre falta é a capacidade de senti-las e admirá-
las." Mário Quintana. Boa semana! :) 11 de nov.
de 2013, 1:31.Tweet.110
Mundo Verde @mundoverde
"A vida é uma cartola de mágico. Com um pouco
de imaginação e muita habilidade a gente tira dela
tudo." Érico Veríssimo. Bom dia! 8 de nov. de
2013, 1:31.Twett.111
Mundo Verde @mundoverde
"Não há problema tão grande que não caiba no dia
seguinte." ~ Millôr Fernandes. Deixe os
problemas pra depois e curta a sexta-feira! 1 de
nov. de 2013, 2:31. Tweet.112
109 Disponível em: https://twitter.com/mundoverde/status/401281148246319104. Acesso em:
15/7/2014.
6 Disponível em: https://twitter.com/mundoverde/status/399831830591205376. Acesso em:
15/7/2014.
111 Disponível em: https://twitter.com/mundoverde/status/398744576514871296. Acesso em:
15/7/2014.
112 Disponível em: https://twitter.com/mundoverde/status/396207815767101440. Acesso em:
15/7/2014.
110
Mundo Verde @mundoverde
"Quando o amor ao dinheiro (...) nos estiver
deixando cegos, saibamos fazer pausas para olhar
(...) as aves do céu." Érico Veríssimo. 18 de out.
de 2013, 3:30. Tweet113.
Mundo Verde @mundoverde
"A sabedoria da natureza é tal que não produz
nada de supérfluo ou inútil." Nicolau Copérnico.
Bom dia! 17 de out. de 2013, 3:30. Tweet114
Mundo Verde @mundoverde
"A Terra não é uma herança de nossos pais, mas,
sim, um empréstimo de nossos filhos." Autor
Desconhecido. Bom dia! 16 de out. de 2013, 3:31.
Tweet115
As frases listadas expõem um tipo de conteúdo aconselhador,
quase pedagógico, de como levar a vida. Não obstante a variedade de
produtos oferecida pela franquia, é como se esta tivesse por intenção
incentivar e/ou estimular seus clientes para vida. Qual importância dessa
retórica aconselhadora para a franquia? Podemos analisá-la dentro
daquilo que Bauman caracterizou como um “capitalismo leve e
amigável com o consumidor” (2001, p. 76). Em um mundo cheio de
possibilidades “a mais custosa e irritante das tarefas que se pode pôr
diante de um consumidor é a necessidade de estabelecer prioridades”
(Ibidem, p. 75). Nesse sentido, nada melhor do que a autoridade dos
especialistas (peritos) capazes de dizer o que é melhor fazer (comprar) e
como fazer (como comprar).
Entretanto, quando as autoridades são muitas, tendem a cancelar-
se mutuamente, e a única autoridade efetiva na área é a que pode
escolher entre elas (o consumidor). É por cortesia de quem escolhe que a
autoridade torna-se uma autoridade. Logo, “as autoridades não mais
ordenam elas se tornaram agradáveis a quem escolhe: tentam e
seduzem” (Ibidem, p. 76). Não se trata de abolir a autoridade do
especialista, mas sim de inseri-la dentro de uma retórica mais tentadora
113 Disponível em: https://twitter.com/mundoverde/status/391149352556961792. Acesso em:
15/7/2014.
114 Disponível em: https://twitter.com/mundoverde/status/390786971918172160. Acesso em:
15/7/2014.
115 Disponível em: https://twitter.com/mundoverde/status/390424680148271104. Acesso em:
15/7/2014.
111
e sedutora. E dentro dessa lógica a retórica do conselho engloba,
sutilmente, a retórica da autoridade.
Como argumenta Bauman, os conselheiros “cuidam de nunca
pisar fora da área fechada do privado”, de maneira que “eles se referem
ao que as pessoas aconselhadas podem fazer elas mesmas para si
mesmas e para si próprias, cada uma para si” (Ibidem, p. 77). Não
obstante, o caráter “amigável” dos conselhos, a sua “autoridade”, ou
melhor, sua capacidade de seduzir aumenta conforme o peso do
exemplo. “O que as pessoas em busca de conselho precisam (ou
acreditam precisar) é um exemplo de como outros homens e mulheres,
diante de problemas semelhantes, se desincumbem deles” (Ibidem, p.
