161
representações, a constância com que aparecem no conteúdo comunicacional de determinado
segmento social, não pode ser considerada aleatória. As representações sociais325 são
formadas a partir de um olhar e de uma compreensão seletiva do mundo, que explicitam
desejos, repulsas e valores comuns. No caso das representações326 aqui pesquisadas claro está
que elas não surgiam a todo instante, independentemente do assunto em pauta; elas apareciam
circunscritas a alguns contextos discursivos, que identificamos, grosso modo, da seguinte
forma: referência à situação social das mulheres, espaço a ocupar, função, qualidades e
atributos, positivos ou não; relatos sobre a natureza como patrimônio econômico e/ou
325 A noção de representação pode ser sintetizada da seguinte forma: “1) trata-se de “uma forma de saber prático
que liga um sujeito a um objeto” [...] 2) a representação mantém com seu objeto uma relação de simbolização e
de interpretação, de modo que, para o sujeito individual ou coletivo [...] pode ser colocada no lugar do objeto; 3)
a representação é “uma mobilização” de seu objeto, por exemplo atuando como um elemento nas decisões de
como agir a seu respeito; 4) como saber de sentido comum, a representação, de um modo geral, desempenha um
papel crucial “no ajuste prático do sujeito a seu ambiente”. In: CARDOSO, Ciro Flamarion. Introdução: uma
opinião sobre as representações sociais. In: CARDOSO, Ciro Flamarion; MALERBA, Jurandir (orgs.).
Representações – Contribuição a um debate transdisciplinar. São Paulo: Papirus, 2000, p. 30. O autor está
fazendo um apanhado das considerações desenvolvidas por: JODELET, D. Folies et représentations sociales.
Paris: Presses Universitaires de France, 1989, p. 43. Citamos, também, por sua clareza, a seguinte explicação: “o
símbolo é um signo implicado numa relação de representação e a representação é a imagem mental mediada,
tornada possível, pelo uso dos signos. A relação simbólica, entre o signo e o que ele dá a conhecer, é, portanto,
uma relação de representação, em que o signo toma o lugar da coisa representada, o que só pode se efetuar com o
recurso ao imaginário”. In: CAPELATO, Maria Helena Rolim; DUTRA, Eliana Regina de Freitas.
Representação política. O reconhecimento de um conceito na historiografia brasileira. In: CARDOSO, Ciro
Flamarion; MALERBA, Jurandir (orgs.). Representações – Contribuição a um debate transdisciplinar. São
Paulo: Papirus, 2000, p. 228.
326 O conceito de representação tem sido muito debatido nos últimos anos, principalmente no campo da chamada
História Cultural. Trata-se de uma noção controvertida, que acompanha teorias complexas e sofisticadas,
desenvolvidas em diversas áreas do conhecimento, como: sociologia, história, filosofia, psicologia. Neste
trabalho temos optado por não reproduzir, exaustivamente, o que os autores consagrados teorizaram sobre
determinado assunto, reescrevendo, com outras palavras, aquilo que já foi dito pelos catedráticos. Isso não quer
dizer que desconsideramos os diversos aportes teóricos, nada mais falso; tudo que escrevemos até gora resulta da
compreensão e instrumentalização das obras de diversos autores, sempre citados ao longo deste trabalho.
Quando necessário reproduzimos as explicações dos estudiosos sobre determinada questão conceitual, mas não
enumeramos todas as definições existentes, as controvérsias e os debates em torno de cada conceito. Citamos,
sempre, as definições com as quais mais nos identificamos e nosso desafio consiste em manter, ao longo da
dissertação, a coerência e a consistência das conceituações explicitadas com a abordagem que damos ao assunto.
Esse percurso é árduo e deixa o autor a descoberto, pois seu trabalho pode ser rotulado como descritivo, dado
que a teoria compõe o pano de fundo, revelando-se nas entrelinhas; porém, cabe lembrar que o risco da descrição
não assombra apenas aqueles que optam pelo caminho aqui indicado, mas também aos que se apropriam da
teoria como ponto de ancoragem para outro tipo de descrição, feita em torno daquilo que cada autor disse sobre
determinado conceito; esse não é o caso dos estudiosos de ampla formação, professores estabelecidos, que
explicitam a teoria com propriedade e inovação. No caso deste trabalho, preferimos usar a teoria para melhor
refletir sobre o nosso tema, de modo que ela deixa de ocupar um espaço localizado na escrita para disseminar-se
por toda a dissertação, não sob a forma de explanação exaustiva dos meandros conceituais, mas sim como ponto
de referência que nos aponta o caminho para uma abordagem específica do assunto, fecundando o pensamento e
abrindo caminho para uma análise diferenciada das fontes históricas.