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Paralelo a isso, na tentativa de testar a aceitação de suas ideias, o inglês realiza um
acampamento de oito dias na Ilha de Brownsea para 20 jovens que lá aprenderam a construir
abrigos, técnicas de vida ao ar livre, cantaram, jogaram, praticaram habilidades desportivas,
trocaram experiências e aprenderam como ajudar a comunidade, formando assim o primeiro
acampamento escoteiro. Em 1908 é publicado o livro emblemático de Baden-Powell,
Escotismo para Rapazes21, e a partir daí o Movimento Escoteiro passa a ganhar o mundo.
Presente ainda de forma consistente nos dias atuais do movimento, os ideais do
escotismo pregam uma série de regras a serem seguidas e uma promessa ao movimento22 que
envolvem compromissos éticos de respeito ao próximo, a Deus, aos animais e as plantas e
também de honestidade e confiança. Segundo conceito do Movimento Escoteiro
(ESCOTEIROS DO BRASIL, 2015), o propósito do escotismo é:
Contribuir para que os jovens assumam seu próprio desenvolvimento, especialmente
do caráter, ajudando-os a realizar suas plenas potencialidades físicas, intelectuais,
sociais, afetivas e espirituais, como cidadãos responsáveis, participantes e úteis em
suas comunidades, conforme definido pelo seu projeto educativo.
As atividades desenvolvidas pelos praticantes do Movimento Escoteiro são baseadas
na ideia do aprender fazendo e na prática de acampamentos em áreas naturais. O pensamento
de Baden-Powell sobre a natureza era que ela poderia auxiliar na construção do caráter e das
habilidades dos jovens. Em seu livro Guia do Chefe Escoteiro (BADEN-POWELL, 1982, p.
53) ele diz:
Uma vez que o interesse pelo contato com a natureza tenha penetrado e germinado
na mente de um jovem, sua observação, memória e capacidade dedutiva se
desenvolverão automaticamente e passarão a constituir parte integrante do seu
caráter. E isso persistirá nele eternamente, seja qual for o seu destino.
21 BADEN-POWELL, Robert Stephenson Smith. Escotismo para Rapazes. Edição da fraternidade mundial.
Porto Alegre: Ed Escoteira, 1975.
22 Segundo o texto original de Baden-Powell, a promessa escoteira diz: Por minha honra, prometo que farei o
melhor possível para cumprir o meu dever para com Deus e com o Rei, para ajudar o próximo em todas as
ocasiões, para obedecer a Lei do Escoteiro. Além da promessa, existe também a Lei do Escotismo, escrita em
10 artigos que devem ser incorporados/decorados na vida do escoterio: a honra para o escoteiro é ser digno de
confiança; o escoteiro é leal ao rei, à sua pátria, aos seus escotistas, aos seus pais, aos seus empregadores e aos
seus subordinados; o dever para o escoteiro é ser útil e ajudar o próximo; o escoteiro é amigo de todos e irmão
dos demais escoteiros, não importando a que país, classe ou credo o outro possa pertencer; o escoteiro é cortês;
o escoteiro é amigo dos animais; o escoteiro obedece sem vacilar as ordens de seus pais, do seu monitor (líder
da patrulha dos escoteiros) ou do seu chefe escoteiro; o escoteiro sorri e assobia sob todas as dificuldades; o
escoteiro é econômico; o escoteiro é limpo no pensamento, na palavra e na ação (BADEN-POWELL, 1975). É
importante destacar o contexto histórico em que o pensamento dos ideais do escotismo foi forjado. As
referências a Deus e a Pátria na figura do Rei correspondem ao arcabouço moral dos cidadãos da Inglaterra no
final do século XIX e inicío do século XX. Segundo Oliveira (2011, p. 29), “Baden-Powell, nasceu e cresceu
durante a era Vitoriana, um período no qual as tradições, os costumes, a moral, a nação, a família eram exaltadas.
Desta forma, é perfeitamente compreensível que o movimento escoteiro, esta tradição inventada por um cidadão
vitoriano, traga em seu interior, aspectos de tal época.”