78). E aqui é interessante reparar como a loja do bem-estar usa e abusa
de frases creditadas à personalidades ilustres.
Mundo Verde @mundoverde
"O entusiasmo é a maior força da alma, conserva-
o e nunca faltará poder para conseguir o que
deseja." Napoleon Hill. Bom dia, entusiastas! 3 de
out. de 2013, 3:31. Tweet116
Mundo Verde @mundoverde
"Tudo o que somos nasce com nossos
pensamentos. Em nossos pensamentos, fazemos o
nosso mundo." ~ Buda. 9 de set. De 2013, 3:31.
Tweet117
Mundo Verde @mundoverde
"A vida vai ficando cada vez mais dura perto do
topo." (Friedrich Nietzsche). Bom dia pra quem tá
quase lá e não desiste! 21 de ago. De 2013, 6:13.
Tweet 118
Mundo Verde @mundoverde
"Não tenha pressa, mas não perca tempo." (José
Saramago). Bom dia para quem vai aproveitar ao
116 Disponível em: https://twitter.com/mundoverde/status/385713655108882432. Acesso em:
15/7/2014.
117 Disponível em: https://twitter.com/mundoverde/status/377016396754219008. Acesso em:
15/7/2014.
118 Disponível em: https://twitter.com/mundoverde/status/370171800539652096. Acesso em:
15/7/2014.
112
máximo essa semana! 19 de ago. De 2013, 3:32.
Tweet119
Mundo Verde @mundoverde
"A melhor maneira de prever o futuro é inventá-
lo." (Steve Jobs). Vamos começar? Bom dia! 15
de ago. de 2013, 3:31. Tweet120
Estas são frases de incentivo, proferidas por personalidades que
por algum motivo, se destacaram ao longo da história. A citação de
Buda, mencionada mais acima, mostra o tipo de conteúdo vinculado
pela franquia: “tudo que somos nasce com nossos pensamentos”, de
maneira que a saúde é resultado não apenas do cuidado com o corpo,
mas também, daquilo que pensamos. Em suas considerações sobre a
cultura do bem-estar nos Estados Unidos, Jacques Courtine ressaltava
que os desenvolvimentos na área da psicologia na metade do século XX
(principalmente a psicanálise) teve, em especial, o efeito de permitir
uma integração mais completa do corpo com a mente, de maneira que o
cuidado com um passou a ser visto como fundamental para a
manutenção do outro (2005, pp. 100-101).
O que é possível observar nas frases acima é uma intensa
psicologização da busca pelo bem-estar, de maneira que ele não se
restringe ao cuidado com o corpo, mas também com a mente. Nesse
sentido, não bastam apenas os conselhos de especialistas de alguma área
da saúde (como os nutricionistas) para legitimar a busca do bem-estar. É
necessário algum incentivo intelectual. E nesse caso, nada melhor do
que selecionar frases de indivíduos que se destacaram ao longo da
história, e publicá-las como uma espécie de ensinamento, como uma
lição de conduta a ser seguida por todos aqueles que visão atingir o
bem-estar. Aqui o discurso do bem-estar vai além de uma orientação
médico científica, e assume um caráter pedagógico, moral, quase
pastoral.
119 Disponível em: https://twitter.com/mundoverde/status/369406391963754496. Acesso em:
15/7/2014.
120 Disponível em: https://twitter.com/mundoverde/status/367956671223853056. Acesso em:
15/7/2014.
113
3.4 Afinidades entre bem-estar e qualidade de vida
MUNDO VERDE: 27 ANOS DE LIDERANÇA
NO MERCADO DO BEM-ESTAR E DA
QUALIDADE DE VIDA.
Maior rede de lojas de produtos naturais,
orgânicos e bem-estar da América Latina tem
como propósito a vida saudável, bem estar e
sustentabilidade.121
A respectiva citação foi retirada do histórico que a franquia
apresenta no seu site oficial. Deve-se reparar como a palavra bem-estar é
seguida da palavra “qualidade de vida”. Não obstante, chama a atenção
a pluralidade de produtos relacionadas ao bem-estar (e a qualidade de
vida, consequentemente). Vale fazer uma breve análise dessa última em
separado, para posteriormente ver para onde elas convergem.
