115
numa depressão, aonde eu achei no trabalho um escape, aonde aqui a gente
conversa coisas diferente, sem ser só os problemas ( a trabalhadora chora) sem ser
o que se passa na vida da gente, e eu não deixei transparecer as coisas da minha
vida. Tá rindo. Tá bem. Mas as vezes, então, o trabalho virou pra mim um escape. É
uma forma de ajudar? É. É uma forma de ser ajudado? É, sim. Ajudar o marido,
ajuda a gente a se tornar independente, né? mas pra mim no meu ponto de ver, foi
um refúgio e hoje eu me sinto muito melhor, é cansativo é estressante, mas eu me
sinto melhor as vezes eu chego em casa, cheia de dores nas pernas, dor nas costas,
mas só de saber, que a gente ocupou a mente, com outra coisa... pra mim é bom, no
meu ponto de ver pra mim foi bom (Flofan).
A dor daquela mulher, em todos os encontros calada, desvelou a realidade de outras, e
disse então, ri de quê? Brincar por quê? Compreenderam que mesmo naquele lugar que
criaram para movimentar prazer, alegria e fuga, existe solidão.
Eu, porque eu me senti uma dor no estômago, aí eu fui fazer uns exames, aí deu uma
úlcera no meu estômago, bactéria, deu uma bactéria, aí deu uma gastrite nervosa,
aí eu tava com depressão aí, eu tava na menopausa, tudo junto. Aí, o papai e a
mamãe toda vida brigava pra eu não trabalhar aqui, porque eu tinha depressão, aí
quando foi esse ano, já disseram pra eu vim, porque disseram que eu me senti bem
aqui, no meio das meninas, aí o papai e mamãe disse que eu vinha, aí eu melhorei
aqui, porque eu vinha pra cá passava o dia aqui, aí eu nem ia mais em casa direto,
com elas aqui, também muito bem. Porque as meninas, uma sai com o namorado, ai
eu fico sozinha em casa, aí não tem como, na cabeça da gente, aí passa
pensamentos, que você quer tirar da cabeça e não consegue, e aí eu sai vim embora,
deixei, só nos três, eu fecho a casa, até meu marido brigava pra eu não vim, que não
tinha precisão, mas eu disse vou experimentar, se eu garantir, ai eu vou. Eu vim. Eu
me senti outra (Flormar).
Observa-se o desejo de ter a agroindústria como o lugar do encontro, da amizade, pela
força das companheiras de trabalho. Entre os pares o respeito às individualidades começa a
dar lugar às cobranças, reconhecendo-se na outra. A construção de opiniões torna-se
compreensiva, e percebe-se o reconhecimento da partilha, que cooperar é entender
individualidades, compreender para além da comunicação, quando existe o socorro.
Por isso eu falei naquele ponto, que as vezes não venho só pelo dinheiro, é um lugar
pra gente se distrair, mudar como eu tava, pra conversar, porque, muitas noites
saía assim vagava, não sei como contar, isolada. Aí ficava assim rodando, aí o
lugar que eu gosto de vim é pra cá. Ai as mulheres todas elas já vinha pra brincar e
tudo...por isso que eu disse naquele dia não é só por causa do dinheiro, talvez pra
me distrair mesmo, para conversar pra brincar pra tantas coisas assim (Florcle).
Percebe-se que se reconhecem, se olham e se abrem, voltam a ri com todas, fazendo-se
então um elo. Para dar conta do que lhe é atribuído, a mulher recorre ao trabalho como lugar
que possibilita saúde, criam nos espaços do trabalho, da agroindústria, o fortalecimento de seu
papel de mulher, trabalhadora, dona de casa e como disseram guerreiras, lá elas escutam umas