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elementos, conforme apontado anteriormente. A batalha individual representa, conforme
aponta o mito de Teseu, a libertação de toda uma coletividade.
Percorrer o labirinto se torna o principal objetivo do educando. Ele se transforma no
grande herói de sua jornada educativa, agindo como peregrino de um labirinto interior. Para
tanto, precisa ter coragem o suficiente para superar seus medos e ignorâncias. Não se trata
mais de esperar que um deus o entregue o fogo (o conhecimento), mas travar uma batalha de
autoconhecimento contra o Minotauro, seguro apenas pelo fino fio de Ariadne. O papel do
professor deriva: ele deixa de ser o detentor do conhecimento e passa a ser apenas um guia
frágil, que não interfere na batalha, mas apenas auxilia nos momentos de mais dificuldade.
O labirinto é o caminho de uma nova consciência, de iniciação numa nova forma de
aprendizagem. Ao chegar ao centro do labirinto, Teseu encontra muito mais que o monstro;
passa por uma mudança ontológica-existencial. O centro simboliza o princípio dessa nova
consciência, o ponto de mudança entre uma perspectiva e outra. Trata-se de uma decida ao
mais profundo interior, o que resulta numa mudança no exterior. Ao retornar, seguro pelo fio
de Ariadne, Teseu já não é mais o mesmo.
A educação, nessa perspectiva, adquire um caráter iniciático, onde o herói deve
percorrer um caminho que pertence apenas a ele, individual – afinal, mesmo que o labirinto
seja igual para todos, cada um escolhe o rumo que vai seguir.
[…] o desiderato de toda a educação, que se pretende iniciática, deveria,
seguindo os ensinamentos do labirinto, criar condições para que aprendamos
a aprender, e a melhor compreender, a profundidade que somos. Somente a
compreensão do sentido de profundidade que a imagem matricial do
labirinto comporta nos poderá ajudar a romper com as máscaras sob as quais
nos escondemos aos outros e a nós mesmos. Torna-se pois tão importante,
como urgente, romper esse muro que nos impede de aceder “à consciência
do infra-eu, espécie de cogito subterrâneo, de um subsolo em nós, o fundo
do sem fundo” (BACHELARD, 1986, p. 260). Este “fundo do sem fundo”,
lembrando o mito em Fernando Pessoa, “um nada que é Tudo”, reenviando
igualmente para o inconsciente coletivo de Jung, para a tradição de memoria
augustiniana, parece-nos bem ilustrado pelo mitologema, ou símbolo do
labirinto, que, através da sua função iniciática, conduz-nos para os
insondáveis caminhos da trans-descendência, na feliz expressão de Gaston
Bachelard (1986, p. 60). Entre a anábase e a catábase decide-se muito da
nossa formação (bildung), que acontece sempre na e pela transformação
(umbildung) do eu nos labirintos da vida, em que os fios de Ariadne estão
sempre à espreita, embora, tantas vezes, carecendo de uma pedagogia da
escolha e de um mestre que a saiba eleger (ARAUJO, 2011, p. 54).
Dessa forma, o PPP da Amorim Lima privilegia o processo de individuação do
educando. O labirinto assume o papel de imagem significativa para o herói em busca do seu
eu, do autoconhecimento. Para contribuir com a sociedade, ele precisa, antes de qualquer