Uma crítica relevante do conceito de qualidade de vida é
apresentada por Bauman, que vê nessa expressão muito da ambivalência
típica do atual estágio da modernidade que ele descreve. Não haveria
interesse algum na “qualidade de vida” (o próprio conceito dificilmente
teria sido inventado) se não fosse pela sensação generalizada, muitas
vezes vaga, mas sempre aguda e irritante, de que a vida como ela é não é
boa o suficiente: “Trata-se de expressar exatamente o que torna a vida
como ela é algo não agradável o suficiente e no geral insatisfatória”
(BAUMAN, 2009, p. 108).
Qualidade de vida, por outro lado, torna-se a norma principal da
crítica à realidade na parte do mundo em que a sobrevivência, no sentido
biológico básico, foi assegurada para todos ou quase todos os seres
humanos (Ibidem, p. 109). Não obstante a “qualidade de vida difere da
‘sobrevivência’ e de todas as outras metas que a modernidade colocou
diante de si por seu endêmico caráter não definitivo” (Ibidem, p. 109).
Para o sociólogo da ambivalência, o sucesso espetacular
alcançado pela referida expressão no discurso intelectual deve-se
justamente na notória indefinição de seus conteúdos. O discurso da
qualidade de vida é uma “área aberta”, “um território de endêmica e
perpétua subdeterminação” (Ibidem, p. 112).
Para Bauman é justamente essa ambivalência que abre margem
para a atuação dos especialistas (semelhantes aqueles descritos por
Giddens). A falta de orientação atrai especialistas em rastreamento de
121 Disponível em: www.mundoverde.com.br/historia/. Acesso em: 15/7/2014.
114
trilhas, os quais “tendem a prometer uma segura e definitiva rota de fuga
da incerteza, mas o que eles oferecem na prática é uma decisão sobre
como ‘resolver’ o dilema presente sem reduzir sua ambivalência”
(Idem). É como se a própria qualidade de vida precisasse passar pelo
contínuo processo de qualificação que Callon, Méadel e Rabehariosa
descrevem como parte da economia das qualidades.
3.5 Corpo e saúde: o cruzamento entre bem-estar
e qualidade de vida
Jacques Courtine (2005) destacou o quanto o discurso do bem-
estar emergente nos Estados Unidos foi direcionado ao longo do século
XX para os cuidados com o corpo. Não é difícil cruzar as reflexões de
Bauman sobre a qualidade de vida com suas reflexões sobre o corpo no
atual estágio da modernidade. A saúde na era moderna identificava-se
com a sobrevivência, no sentido biológico do termo. Uma vez que a
busca pela sobrevivência foi superada, o cuidado com a saúde vai além e
passa a exigir não apenas a manutenção dessa condição como uma
constante condição de vigilância do ator social que habita aquele corpo.
Dentro dessa constante vigilância o cuidado com a saúde torna-se uma
guerra permanente (BAUMAN, 2000, p. 93).
É nesse sentido que todos podemos ser considerados pacientes em
potencial para retomar a expressão de Akrich, Méadel e Rémy. O
diagnóstico oferecido, seja qual for o especialista da saúde, não tem
mais como objeto a sobrevivência do indivíduo. “Seu verdadeiro objeto,
é a distribuição das probabilidades, uma estimativa do que pode derivar
da condição em que o paciente diagnosticado se encontra”, logo,
continua Bauman, “a saúde é cada vez mais identificada com a
otimização dos riscos” (Ibidem, p. 94).
Fugir dos riscos, e consequentemente, estender a vida o máximo
possível. Uma vez que a busca pela sobrevivência foi assegurada, a
busca pelo bem-estar e pela qualidade de vida se assemelha a busca pela
imortalidade.
Como apontado mais acima, é justamente a ambivalência que
abre margem para atuação dos especialistas que, por mais que prometam
uma rota de fuga para a incerteza, nada mais fazem do que resolver o
dilema momentâneo do presente. Por mais herético que possa ser do
ponto de vista teórico, é válido trazer de volta as teorias elaboradas por
Callon e seu grupo e perguntar se o diagnóstico do atual estágio da
modernidade feito por Bauman não pode ser vislumbrado na “economia
115
das qualidades”. Afinal de contas, a qualificação dos produtos é um
processo contínuo, que nada mais faz do que por em evidência
determinadas características de um produto num dado momento. Uma
qualificação que está sempre sujeita à reflexividade do consumidor
(Giddens) ou aberta para a angústia da ambivalência (Bauman).
Chama nossa atenção que uma franquia em ascensão, dedicada a
venda de produtos para a saúde (bem-estar, qualidade de vida, e todos os
paradoxos que essas palavras possam carregar), se utilize cada vez mais
da internet para divulgar informações sobre bem-estar e qualidade de
vida. Informações muito bem respaldadas por especialistas, cabe
lembrar. Não obstante, esses especialistas parecem estas trocando seus
consultórios para atuarem via web sob tutela da franquia. A construção
do discurso do bem-estar é um processo de contínua qualificação, que
pode ser feito via web no respectivo caso.
3.6 Peritos e franquia: uma aliança discursiva
na construção do bem-estar
Para finalizar esse terceiro capítulo retomamos o que foi exposto
até agora e cruzaremos com algumas questões discutidas no capítulo 2,
para evidenciar a convergência entre ambos e ratificar a nossa principal
tese, a da centralidade de uma aliança discursiva entre franquia e peritos
na conceituação do bem-estar para a legitimação da franquia frente aos
consumidores.
Como bem exposto no capítulo 2 a Mundo Verde trabalha com
uma variedade de produtos, bem como procura atender uma variedade
de demandas bem distintas. O “estilo de vida, de coisas positivas,
saudáveis e boas para o planeta”, que a franquia alega ser sinônimo é
mais flexível do que aparenta, podendo abranger tantos estilos de vida
quando a variedade de produtos que oferece e/ou de demandas que
procura atender: alimentos orgânicos, alimentos light e diet, sem glúten,
sem lactose, alimentos funcionais e suplementos alimentares, isso sem
mencionar os produtos não alimentares que ela oferece. No capítulo 2
foram exploradas as diferenças, bem como certas divergências
existentes entre algumas dessas demandas, evidenciando certa
ambivalência dentro daquilo que a própria franquia define como bem-
estar.
Apesar dessa ambivalência evidenciada no capítulo anterior, o
presente capítulo mostrou até agora a constante presença de sistemas
peritos trabalhando junto à Mundo Verde legitimando, ou melhor,
116
qualificando — para usar a expressão de Callon, Méadel e Rabeharisoa
(2002) — seus produtos, e consequentemente aquilo que ela oferece
como bem-estar.
Porém, mais do que um processo de qualificação, ou legitimação,
podemos vislumbrar nessa atuação conjunta entre peritos e franquia uma
aliança discursiva como conceituada pelo teórico do discurso Maarten
Hajer. De acordo com ele uma aliança discursiva pode ser definida
como um conjunto de enredos, junto com os atores que proferem esses
enredos e as práticas através das quais esses enredos são expressos
(HAJER, 2005, p. 304). Os enredos são o meio através do qual
determinados atores tentam impor seu ponto de vista da realidade para
outros, como sugerem certos posicionamentos e práticas sociais (Ibidem,
p. 304).
Hajer destaca o papel primordial exercido pelas práticas através
das quais os enredos se propagam. No caso da Mundo Verde, essas
práticas podem ser identificadas como tudo aquilo que ela publica
cotidianamente nos seus vários canais de comunicação (newsletter, blog,
facebook) para ser visto pelos seus leitores ou consumidores. Não
obstante a pluralidade de informações divulgadas sobre bem-estar e os
possíveis paradoxos que podem ser detectados dentro do conteúdo como
um todo, grosso modo, tudo aquilo que é divulgado são informações
respaldadas (pelos sistemas peritos), e que se articulam dentro daquilo
que a franquia, junto com os seus peritos, conceitua como bem-estar.
Podemos identificar aí aquilo que Hajer define como o “milagre
comunicativo” proporcionado por uma aliança discursiva. Diferentes
elementos discursivos são apresentados principalmente através de
enredos, nos quais os elementos dos vários discursos são combinados
em um conjunto mais ou menos coerente e a complexidade discursiva é
assim escondida (Ibidem, p. 304). No caso da Mundo Verde a aliança
com os peritos nutricionais é fundamental. A atuação deles junto à
franquia garante a coesão do que é oferecido como bem-estar, sendo
difícil captar a ambivalência presente na variedade de produtos (e
significados) oferecidos.
O discurso do bem-estar não apenas é acompanhado pelo discurso
da qualidade de vida (como caracterizado por Bauman), mas podemos
inferir que se confunde com ele, possuindo as mesmas características
que Bauman designa para a qualidade de vida: uma “área aberta”, ou
melhor, um território de endêmica e perpétua ambivalência, que atraí
especialistas com promessas de rotas seguras e definitivas para a
qualidade de vida, ou no caso em questão, o bem-estar. Quando na
verdade o que eles oferecem na prática é uma decisão de como resolver
117
um dilema momentâneo, sem escapar às ambivalências que cerceiam a
escolha (BAUMAN, 2009, p. 112).
Por um lado, a busca pelo bem-estar privilegia a saúde, ou
melhor, a manutenção do corpo. Em sociedades de consumo de massa
onde a sobrevivência é um luxo de quase todos (a sobrevivência foi
superada, como fala Bauman), a saúde confunde-se cada vez mais com
um estado de vigilância sob o corpo, para que esse não seja acometido
por nenhum mal. Uma vez que a sociedade de consumo também é a
sociedade de riscos, o ator social deve estar atento para que seu corpo
não seja acometido pelos vários riscos que assolam o meio ao seu redor
(de certa forma, somos pacientes em potencial para usar a expressão de
Akrich, Méadel e Rémy).
Nessa perspectiva, a alimentação é um ato de mediação
fundamental, uma vez que ela estabelece a ponte entre a manutenção do
corpo e a expropriação dos riscos que os alimentos podem oferecer.
Aqui entram os sistemas peritos e sua capacidade de criar um universo
de eventos onde aquilo que é oferecido como alimento esteja
diretamente correlaciona-se ao bem-estar do consumidor.
Por outro lado, o bem-estar não se restringe a alimentação; ele
pressupõe cuidados sob o corpo e sobre a mente para além da comida
ingerida. Exercícios físicos que auxiliam na manutenção do corpo (com
suplementos alimentares que melhorem o rendimento), práticas para
relaxar o corpo e a mente, ioga, pilates. Sem esquecer da motivação
mental e ou emocional, presente em livros de auto-ajuda ou em frases de
efeito pronunciadas por indivíduos de destaque divulgadas pela franquia
em sua página no twitter.
O bem-estar é uma área de indeterminação, de ambivalência. O
segredo do sucesso da Mundo Verde está em explorar as possibilidades
dessa indeterminação, oferecendo bem-estar para uma variedade de
consumidores diferentes, os quais podem possuir não apenas
necessidades diferentes, mas serem adeptos de estilos de vida diferentes.
Contudo, uma vez que os consumidores são agentes reflexivos, a
franquia não pode simplesmente jogar os seus produtos no mercado. É
necessária a constante qualificação (Callon) daquilo que é oferecido ao
consumidor, de maneira que ele possa confiar no que é oferecido. Logo,
a franquia estabelece alianças discursivas (HAJER) com sistemas peritos
(GIDDENS), com autoridade para garantir a qualidade daquilo que ela
oferece. Ainda que esses sistemas não consigam dar fim a ambivalência
da modernidade, que como aponta Bauman, ultrapassa os próprios
peritos. Culpá-los por isso não auxiliaria a compreensão dos significados
em jogo em torno do termo.
118
119
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A Mundo Verde é uma franquia em plena expansão, de maneira
que qualquer abordagem que tentasse esgotar a temática estaria sujeita a
revisão em breve. Para evitar isto, procuramos tomá-la como um caso
paradigmático do crescimento do mercado do bem-estar no Brasil, para
a partir disso procurar compreender o que está em jogo nesse mercado.
Logo, o que procuramos fazer aqui foi lançar bases para compreender
como a franquia tem dado significado ao seu principal produto, o bem-
estar. Em função da amplitude da franquia (bem como da escassez de
trabalhos sobre ela) o nosso trabalho tomou um caráter de abordagem
mais ampla ao invés de um aprofundamento redutor à apenas um tópico
específico. Pela ampla quantidade de informações jornalísticas e
material publicitário disponibilizado pela franquia e/ou sobre ela,
revelou-se muito produtivo explorar as minúcias do discurso da loja do
bem-estar, para com isso compreender quais os significados em jogo em
torno desse conceito.
Essa empreitada exigiu um diálogo com diferentes olhares
sociológicos que auxiliassem na compreensão do fenômeno. Enquanto o
primeiro capítulo focou aspectos mais interessantes para a sociologia
econômica e para a sociologia ambiental, o segundo e o terceiro se
aprofundaram em questões da sociologia da alimentação, da sociologia
do corpo, sociologia da ciência, análise do discurso e nas próprias
discussões sobre o status recente da condição moderna.
Tendo o meio ambiente alcançado status de preocupação global, a
incorporação da sustentabilidade torna-se fundamental na criação, e
principalmente, na manutenção dos mundos estáveis que orientam a
ação nos mercados. A busca pela eco-eficiência e o estímulo ao eco-
consumo fazem parte dessa concepção de controle que ganha cada vez
mais força ao início do século XXI. Pelo que foi exposto aqui,
consideramos que a Mundo Verde assumiu essa concepção de controle.
Se de um lado ela preza por se tornar uma empresa sustentável, por
outro ela busca estimular o consumo sustentável.
O capítulo 2 evidenciou a variedade de produtos com os quais a
“loja do bem-estar” trabalha, bem como as demandas dos consumidores
que ela procura atender. A pluralidade de produtos disponibilizados, e as
divergências, revelam não haver um consenso quanto ao bem-estar,
120
revelando a ambivalência desse termo. Ainda que a franquia alegue ser o
sinônimo de “um estilo de vida, de coisas positivas, saudáveis e boas
para o planeta”, é possível ver que ela trabalha com diferentes
demandas, e consequentemente com diferentes estilos de vida.
Assim, a franquia oferece produtos naturais como os alimentos
orgânicos, integrais ou fitoterápicos, que podem ser procurados tanto
pelos benefícios que trazem para a saúde, como pela incidência positiva
do ponto de vista ecológico (caso mais específico dos orgânicos).
Saindo dos produtos naturais, chegamos na variedade de suplementos
alimentares, que podem ser consumidos por pessoas que tem deficiência
de alguma vitamina, ou ainda que são práticas de atividade física,
querem melhorar seu rendimento no esporte, ganhar massa muscular, ou
apenas queimar calorias (o caso dos termogênicos). Entre os alimentos
naturais e os suplementos alimentares podemos incluir a categoria dos
funcionais, que abrange alimentos em ambas as categorias anteriores, e
cuja principal alegação são os efeitos benéficos para a saúde,
independente de ser um alimento orgânico ou um suplemento alimentar.
Sem glúten, sem lactose, sem açúcar. Essas 3 categorias
alimentares visam atender consumidores com necessidades especiais.
Celíacos não podem comer glúten. Lactantes não podem comer lactose;
diabéticos não podem comer açúcar. Mas novamente esses produtos não
se restringem aos portadores dessas necessidades. Pessoas com o intuito
de perder peso se interessam por produtos light e diet, assim como tem
se interessado por dietas sem glúten. Acrescente-se ai os alimentos
kosher, que não tem nenhuma orientação nutricional específica em
termos de saúde, mas atendem a uma demanda espiritual dos praticantes
de uma determina religião, e nesse sentido, fazem mais bem para o
espírito do que para o corpo físico.
Para além de toda essa variedade de alimentos, inclui-se também
a variedade de produtos não alimentares: bijuterias, esotéricos, incensos,
livros de auto-ajuda, cds de música new-age, os já mencionados
cosméticos naturais, e presentes e itens de decoração feitos com material
de reflorestamento ou advindo das práticas de comércio justo. Uma
variedade de produtos que pode ser procurada seja por consumidores
interessados em itens esotéricos e/ou com preocupações ambientais.
Ainda que essa variedade de produtos reflita a ambivalência do
bem-estar, e indique uma pluralidade de estilos de vida, é possível
inferir que em um mundo onde os consumidores são antes de tudo,
agentes reflexivos, eles também podem se movimentar entre as
diferentes possiblidades oferecidas. Aqui vale evocar Giddens
novamente: “é claro que os estilos de vida e setores do estilo de vida
121
podem ser ajustados para navegar entre as diferentes possibilidades
oferecidas num mundo reconstituído pelo impacto dos sistemas
abstratos” (GIDDENS, 2002, p. 133).
Com isso retomamos o tema dos sistemas peritos frisado no
terceiro capítulo. É justamente a presença deles junto à franquia que
garante a legitimidade ou a qualidade do que ela oferece ao consumidor
como bem-estar, independente das ambivalências que detectamos dentro
desse termo. Essa aliança fica evidente principalmente nos vários canais
de comunicação que a franquia vem desenvolvendo nos últimos anos
para se manter próxima do consumidor: blog, facebook, newsletter. O
investimento em comunicação permite que a franquia divulgue seu
discurso sobre bem-estar. Logo, não basta vender bem-estar; é preciso
ter o poder de conceituar o bem-estar, de significá-lo. E para isso, a
franquia deve estabelecer uma aliança discursiva com atores que tenham
autoridade para tal ação.
Para além da questão da diversidade de significados, é possível
dizer que a busca pelo bem-estar apresenta algumas constantes. Apesar
das necessidades específicas de alguns consumidores como diabéticos
ou intolerantes à algum alimento, é possível analisar no discurso da
franquia o apelo à pessoas interessadas em manter a forma, fugir da
obesidade - seja praticando esportes ou apenas cuidando da alimentação
— assim como se precaver de outras doenças. Nesse sentido, a maior
parte dos alimentos oferecidos pela franquia são uma forma de garantir a
manutenção do corpo. Aqui nos deparamos novamente com a ascensão
do estilo de vida ego-trip como destacado por Guivant (2003). E
podemos ver aí também a ideia de Akrich, Méadel e Rémy do paciente
em potencial. Para lembrar Bauman uma última vez, em uma sociedade
onde a sobrevivência foi garantida, a busca pela saúde se converte numa
luta contra as probabilidades e estimativas daquilo que possa vir a
atingir o corpo do individuo, de maneira que a saúde se identifica cada
vez mais com a otimização dos riscos.
Driblar os riscos e garantir a manutenção do corpo, a variedade
de produtos pode ser grande, e mostrar contradições, mas a busca pelo
bem-estar perpassa esses dois tópicos.
122
123
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Mundo Verde @mundoverde "A minha fé mais profunda é que
podemos mudar o mundo pela verdade e pelo amor". Mahatma Gandhi.
Um final de semana cheio de esperança! 15 de nov. de 2013, 1:30.
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Mundo Verde @mundoverde "Maravilhas nunca faltaram ao mundo, o
que sempre falta é a capacidade de senti-las e admirá-las." Mário
Quintana. Boa semana! :) 11 de nov. de 2013, 1:31.Tweet. Disponível
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Mundo Verde @mundoverde "A vida é uma cartola de mágico. Com
um pouco de imaginação e muita habilidade a gente tira dela tudo".
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Mundo Verde @mundoverde "Não há problema tão grande que não
caiba no dia seguinte" ~ Millôr Fernandes. Deixe os problemas pra
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Mundo Verde @mundoverde "Quando o amor ao dinheiro (...) nos
estiver deixando cegos, saibamos fazer pausas para olhar (...) as aves do
céu". Érico Veríssimo. 18 de out. de 2013, 3:30. Tweet. Disponível em:
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Mundo Verde @mundoverde "A sabedoria da natureza é tal que não
produz nada de supérfluo ou inútil". Nicolau Copérnico. Bom dia! 17 de
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Mundo Verde @mundoverde "A Terra não é uma herança de nossos
pais, mas, sim, um empréstimo de nossos filhos". Autor Desconhecido.
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Mundo Verde @mundoverde "O entusiasmo é a maior força da alma,
conserva-o e nunca faltará poder para conseguir o que deseja". Napoleon
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Mundo Verde @mundoverde "Tudo o que somos nasce com nossos
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Mundo Verde @mundoverde "A vida vai ficando cada vez mais dura
perto do topo" (Friedrich Nietzsche). Bom dia pra quem tá quase lá e
não desiste! 21 de ago. De 2013, 6:13. Tweet Disponível em:
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Mundo Verde @mundoverde "Não tenha pressa, mas não perca tempo"
(José Saramago). Bom dia para quem vai aproveitar ao máximo essa
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Mundo Verde @mundoverde "A melhor maneira de prever o futuro é
inventá-lo." (Steve Jobs). Vamos começar? Bom dia! 15 de ago. de
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